MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA I

  INTRODUÇÃO

A missão integral é apresentada como uma proposta teológica atual de prática para as igrejas, destacando o surgimento da missão integral na história, seu desenvolvimento, a partir dos congressos e movimentos que marcam o início da teologia evangelical, como o Pacto de Lausanne e os Clade’s fornecendo uma visão panorâmica dos acontecimentos no decorrer da história e na formação teológica dentro das igrejas, com o seu pensamento e prática evangelizadora integral.

Outro destaque da pesquisa é o pensamento antropológico e a visão de mundo da missão integral, fornecendo base para entender a proposta de salvação integral na vida pessoal e social do ser humano.

Em busca de uma teologia compromissada com a evangelização e a ação social, que integrasse uma forte espiritualidade religiosa com um forte trabalho social, tendo uma visão holística do ser humano, testemunhando Jesus como Senhor e Salvador, com um evangelho encarnado na vida das pessoas e na sociedade, anunciando o evangelho com todo o seu carisma e amor, comecei a pesquisar uma teologia nestes parâmetros, que apresentasse uma perspectiva prática de evangelização.

MISSÃO INTEGRAL

A missão integral enfatiza de modo claro que a evangelização e a ação social não se separam, tornando necessário pregar Jesus Cristo como Senhor e Salvador de forma verbal e prática, verbal no que diz respeito à palavra de Deus e ao plano salvífico de Jesus, para a restauração, transformação, libertação e cura do homem e da mulher, ou seja, de toda humanidade através do poder do Espírito Santo na vida espiritual e no relacionamento com Deus; e prática no que diz respeito ao testemunho de amor e vida de Jesus, na ação física solidária para com as necessidades dos pobres e marginalizados trazendo restauração, transformação, libertação e cura no viver do próximo dentro da sociedade, através do Espírito Santo no contato pessoal e social.

Desta forma, a missão integral reflete o cuidado e os propósitos de Deus pela pessoa como um todo, alcançando as quatro áreas em que Jesus cresceu :

- sabedoria (aplicação de verdades bíblicas na vida),

- estatura (atendimento de necessidades físicas),

- graça diante de Deus (ministério espiritual) e graça diante dos homens (atendimento social), reconhecendo Deus como importante, amoroso e capaz de transformar vidas, igrejas, comunidades e nações, fundamentando-se nos mandamentos bíblicos de Jesus de amar a Deus e ao próximo, demonstrando um estilo de vida de amor desempenhado por igrejas e indivíduos, seguidores de Jesus que demonstram a compaixão de Deus pelo seu próximo.

Assim sendo a missão social defende um evangelismo que atinja as pessoas como um todo, na vida espiritual e física.

A missão integral busca englobar esforços para libertar as pessoas de toda prisão social, política e econômica, porém as igrejas não devem propor programas políticos, pois este não é o papel da igreja, pois o evangelho não é um programa social e político.

Desta forma as mudanças sociais virão pela mudança da sociedade, ou seja, a mudança de cada indivíduo e de suas estruturas com o testemunho evangélico.

A missão integral chama a igreja a uma atitude diferente para com a missão.

Em nosso contexto, as igrejas evangélicas estavam dirigidas somente para a salvação da alma, oferecendo a reconciliação com Deus por meio de Jesus Cristo, deixando de lado as necessidades do corpo e a reconciliação do ser humano e seu próximo, proclamavam a justificação pela fé e omitiam a justiça social enraizada no amor de Deus pelos pobres, buscando sempre o cresci- mento numérico de membros, transformando o evangelho em uma mensagem para o indivíduo e a vida privada, mas não para a sociedade e a vida pública.

Contudo, Jesus nos oferece o modelo perfeito de serviço e envia sua igreja para ser uma igreja serva, sendo a missão de Cristo a missão da igreja, de se entregar pelo próximo por amor.

“Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu vos enviei ao mundo”. (João 17.18)

A missão integral nos chama a identificar-nos com o mundo, sem perder nossa identidade cristã, ou seja, significa conhecer a situação que nos rodeia e conhecer as pessoas que iremos servir, fazendo o melhor por eles como pessoas no mundo, amando a Deus e ao próximo; significa conviver com as pessoas a quem Deus se preocupa e nos enviou; significa compartilhar o evangelho em sua compreensão integral, lutando pela justiça e paz se preocupando com as necessidades humanas; significa comprometer-se com a vontade de Deus e com as pessoas.

A missão integral busca ter relação com todo ser humano e com o ser humano todo, dando ao evangelho uma dimensão de espiritualidade e ação social com integridade ética, trazendo o crescimento integral da missão e da igreja, avaliando os crescimentos numérico, orgânico, conceitual e diaconal, com um modelo de crescimento integral qualitativo a partir da espiritualidade, encarnação e fidelidade.

Dentro da missão integral, encontramos vários modelos de ministérios que trabalham a evangelização e ação social, entre eles, destacamos o trabalho de células realizado nas igrejas do Peru, onde os participantes se tornam mais sensíveis às necessidades de seu próximo, levantando recursos para socorrer órfãos e doentes, abrindo pequenos postos de primeiro socorros, gerando mudança na forma de agir e no testemunho das pessoas, trazendo crescimento e fortalecimento na fé e gerando práticas solidárias com seus vizinhos, estabelecendo assim, o crescimento integral das igrejas.

Contudo, com uma perspectiva evangélica, a evangelização, o convidar os indivíduos, as famílias e as comunidades à reconciliação e nova vida em Jesus Cristo, certamente é básica e essencial. Todavia, a preocupação com prioridades, praticidade ou, muitas vezes, estatística e resultados rápidos não devem cegar a igreja para a integridade da missão, o propósito total de Deus para a humanidade e para a comunidade redimida.

À medida que a igreja evangeliza, ela também precisa expressar o interesse de Deus por toda a vida e espelhar a atitude daquele que disse : “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância. ” (João 10.10)

MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA CONHECENDO O MUNDO / SALVAÇÃO INTEGRAL

CONHECENDO O MUNDO

A obra de salvífica de Jesus Cristo está diretamente ligada ao mundo em sua totalidade, não somente com o indivíduo, fazendo-se necessário conhecer a relação de evangelho e mundo.

Mas o que é mundo ? De acordo com Padilha :

O mundo é a soma total da criação, o universo, os céus e a terra que Deus criou no princípio e que recriará no final. Num sentido mais limitado, o mundo é a presente ordem de existência humana, o contexto espaço-temporal da vida do homem.

Cristo Jesus o Logos se fez presente na criação conforme (João 1.3 e 10). Desta forma, Jesus é tanto o agente da redenção quanto o agente da criação de Deus, sendo a meta para onde se dirige todas as coisas, o princípio e o fim de toda realidade material e espiritual.

O mundo hoje é encarado por uma ansiosa inquietude para com os bens materiais, incompatível com a busca do reino de Deus. As pessoas têm buscado uma vida material que terá fim em si mesma. O pensamento, de que nada trouxemos a este mundo e nada levaremos, tem trazido à humanidade e aos cristãos a atitude de exploração do mundo, em seus bens naturais e físicos, firmando um pensamento pessimista que destrói a sociedade. Mas precisamos entender que a presente ordem não pode ser vista como se esgotasse em si mesma.

O mundo está alienado de Deus, hostil à mensagem cristã, longe dos propósitos de Deus, escravizado pelo poder das trevas. A sabedoria do mundo está marcada pelo desconhecimento de Deus, refletindo a sabedoria dos poderosos desta época.

A cegueira dos incrédulos é o resultado da ação de satanás, príncipe das potestades do ar, deus deste século.

O mundo está em pecado, pois o pecado que sai do coração do homem, manifesta-se na criação e na sociedade, criação sujeita à vaidade e que precisa ser redimida do cativeiro da corrupção.

O mundo está na mentira. Em sua ignorância, o mundo vive uma realidade materialista e absolutista; os fatores sociais, econômicos, políticos e individualistas condicionam a humanidade para satisfazer suas próprias necessidades, trazendo a grande mentira de que o homem é como Deus.

Considerando que a humanidade está aprisionada em um sistema que absolutiza o relativo e relativiza o absoluto, que submete o ser humano ao juízo de Deus, que o ser humano se encontra levado pelos vícios particulares, e que a evangelização não deve ser apenas comunicação verbal ou sequer métodos evangelísticos, mas uma evangelização que leva a sério o poder do inimigo e a necessidade dos recursos de Deus para a luta, chamando a igreja não para ser do mundo, mas para estar no mundo, proclamando a salvação em Cristo Jesus que rompe a escravidão do se humano no mundo, com a esperança escatológica de novo céu e nova terra e a manifestação do reino de Deus agora.

SALVAÇÃO INTEGRAL

A missão integral nos chama à proclamação do evangelho, a anunciar a mensagem de salvação a partir da evangelização, assim definida biblicamente no Pacto de Lausanne.

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, o Senhor e rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e creem.

A nossa presença no mundo é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus.

Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos, tomarem a sua cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.

O Pacto de Lausanne chama a igreja à proclamação de Jesus como Senhor com uma forte responsabilidade de ser agente de transformação histórica, evidenciando a luta pela transformação através dos cinco itens apresentados abaixo.

– Necessidade de nos dedicarmos ao serviço de Cristo e dos homens enquanto aguardamos a vinda de Cristo;

- Cobrança aos governos de condições de dignidade humana, conforme consta na Declaração Universal dos Direitos Humanos;

- Libertação daqueles que sofreram perseguição religiosa e a certeza de que de forma alguma nos intimidaremos diante de uma situação como essa;

- Oposição a toda injustiça, permanecendo fiéis ao evangelho;

- Afirmação da igreja como comunidade do povo de Deus, e não como instituição.

Desta forma, a evangelização não só tem a função de apresentar Jesus Cristo como Senhor e Salvador do mundo, que morreu pelos nossos pecados e trouxe acesso ao Pai nos purificando de todo o pecado, mas também nos orienta para a libertação total da escravidão tanto pessoal quanto do mundo, integrando o propósito de Deus de colocar tudo sob o governo de Cristo. Para isso, chama o ser humano ao arrependimento real para remissão dos pecados, em que existe uma mudança de atitude, uma reestruturação dos valores e uma reorientação da personalidade, nos despertando para a dimensão social do evangelho.

A missão integral apresenta o desejo salvador de Deus de redimir toda a humanidade em Cristo Jesus, evidencia uma perspectiva de salvação integral, através dos fatos salvadores, como a encarnação, cruz, ressurreição, e os fatos que nos levam ao arrependimento à fé, como também ao anúncio das boas novas de Deus recebidas pela fé, redimindo o espírito humano, de forma que cada um caminhe na direção de se tornar à imagem de Jesus, fazendo Dele primogênito entre muitos irmãos. Assim, o ser humano produz boas obras porque Cristo habita nele e pela sua graça testemunha seu amor.

A missão integral evidencia a salvação integral em Jesus Cristo, a partir da salvação psicológica, da salvação física e cura das doenças físicas e psicológicas, trazendo liberdade para ser humano em sua vida e em seu testemunho, integrando à evangelização um ministério carismático de enfrentamento de doenças e enfermidades.

A humanidade precisa da salvação integral de Jesus Cristo, que liberta da culpa, ou seja, Jesus Cristo, como ser humano, venceu o pecado e a morte, levando o nosso pecado, a nossa culpa e morte em nosso lugar, a fim de que fôssemos perdoados; do egocentrismo, ou seja, Jesus Cristo com o poder de ressurreição, habitando em nós com seu Espírito, transforma a nossa personalidade, para que tenhamos a sua personalidade.

Nossa personalidade fechada para nós mesmos, pensando somente no eu, se abre para Cristo e seu amor, nos fazendo servos que amam o próximo como Ele nos amou; e do medo, ou seja, Jesus Cristo que está assentado à destra de Deus e tem tudo debaixo de seus pés, com sua supremacia nos liberta de todo medo que paralisa, impedindo de vivermos a liberdade que Ele nos oferece; assim, devemos levar todos os nossos medos à luz da supremacia e vitória de Cristo que nos liberta. Com a liberdade de Cristo, que nos salva de forma integral, podemos viver a essência de seu amor para conosco, manifestando a liberdade de amarmos o próximo como Ele nos ama


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