sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

• LIDERANÇA NO CRISTIANISMO


Discussão Preliminar

Observamos na primeira parte deste trabalho que, a maioria dos estudiosos do assunto, concordam que o atributo básico da liderança é a capacidade de influenciar seus liderados. Esse talvez seja o fator que determina o sucesso ou o fracasso de um líder. A partir daí começam as divergências de opiniões sobre como liderar e que tipo de influência deve ser exercida. No caso do cristianismo tem-se um objetivo distinto e um método próprio para se exercer a liderança, o que será estudado a seguir.

Na liderança cristã é preciso definir qual é o objetivo e o método a ser seguido pelos líderes cristãos, e este padrão se encontra na própria Bíblia.

No texto de Ef 4.11-16, o apóstolo Paulo fala acerca de Jesus afirma que: “Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos... para a edificação ... até que cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus... à medida da plenitude de Cristo”, ou seja, afirma que o ministério cristão foi concedido para que a igreja tivesse gradual crescimento espiritual até que se alcançasse a imagem de Cristo que uma vez foi implantada em nós por ocasião do novo nascimento. Uma das finalidades desse crescimento é “... para que não sejamos mais como meninos agitados de um lado para outro e levados por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens e pela astúcia com quem induzem ao erro”, e o resultado disso é que “... todo corpo bem ajustado e consolidado... efetua o seu próprio aumento para edificação de si mesmo em amor”.

Aprovação

Na maioria das vezes pensamos que, pelo fato de termos nascido de novo, possuirmos o Espírito Santo, e conhecermos a base da doutrina cristã, já estamos capacitados a exercer funções mais complexas no reino de Deus. Porém a Bíblia mostra de uma maneira muito sutil que os grandes líderes tiveram que passar por um período ou por algum evento pelo qual foram provados e aprovados para determinadas obras. É o que sugere 2 Tm 2.15. O exemplo de Davi também é muito significativo. Todos nós conhecemos o grande feito de Davi ao derrotar o gigante Golias e que se tornou um marco na sua vida como ungido de Deus, porém o próprio Davi tinha confiança nessa vitória, pois como ele mesmo conta em 1 Sm 17.34-36: “... Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; e vinha um leão ou um urso e tomava uma ovelha do rebanho, e eu saía após ele, e o feria, e a livrava da sua boca; e, levantando-se ele contra mim, lançava-lhe mão da barba, e o feria, e o matava. Assim, feria o teu servo o leão como o urso...”.

O que não entendemos muitas vezes é que Deus vai nos provar até que nos tornemos suficientemente preparados para determinada obra. Em 2 Tm 2.20-21 o apóstolo diz que “... numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata, há também de madeira e de barro. Alguns para honra, outros, porém, para desonra. Assim se alguém a si mesmo se purificar... será utensílio para honra... estando reparado para toda boa obra”. Em Rm 9.21 o apóstolo também diz que “... não tem o oleiro direito sobre a massa para do mesmo barro fazer um vaso de honra e outro para desonra.” O problema é que o Oleiro, para transformar alguém em vasos de honra precisa quebrá-lo para retirar dele as impurezas contidas no barro e refazê-lo para que esteja pronto para ser cozido no fogo sem quebrar, ou seja, o Senhor precisa constantemente quebrar-nos para retirar de nós as coisas que não o agrada e que futuramente seriam determinantes para o nosso fracasso. Só assim poderemos suportar o fogo da provação.

Tipos De Liderança

Não obstante, sabermos que, existem diferentes tipos de igrejas, diferentes tipos de líderes e diferentes tipos de liderados, contudo, a Bíblia não determina qual deve ser nosso estilo pessoal de liderança, apesar de indicar requisitos básicos para espiritualidade e moral do líder. Portanto o estilo do líder é forjado de acordo com as circunstâncias do momento, sua personalidade, as necessidades do povo e do plano de Deus para determinada igreja. Partindo disso encontramos diversas maneiras de encarar o ministério ao mesmo tempo em que podem ser cumpridos os requisitos bíblicos.

No tópico “triângulo da direção”, abordado na primeira parte deste trabalho, apresentamos ali, três tipos de direção, como segue: a direção autocrática ou ditatorial; a direção laissez-faire ou deixa como está para ver como é que fica; a direção-liderada ou liderança. A estas, acrescentaremos o modelo cristão de liderança. Vamos, então, transferir estes tipos de direção para o campo eclesiástico, apresentando suas vantagens e desvantagens:

A Direção Autocrática Ou Ditatorial

É um tipo de líder que geralmente conta com a eclesiologia local para tomar todas as decisões necessárias para o andamento da obra, sem consultar os liderados.

a) Vantagens: É mais fácil o Senhor falar com um homem do que com vários. Exige mais responsabilidade por parte de quem toma decisões. Impede que falsos cristãos infiltrados na obra tenham voz ativa.

b) Desvantagens: Existe a possibilidade de um falso líder tirar proveito do povo. Nem sempre um homem só tem uma visão geral dos assuntos a serem decididos. Não dá oportunidade para que outros líderes despontem. Dá oportunidade para se perpetuar determinados erros.

A Direção-Liderada Ou Liderança

É o tipo de líder que procura participação dos liderados.

A) Vantagens:

Mais gente pode realizar determinado trabalho tornando-o mais frutífero. Dá oportunidade para os crentes crescerem ao realizar os trabalhos. O líder não é responsabilizado quando as decisões não surtem efeito.

B) Desvantagens:

Propicia a formação de grupos com interesses próprios (panelas). O líder pode contar com um grupo pouco espiritual e que tenha dificuldades para tomar decisões corretas.

Laissez-Faire

É o tipo de líder que não interfere diretamente no andamento da obra. Deixa que os outros tomem decisões sem sua participação e apenas exerce uma função de mediador de interesses diversos.

A) Vantagens:

Quase nenhuma.

B) Desvantagens:

O líder acaba perdendo sua autoridade, tornando-se desnecessário. O povo fica sem direção e sem crescimento.

Modelo Cristão

É o tipo de líder que se espelha em Cristo e em seus ministros procurando um padrão de conduta para exercer o ministério. É o líder que procura ganhar a confiança de seus liderados atendendo aos requisitos bíblicos sem desmerecer sua responsabilidade, sabendo aproveitar a capacidade dos outros e acima de tudo se entrega com amor ao seu ministério. O líder cristão não segue os padrões e estilos de liderança do mundo. São humildes, mas não enfraquecidos; dependentes de Deus, mas não sem iniciativa; ousados, mas em moderação; confiantes, sem perder a perspectiva; se precaver de seus liderados, mas sem perder a confiança neles; enfim, não se baseia em suas experiências de liderança, mas tem a direção do Senhor.


LIDERANÇA - Preocupações Iniciais Do Líder Cristão - Armadilhas - Qualificações - Hábitos – Papéis

Para exercer uma boa liderança o obreiro deve pensar e preparar o terreno para que seu empreendimento se frutifique. Alguns conselhos são válidos nessa hora para que o líder não se... envolva nos negócios dessa vida, porque seu objetivo é satisfazer aquele que o arregimentou¨ Não se deve entender, obviamente, que os negócios dessa vida são nossas obrigações como cidadão, então podemos aplicar esse versículo ao embaraço que certas armadilhas nos causam. As diversas provações podem vir de quatro fontes diferentes, e identificar a origem delas é de suma importância para a resolução e posterior prevenção dos problemas. São estas as fontes:

O Próprio Senhor

Como no caso de Abrão (Gn 22.1-19), a nação de Israel (Hc), a Igreja (1 Pe 4.12-19) e tantos outros exemplos, o próprio Deus criou situações para que seu servo fosse provado e a partir daí aprovado por ele. Nesse caso o que temos que fazer é exercitar nossa fé e confiar que aquele que criou tal situação tem um propósito bom para nós através da provação.

O Diabo

Em qualquer ocasião o diabo vai tentar manifestar o que lhe é mais característico – o ódio contra a criação de Deus. Caso percebamos a ação maligna, devemos recorrer ao conselho de Paulo aos efésios: “... revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo”; sabendo, porém que a ação do inimigo só pode chegar até onde o Senhor permitir (Jó 1. 6-12; 2.1-13).

O Homem

É um caso semelhante ao do diabo, onde as pessoas podem manifestar seu egoísmo, cobiça e maledicência, coisas típicas do coração humano (Mt 15.10-20). Também nesse caso os limites da ação do homem são determinados pelo Senhor

A Carne

Existe também uma luta contra nós mesmos, ou seja, contra a natureza carnal que ainda habita em nós e milita contra o espírito regenerado que Deus nos deu (Gl 5.16-17). Neste caso nos cabe dominar nossas paixões e submeter nossa vontade carnal ao propósito do Espírito que habita em nós.

As Armadilhas

Cientes dessas armadilhas que podem ser colocadas em nosso caminho, às vezes com bons e às vezes com maus propósitos, devemos de antemão pensar em certas coisas, como por exemplo:

Pensar Antes Nos Problemas

Não devemos esperar uma situação de perigo, tentação, falta de provisões, confusão, perseguição, traição e coisas do gênero, para pensarmos numa solução. O correto é que meditemos constantemente como sair de uma possível situação (Sl 119.15,27,48,78,99,148). Se estivermos preparados com antecedência, saberem o como agir. Se formos apanhados de surpresa podemos fraquejar (Mt 26. 41).

Planejar

Algumas pessoas acreditam que não devem planejar nada para o futuro por causa de interpretações errôneas de alguns versículos como T g 4.13-14, porém o que a Bíblia condena é a presunção de contar com a própria força para traçar seus caminhos sem considerar o propósito de Deus; ao contrário disso o Senhor Jesus nos exorta a planejar nossos passos (Lc 14.28-32), pois assim poderemos compreender melhor a vontade do Senhor; como pôr em prática essa vontade, e ter fé quando as provações chegarem.

Não Criar Situações De Embaraço

O mundo dá muitas voltas. A mentira tem perna curta e Jesus prometeu que, para nosso próprio bem, não deixaria as coisas encobertas, mesmo que sejamos envergonhados por isso. Portanto devemos evitar situações que mais tarde tenhamos vergonha de explicar, seja na vida amorosa, familiar, financeira ou social.

Cuidado Com Os Outros

Devemos procurar conhecer bem os liderados. Não dar liberdade tal que mais tarde não se possa verificar ou cobrar. Ficar de olho nas “panelas” e seus propósitos. Evitar que se faça injustiça entre os irmãos, para que os conflitos não se multipliquem, enfim, devemos confiar naqueles que podem nos ajudar, mas não dar oportunidade para que alguém se deixe levar pelos perigos descritos nos itens anteriores (diabo e a carne).

Requisitos Para Ser Um Bom Líder

Requisitos Bíblicos

Em princípio devemos procurar na Bíblia os quesitos básicos para se escolher um bom líder. Para isso podemos recorrer primeiramente às chamadas epístolas pastorais, que são as que foram escritas pelo apóstolo Paulo a Timóteo e a Tito, seus colaboradores. São estes os principais :

Qualificações Sociais

Modesto; hospitaleiro; ter bom testemunho.

Qualificações Morais

Ser irrepreensível; esposo de uma só mulher; temperante; não dado ao vinho.

Qualificações Pessoais

Hospitaleiro; não cobiçoso; apto a ensinar; não vio lento; cordial; não avarento; não arrogante.

Qualificações De Maturidade

Bom pai e marido; não pode ser novo convertido; sóbrio apto a ensinar e a exortar.

Hábitos Dos Líderes

Entende-se por hábitos, o comportamento constante dos líderes, e que digam respeito ao seu envolvimento na obra. Alguns hábitos são positivo se outros são negativos como veremos.

Estudar Sempre

Conforme 2 Tm 2.15 o obreiro tem que “... manejar bem a palavra da verdade”. O próprio Paulo em final de carreira solicitou a Timóteo que levasse “... a capa... os livros, e especialmente os pergaminhos”.

Orar

É através da oração que conhecemos a vontade de Deus, os seus propósitos e as coisas que são ocultas aos olhos humanos.

Atualizar

O obreiro deve estar por dentro das notícias mais importantes sobre a situação econômica e política do seu país, além de conhecer questões sobre direito, psicologia, filosofia, sociologia etc.

Aproveitar As Oportunidades

O bom obreiro sabe tirar proveito das diversas oportunidades que aparecem. É otimista. Tem visão. Consegue ver a bênção onde ninguém mais vê. Sabe aproveitar o tempo e consegue produzir mais, com menos esforço.

Veste-Se Bem

Ou seja, está sempre de acordo com a situação. Não gasta mais do que deve, mas esta sempre ajustado ao ambiente em que se encontra.

Não Delega Poder

Talvez por medo de perder a autoridade, ou por não confiar nos liderados ou talvez por não saber como fazer.

Não Credenciamento Junto À Igreja

Muitos obreiros procuram desenvolver seu ministérios sem estar vinculado a qualquer igreja, mas isto não é certo, pois o obreiro não realiza trabalho para si, mas para os irmãos que estão sob o pastorado das igrejas. Essa prática descaracteriza o obreiro além de contrariar o exemplo bíblico.

Julgamento Temerário

Alguns líderes não sabem se colocar na pele de seus liderados e emitem julgamentos que não levam em consideração o ser humano, suas necessidades, suas fraquezas e o cuidado de Deus para com suas ovelhas.

Preparar Mensagens Na Última Hora

O obreiro tem que estar em constante sintonia com o Espírito Santo, pois aquele que tem uma mensagem a dar ao povo o fará da melhor maneira possível respeitando as limitações do líder, e preparar as mensagens com antecedência é uma boa maneira de superar estas limitações.

Os Papéis De Cada Um Dentro De Um Grupo

A psicologia tem estudado o comportamento das pessoas quando se encontram dentro de algum grupo, e muitas descobertas têm sido feitas e que podem ajudar o líder na hora de conhecer seus liderados. A ideia é que, dentro de um grupo cada um assume um papel diferente, de maneira inconsciente, e estes papéis são importantes para a dinâmica de um grupo. Sem estes papéis não há grupo, e várias pessoas podem assumir os mesmos papéis, porém a maioria deles estará presente. Alguns exemplos desses papéis são:

Bode Expiatório

Neste caso, toda a “maldade” do grupo fica deposita da em um indivíduo que, se tiver uma tendência prévia, servirá como depositário, até vir a ser expulso, o que, aliás, é comum. Nesses casos. O grupo sairá em busca de um novo bode... Decorre daí a enorme importância de que o líder do grupo reconheça e saiba manejar tais situações. Outras vezes, o grupo modela um bode expiatório sob a forma de um “bobo da corte” que diverte a todos e que, por isso mesmo, ao contrário de uma expulsão, o grupo faz questão de conservá-lo.

Porta-Voz

Cabe ao portador deste papel mostrar ao restante do grupo aquilo que pode estar, de uma maneira oculta, pensando ou sentindo. No entanto, essa comunicação do porta voz não é feita somente através de reclamações ou conflitos, mas através da linguagem não-verbal, das dramatizações, silêncios, ações, etc.

Uma forma muito comum de porta-voz é a função do indivíduo contestador. Nesses casos, é imprescindível que o líder do grupo (da mesma forma que os pais, numa família) saiba discriminar quando a contestação é, sistematicamente, de ordem obstrutiva ou quando ela representa ser necessária, corajosa e construtiva.

Este Papel Cabe Geralmente Ao Indivíduo Mais Retraído Do Grupo

Neste caso, esse indivíduo, antes que os demais, capta os primeiros sinais das ansiedades que, ainda em estado embrionário, estão emergindo no grupo. Esse papel também é conhecido como "caixa de ressonância", em razão de que tal indivíduo-radar, por não ter condições de poder processar simbolicamente o que captou, pode vir a expressar essas ansiedades em sua própria pessoa através de somatizações, ou abandono do grupo, ou de crises explosivas, etc.

Instigador

Este papel é muito comum e importante nos grupos. Consiste na função do indivíduo em provocar uma perturbação no campo grupal, através de um jogo de intrigas, por exemplo, assim mobilizando papéis nos outros. Assim, o instigador consegue tornar realidade, seus conflitos interiores, além de instigar os outros membros do grupo a pôr para fora seus conflitos interiores.

Atuador Pelos Demais

É uma modalidade de papel que consiste no fato de a totalidade do grupo delegar a um determinado indivíduo a função de executar aquilo que lhe é proibido, como, por exemplo, hábitos extravagantes, conflitos com o líder ou coordenador, etc. Em tais casos, o restante do grupo costuma emitir dupla mensagem: critica as atitudes desse membro e, ao mesmo tempo dão um disfarçado estímulo, mostram um gozo prazeroso e uma admiração por este membro, pois no fundo ele faz o que os outros gostariam de estar fazendo.

Sabotador

Conforme este nome indica, o indivíduo que desempenha o papel de sabotador, através de inúmeros recursos, procura colocar empecilhos para minar o êxito da tarefa grupal. Em geral o papel é assumido pelo indivíduo que seja portador de uma excessiva inveja e egoísmo, geralmente gosta muito de aparecer, não aceita ser subordinado e gosta de ser exaltado.

Vestal

Também nos pequenos grupos (uma igreja, por exemplo) é muito comum que alguém assuma o papel de zelar pela manutenção da “moral e dos bons costumes”. Um exagero nesse papel constitui a tão conhecida figura do “patrulheiro ideológico” que obstrui qualquer movimento no sentido de uma criatividade inovadora. Há um sério risco - nada incomum - de que o papel venha a ser assumido pelo próprio líder do grupo.

Líder

O papel de líder surge em dois planos. Um é o que, naturalmente, foi designado ao líder ou obreiro. O outro é o que surge, espontaneamente, entre os membros do grupo. Neste caso, a liderança adquire cores muito diferenciadas, desde os líderes construtivos que exercem o importante papel de integradores e que ajudam na unidade do grupo, até os líderes negativos, nos quais prevalece uma excessiva necessidade de mandar e controlar as pessoas.

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