A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
A
EXPIAÇÃO
"Sobre
a vida que não vivi;
Sobre
a morte que não morri;
Sobre
a morte de outro, a vida de outro,
Minha
alma arrisco eternamente."
I.
A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
Por
que gastar tempo e espaço para descrever os sacrifícios do Antigo Testamento?
Pela
simples razão de que na palavra "sacrifício" temos a chave para o
significado da morte de Cristo. Muitas teorias modernas têm surgido para explicar
essa morte mas qualquer explicação que deixe de fora o elemento da expiação é
antibíblica, porque nada é mais assinalado no Novo Testamento que o uso de
termos sacrificais para expor a morte de Cristo.
Descrevê-lo
como "o Cordeiro de Deus", dizer que o seu sangue limpa o pecado e
compra a redenção, ensinar que ele morreu por nossos pecados — tudo isso é
dizer que a morte de Jesus foi um verdadeiro sacrifício pelo pecado.
Visto
que a morte de Jesus é descrita em linguagem que lembra os sacrifícios do
Antigo Testamento, um conhecimento dos termos sacrificais ajuda grandemente na
sua interpretação. Porque os sacrifícios (além de proverem um ritual de
adoração para os israelitas) eram sinais ("tipos") proféticos que
apontavam para o sacrifício perfeito; por conseguinte, um claro entendimento do
sinal conduzirá a um melhor conhecimento daquele que foi sacrificado.
Esses
sacrifícios não somente eram proféticos em relação a Cristo, mas também serviam
para preparar o povo de Deus para a dispensação melhor que seria introduzida
com a vinda de Cristo.
Quando
os primeiros pregadores do Evangelho declararam que Jesus era o Cordeiro de
Deus cujo sangue havia comprado a redenção dos pecados, eles não precisaram
definir esses termos aos seus patrícios, porquanto estavam eles familiarizados
com tais termos.
Nós,
entretanto, que vivemos milhares de anos depois desses eventos, e que não fomos
educados no ritual mosaico, necessitamos estudar a cartilha, por assim dizer,
pela qual Israel aprendeu a soletrar a grande mensagem da redenção, mediante um
sacrifício expiatório. Tal é a justificação para esta secção sobre a origem,
história, natureza, e eficácia do sacrifício do Antigo Testamento.
1.
A origem do sacrifício.
(a) Ordenado
no céu.
A
Expiação não foi um pensamento de última hora da parte de Deus. A queda do
homem não o apanhou de surpresa, de modo a necessitar de rápidas providências
para remediá-la.
Antes
da criação do mundo, Deus, que conhece o fim desde o princípio, proveu um meio
para a redenção do homem.
Como
uma máquina é concebida na mente do inventor antes de ser construída, do mesmo
modo a expiação estava na mente e no propósito de Deus, antes do seu
cumprimento. Essa verdade é afirmada pelas Escrituras.
Jesus
é descrito como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Apoc
13:8).
O
Cordeiro Pascal era preordenado vários dias antes de ser sacrificado (Êx 12:3,6); assim também Cristo, o Cordeiro imaculado e incontaminado, foi
"conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes
últimos tempos por amor de vos" (1 Pe 1:19, 20).
Ele
comprou para o homem a vida eterna, a qual Deus "prometeu antes dos tempos
dos séculos" (Tt 1:2).
Que
haveria um grupo de pessoas santificadas por esse sacrifício, foi decretado
"antes da fundação do mundo" (Ef 1:4).
Pedro
disse aos judeus que apesar de terem, na sua ignorância, crucificado a Cristo
com mãos ímpias, sem dúvida haviam cumprido o plano eterno de Deus, pois Cristo
foi "entregue pelo poder do conselho e presciência de Deus" (At 2:23).
É
evidente, pois, que o Cristianismo não é uma religião nova que começou há mil e
novecentos anos, mas, sim, a manifestação histórica de um propósito eterno.
(b) Instituído
na terra.
Visto
como centenas de anos haviam de passar antes da consumação do sacrifício, que
deveria fazer o homem pecador?
Desde
o princípio Deus ordenou uma instituição que prefigurasse o sacrifício e que
fosse também um meio de graça para os arrependidos e crentes.
Referi-mo-nos
ao sacrifício de animais, uma das mais antigas instituições humanas.
A
primeira menção de um animal imolado ocorre no terceiro capítulo de Gênesis.
Depois que pecaram, os nossos primeiros pais se tomaram conscientes da nudez
física — o que era uma indicação exterior da nudez da consciência. Seus
esforços em se cobrirem exteriormente com folhas e interiormente com desculpas,
foram em vão. Lemos então que o Senhor Deus tomou peles de animais e os cobriu.
Apesar
de o relato não declarar em palavras que tal providência fosse um sacrifício,
sem dúvida, meditando no significado espiritual do ato , não se pode evitar a
conclusão de que temos aqui uma revelação de Jeová , o Redentor, fazendo
provisão para redimir o homem.
Vemos
uma criatura inocente morrer para que o culpado seja coberto; esse é o
propósito principal do sacrifício — uma cobertura divinamente provida para uma
consciência culpada.
O
primeiro livro da Bíblia descreve uma vitima inocente morrendo pelo culpado, e
o último livro da Bíblia fala do Cordeiro sem mancha, imolado, para livrar os
culpados de seus pecados (Ap 5:6-10).
2.
A natureza do sacrifício.
Esta
instituição original do sacrifício muito provavelmente explica por que a
adoração expiatória tem sido praticada em todas as épocas e em todos os países.
Apesar
de serem perversões do modelo original, os sacrifícios pagãos baseiam-se em
duas idéias fundamentais:
(coração
e expiação) O homem reconhece que está debaixo do poder de uma deidade tendo
certos direitos sobre ele. Como reconhecimento desses direitos, e como sinal de
sua submissão, ele oferece uma dádiva ou um sacrifício. Freqüentemente,
entretanto, tomando-se consciente de que o pecado perturba a relação,
instintivamente ele reconhece que o mesmo Deus que o fez, tem o direito de
destruí-lo, a não ser que algo seja feito para restaurar a relação
interrompida.
Uma
das crenças mais profundas e firmes da antiguidade era que a imolação de uma
vitima e o derramamento de seu sangue afastariam a ira divina e assegurariam o
favor de Deus. Mas como aprenderam isso?
Paulo
nos diz que houve um tempo "quando conheciam a Deus" (Rm. 1:21).
Assim como o homem decaído leva as marcas da origem divina, também os
sacrifícios pagãos levam algumas marcas de uma original revelação divina.
Depois
da confusão de línguas (Gn 11:1-9) os descendentes de Noé espalharam-se por
todas as partes, levando consigo o verdadeiro conhecimento de Deus, porquanto
até então não havia registro de idolatria. O que ocorreu no transcurso do tempo
é brevemente descrito em Rm 1:19-32.
As
nações se afastaram da adoração pura de Deus e cedo perderam de vista sua
gloriosa divindade. O resultado foi a cegueira espiritual. Em lugar de verem a
Deus por meio dos corpos celestes, começaram a adorar esses corpos como
deidades; em vez de verem o Criador por meio das árvores e dos animais,
começaram a adorá-los como deuses; em vez de reconhecerem que o homem foi feito
a imagem de Deus, começaram a fazer um deus da imagem do homem. Desse modo a
cegueira espiritual conduziu à idolatria.
A
idolatria não era meramente uma questão intelectual; a adoração da natureza,
que é a base da maioria das religiões pagãs, conduziu o homem a deificar (fazer
deuses de) suas próprias concupiscências, e o resultado foi a corrupção moral.
Todavia,
apesar dessa perversão, a adoração do homem tinha leves indícios que indicavam
ter havido um tempo quando ele entendia melhor as coisas.
[Através
das idolatrias do Egito, Índia e China, descobre-se uma crença em um Deus
verdadeiro, o Espírito eterno que fez todas as coisas.]
Quando
a escuridão espiritual cobriu as nações, como a corrupção moral havia coberto o
mundo antediluviano, Deus começou de novo com Abraão, assim como havia feito
previamente com Noé.
O
plano de Deus era fazer de Abraão o pai de uma nação que restauraria ao mundo a
luz do conhecimento e a glória de Deus.
No
Monte Sinai, Israel foi separado das nações, para ser uma nação santa. Para
dirigi-los na vida de santidade, Deus lhes deu um código de leis que governaria
sua vida moral, nacional e religiosa. Entre essas leis estavam a do sacrifício
(Lv. cap. 1 a 7) as quais ensinavam à nação a maneira correta de
aproximar-se de Deus e adorá-lo.
As
nações tinham uma adoração pervertida; Deus restaurou em Israel a adoração
pura. Os sacrifícios mosaicos eram meios pelos quais os israelitas rendiam ao
seu Criador a primeira obrigação do homem, a saber, a adoração.
Tais
sacrifícios eram oferecidos com o objetivo de alcançar comunhão com Deus e
remover todos os obstáculos que impediam essa comunhão. Por exemplo, se o
israelita pecasse e dessa maneira perturbasse a relação entre ele e Deus,
traria uma oferta pelo pecado — o sacrifício de expiação. Ou, se tivesse
ofendido ao seu próximo, traria uma oferenda pela culpa — o sacrifício de
restituição. (Lv. 6:1-7.) Depois que, estava de bem com Deus e com os homens e
desejava reconsagrar-se, oferecia uma oferta queimada (holocausto) — o
sacrifício de adoração (Lv. cap. 1) Estava então pronto para desfrutar de
uma feliz comunhão com Deus, que o havia perdoado e aceito; portanto, ele
apresentava uma oferenda de adoração — sacrifício de comunhão. (Lv. cap. 3)
O
propósito desses sacrifícios cruentos cumpre-se em Cristo, o sacrifício
perfeito. Sua morte é descrita como morte pelo pecado, como ato de levar o
pecado (2 Co 5:21)
Deus
fez da alma de Cristo uma oferta pela culpa do pecado (tal é a tradução
literal); ela pagou a dívida que não podíamos pagar, e apagou o passado que não
podíamos desfazer.
Cristo
é a nossa oferenda queimada (holocausto), porque sua morte é exposta como um
ato de perfeito oferecimento próprio (Hb 5:15; Ef 5:). Ele é a nossa oferta
de paz. porque ele mesmo descreveu sua morte como um meio para se participar
(ter comunhão com) da vida divina. (vide Lv. 7.15, 20)
3.
A eficácia do sacrifício.
Até
que ponto os sacrifícios do Antigo Testamento foram eficazes?
Asseguravam
realmente perdão e pureza?
Que
benefícios asseguravam para o ofertante?
Essas
perguntas são de verdadeira importância, porque, comparando e contrastando os
sacrifícios levíticos com o sacrifício de Cristo, poderemos compreender melhor
a eficácia e finalidade do último. Este tema é tratado na carta aos Hebreus. O
escritor dirige-se a um grupo de cristãos hebreus, os quais, desanimados pela
perseguição, são tentados a voltar ao Judaísmo e aos sacrifícios do templo. As
realidades nas quais eles criam são invisíveis, ao passo que o templo com seu
ritual parece tangível e real. A fim de evitar que tomassem tal decisão, o
escritor faz a comparação entre o Antigo e o Novo Concertos, sendo imperfeito e
provisório o Antigo, mas perfeito e eterno o Novo. Voltar ao templo e ao seu
sacerdócio e sacrifício seria desprezar a substância preferindo a sombra, o
perfeito pela imperfeição. O argumento é o seguinte: o Antigo Concerto era bom,
na medida de sua finalidade e para o seu determinado propósito ao qual foi
constituído; mas o Novo Concerto é melhor.
(a) Os
sacrifícios do Antigo Testamento eram bons.
Se
não fossem, não teriam sido divinamente ordenados.
Eles
eram bons no sentido de terem cumprido um determinado propósito incluído no
plano divino, isto é, um meio de graça, para que aqueles do povo de Jeová que
haviam pecado contra ele pudessem voltar ao estado de graça, serem
reconciliados, e continuarem no gozo de comunhão com ele. Quando o israelita
havia fielmente cumprido as condições, então podia descansar sobre a promessa;
"o
sacerdote por ele fará expiação do seu pecado, e lhe ser perdoado" (Lv
4:26).
Quando
um israelita esclarecido trazia oferta, estava ele cônscio de duas coisas:
Primeira,
que o arrependimento em si não era o suficiente; era indispensável uma
transação visível que indicasse o fato de ser removido o pecado. (Hb 9:22)
Mas
por outro lado, ele aprendia com os profetas que o ritual sem a correta
disposição interna do coração também era mera formalidade sem valor.
O
ato de sacrifício devia ser a expressão externa dos sacrifícios internos de
louvor, oração, justiça e obediência — sacrifícios do coração quebrantado e
contrito. (Vide Sl 26:6; 50:12-14; 4:5; 51:16; Pv 21:3; Am 5:21-24; Mq
6:6-8; Is 1:11-17)
"O
sacrifício (oferta de sangue) dos ímpios é abominação ao Senhor", declarou
Salomão (Pv 15:8).
Os
escritores inspirados, em termos claros externaram o fato de que as
"emoções ritualistas não acompanhadas de emoções de justiça eram devoções
inaceitáveis".
(b) O
sacrifício único do Novo Testamento é melhor.
Embora
reconhecessem a divina ordenação de sacrifícios de animais, os israelitas
esclarecidos certamente compreendiam que esses animais não podiam ser o meio
perfeito de expiação.
1)
Havia grande disparidade entre um animal irracional e irresponsável e o homem
feito à imagem de Deus. Era evidente que o animal não constituía sacrifício
inteligente e voluntário. Não havia nenhuma comunhão entre o ofertante e a
vítima. Era evidente que o sacrifício do animal não podia comparar-se em valor
à alma humana, nem tampouco exercer qualquer poder sobre o homem interior.
Nada
havia no sangue da criatura irracional que efetuasse a redenção espiritual da
alma, a qual somente seria possível pela oferta duma vida humana perfeita.
O
escritor inspirado externou o que certamente foi a conclusão à qual chegaram
muitos crentes do Antigo Testamento, quando disse :
"Porque
é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados" (Hb
10:4).
Quando
muito, os sacrifícios eram apenas meios temporários e imperfeitos de cobrir o
pecado até que viesse uma redenção mais perfeita.
A
lei levou o povo à convicção dos pecados (Rm 3:20), e os sacrifícios tornaram
inoperantes esses pecados de forma que não podiam provocar a ira divina.
2)
Os sacrifícios de animais são descritos como "ordenanças carnais",
isto é, são ritos que removeram contaminações do corpo, e expiaram atos
externos do pecado (Hb 9:10) mas em si mesmos nenhuma virtude espiritual
possuíam
"...
o sangue dos touros e bodes... santifica, quanto à purificação da carne"
(Hb 9:13)
Isto
é, fizeram expiação pelas contaminações que excluíam um israelita da comunhão
na congregação de Israel. Por exemplo, se a pessoa se contaminasse fisicamente
seria considerada imunda e cortada da congregação de Israel até que se
purificasse e oferecesse sacrifício (Lv 5:1-6); ou se ofendesse materialmente
seu próximo, estaria sob a condenação até que trouxesse uma oferta pelo pecado
(Lv 6:1-7).
No
primeiro caso o sacrifício purificava a contaminação carnal; no segundo, o
sacrifício fazia expiação pelo ato externo mas não mudava o coração). O próprio
Davi reconheceu que estava preso por uma depravação da qual os sacrifícios de
animais não o podiam libertar (Sl 51:16; vide 1 Sm 3:14}; ele orou a Deus
pedindo a renovação espiritual que sacrifícios não podiam proporcionar (Sl
51:6-10).
3)
A repetição dos sacrifícios de animais denuncia a sua imperfeição; não podiam
aperfeiçoar o adorador (Hb 10:1, 2), isto é, não podiam dar-lhe uma posição ou
relação perfeita perante Deus, sobre a qual pudesse edificar a estrutura do seu
caráter. Não podia experimentar de uma vez para sempre uma transformação
espiritual que seria o inicio duma nova vida.
4)
Os sacrifícios de animais eram oferecidos por sacerdotes imperfeitos; a
imperfeição de seu ministério era indicada pelo fato de que não podiam entrar a
qualquer hora no Santo dos Santos, e, portanto, não podiam conduzir o adorador
diretamente à divina presença.
"Dando
nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava
descoberto..." (Hb 9:8).
O
sacerdote não dispunha de nenhum sacrifício pelo qual pudesse conduzir o povo a
uma experiência espiritual com Deus, e dessa forma tomar o adorador perfeito
"quanto à consciência" (Hb 9:9).
Ao
ser interpelado o israelita espiritual com respeito às suas esperanças de
redenção, ele diria, à luz do mesmo discernimento que o fez perceber a
imperfeição dos sacrifícios de animais, que a solução definitiva era aguardada
no futuro, e que a perfeita redenção estava em conexão, de alguma maneira, com
a ordem perfeita que se inauguraria à vinda do Messias.
Em
verdade, tal revelação foi concedida a Jeremias. Esse profeta havia desanimado
de crer que o povo seria capaz de guardar a lei; seu pecado fora escrito com
pena de ferro (Jr 17:1), seu coração era enganoso e mau em extremo (Jr 17:9).
Não podiam mudar o coração como o etíope não podia mudar a cor de sua pele (Jr
19:23); tão calejados estavam e tão depravados eram, que os próprios
sacrifícios não lhes podiam valer (Jr 6:20).
Na
realidade, haviam-se esquecido do propósito primordial desses sacrifícios.
Do
ponto de vista humano o povo não oferecia nenhuma esperança, mas Deus confortou
a Jeremias com a promessa da vinda dum tempo quando, sob uma nova aliança, os
corações do povo seriam transformados, quando haveria então uma perfeita
remissão dos pecados (Jr 31:31-34).
"Porque
lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados."
Em
Hb 10:17, 18 encontramos a inspirada interpretação dessas últimas palavras em
que se concretizaria uma redenção perfeita mediante um sacrifício perfeito que
dava a entender que os sacrifícios de animais haviam de desaparecer. (Vide Hb
10:6-10)
Por
meio desse sacrifício o homem desfruta duma experiência "uma vez para
sempre" que lhe dá uma aceitação perfeita perante Deus.
O
que não se conseguiu pelos sacrifícios da lei obteve-se pelo perfeito
sacrifício de Cristo.
"E
assim o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os
mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido
um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de
Deus..." (Hb 10:11, 12).
5)
Resta uma questão a ser considerada. É certo que havia pessoas verdadeiramente
justificadas antes da obra expiatória de Cristo. Abraão foi justificado pela fé
(Rm 4:23) e entrou no reino de Deus (Mt 8:11; Lc 16:22); Moisés foi
glorificado (Lc 9:30, 31); e Enoque e Elias foram transladados. Sem dúvida
houve muitas pessoas santas em Israel que alcançaram a estatura espiritual
desses homens dignos. Sabendo que os sacrifícios de animais eram insuficientes,
e que o único sacrifício perfeito era o de Cristo, em que base então foram
salvos esses santos do Antigo Testamento?
Foram
salvos por antecipação do futuro sacrifício realizado. A prova dessa verdade
encontra-se em Hb 9:15 (vide também Rm 3:25), que ensina que a morte de
Cristo era, em certo sentido, retroativa e retrospectiva; isto é, que tinha uma
eficácia em relação ao passado.
Hb 9:15 sugere o seguinte pensamento:
A
Antiga Aliança era impotente para prover uma redenção perfeita. Cristo
completou essa aliança e inaugurou a Nova Aliança com a sua morte, a qual
efetuou a "redenção das transgressões que estavam debaixo do primeiro
testamento". Isso significa que Deus, ao justificar os crentes do Antigo
Testamento, assim o fez em antecipação da obra de Cristo, "a
crédito", por assim dizer; Cristo pagou o preço total na cruz e apagou a
dívida. Deus deu aos santos do Antigo Testamento uma posição, a qual a Antiga
Aliança não podia comprar, e assim o fez em vista duma aliança vindoura que
podia efetuar.
Se
perguntassem aos crentes do Antigo Testamento se durante a sua vida gozaram dos
mesmos privilégios que aqueles que vivem sob o Novo Testamento, a resposta
seria negativa. não havia nenhum dom permanente do Espírito Santo (Jo 7:39)
que acompanhasse seu arrependimento e fé; não gozavam da plena verdade sobre a
imortalidade revelada por Cristo
(2 Tm 1:10), e, de modo geral, eram limitados pelas imperfeições da dispensação na qual viviam. O melhor que se pode dizer é que apenas saborearam algo das boas coisas vindouras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário