MISSÃO URBANA - AS CIDADES NA BÍBLIA II
A igreja é enviada também às cidades, não para assimilar-se a
ela, mas para transformá-la, para
libertá-la de seus pecados.
A missiologia urbana, num contexto
religioso como o nosso, não pode dispensar a reflexão bíblica, mesmo que as
cidades das quais falam os Textos Sagrados pouco ou nada tem a ver com as
nossas metrópoles. Seria um erro de análise transpor características das
cidades referidas na Bíblia, no entanto não podemos ignorar a história, se
quisermos atuar numa perspectiva cristã. A seguir algumas cidades que se
destacam nas páginas da Escritura, com alguma informação sobre elas :
1) Sodoma (Gn 18.19):
Uma das cinco cidades da planície do
Jordão. Estudando esta cidade, percebemos que existe uma relação entre a
presença dos fiéis e a preservação da cidade. No caso de Sodoma, se houvessem
nela 10 justos, Deus não a destruiria. Há um princípio aqui: o maior mal das
cidades não é ambiental, mas sim espiritual e está dentro das pessoas. Em Ez
16. 49-50, temos a causa da destruição de Sodoma por Deus: “Soberba, fartura de
pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre
necessitado. Foram arrogantes, fizeram abominações diante de mim”.
2) Babilônia:
A capital do império babilônico,
fundada por Nimrod (Gn 10:10), localizada às margens do rio Eufrates. Pelos
registros do Antigo Testamento sabemos que foi para esta cidade que Deus enviou
os melhores jovens para exercerem atividades dentro das estruturas do palácio,
durante o cativeiro babilônico. Estes jovens assimilam a cultura da cidade, mas
separam perfeitamente sua fé e suas convicções das crenças e costumes desse
reino (Dn 1.8-17). Daniel realiza uma obra de assessoria espiritual. Torna-se
um estadista com princípios éticos elevados.
A Babilônia simbolizava através das
Escrituras a cidade completamente dominada por Satanás. Ela é citada pela
primeira vez em Gêneses 11 na decisão humana de construir a Torre de Babel. No
nosso contexto a cidade é Babilônia, símbolo da civilização com sua pompa e com
tudo organizado para ser contra Deus, William Hendrisken comenta : “Uma cidade
que fascina, que tenta, que seduz e arrasta as pessoas para longe de Deus”18 .
Uma cidade mundana, louca por prazeres, arrogante e presunçosa. A descrição da
Babilônia (Ap 17 a 19), nos faz lembrar de Tiro (Ez 26-28), um centro pagão de
impiedade e sedução, uma grande metrópole industrial e comercial. Babilônia
indica um mundo como um grande centro de progresso, de comércio, de arte, de
cultura. Simboliza a concentração da luxúria, do vício, dos encantos deste
mundo. É o mundo visto como a personificação da concupiscência da carne, da
concupiscência dos olhos e da soberba da vida (I Jo 2.16)
3) Nínive:
Era uma grande cidade para a época, com
mais de 120 mil habitantes19 (Jn 4.11), capital de um poderoso império que
durou por volta de 1.500 anos. Mas toda a riqueza e glória dessa cidade
provocaram a ira de Deus, já que foram conseguidas através da opressão e da
guerra.
Roger Greenway comenta : Toda a vida
política ou econômica da cidade se baseava na agressão militar, na exploração
de nações mais fracas e no trabalho de escravos. O profeta Naum não poupou
adjetivos negativos ao descrever esta traidora de nações e cidade de
sensualidades (Na 3.4). Nínive era mestra de feitiçarias e uma capital do
vício. Suas obras artísticas haviam sido pervertidas por obscenidades, sua
cultura pelos ídolos, e sua beleza pela violência. Chamavam-na de cidade sanguinária`
(Na 3.1), porque o despojo haviam-na enriquecido (tradução nossa).
A maldade da cidade provocou a ira de
Deus. Greenway acrescenta:
O pecado da cidade era pessoal, pois o
cometiam pessoalmente os milhares de habitantes de Nínive. Era também pecado
coletivo, porque somada em sua totalidade a vida de Nínive, seu selo era:
maldade. Ao sobrevir o castigo, afetaria a cada um.
Lendo os livros dos profetas Jonas e
Naum observamos dados importantes sobre Nínive. A preocupação de Deus de salvar
a população dessa cidade, que estava fora da Palestina, é prova de que de fato
a salvação é universal.
Deus providencia o profeta Jonas com
uma mensagem de chamada ao arrependimento. Embora não houvessem boas relações
entre os israelitas e os assírios, Deus queria um missionário em Nínive, a qual
era a principal cidade dos sistemas urbanos do mundo de então. O profeta foi e
pregou percorrendo toda à cidade. Seus habitantes arrependeram-se de seus
pecados e Deus aceitou o arrependimento, desistindo de destruir a cidade.
4) Jerusalém:
Jerusalém é uma das cidades mais
famosas do mundo. Data do segundo milênio A.C. no mínimo; e atualmente é
considerada sagrada pelos adeptos das três grandes religiões monoteístas: o
Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
Embora Jesus tenha pregado em diversas
cidades como Cafarnaum, Nazaré, Betânia, Jericó e outras, seu propósito final
era Jerusalém (Lc 9:51), a cidade de Davi, a cidade da paz. O conceito de
Jerusalém para os judeus como cidade santa, exige um estudo mais detalhado, mas
este não faz parte do nosso propósito aqui. Contudo, é mister registrar que é
em Jerusalém que Jesus enfrentou os poderes estabelecidos, tanto o religioso
quanto o institucional. É a mesma Jerusalém que ele quis aconchegar com afeto
materno (Mt 23:37), é nela que com Ele se repete o mesmo destino dos profetas
(Mt 23:34). Sua morte se dá fora da cidade, mas o impacto causado não deixou o
ambiente urbano sossegado. Guardas foram deslocados para o sepulcro, discípulos
de trancam com medo, a cidade se contorce em comentários que depois se
transformam em silêncio. Porém, tal silêncio é quebrado pela ressurreição.
Jerusalém volta a ser atingida por Jesus, a notícia alvoroça a cidade e à seus
líderes mais do que nunca. Em Jerusalém, cidade de Davi, o Messias acabava de
implantar o seu reino e reconquistar o poder sobre tudo e todos. O Espírito
Santo veio aos apóstolos em Jerusalém no dia de Pentecostes, dando-lhes a
capacidade de pregar o evangelho.
Em Apocalipse 21 lemos sobre a “Nova
Jerusalém”, que é a Cidade Santa, a Noiva de Cristo, a Igreja Triunfante, a
Esposa do Cordeiro. A Bíblia começa com um jardim e termina com uma cidade.
O contraste entre estas duas cidades e a Nova Jerusalém é claro. Enquanto estes tiranos opressores usam as cidades para a sua própria glória e propósito, na Nova Jerusalém os reis da Terra vêm para apresentar a glória de Deus. (Ap 21:24). O propósito de Deus jamais falha. Na Nova Jerusalém Deus claramente demonstra o seu propósito escatológico para a cidade. 24 A cidade era para ser um lugar onde os reis viriam para exaltar o Rei dos Reis e não para elevar a si próprios.
MISSÃO URBANA / DIALÉTICA : JERUSALÉM E
BABILÔNIA
Babilônia e Jerusalém são dois símbolos
e duas realidades presentes nas cidades ao longo da história. Nenhuma cidade é
totalmente Babilônia nem completamente Jerusalém. Não se trata de um dualismo :
ou uma ou outra, mas de uma relação dialética, isto é : cada cidade é
simultaneamente Babilônia – cidade marcada pela injustiça e pela opressão e
Jerusalém – cidade que carrega de sinais de vida e de esperança.
A Jerusalém histórica tornou-se
Babilônia apesar de todo cuidado de Deus para com ela (Ez 16). Para uma
percepção teológica adequada desta dialética, é necessária a busca de uma chave
hermenêutica (interpretativa) que permita lidar com esta realidade.
A melhor chave hermenêutica para a
Missão Urbana, no entanto, encontra-se na palavra de Jesus : Jerusalém,
Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados !
Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos
debaixo de suas asas, mas vocês não quiseram ! (Lc 13.34NVI) Por que esta
palavra é tão central ? Nela, Jesus mostra a relação dialética entre a
realidade objetiva e subjetiva da cidade. A cidade é, simultaneamente,
Babilônia e Jerusalém. Nela, opera o juízo e a graça, a violência e a
misericórdia.
O Evangelho do Reino, por sua vez,
segue a lógica dos profetas do AT. Sustenta, assim, uma proposta para a
superação desta dialética que ocorre através do arrependimento e da conversão.
Veja o acontecido em Nínive de Jonas. A mesma mensagem é anunciada por João
Batista. A figura da galinha, que acolhia os pintinhos debaixo das asas,
simboliza o desejo de Jesus de abraçar a cidade com misericórdia, o qual a
natureza babilônica (violenta) dos governantes não permitia.
A MISSÃO URBANA NO NOVO TESTAMENTO
A mensagem do Reino de Deus, após a
ressurreição de Jesus, transpôs as fronteiras da Palestina e ingressou no mundo
das grandes cidades gregas e romanas. Em cerca de 20 anos, o Evangelho alcançou
a Antioquia na Síria, Roma na Itália, Éfeso na Ásia Menor, Corinto na Grécia,
Filipos e Tessalônica na Macedônia e Alexandria no Egito.
O Evangelho seguia as grandes rotas
comerciais. Ao analisar a expansão quantitativa e qualitativa do movimento
cristão nos primeiros séculos da era cristã, Rodney Stark, levanta uma
instigante questão: De que forma um minúsculo e obscuro movimento messiânico da
periferia do Império Romano desbancou o paganismo clássico e tornou-se a
religião dominante da civilização ocidental? Embora esta questão mereça um
aprofundamento maior do que aquele a que este artigo propõe-se, convém atentar
para as explicações relevantes a seguir apresentadas.
Nélio Schneider observa : o aspecto
intrigante exatamente é que a mensagem do evangelho encontrou ressonância num
meio totalmente diferente do de sua origem e teve como meta fazer a cabeça e o
coração de pessoas da pólis e da urbs, às quais, a princípio, nem eram visadas.
Como isto aconteceu ? Tomemos com figura chave deste processo o apóstolo Paulo.
Como um ser da cidade, parece que alimentava uma “utopia urbana (Fp 3,20) que
nunca chegou a descrever. Suas cartas, no entanto, exortam os cristãos a
viverem a cidadania de maneira digna do Evangelho (Fp 1.27; 1 Ts 2.12). Desde o
início, a comunidade cristã entende-se como parte da pólis e não uma segregação
à parte.
Para Nélio Schneider, a vivência cidadã
dos cristãos foi o fator fundamental para construir a ponte entre o interiorano
e o urbano. “Quem divulgou o Evangelho não questionou a cidade em si, mas a viu
como um lugar de concretização vital da mensagem evangélica. Não foi o
Evangelho que acolheu o meio urbano mas o meio urbano que acolheu o
Evangelho”... “Este é o primeiro dado importante : o Evangelho não problematiza
o urbano por princípio”. Segundo Rodney Stark, o avanço do Evangelho deve ser
creditado a três fatores: A força do amor expresso, entre outras, na atitude
demonstrada quando acolhem crianças recém-nascidas abandonadas pelos romanos.
Afinal, a marca maior dos cristãos não consistia em ritos religiosos ou
liturgias extravagantes, mas na maneira como viviam o mandamento maior dado por
Jesus : "amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei”.
A vida com dignidade. No interior de
uma sociedade escravagista, as comunidades cristãs vivenciavam uma
solidariedade ímpar. Em Cristo, superavam as descriminações raciais, sociais,
econômicas, religiosas e de gênero. Tratavam-se como irmãos e irmãs.
Especialmente as mulheres e as crianças eram tratadas como iguais aos adultos.
E o casamento monogâmico era uma maneira robusta de restaurar a dignidade
feminina. O senso de liberdade em Cristo. A essência do Evangelho era algo tão
especial a ponto de optarem por assumir uma vida leve, sem apegos a bens
materiais, status social, riquezas, ...Nem mesmo a morte valia tanto quanto a
liberdade encontrada pela na graça salvadora de Cristo Jesus. Desta maneira, a
qualidade do ser das comunidades cristãs serviu como fermento e sal na
sociedade romana.
A qualidade superior da ética
decorrente da fé cristã contagiava as pessoas e, consequentemente, as cidades
da época. Longe de esgotar tão apaixonante assunto, cabe-nos indagar qual o
nosso papel atual no cenário urbano brasileiro. Todavia, para mergulhar nesta
questão, impõe-se a compreensão da lógica do processo urbanizatório brasileiro
e suas consequências sociais e espirituais.
MISSÃO URBANA / CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS E RELIGIOSAS
Para entender a realidade urbana de
nossos dias, é indispensável a compreensão das causas e das consequências do
processo urbanizatório brasileiro na segunda metade do século XX. A vitória
definitiva da cidade sobre o campo aconteceu no Regime Militar imposto em 1964,
o qual consagrou aqui o capitalismo monopolista da grande burguesia
internacional aliada à burguesia nacional composta de industriais, empresários
e grandes produtores rurais além de latifundiários e, principalmente, das
Forças Armadas com apoio logístico da CIA/EUA. Sendo assim, a urbanização
brasileira foi bancada pelo Estado e seus aliados para industrializar o país e
inseri-lo no moderno mercado mundial. O crescimento das cidades não foi algo
natural.
O resultado prático desta política foi o
inchaço urbano. As principais causas geradoras da migração campo-cidade foram:
a mecanização do campo; monocultura voltada para exportação, desintegração da
agricultura familiar, disseminação dos agrotóxicos, eletrificação rural, falta
de legislação de amparo ao trabalhador rural, confusão entre poupança e
inflação, falaciosas vantagens do crédito bancário... Este processo
urbanizatório , a bem da verdade, não urbanizou as cidades. Pelo contrário,
produziu um imenso inchaço urbano e causou muitos problemas humanos e sociais.
Eis alguns dados deste processo em
âmbito nacional:
1950 : população rural - 64%; população
urbana - 36%;
1980 : população rural - 32%; população
urbana - 68%
2000 : população rural - 18,8%;
população urbana - 81.2%.
2010 : população rural – 14,6%;
população urbana – 85,4%.
A cidade de Porto Alegre é a capital
brasileira que menos cresceu. Mesmo assim, a sua população quase triplicou em
60 anos:
1950 : 368.014 hab;
1980 : 1.157.709;
2000 : 1.360.590;
2010 : 1.409.939 habitantes, sem contar
o inchaço na Região Metropolitana.
Curitiba :
1950 : 180.573 hab;
1980 : 1.024.975;
2000 : 1.587.315;
2010: 1.746.893.
No mesmo período de seis décadas,
Curitiba, a exemplo de outras capitais, multiplicou sua população em quase dez
vezes. As consequências sociais do processo foram a favelização e o inchaço
urbano sem infraestrutura, caos na saúde, na segurança e na habitação, a
multiplicação da violência (criminalidade), desintegração humana e social,
desemprego, drogadicção, prostituição infantil e tráfico de drogas...
Vale lembrar que o regime militar acirrou o contraste entre uma elite rica e a massa dos empobrecidos. Os sinais do progresso contrastavam com a multiplicação das favelas. Esta conduta não foi alterada, em sua essência, nos governos “democráticos” seguintes.
MISSÃO URBANA - AS CIDADES NA BÍBLIA
III
Contraste Entre a Cidade dos Homens e A
Cidade de Deus
Na Nova Jerusalém “as nações andarão
mediante a sua luz” (Ap 21:24). Jamais haverá noite naquela cidade (Ap 21:25).
Que contraste em relação as cidades construídas pelos homens. Mesmo durante o
dia era perigoso andar pelas ruas por causa do despotismo daqueles que tomaram
o lugar de Deus naquela cidade. Não havia segurança para aqueles que estavam
oprimidos. É inclusive possível dizer que até durante o dia na cidade dos
homens, é sempre noite. As ameaças da noite estão sempre presentes. Na Nova
Jerusalém, entretanto, as nações podem caminhar livremente, porque as luzes da
cidade vêm daquele que a construiu: Deus. Não há ameaça nas ruas da Nova
Jerusalém, por isto seus portões estão sempre abertos. Não há mal na cidade,
somente aqueles que podem viver diante da glória de Deus a esta cidade
pertence. Conseqüentemente, a Nova Jerusalém é somente para aqueles cujos nomes
estão escritos no livro da vida.
5) Antioquia da Síria:
Antioquia foi a cidade onde a fundação
para a missão mundial foi estabelecida para alcançar os confins da terra. Ela
era uma cidade cosmopolitana, a metrópolis da Síria. Em 27 DC ela tornou-se a
capital da Síria, sendo um importante centro comercial e ações militares,
Antioquia tornou-se em um influente centro urbano, uma cidade (polis)
Helenística e a terceira cidade do Império Romano. Ela era a terceira maior
cidade do Império Romano. Sua população, no primeiro século, estava estimada
entre 300.000 e 450.000 habitantes.
Sua população era mista formada de
gentios e de judeus. Após o martírio de Estevão, os cristãos fugiram para
Antioquia e pregaram ali o evangelho, primeiramente aos judeus que falavam a
língua aramaica e depois aos judeus que falavam o grego. Barnabé foi enviado
pela igreja de Jerusalém para ali trabalhar. Depois de algum tempo, foi buscar
Paulo em Tarso. Ambos evangelizaram em Antioquia por um ano e meio. Nessa
cidade os seguidores de Cristo foram pela primeira vez chamados de cristãos (At
11.19-26). Boa liderança na igreja ali se desenvolveu (At 13.1). Em tempo de
fome em Jerusalém, os cristãos de Antioquia enviaram ajuda (At 11.28-30) e nas
questões sobre a circuncisão dos gentios convertidos, submeteram o assunto à
igreja-mãe em Jerusalém (At 15).
A igreja de Antioquia foi o ponto de
saída e o ponto de chegada das viagens missionárias de Paulo. Ali Paulo
repreendeu Pedro por discriminar os gentios. “A cidade conservou a sua grande
opulência e a igreja continuou a crescer enquanto durou o Império Romano”
6) Corinto:
Cidade portuária da Grécia.
Extremamente cosmopolita. O comércio era muito desenvolvido. Os jogos
atléticos, chamados Jogos Ístmicos, se sobressaiam aos das demais cidades. Os
teatros abrigavam milhares de pessoas. “Templos, santuários e altares
pontilhavam a cidade. Mil prostitutas sagradas se punham à disposição de
qualquer um no templo da deusa Afrodite “27 . A vida imoral dos coríntios deu
origem ao verbo “corintianizar”.
No ano 52 d.C. o apóstolo Paulo chegou
a Corinto e lá evangelizou por um ano e meio (Atos 18:1-18). Uma congregação
foi fundada. Paulo residia na casa de Áquila e Priscila, líderes colaboradores.
Apolo substituiu Paulo no trabalho da igreja. Não era de se admirar que uma
igreja em meio a uma sociedade tão paganizada tivesse tantos problemas. Nessa
congregação, entre todas as congregações fundadas por Paulo, surgiu a questão
de falar em línguas. Paulo escreveu três cartas à congregação de Corinto, tendo
uma se perdido.
Apesar das dificuldades enfrentadas, a
igreja cresceu. “No segundo século, o bispo dessa igreja exerceu grande
influência na igreja em geral” 28
7) Atenas:
Nome da capital da Ática, um dos
estados da Grécia. “Esta cidade foi o centro luminoso da ciência, da filosofia,
da literatura e da arte do mundo antigo”29 . Em Atenas a idolatria era
excessiva. Havia muitos altares e, entre esses, um ao “deus desconhecido” (At
17.23), o que Paulo sabiamente usou para referir-se “ao Deus que fez o mundo”
(At 17.24).
Foi na segunda viagem missionária que
Paulo esteve em Atenas. O evangelista Lucas narrou :
Revoltava-se nele seu espírito, vendo a
cidade cheia de ídolos. Argumentava, portanto, na sinagoga com os judeus e os
gregos devotos, e na praça todos os dias com os que encontrava ali (At
17.16-17).
Os filósofos epicureus e estóicos
debateram com Paulo. Os epicureus não reconheciam um criador. A doutrina dos
estóicos era panteísta. “Faziam distinção entre matéria e força e davam-nos
como sendo o princípio das coisas, do universo. A matéria era o elemento
passivo, e a força, um elemento ativo”30 . Os ouvintes de Paulo “chegaram a
pensar que Jesus e a ´ressurreição` fossem duas divindades com as quais não
estavam familiarizadas”31 . Em Atenas teve pouco resultado numérico o trabalho
evangelístico realizado por Paulo, embora não sofresse nenhuma perseguição
religiosa.
8) Roma: A Grande Metrópolis:
Tradicionalmente fundada em 735 a.C.33
Tendo o apóstolo Paulo visto o seu trabalho pioneiro-estratégico praticamente
concluído no eixo Jerusalém-Roma, ele agora volta os seus olhos para a capital
do império com o intuito de torná-la o novo celeiro base de ação missionária
(Rm 15:24). Roma, do primeiro século, era uma cidade incomum. Ela possuía mais
de um milhão de habitantes e foi a primeira cidade na história a atingir este
número. Registra-se que ali haviam bairros de mansões soladas, apartamentos de
classe-média e "cerca de 4.600 prédios de aluguel, muitos deles com oito
ou dez andares". Apesar do tamanho da cidade de Roma, a sua igreja não era
tão expressiva como a de Antioquia. Contudo marcou a sua presença na cidade. O
Evangelho chegou até a capital, provavelmente, por meio de gentios romanos
convertidos que estavam no dia de pentecostes em Jerusalém (At 2:10).
Embora, inicialmente, não se tenha
conhecimento de que Roma tenha sido impactada pelo evangelho, a cidade se
tornaria o palco de grandes eventos da história do cristianismo. Quer seja
pelas perseguições cruéis, martírios e crimes, quer seja pelo crescimento da
igreja perseguida que depois de torna regio licita, e por fim se projeta como a
igreja do imperador, com a conseqüente ascensão da importância e proeminência
do cargo de bispo, principalmente o de Roma.
Muito há o que se aprender em termos
missiológicos com a cidade de Roma, e não foi à toa que Paulo a elegeu como
nova fronteira missionária. A perversidade de instituições corruptas de uma
cidade cosmopolita, egoístas e corrompidas pelo poder e pela dominação, se
apresentam como um grande desfio e oposição à tarefa missionária. A expansão do
cristianismo em uma cidade, transforma o modus vivendi, assim como se deu em
Roma que antes perseguia, e matava cristãos até por diversão, se torna sua
seguidora e divulgadora. Uma séria advertência aqui necessita ser feita, tais
transformações na cidade não podem ser vista integralmente como verdadeiras,
apenas pela ação do evangelho. A mesma cidade de antes, agora se disfarça, e
suas instituições se "convertem" por conveniência ao status quo. O
nominalismo e a hipocrisia escondem as mesmas perversas estruturas antes
aterradoras, e agora atuantes, utilizando-se de outras e novas roupagens.
Nas palavras do missiólogo Linthicum,
passamos a ter a "cidade com aparência de Deus, mas com alma de
Satanás".
Assim, cidades são fronteiras
missionárias onde, ao passo que o reino se expande, a resistência se acirra ou
se disfarça para continuar presente. É em Roma, projeto da nova base
missionária de Paulo, que ele fica preso, é julgado e executado.
9) As cidades no ministério de Jesus:
As cidades tiveram uma grande
importância em seu ministério. Jesus nasceu na vila de Belém. Foi criado na
cidade de Nazaré, que na época teria de 15 a 20 mil habitantes.34 A maior parte
da população de Nazaré era de gentios e por isso, uma cidade desprezada. Mas
foi justamente numa sinagoga de Nazaré que “Jesus estabeleceu suas credenciais
messiânicas” 35ao apresentar seu programa de missão quando leu em Is 61.1-2 e
58.6 :
O Espírito do Senhor está sobre mim,
pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar
libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade
os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor (Lc 4.18-19).
Depois que Jesus tornou pública sua
missão, “desceu a Cafarnaum, cidade da Galiléia” (Lc 4.31). Cafarnaum estava
localizada junto ao Mar da Galiléia, tendo inúmeras indústrias ligadas à pesca.
Era uma das mais importantes cidades da província.
“Estava localizada em um lugar
extremamente estratégico, às margens de uma rota internacional de comércio que
ligava Egito, Palestina, Síria e Mesopotâmia”36 . Em Cafarnaum Jesus ensinou,
ajudou e curou pessoas. Nessa cidade ´fixou residência`, partindo dali para
outros lugares.
O ministério público de Jesus é
resumido em Mt 9.35: “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando
nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e
enfermidades”.
Pregar a palavra do Pai nas cidades
fazia parte da estratégia evangelística de Jesus. Ele disse :
“É necessário que anuncie o evangelho
do reino de Deus também às outras cidades, pois para isto é que eu fui enviado”
(Lc 4.43). Jesus era aquele “que andava de cidade em cidade e de aldeia em
aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus” (Lc 8.1) e vinha
“ter com ele gente de todas as cidades” (Lc 8.4).
Nenhum comentário:
Postar um comentário