TEONTOLOGIA IV

TEONTOLOGIA - ATRIBUTOS DE DEUS – PARTE III / TEONTOLOGIA - A DOUTRINA DA TRINDADE

TEONTOLOGIA - ATRIBUTOS DE DEUS – PARTE III

ATRIBUTOS MORAIS

SANTIDADE

Significa que Deus é separado de tudo que é indigno ou impuro e que, ao mesmo tempo, é completamente puro e distinto de todos os outros. A santidade foi muito enfatizada por Deus no tempo do AT (Lv 11.44; Is 40.25; Hc 1.12). No NT, a santidade é uma qualidade marcante de Deus (Jo 17.11; 1 Pe 1.15,16; Ap 4.8).

A santidade de Deus torna necessário o afastamento entre ele e os pecadores a menos que estes sejam feitos santos por intermédio dos méritos de Cristo. A santidade divina deve fazer o cristão ser sensível ao seu pecado (Is 6.3,5; Lc 5.8). A santidade dele o torna padrão para nossa vida e conduta (1 Jo 1.7).

É a perfeição de Deus, em virtude da qual Ele eternamente quer manter e mantém a Sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em suas criaturas. Ser Santo vem do hebraico "qadash" que significa cortar ou separar. Neste sentido também o Novo testamento utiliza as palavras gregas "hagiazo" e "hagios".

A santidade de Deus possui dois diferentes aspectos, podendo ser positiva ou negativa (Hebreus 1:9;Amós 5:15; Romanos 12:9).

SANTIDADE POSITIVA - Expressa excelência moral de Deus na qual Ele é absolutamente perfeito, puro e íntegro em Sua natureza e Seu caráter (I João 1:5; Isaías 57:15; I Pedro 1:15,16; Habacuque 1:13). A santidade positiva é amor ao bem.

SANTIDADE NEGATIVA - Significa que Deus é inteiramente separado de tudo quanto é mal e de tudo quanto o aborrece (Levítico 11:43-45; Deuteronômio 23:14; Jó.34:10; Provérbios .15:9,26; Isaías 59:1,2; Lucas 20:26; Habacuque 1:13; Provérbios .6:16-19; Deuteronômio 25:16; Salmos 5:4-6).

A santidade negativa é ódio ao mal. Além de possuir dois aspectos a santidade de Deus possui também duas maneiras diferentes de manifestar-se :

RETIDÃO - Também chamada justiça absoluta, é a retidão da natureza divina, em virtude da qual Ele é infinitamente Reto em Si mesmo (santidade legislativa). Salmos 145:17; Jeremias 12:1; João 17:25; Salmos 116:5; Esdras 9:15.

JUSTIÇA -  Também chamada justiça relativa, é a execução da retidão ou a expressão da justiça absoluta (santidade judicial). Strong a chama de santidade transitiva.

A retidão é a fonte da Santidade de Deus, a justiça é a demonstração de Sua santidade.

A justiça de Deus pode ser retributiva e remunerativa.

A justiça retributiva se divide em punitiva e corretiva.

A justiça punitiva é aquela pela qual Deus pune os pecadores pela transgressão de Suas leis. Esta justiça de Deus exige a execução das penalidades impostas por Suas leis (Salmos 3:5;11:4-7 Deuteronômio 32:4; Daniel 9:12,14; Êxodo 9:23-27;34:7).

A justiça corretiva é aquela pela qual Deus "pune" Seus filhos para corrigi-los (Hebreus 12:6,7)

Aqueles que não são Seus filhos, Deus pune como um Juiz Severo (Romanos 11:22; Hebreus 10:31), mas aos Seus filhos, Deus "pune" (corrige) como um Pai Amoroso (Jeremias 10:24;30:11;46:28; Salmos 89:30-33; I Crônicas 21:13)

A justiça remunerativa é aquela pela qual Deus recompensa, com Suas bênçãos, aos homens pela obediência de Suas leis (Hebreus 6:10; II Timóteo .4:8; I Coríntios 4:5;3:11-15; Romanos 2:6-10; II João 8)

A justiça está ligada à lei, à moralidade e à retidão. Deus é reto em relação a si mesmo e em relação à criação. A Bíblia muito enaltece a justiça de Deus (Sl 11.7; 19.9; Dn 9.7; At 17.31).

IRA - Esta deve ser considerada como um aspecto negativo da santidade de Deus, pois em Sua ira Deus aborrece o pecado e odeia tudo quanto contraria Sua santidade (Deuteronômio 32:39-41; Romanos 11:22; Salmos 95:11; Deuteronômio 1:34-37; Salmos 95:11).

Podemos, então, dizer que a ira é a manifestação da santidade negativa de Deus (Romanos 1:18; II Tessalonicenses 1:5-10; Romanos 5:9 etc.).

A ira é também designada de severidade (Romanos 11:22).

BONDADE

É uma concepção genérica incluindo diversas variedades que se distinguem de acordo com os seus objetos. Bondade é perfeição absoluta e felicidade perfeita em Si mesmo (Marcos 10:18; Lucas 18:18,19; Salmos 33:5; Salmos 119:68; Salmos 107:8; Naum 1:7).

A BONDADE IMPLICA NA DISPOSIÇÃO DE TRANSMITIR FELICIDADE.

BENEVOLÊNCIA - É a bondade de Deus para com Suas criaturas em geral. E' a perfeição de Deus que O leva a tratar benévola e generosamente todas as Suas criaturas (Salmos 145:9,15,16; Salmos 36:6;104:21; Mateus 5:45;6:26; Lucas 6:35; Atos 14:17).

THIESSEN Define benevolência como a afeição que Deus sente e manifesta para com Suas criaturas sensíveis e racionais. Ela resulta do fato de que a criatura é obra Sua; Ele não pode odiar qualquer coisa que tenha feito (Jó 14:15) mas apenas àquilo que foi acrescentado à Sua obra, que é o pecado (Eclesiastes 7:29).

BENEFICÊNCIA - Enquanto que a benevolência é a bondade de Deus considerada em sua intenção ou disposição, a beneficência é a bondade em ação, quando seus atributos são conferidos.

COMPLACÊNCIA - É a aprovação às boas ações ou disposições. É aquilo em Deus que aprova todas as Suas próprias perfeições como também aquilo que se conforma com Ele (Salmos 35:27; Salmos 51:6; Isaías 42:1; Mateus 3:17; Hebreus 13:16).

LONGANIMIDADE OU PACIÊNCIA - O hebraico emprega a palavra "erek'aph" que significa grande de rosto e daí também lento para a ira. O grego emprega "makrothymia" que significa ira longe. Portanto longanimidade é o aspecto da bondade de Deus em virtude do qual Ele tolera os pecadores, a despeito de sua prolongada desobediência.

A longanimidade revela-se no adiamento do merecido julgamento (Êxodo 34:6; Salmos 86:15; Romanos 2:4; Romanos 9:22; I Pedro 3:20; II Pedro 3:15)

MISERICÓRDIA - Também expressa pelos sinônimos compaixão, compassividade, piedade, benignidade, clemência e generosidade. No hebraico usa-se as palavras "chesed" e racham e no grego "eleos". É a bondade de Deus demonstrada para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos (Deuteronômio 5:10; Salmos 57:10; Salmos 86:5; I Crônicas 16:34; II Crônicas 7:6; Salmos 116:5; Salmos 136; Esdras 3:11; Salmos 145:9; Ezequiel 18:23,32; Êxodo 33:11; Lucas 6:35; Salmos 143:12; Jó 6:14).

A paciência difere da misericórdia apenas na consideração formal do objeto, pois a misericórdia considera a criatura como infeliz, a paciência considera a criatura como criminosa; a misericórdia tem pena do ser humano em sua infelicidade, a paciência tolera o pecado que gerou a infelicidade.

A infelicidade e sofrimento deriva-se de um justo desagrado divino, portanto exercer misericórdia é o ato divino de livrar o pecador do sofrimento pelo qual ele justamente e merecidamente deveria passar, como consequência do desagrado divino.

GRAÇA - É a bondade de Deus exercida em prol da pessoa "indigNaum" Portanto graça é o ato divino de conceder ao pecador toda a bondade de Deus a qual ele não merece receber (Êxodo 33:19). Na misericórdia Deus suspende o sofrimento merecido, na graça Deus concede bênçãos não merecidas. Todo pecador merece ir para o inferno; assim Deus exerce Sua misericórdia livrando o pecador da condenação.

Nenhum pecador merece ir para o paraíso; assim Deus exerce a Sua graça doando ao pecador o privilégio de ir gratuitamente para o paraíso. Essa diferença entre misericórdia e graça é notada em relação aos anjos que não caíramos.

Deus nunca exerceu misericórdia para com eles, posto que jamais tiveram necessidade dela, pois não pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitos da maldição. Todavia eles são objetos da livre e soberana graça de Deus pela qual foram eleitos (I Timóteo. 5:21) e preservados eternamente de pecado e colocados em posição de honra (Daniel 7:10; I Pedro 3:22).

AMOR

A perfeição da natureza divina pela qual Ele é continuamente impelido a se comunicar. É, entretanto, não apenas um impulso emocional, mas uma afeição racional e voluntária, sendo fundamentada na verdade e santidade e no exercício da livre escolha. Este amor encontra seus objetos primários nas diversas Pessoas da Trindade. Assim, o universo e o homem são desnecessários para o exercício do amor de Deus.

Amor é, portanto, a perfeição de Deus pela qual Ele é movido eternamente à Sua própria comunicação. Ele ama a Si mesmo, Suas virtudes, Sua obra e Seus dons.

A Bíblia declara que Deus é amor (1Jo 4.8). O amor envolve afeição, mas também atitude de entrega, cuidado e correção. Em relação ao homem, esse amor se revela no fato de Deus se permitir amar os pecadores. Isso é graça (Ef 2.4-8). O amor foi derramado no coração do cristão (Rm 5.5) e quando Deus corrige, demonstra amor pelos seus filhos (Hb 12.6,7).

Algumas características ligadas intimamente ao amor, até mesmo fazendo parte dele, são: bondade, misericórdia, longanimidade e graça.

A bondade divina pode ser definida como a preocupação benevolente com suas criaturas (At 14.17). A misericórdia é o aspecto da bondade que faz Deus demonstrar piedade e compaixão (Ef 2.4,5). A longanimidade fala sobre o controle diante das provocações (1 Pe 3.20). Graça é o favor imerecido de Deus demonstrado primariamente pela pessoa e obra de Jesus Cristo (2 Tm 1.9).

O fato de Deus ser amor não é base para o universalismo, ou seja, que, no final, ele acabará salvando todas as pessoas. O amor não anula outros atributos de Deus como santidade e justiça. Tal heresia é totalmente contraditória ao ensino bíblico (Mc 9.45-48).

VERDADE

Quer dizer que Deus é coerente consigo mesmo, que ele é tudo que deveria ser, que ele se revelou como realmente é e que sua revelação é totalmente confiável. Deus é o único Deus verdadeiro (Jo 17.3), portanto, não pode mentir (Tt 1.2) e é sempre confiável. Deus não pode fazer nada que contradiga sua própria natureza e não é possível que quebre sua palavra ou que não cumpra suas promessas (2 Tm 2.13).

É a consonância daquilo que é asseverado com o que pensa a Pessoa que fez a asseveração. Neste sentido a verdade é um atributo exclusivamente divino, pois com frequência os homens erram nos testemunhos que prestam, simplesmente por estarem equivocados a respeito dos fatos, ou então por pura incapacidade fracassam em promessas que fizeram com honestas intenções.

Mas a onisciência de Deus impede que Ele chegue a cometer qualquer equívoco, e a Sua onipotência e imutabilidade asseguram o cumprimento de Suas intenções (Deuteronômio 32:4; Salmos 119:142; João 8:26; Romanos 3:4; Tito 1:2; Números 23:19; Hebreus 6:18; Apocalipse 3:7; João 17:3; I João 5:20; Jeremias 10:10; João 3:33; I Tessalonicenses 1:9; Apocalipse 6:10; Salmos 31:5; Jeremias 5:3; Isaías 25:1). Ao exercê-la para com a criatura, a verdade de Deus é conhecida como sua veracidade e fidelidade.

VERACIDADE - Consiste nas declarações que Deus faz a respeito das coisas, conforme elas são, e se relaciona com o que Ele revelou sobre Si mesmo. A veracidade fundamenta-se na onisciência de Deus.

FIDELIDADE - Consiste no exato cumprimento de Suas promessas ou ameaças. A fidelidade fundamenta-se na Sua onipotência e imutabilidade (Deuteronômio 7:9; Salmos 36:5;I Coríntios 1:9; Hebreus 10:23; Deuteronômio 4:24; II Timóteo .2:13; Salmos 89:8; Jeremias 3:23; Salmos 119:138; Salmos 119:75; Salmos 89:32,33; I Tessalonicenses 5:24; I Pedro 4:19; Hebreus 10:23).

 

TEONTOLOGIA - A DOUTRINA DA TRINDADE

O TRI-UNO DEUS

As Escrituras ensinam que Deus é Um, e que além dele não existe outro Deus.

A Unidade Divina é uma Unidade composta, e nesta unidade há realmente três Pessoas distintas, cada uma das quais é a Divindade, e cada uma está sumamente consciente das outras duas. Não é o caso de haver três Deuses, todos três independentes e de existência própria. Os três cooperam unidos e num mesmo propósito, de maneira que no pleno sentido da palavra, são "um".

O Pai cria, o Filho redime, e o Espírito Santo santifica; e, no entanto, em cada uma dessas operações divinas os Três estão presentes. O Pai é preeminentemente o Criador, mas o Filho e o Espírito são tidos como cooperadores na mesma obra. O Filho é preeminentemente o Redentor, mas Deus o Pai e o Espírito são considerados como Pessoas que enviam o Filho a redimir. O Espírito Santo é o Santificador, mas o Pai e o Filho cooperam nessa obra.

A Trindade é uma comunhão eterna, mas a obra da redenção do homem evocou a sua manifestação histórica. O Filho entrou no mundo duma maneira nova ao tomar sobre si a natureza humana e lhe foi dado um novo nome, Jesus. O Espírito Santo entrou no mundo duma maneira nova, isto é, como o Espírito de Cristo incorporado na igreja. Mas ao mesmo tempo, os três cooperaram. O Pai testificou do Filho (Mat. 3:17); e o Filho testificou do Pai (João 5:19). O Filho testificou do Espírito (João 14:26), e mais tarde o Espírito testificou do Filho (João 15:26).

A doutrina da Trindade é claramente uma doutrina revelada, e não doutrina concebida pela razão humana.

De que maneira poderíamos aprender acerca da natureza íntima da Divindade a não ser pela revelação? (1 Cor. 2:16.)

É verdade que a palavra "Trindade" não aparece no Novo Testamento; é uma expressão teológica, que surgiu no segundo século para descrever a Divindade. Mas o planeta Júpiter existiu antes de receber ele este nome; e a doutrina da Trindade encontrava-se na Bíblia antes que fosse tecnicamente chamada a Trindade.

A DOUTRINA DEFINIDA

Era muito difícil achar termos humanos que pudessem expressar a unidade da Divindade e ao mesmo tempo, a realidade e a distinção das Pessoas e incorriam aos seguintes erros:

Triteísmo - Ao acentuar a realidade da Divindade de Jesus, e da personalidade do Espírito Santo, alguns escritores corriam o perigo de cair no triteísmo, ou a crença em três deuses.

Sabelianismo - Outros escritores, acentuando a unidade de Deus, corriam perigo de esquecer-se da distinção entre as Pessoas. a doutrina do sabelianismo é claramente antibíblica e carece de aceitação, por causa das distinções bíblicas entre o Pai, o Filho, e o Espírito. O Pai ama e envia o Filho, o Filho veio do Pai e voltou para o Pai. O Pai e o Filho enviam o Espírito; o Espírito intercede junto ao Pai. Se, então, o Pai, o Filho e o Espírito são apenas um Deus sob diferentes aspectos ou nomes, então o Novo Testamento é uma confusão.

Como foi preservada a doutrina da Trindade de não se deslocar para os extremos, nem para o lado da Unidade (sabelianismo) nem para o lado da Triunidade (triteismo)? Foi pela formulação de dogmas, isto é, interpretações que definissem a doutrina e a "protegessem" contra o erro.

O seguinte exemplo de dogma acha-se no Credo de Atanásio formulado no quinto século:

"Adoramos um Deus em trindade, e trindade em unidade. Não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância. Pois a pessoa do Pai é uma, a do Filho outra, e a do Espírito Santo, outra. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma divindade, glória igual e majestade coeterna. Tal qual é o Pai, o mesmo são o Filho e o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho incriado, o Espírito incriado. O Pai é imensurável, o Filho é imensurável, o Espírito Santo é imensurável. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. E, não obstante, não há três eternos, mas sim um eterno. Da mesma forma não há três (seres) incriados, nem três imensuráveis, mas um incriado e um imensurável. Da mesma maneira o Pai é onipotente. No entanto, não há três seres onipotentes, mas sim um Onipotente. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus. No entanto, não há três Deuses, mas um Deus. Assim o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. Todavia não há três Senhores, mas um Senhor. Assim como a veracidade cristã nos obriga a confessar cada Pessoa individualmente como sendo Deus e Senhor, assim também ficamos privados de dizer que haja três Deuses ou Senhores. O Pai não foi feito de coisa alguma nem criado, nem gerado. O Filho procede do Pai somente, não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. Há, portanto, um Pai, três Pais; um Filho, não três Filhos; um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. E nesta trindade não existe primeiro nem último; maior nem menor. Mas as três Pessoas co-eternas são iguais entre si mesmas; de sorte que por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas".

A declaração acima pode parecer-nos complicada, por tratarse de pontos sutis; mas nos dias primitivos demonstrou ser um meio eficaz de preservar a declaração correta sobre verdades tão preciosas e vitais para a igreja.

A DOUTRINA PROVADA

Visto como a doutrina da Trindade concerne à natureza íntima da Trindade, não poderia ser conhecida, exceto por meio de revelação. Essa revelação encontra-se nas Escrituras.

(a) O Antigo Testamento - O Antigo Testamento não ensina clara e diretamente sobre a Trindade e a razão é evidente. Num mundo onde o culto de muitos deuses era comum, tornava-se necessário acentuar esta verdade em Israel, a verdade de que Deus é Um, e de que não havia outro além dele. Se no princípio a doutrina da Trindade fosse ensinada diretamente, poderia ter sido mal entendida e mal interpretada. Muito embora essa doutrina não fosse explicitamente mencionada, sua origem pode ser vista no Antigo Testamento.

Sempre que um hebreu pronunciava o nome de Deus (Elohim) ele estava realmente dizendo "Deuses", pois a palavra é plural, e às vezes se usa em hebraico acompanhada de adjetivo plural (Jos. 24:18, 19) e com verbo no plural. (Gên. 35:7.)

Imaginemos um hebreu devoto e esclarecido ponderando o fato de que Deus é Um, e no entanto é Elohim — "Deuses". Facilmente podemos imaginar que ele chegasse à conclusão de que exista pluralidade de pessoas dentro de um Deus. Paulo, o apóstolo, nunca cessou de crer na unidade de Deus como lhe fora ensinada desde a sua mocidade (1 Tim. 2:5; 1 Cor. 8:4); de fato, Paulo insistia em que não ensinava outra coisa senão aquelas que se encontravam na Lei e nos Profetas. Seu Deus era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. No entanto, pregava a divindade de Cristo (Fil. 2:6-8; 1 Tim. 3:16) e a personalidade do Espírito Santo (Efés. 4:30) e incluiu as três Pessoas juntas na bênção apostólica. (2 Cor. 13:14.)

Todos os membros da Trindade são mencionados no Antigo Testamento:

1) O Pai. (Isa. 63:16; Mal. 2:10.)

2) O Filho de Jeová . (Sal. 45:6, 7; 2:6, 7, 12; Prov. 30:4.) O Messias é descrito com títulos divinos. (Jer. 23:5, 6; Isa. 9:6.) Faz-se menção do misterioso Anjo de Jeová que leva o nome de Deus e tem poder tanto para perdoar como para reter os pecados. (Êxo. 23:20,21.)

3) O Espírito Santo. (Gên. 1:2; Isa. 11:2, 3; 48:16; 61:1; 63:10.) Prenúncios da Trindade vêem-se na tríplice bênção de Num. 6:24-26 e na tríplice doxologia de Isa. 6:3.

(b) O Novo Testamento - Os cristãos primitivos mantinham como um dos fundamentos da fé o fato da unidade de Deus. Tanto ao judeu como ao pagão podiam testificar: "Cremos em um Deus." Mas ao mesmo tempo eles tinham as palavras claras de Jesus para provar que ele arrogou a si uma posição e uma autoridade que seriam blasfêmia se não fosse ele Deus.

Os escritores do Novo Testamento, ao referirem-se a Jesus, usaram uma linguagem que indicava reconhecerem a Jesus como sendo "sobre todas as coisas, Deus bendito para sempre" (Rom. 9:5). E a experiência espiritual dos cristãos apoiava estas afirmações. Ao conhecer a Jesus, conheciam-no como Deus.

O mesmo se verifica em relação a Deus e ao Espírito Santo.

Os primitivos cristãos criam que o Espírito Santo, que morava neles, ensinando-os, guiando-os, e inspirando-os a andar em novidade de vida, não era meramente uma influência ou um sentimento, mas um ser ao qual poderiam conhecer e com o qual suas almas poderiam ter verdadeira comunhão.

E, ao examinarem o Novo Testamento, ali acharam que ele era descrito como possuindo os atributos de uma personalidade.

Assim a igreja primitiva se defrontava com estes dois fatos: que Deus é Um, e que o Pai é Deus; o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. E estes dois grandes fatos concernentes a Deus constituem a doutrina da Trindade. Deus, o Pai, era para eles uma realidade; o Filho era para eles uma realidade; e da mesma forma, o Espírito Santo. E, diante desses fatos, a única conclusão a que se podia chegar era a seguinte: que havia na Divindade uma verdadeira, embora misteriosa, distinção de personalidades, distinção que se tomou manifesta na obra divina para redimir o homem.

Várias passagens do Novo Testamento mencionam as três Pessoas Divinas. (Vide Mat. 3:16, 17; 28:19; João 14:16, 17, 26; 15:26; 2 Cor. 13:14; Gál. 4:6; Efés. 2:18; 2 Tes. 3:5; 1Ped. 1:2; Efés. 1:3, 13; Heb. 9:14.)

Uma comparação de textos tomados de todas as partes das Escrituras mostra o seguinte:

1) Cada uma das três Pessoas é Criador, embora se declare que há um só Criador. (Jo 33:4 e Isa. 44:24.)

2) Cada uma é chamada Jeová (Deut. 6:4)

A DOUTRINA ILUSTRADA

Existe um método pelo qual as verdades que estão além do alcance da razão ainda podem, até certo ponto, tomar-se perceptíveis a ela. Nos referirmos ao uso da ilustração ou da analogia. Porém elas devem ser usadas com cuidado, e não forçadamente.

"Toda comparação manca", disse um sábio da antiga Grécia. Até as melhores são imperfeitas e inadequadas. Elas podem ser comparadas a minúsculas lanternas elétricas que nos ajudam a enxergar algum tênue vislumbre da razão das verdades imensuráveis, vastas demais para serem perfeitamente compreendidas.

Obtemos de três fontes as ilustrações: A natureza; A personalidade humana e as Relações Humanas.

(a) A natureza proporciona muitas analogias.

1) A água é uma, mas esta também é conhecida sob três formas — água, gelo e vapor.

2) Há uma eletricidade, mas no bonde ela funciona sob a forma de movimento, luz e calor.

3) O sol é um, mas se manifesta como luz, calor e fogo.

4) Quando São Patrício evangelizava os irlandeses, explicou a doutrina da Trindade usando o trevo como ilustração.

5) é de conhecimento geral que todo raio de luz realmente se compõe de três raios: primeiro, o actinico, que é invisível; segundo, o luminoso, que é visível; terceiro, o calorífero, que produz calor, o qual se sente mas não se vê. Onde há estes três, ali há luz; onde há luz, temos estes três. João o apóstolo, disse: "Deus é luz". Deus o Pai é invisível; ele se tomou visível em seu Filho, e opera no mundo por meio do Espírito, que é invisível, no entanto, é eficaz.

6) Três velas num quarto darão uma só luz.

7) O triângulo tem três lados e três ângulos; tirai-lhe um lado e não é mais triângulo. Onde há três ângulos há um triângulo.

(b) A personalidade humana.

1) Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança." O homem é um, e, no entanto, tripartido, constituído de espírito, alma e corpo.

2) O conhecimento humano assinala divisões na personalidade. Não temos sido cônscios, às vezes, de arrazoarmos com nós mesmos e de estarmos ouvindo a conversação? Eu falo comigo mesmo, e me escuto falando comigo mesmo!

(c) Relação

1) Deus é amor. Era eternamente Amante. Mas o amor requer um objeto a ser amado; e, sendo eterno, deve ter tido um objeto de amor eterno, a saber, seu filho. O Amante eterno e o Amado eterno! O Vínculo eterno e o caudal desse amor é o Espírito Santo.

2) Nosso governo é um, mas é constituído de três poderes: legislativo, judiciário e executivo.

AS OBRAS ATRIBUÍDAS PARTICULARMENTE AO PAI

Em algumas obras do Deus trino o Pai está em primeiro plano:

Planejamento da obra da redenção (Salmos 2:7-9, Isaías 40:6-9);

Criação e providência, principalmente em seus estágios iniciais (I Coríntios 8:6);

É aquele que recebe e responde as orações dos santos (João 15:16,23, Mateus 6:6,9).

A DIVINDADE DO FILHO:

OS ARGUMENTOS DA BÍBLIA A FAVOR DA DIVINDADE DO FILHO SÃO:

Ela o assevera explicitamente (João 1:1, 20:28, Romanos 9:5, Filipenses 2:6, Tito 2:13, I João 5:20);

Ela aplica a Ele nomes Divinos (Isaías 9:6, 40:3, Jeremias 23:5, 6, Joel 2:32, I Timóteo 3:16);

ELA ATRIBUI A ELE PERFEIÇÕES DIVINAS, TAIS COMO:

EXISTÊNCIA ETERNA - (Apocalipse 1:8, 22:13)

ONIPRESENÇA - (Mateus 18:20, 28:20, João 3:13)

ONISCIÊNCIA - (João 2:24, 25, 21:17, Apocalipse 2:23)

ONIPOTÊNCIA - (Filipenses 3:21)

IMUTABILIDADE - (Hebreus 1:10-12, 13:8)

ELA FALA DELE COMO REALIZANDO OBRAS DIVINAS, TAIS COMO:

CRIAÇÃO - (João 1:3,10, Colossenses 1:16, Hebreus 1:2,10)

PROVIDÊNCIA - (Lucas 10:22, João 3:35, 17:2, Efésios 1:22, Colossenses 1:17)

PERDÃO DE PECADOS - (Mateus 9:2-7, Marcos 2:7-10, Colossenses 3:13)

RESSURREIÇÃO E JUÍZO - (Mateus 25:31,32, Atos 10:42, 17:31, II Timóteo 4:1)

AS OBRAS ATRIBUÍDAS PARTICULARMENTE AO FILHO:

Mediação, não só na esfera espiritual como na esfera natural (I Coríntios 8:6)

Atributos de misericórdia e graça (II Coríntios 13:13, Ef 5:2,25)

A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO

A Bíblia lhe dá designativos de pessoa (João 14:26, 15:26, 16:7 o chama de “parakletos”, que só admite como tradução “consolador”).

SÃO LHE ATRIBUÍDOS CARACTERÍSTICAS DE PESSOA, TAIS COMO:

INTELIGÊNCIA - (Romanos 8:16) VONTADE (Atos 16:7, I Coríntios 12:11)

SENTIMENTOS - (Isaías 63:10, Efésios 4:30) Ele realiza atos próprios de pessoa, como sondar, falar, testificar, ordenar, revelar, lutar, criar, interceder, vivificar, etc. (gênesis 1:2, 6:3, Lucas 12:12, João 16:8, Atos 8:29, 13:2, Romanos 8:11, I Coríntios 2:10,11).

ELE É COLOCADO LADO A LADO COM OUTRAS PESSOAS:

COM OS APÓSTOLOS - (Atos 15:28)

COM CRISTO - (João 16:14)

COM O PAI E O FILHO - (Mateus 28:19, II Coríntios 13:13, I Pedro 1:1,2, Judas 20,21)

A DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO

Pode se estabelecer a veracidade da divindade do espírito com base nas escrituras:

São lhe dados nomes Divinos (Êxodo 17:7, Hebreus 3:7-9, Atos 5:3,4, I Coríntios 3:16, II Timóteo 3:16, II Pedro 1:21).

SÃO LHE ATRIBUÍDAS PERFEIÇÕES DIVINAS, COMO:

ONIPRESENÇA - (Salmos 139:7-10)

ONISCIÊNCIA - (Isaías 40:13,14, Romanos 11:34, I Coríntios 2:10,11, Romanos 15:19)

ONIPOTÊNCIA - (I Coríntios 12:11)

ETERNIDADE - (Hebreus 9:14)

ELE REALIZA OBRAS DIVINAS, COMO :

CRIAÇÃO - (Gênesis 1:2, Jó 26:13, 33:4)

REGENERAÇÃO (João 3:5,6, Tito 3:5)

RESSURREIÇÃO - (Romanos 8:11) - É lhe prestada honra divina (Mateus 28:19, Romanos 9:1, II Coríntios 13:13).

CONCLUSÃO

Embora seja muito difícil que nossa mente consiga discernir o mistério da TRINDADE, essa verdade é absoluta na Bíblia e precisamos crer nela, ainda que pela fé, a igreja confessa que a Trindade é um ministério ou mistério que transcende a compreensão do homem. Certamente entenderemos perfeitamente quando estivermos face a face com o Senhor.



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