A EXPIAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
1.
O fato da expiação.
A
expiação que fora preordenada desde a eternidade e prefigurada tipicamente no
ritual do Antigo Testamento cumpriu-se historicamente, na crucificação de
Jesus, quando se consumou o divino propósito redentivo.
"Está
consumado!" Os escritores dos Evangelhos descreveram os sofrimentos e a
morte de Cristo com profusão de pormenores que não se vêm nas narrativas de
outros eventos das profecias do Antigo Testamento, os quais indicam a grande
importância do evento.
Alguns
escritores da escola "liberal" defendem a teoria de que a morte de
Cristo fora acidente e tragédia! Ele teria iniciado seu ministério com grande
esperança de sucesso, segundo eles, mas depois viu-se envolvido em certas
circunstâncias que ocasionaram a sua destruição imprevista, à qual não pôde
escapar.
Mas,
que dizem os Evangelhos a respeito?
Segundo
o seu testemunho, Jesus sabia desde o princípio que o sofrimento e a morte
faziam parte do seu destino divinamente ordenado. Em sua declaração, que o Filho
do homem devia sofrer, a palavra "devia" indica a vocação divina e
não a fatalidade imprevista e inevitável.
No
ato do seu batismo ele ouviu as palavras: "Este é o meu filho amado, em
quem me comprazo" (Mat. 3:17). Essas palavras são extraídas de duas profecias,
a primeira declarando a filiação do Messias e sua Divindade (Sal. 2:7), e a
segunda descrevendo o ministério do Messias como o Servo do Senhor (Isa. 42:1).
O servo mencionado em Isa. 42:1 é o Servo sofredor de Isa. 53. A conclusão à
qual chegamos é que mesmo na hora do seu batismo, Jesus estava ciente do fato
de que sofrimento e morte faziam parte de sua vocação.
A
rejeição das ofertas de Satanás no deserto implicava desfecho trágico de sua
obra, pois ele escolheu o caminho duro da rejeição em vez do fácil e popular. O
próprio fato de o Santo estar no meio do povo (Luc. 3:21) que se batizava, e o
submeter-se ao mesmo batismo foi um ato de identificação com a humanidade
pecaminosa, a fim de levar os pecados desse mesmo povo.
O
Servo do Senhor, segundo Isaías 53, seria "contado com os
transgressores" (ver. 12). O batismo de Jesus pode ser considerado como
"o grande ato de amorosa comunhão com a nossa miséria", pois nessa
hora ele identifica-se com os pecadores e, por conseguinte, em certo sentido
sua obra de expiação já começou.
Muitas
vezes durante o curso do seu ministério o Senhor, em linguagem oculta e
figurada, referiu-se à sua morte (Mat. 5:10-12; 23:37; Mar. 9:12,13; 3:6,20-30;
2:19), mas em Cesaréia de Filipo ele claramente disse aos discípulos que devia
sofrer e morrer. Daquele tempo em diante ele procurou esclarecer-lhes as mentes
sobre este fato, que teria que sofrer, para que, sendo avisados, não
naufragassem em sua fé ante o choque da crucificação. (Mar. 8:31; 9:31; 10:32.)
Ele também lhes explicou o significado de sua morte. Não a deveriam considerar
como tragédia imprevista e infeliz à qual teria que se resignar, e, sim, como
sendo morte cujo propósito era fazer expiação.
"O
Filho do homem veio a dar a sua vida em resgate de muitos."
Na
última ceia Jesus deu instruções acerca da futura comemoração de sua morte,
como sendo o supremo ato de seu ministério. Ele ordenou um rito que comemoraria
sua redenção da humanidade, assim como a Páscoa comemorava a redenção de Israel
do Egito. Seus discípulos, que ainda estavam sob a influência de idéias
judaicas acerca do Messias e do reino, não podiam compreender a necessidade de
sua morte e só com dificuldade podiam aceitar o fato. Mas apos a ressurreição e
a ascensão eles o entenderam e sempre depois disso afirmaram que a morte de
Cristo fora divinamente ordenada como o meio da expiação.
"Cristo
morreu pelos nossos pecados", é seu testemunho de sempre.
2.
A necessidade da expiação.
A
necessidade da expiação é conseqüência de dois fatos: A santidade de Deus e a
pecabilidade do homem.
A
reação da santidade de Deus contra a pecabilidade do homem é conhecida como sua
ira, a qual pode ser evitada mediante a expiação. Portanto, os pontos-chave do
nosso estudo serão os seguintes: Santidade, pecabilidade, ira e expiação.
(a) A
santidade de Deus.
Deus
é santo por natureza, o que significa que ele é justo em caráter e conduta.
Esses atributos do seu caráter manifestam-se em seus tratos com a sua criação.
"Ele
ama a justiça e o juízo" (Sal. 33:5).
"Justiça
e juízo são a base do teu trono" (Sal. 89:14).
Deus
constituiu o homem e o mundo segundo leis especificas, leis que formam o
próprio fundamento da personalidade humana, escritos no coração e na natureza
do homem. (Rom. 2:14, 15.) Essas leis unem o homem ao seu Criador pelos laços
de relação pessoal e constituem a base da responsabilidade humana.
"Porque
nele vivemos, e nos movemos e existimos" (Atos 17:28), assim foi dito da
humanidade em geral. O pecado perturba a relação expressa nesse verso, e ao fim
o pecador impenitente será lançado eternamente da presença de Deus. Esta é
"a segunda morte". Em muitas ocasiões essa relação foi reafirmada,
ampliada e interpretada sob outro sistema chamado aliança. Por exemplo, no
Sinai Deus reafirmou as condições sob as quais ele podia ter comunhão com o
homem (a lei moral) e, então estabeleceu uma série de regulamentos pelos quais
Israel poderia observar essas condições na esfera da vida nacional e religiosa.
Guardar
a aliança significa estar em relação com Deus, ou estar na graça; pois aquele
que é justo pode ter comunhão somente com aqueles que andam na justiça.
"Andarão
dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3:3).
E
estar em comunhão com Deus significa vida. Do princípio ao fim, as Escrituras
declaram esta verdade, que a obediência e a vida andam juntas. (Gên. 2:17;
Apoc. 22:14.)
(b) A
pecabilidade do homem.
Essa
relação foi perturbada pelo pecado que é um distúrbio da relação pessoal entre
Deus e o homem. E desrespeitar a constituição, por assim dizer, ação que afeta
a Deus e aos homens, tal qual a infidelidade que viola o pacto matrimonial sob
o qual vivem o homem e sua mulher. (Jer. 3:20)
"Vossas
iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus" (Isa. 59:2).
A
função da expiação é fazer reparação pela lei violada e reatar a comunhão
interrompida entre Deus e o homem.
(c) Ira.
O
pecado é essencialmente um ataque contra a honra e a santidade de Deus. É
rebelião contra Deus, pois pelo pecado deliberado, o homem prefere a sua
própria vontade em lugar da vontade de Deus, e por algum tempo torna-se
"autônomo".
Mas
se Deus permitisse que sua honra fosse atacada então ele deixaria de ser Deus.
Sua honra pede a destruição daquele que lhe resiste; sua justiça exige a
satisfação da lei violada; e sua santidade reage contra o pecado sendo essa
reação reconhecida como manifestação da ira. Mas essa reação divina não é
automática; nem sempre ela entra em ação instantaneamente, como acontece com a
mão em contato com o fogo.
A
ira de Deus é governada por considerações pessoais; Deus é tardio em destruir a
obra de suas mãos. Ele insta com o homem; ele espera ser gracioso. Ele adia o
juízo na esperança de que sua bondade conduza o homem ao arrependimento. (Rom.
2:4; 2 Ped. 3:9.)
Mas
os homens interpretam mal as demoras divinas e zombam do dia de juízo.
"Visto
como se não executa imediatamente o juízo sobre a má obra, por isso o coração
dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal"
(Ecl. 8:11).
Mas,
embora demore, a retribuição final virá, pois num mundo governado por leis ter
de haver um ajuste de contas.
"não
erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso
também ceifará" (Gál. 6:7).
Essa
verdade foi demonstrada no Calvário, onde Deus declarou "sua justiça pela
remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus" (Rom.
3:25).
Assim
alguém traduz essa passagem: "Isto foi para demonstrar a justiça de Deus
em vista do fato de que os pecados previamente cometidos durante o tempo da
tolerância de Deus foram ignorados".
Outro
assim parafraseia a passagem: "Ele suspendeu o juízo sobre os pecados
daquele período anterior, o período de sua paciência, tendo em vista a
revelação de sua justiça sob esta dispensação, quando ele, justo Juiz,
absolverá o pecador que afirma sua fé em Jesus."
Em
séculos passados parece que Deus não levou em conta os pecados das nações; os
homens continuaram no pecado, aparentemente sem ceifar as suas conseqüências.
Dai a pergunta: "Então Deus não toma conhecimento do pecado?"
Mas
a crucificação revelou o caráter horrendo do pecado, e demonstra vivamente o
terrível castigo sobre ele. A cruz de Cristo declara que Deus nunca foi, não é,
e nunca poderia ser indiferente ao pecado dos homens.
Assim
comenta o assunto um erudito: Deus deu provas de sua ira contra o pecado quando
ocasionalmente castigou Israel e as nações gentílicas. Mas ele não infligiu a
plena penalidade, caso contrário a raça humana teria perecido. Em grande parte
ele "passou por alto" os pecados dos homens. Seria injusto o rei que
deixasse de punir um crime ou mesmo que adiasse a punição. E na opinião de
alguns. Deus perdeu prestigio por causa de sua tolerância, a qual interpretam
como um meio de escapar à punição divina. Deus destinou Cristo para morrer a
fim de demonstrar a sua justiça em vista da tolerância dos pecados passados,
tolerância que parecia ofuscar a justiça.
(d) Expiação.
O
homem tem quebrado as leis de Deus e violado os princípios da justiça. O
conhecimento desses atos está registrado em sua memória e a sua consciência o
acusa.
Que
se pode fazer para remediar o passado e ter segurança no futuro?
Existe
alguma expiação pela lei violada?
Para
essa pergunta existem três respostas:
1)
Alguns afirmam que a expiação não é possível e que a vida é governada por uma
lei inexorável, a qual punirá com precisão matemática todas as violações. O que
o homem semear, fatalmente, isso mesmo ele ceifará. O pecado permanece. Assim o
pecador nunca escapará às culpas do passado. Seu futuro está hipotecado e não
existe redenção para ele. Essa teoria faz do homem um escravo de suas
circunstâncias; nada pode fazer quanto ao seu destino. Se os proponentes dessa
teoria reconhecem a Deus, para eles Deus é escravizado às suas próprias leis,
incapaz de prover um meio de escape para os pecadores.
2)
No outro extremo há aqueles que ensinam que a expiação é desnecessária. Deus é
tão bom que não punirá o pecador, e tão gracioso que não exigirá a satisfação
da lei violada. Por conseguinte, a expiação toma-se desnecessária e é de supor
que Deus perdoará a todos.
Certa
vez um médico disse a uma cliente que lhe havia falado do Evangelho: Eu não
preciso de expiação. Quando erro, peço simplesmente a Deus que me desculpe, e é
quanto basta." Depois de certo tempo a cliente voltou ao médico e lhe
disse: "Doutor, agora estou bem. Sinto muito haver ficado doente, e
prometo-lhe que me esforçarei para nunca mais adoecer." Ao mesmo tempo ela
insinuou que nenhuma necessidade havia de considerar ou pagar a conta! Cremos
que o médico compreendeu a lição, isto é, que mero arrependimento não salda
conta, nem repara os estragos causados pelo pecado.
3)
O Novo Testamento ensina que a expiação é tanto necessária como também
possível; possível porque Deus é benévolo, bem como justo; necessária porque
Deus é justo, bem como benévolo. Os dois erros acima tratados são exageros de
duas verdades sobre o caráter de Deus. O primeiro exagera a sua justiça,
excluindo a sua graça. O segundo exagera sua graça, excluindo a sua justiça. A
expiação faz justiça a ambos os aspectos de seu caráter, pois na morte de
Cristo, Deus está agindo de modo justo como também benévolo. Ao tratar do
pecado, ele precisa mostrar sua graça, pois ele não deseja o morte do pecador;
mas, ao perdoar o pecado, ele precisa revelar a sua justiça, pois a própria
estabilidade do universo depende da soberania de Deus. Na expiação Deus faz
justiça a seu caráter como um Deus benévolo. Sua justiça clamou pelo castigo do
pecador, mas sua graça proveu um plano para o perdão. Ao mesmo tempo ele faz
justiça a seu caráter como um Deus justo e reto. Deus não faria justiça a si
mesmo se manifestasse compaixão para com os pecadores de maneira que fizesse do
pecado uma coisa leve e que ignorasse sua trágica realidade. Poderíamos pensar
que Deus seria então indiferente ou indulgente quanto ao pecado. O castigo do
pecado foi pago no Calvário, e a lei divina foi honrada; dessa maneira Deus
pôde ser benévolo sem ser injusto, e justo sem ser inclemente.
A
EXPIAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO II
3.
A natureza da expiação.
A
morte de Cristo é: "Cristo morreu", expressa o fato histórico da
crucificação; "por nossos pecados", interpreta o fato.
Em
que sentido morreu Jesus por nossos pecados?
Como
é explicado o fato no Novo Testamento?
A
resposta encontra-se nas seguintes palavras-chave aplicadas à morte de Cristo:
Expiação,
Propiciação, Substituição, Redenção e Reconciliação.
(a) Expiação.
A
palavra expiação no hebraico significa literalmente 'cobrir', e é traduzida
pelas seguintes palavras: Fazer expiação, purificar, quitar, reconciliar, fazer
reconciliação, pacificar, ser misericordioso.
A
expiação, no original, inclui a ideia de cobrir, tanto os pecados (Sal.
78:38;79:9; Lev. 5:18) como também o pecador. (Lev. 4:20)
Expiar
o pecado é ocultar o pecado da vista de Deus de modo que o pecador perca seu
poder de provocar a ira divina.
Citamos
aqui o Pr. Alfred Cave: A ideia expressa pelo original hebraico da palavra
traduzida "expiar", era "cobrir" e "cobertura",
não no sentido de torná-lo invisível a Jeová, mas no sentido de ocupar sua
vista com outra coisa, de neutralizar o pecado, por assim dizer, de desarmá-lo,
de torná-lo inerte para provocar a justa ira de Deus. Expiar o pecado... era
arrojar, por assim dizer, um véu sobre o pecado tão provocante, de modo que o
véu., e não o pecado, fosse visível; era colocar lado a lado com o pecado algo
tão atraente que cativasse completamente a atenção.
A
figura que o Novo Testamento usa ao falar das vestes novas (de justiça), usa-a
o Antigo Testamento ao falar da "expiação". Quando se fazia expiação
sob a lei, era como se o olho divino, que se havia acendido pela presença do
pecado e a impureza, fosse aquietado pela vestidura posta ao seu derredor; ou,
usando uma figura muito mais moderna, porém igualmente apropriada, era como se
o pecador, exposto a uma descarga elétrica da ira divina, houvesse sido
repentinamente envolto e isolado.
A
exposição significa cobrir de tal maneira o pecador, que seu pecado era
invisível ou inexistente no sentido de que já não podia estar entre ele e seu
Criador.
Quando
o sangue era aplicado ao altar pelo sacerdote, o israelita sentia a segurança
de que a promessa feita a seus antecessores se faria real para ele.
"Vendo
eu sangue, passarei por cima de vós" (Êxo. 12:13).
Quais
eram o efeitos da expiação ou da cobertura?
O
pecado era apagado (Jer. 18:23; Isa. 43:25; 44:22); removido (Isa.6:7); coberto
(Sal. 32:1); lançado nas profundidades do mar (Miq. 7:19); perdoado (Sal.
78:38).
Todos
esses termos ensinam que o pecado é coberto de modo que seus efeitos sejam
removidos, afastados da vista, invalidados, desfeitos. Jeová já não vê nem
sofre influência alguma dele.
A
morte de Cristo foi uma morte expiatória, porque seu propósito era apagar o
pecado. (Heb. 9:26, 28; 2:17; 10:12-14; 9:14)
Foi
uma morte sacrificial ou uma morte que tinha relação com o pecado. Qual era
essa relação?
"Levando
ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Ped. 2:24).
"Aquele
que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus" (2 Cor. 5:21)
Expiar
o pecado significa levá-lo embora, de modo que ele é afastado do transgressor,
o qual é considerado, então, como justificado de toda a injustiça, purificado
de contaminação e santificado para pertencer ao povo de Deus.
Uma
palavra hebraica usada para descrever a purificação significa, literalmente,
"quitar o pecado". Pela morte expiatória de Cristo os pecadores são
purificados do pecado e logo feitos participantes da natureza de Cristo. Eles
morrem para o pecado a fim de viverem para Cristo.
(b) Propiciação.
Crê-se
que a palavra propiciação tem sua origem em uma palavra latina
"propõe", que significa "perto de". Assim se nota que a
palavra significa juntar, tornar favorável.
O
sacrifício de propiciação traz o homem para perto de Deus, reconcilia-o com
Deus fazendo expiação por suas transgressões, ganhando a graça e favor. (Em sua
misericórdia, Deus aceita o dom propiciatório e restaura o pecador a seu amor).
Esse também é o sentido da palavra grega como é usada no Novo Testamento.
Propiciar
é aplacar a ira de um Deus santo pela oferenda dum sacrifício expiatório.
Cristo é descrito como sendo essa propiciação (Rom. 3:25: 1 João 2:4; 4).
O
pecado mantém o homem distanciado de Deus; mas Cristo tratou de tal maneira o
assunto do pecado, a favor do homem, que o seu poder separador foi anulado.
Portanto, agora o homem pode "chegar-se" a Deus "em seu
nome".
O
acesso a Deus, o mais sublime dos privilégios, foi comprado por grande preço: O
sangue de Cristo.
Assim
escreve o Dr. James Denney: E assim como no Antigo Testamento todo objeto usado
na adoração tinha que ser aspergido com sangue expiatório, assim também todas
as partes da adoração cristã; todas as nossas aproximações a Deus devem
descansar conscientemente sobre a expiação. Deve-se sentir que é um privilégio
de inestimável valor; deve ser permeado com o sentimento da paixão de Cristo e
com o amor com que ele nos amou quando sofreu por nossos pecados de uma vez
para sempre, o justo pelos injustos para chegar-nos a Deus.
A
palavra "propiciação" em Romanos 3:25 é tradução da palavra grega
"hilasterion", que se encontra também em Heb. 9:5 onde é traduzida
como "propiciatório".
No
hebraico, "propiciatório" significa literalmente "coberta",
e, tanto no hebraico como no grego, a palavra expressa o pensamento de um
sacrifício (*). Refere-se à arca da aliança (Êxo. 25:10-22) que estava composta
de duas partes : primeira, a arca, representando o trono do justo governante de
Israel, contendo as tábuas da lei como a expressão de sua justa vontade;
segunda, a coberta, ou tampa, conhecida como "propiciatório", coroada
com figuras angélicas chamadas querubins.
Duas
lições salientes eram comunicadas por essa mobília: primeira, as tábuas da lei
ensinavam que Deus era um Deus justo que não passaria por alto o pecado e que
devia executar seus decretos e castigar os ímpios.
Como
podia uma nação pecaminosa viver ante sua face?
O
propiciatório, que cobria a lei, era o lugar onde se aspergia o sangue uma vez
por ano para fazer expiação pelos pecados do povo. Era o lugar onde o pecado
era coberto, e ensinava a lição de que Deus, que é justo, pode perfeitamente
perdoar o pecado por causa dum sacrifício expiatório.
Por
meio do sangue expiatório, aquilo que é um trono de juízo se converte em trono
de graça. A arca e o propiciatório ilustram o problema resolvido pela expiação.
O
problema e sua solução são declarados em Rom. 3: 24-26, onde lemos:
"sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo
Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação (um sacrifício expiatório) pela fé
no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes
cometidos (demonstrar que a aparente demora em executar o juízo não significa
que Deus passou por alto o pecado) sob a paciência de Deus; para demonstração
da sua justiça, neste tempo presente (sua maneira de fazer justos os
pecadores), para que ele seja justo (infligir o devido castigo pelo pecado), e
justificador (remover o castigo pelo pecado) daquele que tem fé em Jesus".
Como
pode Deus realmente infligir o castigo do pecado e ao mesmo tempo cancelar esse
castigo?
Deus
mesmo tomou o castigo na pessoa de seu Filho, e desta maneira abriu
o caminho para o perdão do culpado. Sua lei foi honrada e o pecador foi salvo.
O pecado foi expiado e Deus foi propiciado.
Os
homens podem entender como Deus pode ser justo e castigar, ser misericordioso e
perdoar; mas a maneira como pode Deus ser justo no ato de justificar ao
culpado, é para eles um enigma.
O
Calvário resolve o problema. É preciso esclarecer o fato de que a propiciação
foi uma verdadeira transação, porque alguns ensinam que a expiação foi
simplesmente uma demonstração do amor de Deus e de Cristo, com a intenção de
comover o pecador ao arrependimento. Esse certamente é um dos efeitos da
expiação (1 João 3:16), mas não representa o todo da expiação. Por exemplo,
poderíamos pular para dentro dum rio e afogar-mo-nos à vista de uma pessoa
muito pobre a fim de convencê-la do nosso amor por ela; mas esse ato não
pagaria o aluguel da casa nem a conta do fornecedor que ele devesse! A obra
expiatória de Cristo foi uma verdadeira transação que removeu um verdadeiro
obstáculo entre nós e Deus, e pagou a dívida que não podíamos pagar.
(c) Substituição.
Os
sacrifícios do Antigo Testamento eram substitutos por natureza; eram considerados
como algo a que se procedia, no altar, para o israelita, que não podia fazê-lo
por si mesmo.
O
altar representava o pecador; a vitima era o substituto do israelita para ser
aceita em seu favor. Da mesma forma Cristo, na cruz, fez por nós o que não
podíamos fazer por nos mesmos, e qualquer que seja a nossa necessidade, somos
aceitos "por sua causa". Se oferecemos a Deus nosso arrependimento,
gratidão ou consagração, faze-mo-lo "em seu nome", pois ele é o
Sacrifício por meio do qual chegamos a Deus o Pai.
O
pensamento de substituição é saliente nos sacrifícios do Antigo Testamento,
onde o sangue da vitima é considerado como uma coberta ou como fazendo expiação
pela alma do ofertante. No capítulo em que os sacrifícios do Antigo Testamento
alcançam seu maior significado (Isa. 53) lemos:
"Verdadeiramente"
ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si...
mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados, (vers. 4, 5).
Todas
essas expressões apresentam o Servo de Jeová como levando o castigo que devia
cair sobre outros, a fim de "justificar a muitos"; e "levar as
iniquidades deles".
Cristo,
sendo o Filho de Deus, pôde oferecer um sacrifício de valor eterno e infinito.
Havendo assumido a natureza humana, Pôde identificar-se com o gênero humano e
assim sofrer o castigo que era nosso, a fim de que pudéssemos escapar. Isso
explica a exclamação: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?"
Ele
que era sem pecado por natureza, que nunca havia cometido um pecado sequer em
sua vida, se fez pecador (ou tomou o lugar do pecador). Nas palavras de Paulo:
"Aquele
que não conheceu pecado, o fez pecado por nós" (2 Cor. 5:21).
Nas
palavras de Pedro:
"Levando
ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Ped. 2:24).
(d) Redenção.
A
palavra redimir, tanto no Antigo como no Novo Testamento, significa tornar a
comprar por um preço; livrar da servidão por preço, comprar no mercado e
retirar do mercado.
O
senhor Jesus é um Redentor e sua obra expiatória é descrita como uma redenção.
(Mat. 20:28; Apoc. 5:9; 14:3, 4; Gál. 3:13; 4:5; Tito 2:14; 1 Ped. 1:18)
A
mais interessante ilustração de redenção se encontra no Antigo Testamento, na
lei sobre a redenção dum parente. (Lev. 25:47-49) Segundo essa lei, um homem
que houvesse vendido sua propriedade e se houvesse vendido a si mesmo como
escravo, por causa de alguma dívida, podia recuperar, tanto sua terra como sua
liberdade, em qualquer tempo, sob a condição de que fosse redimido por um homem
que possuísse as seguintes qualidades : Primeira, deveria ser parente do homem;
segunda deveria estar disposto a redimi-lo ou comprá-lo novamente; terceira,
deveria ter com que pagar o preço.
O
Senhor Jesus Cristo reuniu em si essas três qualidades: Fez-se nosso parente,
assumindo nossa natureza; estava disposto a dar tudo para redimir-nos (2 Cor.
8:9); e, sendo divino, pôde pagar o preço... seu próprio sangue precioso.
O
fato da redenção destaca o alto preço da salvação e, por conseguinte, deve ser
levado em grande consideração. Quando certos crentes em Corinto se descuidaram
de sua maneira de viver, Paulo assim os admoestou:
"não
sabeis... que não sois de vós mesmos? porque fostes comprados por bom preço;
glorificai pois a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a
Deus" (1 Cor. 6:19. 20).
Certa
vez Jesus disse:
"Que
aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o
homem pelo resgate da sua alma?" (Mar. 8:36, 37).
Com
essa expressão ele quis dizer que a alma, a verdadeira vida do homem, podia
perder-se ou arruinar-se; e perdendo-se não podia haver compensação por ela,
porque não havia meios de tornar a comprá-la. Os homens ricos poderão jactar-se
de suas riquezas e nelas confiar, porém o poder delas é limitado. O Salmista
disse:
"Nenhum
deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele (pois
a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes) por
isso tão pouco viver para sempre ou deixar de ver a corrupção" (Sal 49:
7-9).
Mas
uma vez que as almas de multidões já foram "confiscadas", por assim
dizer, por viverem no pecado, e não podem ser redimidas por meios humanos, que
se pode fazer em favor delas?
O
Filho do homem veio ao mundo "para dar a sua vida em resgate (ou para
redenção) de muitos (Mat. 20:28). O supremo objetivo de sua vinda ao mundo foi
dar sua vida como preço de resgate para que aqueles, cujas almas foram
"confiscadas", pudessem recuperá-las.
As
vidas (espirituais) de muitos, "confiscadas", são libertadas pela
rendição da vida por parte de Cristo.
Pedro
disse a seus leitores que eles foram resgatados de sua vã maneira de viver, que
por tradição (pela rotina ou costumes), receberam dos seus pais (1 Pedro 1:18).
A
palavra "vã" significa "vazia", ou aquilo que não satisfaz.
A vida, antes de entrar em contato com a morte de Cristo, é inútil e vã é andar
às apalpadelas, procurando uma coisa que nunca poderá ser encontrada. Com todos
os esforços não logra descobrir a realidade; não tem fruto permanente.
"Que adianta tudo isso?" exclamam muitas pessoas.
Cristo
nos redimiu dessa servidão. Quando o poder da morte expiatória de Cristo tem
contato com a vida de alguém, essa vida desfruta de grande satisfação. não está
mais escravizada às tradições de ancestrais ou limitada à rotina ou aos
costumes estabelecidos. Antes, as ações do cristão surgem duma nova vida que
veio a existir pelo poder da morte de Cristo.
A
morte de Cristo, sendo uma morte pelo pecado, liberta e "toma a criar"
a alma.
(e) Reconciliação.
"Tudo
isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos
deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nos a palavra da
reconciliação" (2 Cor. 5: 18, 19)
Quando
éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho (Rom.
5:10).
Homens
que em outro tempo eram estranhos entre si e inimigos no entendimento pelas
suas obras más, agora no corpo da sua carne, pela morte, foram reconciliados
(Col. 1:21).
Muitas
vezes a expiação é mal entendida e, por conseguinte, mal interpretada. Alguns
imaginam que a expiação significa que Deus estava irado com o pecador, e que se
afastou, mal-humorado, até que se aplacasse a ira, quando seu Filho se ofereceu
a pagar a pena. Em outras palavras, pensam eles, Deus teve que ser reconciliado
com o pecador. Essa ideia, entretanto é uma caricatura da verdadeira doutrina.
Através
das Escrituras vemos que é Deus, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em
prover expiação pelo homem. Foi Deus quem vestiu nossos primeiros pais; é o
Senhor quem ordena os sacrifícios expiatórios; foi Deus quem enviou e deu seu
Filho em sacrifício pela humanidade. O próprio Deus é o Autor da redenção do
homem.
Ainda
que sua majestade tenha sido ofendida pelo pecado do homem, sua santidade,
naturalmente, deve reagir contra o pecado, contudo, ele não deseja que o
pecador pereça (Ezeq. 33:11), e, sim, que se arrependa e seja salvo.
Paulo
não disse que Deus foi reconciliado com o homem, mas sim que Deus fez algo a
fim de reconciliar consigo o homem.
Esse
ato de reconciliação é uma obra consumada; é uma obra realizada em beneficio
dos homens, de maneira que, à vista de Deus, o mundo inteiro está reconciliado.
Resta somente que o evangelista a proclame e que o indivíduo a receba.
A
morte de Cristo tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com
Deus; cada indivíduo deve torná-la real. Essa, em essência, é a mensagem do
evangelho; a morte de Cristo foi uma obra consumada de reconciliação, efetuada
independente de nós, a um custo inestimável, para a qual são chamados os homens
mediante um ministério de reconciliação.
4.
A eficácia da expiação.
Que
efeito tem para o homem a obra expiatória de Cristo? Que produz ela em sua
experiência?
(a) Perdão
da transgressão.
Por
meio de sua obra expiatória, Jesus Cristo pagou a dívida que nos não podíamos
saldar e assegurou a remissão dos pecados passados. Assim, o passado pecaminoso
para o cristão não é mais aquele peso horrendo que conduzia, pois seus pecados
foram apagados, carregados e cancelados. (João 1:29; Efés. 1:7; Heb. 9:22-28;
Apo. 1:5.) Começou a vida de novo, confiando em que os pecados do passado nunca
o encontrarão no juízo. (João 1^:24.)
(b) Livramento
do pecado.
Por
meio da expiação o crente é liberto, não somente da culpa dos pecados, mas
também pode ser liberto do poder do pecado.
O
assunto é tratado em Romanos, caps. 6 a 8.
Paulo
antecipa uma objeção que alguns dos seus oponentes judeus devem ter suscitado
muitas vezes a saber, que se a pessoa fosse salva meramente por crer em Jesus,
essa pessoa teria opinião leviana sobre o pecado, dizendo : "Se
permanecermos no pecado, sua graça abundará" (Rom. 6:1).
Paulo
repudia tal pensamento e assinala que aquele que verdadeiramente crê em Cristo,
rompeu com o pecado. O rompimento tão decisivo que é descrito como
"morte".
A
viva fé no Salvador crucificado resulta na crucificação da velha natureza
pecaminosa.
O
homem que crê com todos os poderes de sua alma (é essa a verdadeira crença) que
Cristo morreu por seus pecados, terá uma tal convicção sobre a condição
terrível do pecado, e o repudiará com todo o seu ser.
A
cruz significa a sentença de morte sobre o pecado.
Mas
o tentador está ativo e a natureza humana é fraca; por isso é necessária uma
vigilância constante e uma crucificação diária dos impulsos pecaminosos. (Rom.
6:11)
E
a vitória é assegurada "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois
não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rom. 6:14) Isto é, a lei
significa que algo deve ser feito pelo pecador; não podendo pagar a dívida ou
cumprir a exigência da lei, ele permanece cativo pelo pecado. Por outro lado,
graça significa que algo foi feito a favor do pecador... a obra consumada do Calvário.
Conforme
o pecador crê no que foi feito a seu favor, assim ele recebe o que foi feito.
Sua fé tem um poderoso aliado na Pessoa do Espírito Santo, que habita nele. O
Espírito Santo ajuda-o a repudiar as tendências pecaminosas; ajuda-o na oração
e dá-lhe a certeza de sua liberdade e vitória como um filho de Deus. (Rom. 8).
Na
verdade, Cristo morreu para remover o obstáculo do pecado, para que o Espírito
de Deus possa entrar na vida humana (Gál. 3:13, 14).
Sendo
salvo pela graça de Deus, revelada na cruz, o crente recebe uma experiência de
purificação e vivificação espiritual (Tito 3: 5-7).
Havendo
morrido para a antiga vida de pecado, a pessoa nasce de novo, para uma nova
vida... nasce da água (experimentando a purificação) e nasce do
Espírito (recebendo a vida divina). (João 3:5)
(c) Libertação
da morte.
A
morte tem um significado tanto físico como espiritual. No sentido físico denota
a cessação da vida física, conseqüente de enfermidade, decadência natural ou de
causa violenta. é porém, mais usada no sentido espiritual, isto é, como o
castigo imposto por Deus sobre o pecado humano. A palavra expressa a condição
espiritual de separação de Deus e do desagrado divino por causa do pecado.
O
impenitente que morrer fora do favor de Deus permanecerá eternamente separado
dele no outro mundo, sendo conhecida essa separação como a "segunda
morte".
Este
aviso: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás", não se
teria cumprido se a morte fosse apenas o ato físico de morrer, pois Adão e Eva
continuaram a viver depois daquele dia. Mas o decreto é profundamente certo
quando recordamos que a palavra "morte" implicava todas as
conseqüências penais do pecado — separação de Deus, iniquidade, inclinação para
o mal, debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas conseqüências.
Quando
as Escrituras dizem que Cristo morreu por nossos pecados, querem dizer que
Cristo se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa
a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para
que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa
de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não
podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto
nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que
aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais
fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente
porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento.
Da
mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não
poder, pelo raciocínio, reduzir essa expiação à simplicidade de. um problema
matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e Cristo deu-se a si
mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer. Concentrado
naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo
significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação:
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras
de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento
interno da presença de Deus; são palavras de Um que efetuou um ato que implica
separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2
Cor. 5:21)
Embora
seja verdade que também os que creem nele tenham que sofrer a morte física
(Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e
esta se toma uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido Jesus afirmou:
"Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).
(d) O
dom da vida eterna.
Cristo
morreu para que nós não perecêssemos (a palavra é usada no sentido bíblico de
ruína espiritual), mas "tenhamos a vida eterna" (João 3:14-16. Vide
Rom. 6;23.)
A
vida eterna significa mais do que mera existência; significa vida no favor de
Deus e comunhão com ele.
Morto
em transgressões e pecados, o homem está fora do favor de Deus; pelo sacrifício
de Cristo, o pecado é expiado e ele restaurado à plena comunhão com Deus.
Estar
no favor de Deus e em comunhão com ele é ter vida eterna, pois é a vida com ele
que é o Eterno. Essa vida é possuída agora porque os crentes estão em comunhão
com Deus; a vida eterna é descrita como futura (Tito 1:2; Rom. 6:22), porque a
vida futura trará perfeita comunhão com Deus. "E verão o seu rosto"
(Apo. 22:4).
(e) A
vida vitoriosa.
A
cruz é o dínamo que produz no coração humano essa resposta que constitui a vida
cristã. A expressão "eu viverei para ele que morreu por mim", diz bem
o dinamismo da cruz.
A
vida cristã é a reação da alma ante o amor de Cristo.
A
cruz de Cristo inspira o verdadeiro arrependimento, o qual é arrependimento
para com Deus.
O
pecado muitas vezes é seguido de remorso, vergonha e ira; mas somente quando
houver tristeza por ter ofendido a Deus, há verdadeiro arrependimento. Esse
conhecimento interno não se produz por vontade própria, pois a própria natureza
do pecado tende a obscurecer a mente e a endurecer o coração. O pecador precisa
de um motivo poderoso para arrepender-se — algo que o faça ver e sentir que seu
pecado ofendeu e injuriou profundamente a Deus.
Mas
o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra
"morte" implicava todas as conseqüências penais do pecado — separação
de Deus, iniquidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a
morte física e as suas conseqüências.
Quando
as Escrituras dizem que Cristo morreu por nossos pecados, querem dizer que
Cristo se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa
a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para
que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa
de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não
podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto
nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que
aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais
fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente porque
não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento.
Da
mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não
poder, pelo raciocínio, reduzir essa expia ao à simplicidade de. um problema
matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e Cristo deu-se a si
mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer. Concentrado
naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo
significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação:
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras
de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento
interno da presença de Deus; são palavras de Um que efetuou um ato que implica separação
divina. Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21)
Embora
seja verdade que também os que creem nele tenham que sofrer a morte física
(Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e
esta se torna uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido Jesus
afirmou:
"Todo
aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).
A
cruz de Cristo fornece esse motivo, pois ela demonstra a natureza horrenda do
pecado, pelo fato de ter causado a morte do Filho de Deus. Ela declara o
terrível castigo sobre o pecado; mas revela também o amor e a graça de Deus.
Está muito certo o que alguém disse: "Todos os verdadeiros penitentes são
filhos da cruz. Seu arrependimento não é deles mesmos; é a reação para com Deus
produzida em suas almas pela demonstração do que o pecado é para ele, e o que
faz o seu amor para alcançar e ganhar os pecadores."
Está
escrito acerca de certos santos que vieram da grande tribulação, que
"Lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro"
(Apoc. 7:14). A referência é ao poder santificador da morte de Cristo. Eles
haviam resistido ao pecado, e agora eram puros.
De
onde receberam a força para vencer o pecado?
O
poder do amor de Cristo revelado no Calvário os constrangeu. O poder da cruz,
descendo em seus corações, os capacitou para vencerem o pecado. (Vide Gál.
2:20)
"E
eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não
amaram as suas vidas até à morte" (Apoc. 12:11).
O
amor de Deus os constrangeu e ajudou-os a vencer. A pressão sobre eles foi
grande, mas, com o sangue do Cordeiro como o motivo que os impulsionava, eram
invencíveis. "Tendo em vista a cruz sobre a qual Jesus morreu, não puderam
"trair sua causa pela covardia, e não amaram mais as suas vidas do que ele
amou a sua. Eles pertenciam a Cristo, como ele pertencia a eles".
A
vida vitoriosa inclui a vitória sobre Satanás.
O
Novo Testamento declara que Cristo venceu os demônios. (Luc. 10:17- 20; João
12:31, 32; 14:30; Col. 2:15; Heb. 2:14, 15; Apoc. 12: 11.)
Os crentes têm a vitória sobre o diabo enquanto tiverem o Vencedor sobre o diabo!
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