LIVROS POÉTICOS E DE SABEDORIA -
PROVÉRBIOS, ECLESIASTES E CANTARES DE SALOMÃO
PROVÉRBIOS
Autor
Segundo 1 Reis 4.32, Salomão proferiu
3.000 provérbios e 1.005 cânticos. Ele escreveu a maior dos provérbios
coletados neste livro. A divisão que vai de 1.1 — 9.18 é atribuída a ele, bem
como as divisões de 10.1 — 22.16 e 25.1 — 29.27, embora os provérbios nesta
última divisão tenham sido selecionados da coleção de Salomão pelos escribas do
rei Ezequias (25.1). Nada sabemos sobre Agur, autor do capítulo 30, ou de
Lemuel, autor do capítulo 31.
VOCÊ SABIA?
- Há pelo menos 14 alusões ou citações
aos Provérbios no Novo Testamento.
- O capítulo 31 inclui um poema
acróstico (a 1ª palavra de cada versículo começa com uma letra do alfabeto
hebraico).
- O capítulo 31 é um dos mais belos da
Bíblia, elevando e louvando a posição da mulher consagrada ao Senhor.
Data
Uma vez que o Livro de Provérbios é uma
compilação, sua composição estendeu-se por um longo período, com a obra
principal datada de cerca de 950 a.C. Os caps. 25-29 são identificados como
transcritos pelos ―homens de Ezequias‖, o que situa a cópia em cerca de 720
a.C., embora o material em si fosse de Salomão, talvez retirado de um documento
separado encontrado no tempo de Ezequias.
Conteúdo
O tema central deste livro é a
sabedoria de forma prática, não apenas para viver uma ―boa vida, mas para viver
no temor do Senhor. Todos os provérbios apresentados neste livro objetivam
gerar homens saudáveis e redimidos, bem sucedidos na vida, segundo o projeto de
Deus para nós.
Os princípios de vida são divinamente
inspirados e apresentados sob a forma de ditados, que por contraste ou
comparação relatam as experiências características e o caminhar do sábio e do
tolo, do justo e do preguiçoso, do bom e do mau, do insensato, da mulher
virtuosa, etc.
Ensinos específicos incluem instruções
sobre a insensatez, o pecado, a bondade, a riqueza, a pobreza, a língua, o
orgulho, a humildade, a vingança, a preguiça, a amizade e a família.
Seu pensamento ou tema unificador é: ―O
temor do SENHOR é o princípio da sabedoria (9.10), aparecendo de outra maneira
como : ―O temor do SENHOR é o principio (ou parte principal) da ciência (1.7).
Dentre a diversidade de exemplos,
algumas verdades se repetem :
- A sabedoria (a habilidade de julgar e
agir conforme as orientações de Deus) é o mais valioso dos bens.
- A Sabedoria está disponível para
qualquer um, mas o preço é alto.
- A Sabedoria tem sua origem em Deus,
não na própria pessoa e vem por meio da atenção à instrução.
- A Sabedoria e a justiça andam juntas.
É bom ser sábio, e é sábio ser bom.
- O homem mal sofre as consequências de
seus atos maus.
- O ingênuo, o tolo, o preguiçoso, o
ignorante, o orgulhoso, o libertino e o pecador nunca devem ser admirados.
Muitos contrastes se repetem ao longo
do livro. A antítese ajuda a clarear o sentido de muitas palavras-chaves. Entre
várias idéias que são colocadas em contraste estão :
- Sabedoria em oposição a Loucura
- Justiça em oposição a Impiedade
- Bem em oposição ao Mal
- Vida em oposição a Morte
- Prosperidade em oposição a Pobreza
- Honra em oposição a Desonra
- Permanente em oposição a Transitório
- Verdade em oposição a Falsidade
- Ação em oposição a Preguiça
- Amigo em oposição a Inimigo
- Prudência em oposição a Precipitação
- Fidelidade em oposição a Adultério
- Paz em oposição a Violência
- Boa Vontade em oposição a Ira
- Deus em oposição ao Homem
Quase todas as facetas dos
relacionamentos humanos são mencionadas neste livro, o mais prático do Antigo
Testamento.
Conclusão
Provérbios desafia os fiéis,
principalmente os jovens, a aprenderem lições de gerações passadas. O livro
apresenta as implicações práticas da confissão de que Deus é o Senhor de tudo
que diz respeito à vida. Os sábios de verdade mostram respeito por Deus e pelos
seus padrões em todas as situações da vida. A fé viva jamais pode estar
divorciada da vida de fidelidade. A fé deve ser vivida no mundo cotidiano, em
que os problemas exigem uma sabedoria prática. O modo pelo qual nos
relacionamos com os outros serve como um indicador de nosso relacionamento com
Deus
ECLESIASTES
Autor
Nenhum período nem nome de autor é
mencionado neste livro, mas vários trechos levam fortemente a crer que o rei
Salomão seja o autor (1.1,12,16; 2.4-9; 7.26-29; 12.9: cf. 1 Rs 2.9; 3.12;
4.29-34; 5.12; 10.1-8). O título hebraico significa: ―aquele que convoca uma
assembleia e fala a ela.
Data
Eclesiastes é geralmente creditado a
Salomão (cerca de 971 a 931 a.C.), escrito em sua velhice. O tom pessimista que
impregna o livro talvez seja um efeito do estado espiritual de Salomão na época
(ver 1 Reis 11). Embora não mencionado em 1 Reis, Salomão provavelmente
recuperou a consciência antes de morrer, arrependeu-se e voltou-se para Deus.
Ec 1.1 parece ser uma referência a Salomão: ―Palavra do pregador, filho de
Davi, rei em Jerusalém‖. Alusões à sabedoria de Salomão (1.16), à riqueza
(2.8), aos servos (2.8), aos prazeres (2.3) e a atividade de edificação estão
espalhadas por todo o livro.
VOCÊ SABIA?
- Eclesiastes parece ser o mais
melancólico e mais filosófico dentre todos os livros da Bíblia. É uma busca
intensiva do significado da vida, escrito pelo homem mais capacitado para
encontrá-lo. Mas não é possível sem Deus!
- Foi lido na festa judaica dos
Tabernáculos, a festa mais alegre da nação. Por quê?
- Foi um dos últimos livros aceitos no
cânon pelos judeus (porque é um dos livros menos compreendidos da Bíblia).
Conteúdo
No decorrer de todo este livro o autor
está mais interessado pelo significado da vida do que pelos seus problemas.
Como um filósofo, ele se põe de lado para indagar ―o por que da vida.
Eclesiastes é o primeiro livro da Bíblia a fazer uma pausa e refletir
filosoficamente no significado da própria vida à luz das aparentes futilidades
defrontadas por todos.
O autor define a mensagem do livro
nestas três proposições:
- Quando se olha a vida pode-se concluir
que tudo é fútil, já que é impossível discernir qualquer propósito na ordem dos
acontecimentos.
- Apesar disto, a vida deve ser
desfrutada ao máximo, com a compreensão de que é um dom de Deus.
- O homem sábio viverá em obediência a
Deus, reconhecendo que Ele julgará todos os homens.
LEMBRA-TE DO TEU CRIADOR
“Lembra-te do Teu criador nos dias da
tua mocidade, antes que venham os maus dias e cheguem os anos dos quais dirás :
Não tenho neles prazer”. Eclesiastes 12.1
"Dá ao Mestre o seu melhor. Dá a
Ele as forças da tua juventude. Entrega à batalha toda a tua alma. Jesus deu o
exemplo: jovem, corajoso e invencível foi Ele. Dá a Ele a tua devoção. Dá a Ele
o melhor que tem." Mrs. Charles Barnard
"Velhice mau-humorada e a
juventude não podem coabitar : A juventude é cheia de prazer; A velhice é cheia
de ansiedades; A juventude é como um dia de verão; A velhice é como um dia de
inverno." Shakespeare
Conclusão
Eclesiastes desafia seus leitores a
viver no mundo como ele realmente é, em vez de viver em um mundo de falsas
esperanças. Ele se dirige àqueles que buscam o sentido da vida na riqueza, na
educação ou no poder político. Alguns já perceberam que essa busca de sentido e
valor duradouro os tem deixado vazios. Outros ainda estão para descobrir a
futilidade dessa busca.
Eclesiastes desafia seus leitores a
abandonar as ilusões da vaidade, encarar a morte e a vida com honestidade e
aceitar com temor e tremor a sua dependência de Deus. A fé que Salomão tinha na
justiça de Deus e na bondade de suas ordens era mais forte que o seu pessimismo
(8.12-13; 11.9). Mesmo quando ele não entendia a vida ou os caminhos de Deus,
sua reação era de fé. A aparente falta de sentido da vida no mundo real o levou
a Deus, o único Doador de valor permanente. A vida é o dom precioso de Deus.
Seus prazeres efêmeros devem ser desfrutados, mesmo quando em busca da alegria
duradoura que procede unicamente de Deus.
A vida que não se centraliza em Deus
está destituída de propósito e sentido. Sem Deus, nada mais pode satisfazer
(2.25). Com Deus, toda a vida e suas outras dádivas devem ser recebidas com
gratidão (Tg 1.17), usadas e desfrutadas plenamente (2.26; 11.8). O livro
contém as reflexões filosóficas e teológicas de um idoso (12.1-7), cuja vida,
na maior parte, não tivera sentido, porque ele não confiara em Deus como
deveria
CANTARES
Autor
O título no texto hebraico é ―Cântico
dos Cânticos de Salomão, o que pode significar um cântico composto por Salomão,
para ele ou a respeito dele.
Não podemos afirmar categoricamente
quem escreveu o livro, mas o primeiro versículo parece atribuir a autoria a
Salomão. O mesmo é citado sete vezes no livro, (1.1,5; 3.7,9, 11; 8.11,12) além
de vários versículos falarem do rei.
Data
Os críticos que atribuem um dos dois
poemas do livro de Cantares a Salomão naturalmente datam-nos dentro de seu
reinado, admitindo que o restante do livro foi coligido por ele (970-930 a.C.).
E a menção a Tirza (Ct 6.4), como se fosse a contraparte nortista de Jerusalém,
aponta para uma data comparativamente antiga da composição, ou, pelo menos,
daquela porção do livro. Antes do governo de Onri (885/884-874/873 a.C.), Tirza
fora a principal cidade do reino do norte; mas, quando Onri subiu ao trono de
Israel, então, estabeleceu Samaria como a sua capital, tendo construído ali um
esplêndido palácio real, além de numerosos outros edifícios e de ter
fortalecido muito a cidade. Portanto, se Tirza aparece em Cantares como a
principal cidade da porção norte do país, assim como Jerusalém era a principal
cidade da porção sul, então a seção poética envolvida bem pode ser datada no
século X a.C., a época de Salomão
VOCÊ SABIA?
- O nome de Deus não é mencionado no
livro (ou só uma vez, [8.6 – problema textual]), nem o pecado, nem o culto de
Israel, nem é feita alusão a outro livro.
- Esse livro era sempre lido na Festa
da Páscoa dos judeus.
- Cantares é o único livro
completamente dedicado ao amor conjugal, romântico e sexual.
- Na época Salomão já tinha 60 rainhas
e 80 concubinas (6.8).
Conteúdo
Na história do poema uma camponesa da
cidade de Sunén, na encosta do Monte Hermon, apascentava cordeiros e lavrava a
vinha da família, que na verdade pertencia a Salomão. Um dia, enquanto cuidava
do rebanho, encontrou-se com um formoso estranho (era Salomão disfarçado de
pastor) ao qual se afeiçoou. Eles convivem durante um tempo, prometem-se em
casamento até que um dia este estranho parte, prometendo voltar. Ela esperou
muito tempo, crendo na promessa e sonhando com este dia. Certo dia ele volta, e
vem com grande séquito proclamando-a sua esposa, levando-a, então, para o seu
palácio. É aí, no palácio, que o poema é cantado, fazendo-se recordações do
passado
Conclusão
Os aspectos sexuais e emocionais do
amor entre um homem e uma mulher são dignos de atenção na Bíblia. A sexualidade
e o amor são fundamentais à experiência humana. Sendo um livro que tem por
propósito ensinar aos leitores como viver uma vida feliz e boa, é natural que a
Bíblia tenha algo a dizer nessa área. Cântico dos Cânticos celebra a alegria e
a paixão do amor matrimonial como boas dádivas de Deus. O amor mútuo entre o
homem e a mulher em Cântico dos Cânticos é uma reafirmação do amor entre o
primeiro homem e a primeira mulher. Desse modo, ele dá testemunho do triunfo
dos propósitos graciosos de Deus para a criação, apesar do pecado humano. Da
mesma forma, esse amor fiel é uma bela representação do amor de Deus por seu
povo e de sua dedicação a ele
PARA MAIS ESTUDOS
Podemos aplicar o livro para o
relacionamento entre:
Deus e Israel?
Igreja e Cristo?
Como pode um homem com 140 mulheres
escrever tal livro, falando sobre o amor por uma só mulher?
Cite algumas atitudes erradas em
relação ao amor e à sexualidade e como Cantares de Salomão corrige isso?
Como o fato de Deus ter feito macho e
fêmea, ao criar a humanidade, torna a vida mais rica?
Que podemos aprender sobre a manutenção de um relacionamento amoroso saudável no noivado e no casamento a partir do modo que o noivo e a noiva expressam seu amor um pelo outro?
LIVROS PROFÉTICOS
O
profeta
Conceito
de “profeta”
O
termo “profeta” provém do grego (prophétes) e deriva do verbo phemí, que
significa “dizer, anunciar, proclamar”.
Segundo
o sentido do prefixo pró-, o termo pode significar:
Aquele
que transmite uma mensagem a ele confiada (pró- em sentido substitutivo: em
lugar de, em nome de); aquele que fala diante de alguém (pró- em sentido
espacial); aquele que prediz acontecimentos futuros (pró- em sentido temporal:
antes de).
A
acepção que mais convém ao “profeta” é a primeira: ele é antes de tudo
mensageiro, que transmite a palavra a ele confiada por Deus ou pelos deuses (no
caso de povos politeístas), uma palavra que não tem nele mesmo sua origem. O
profeta pode também falar do futuro, mas suas palavras dirigem-se primeiramente
ao presente e, mesmo quando dizem respeito a acontecimentos ainda por vir,
visam seus ouvintes imediatos.
Uma
pessoa é caracterizada como profeta, portanto, quando se apresenta como
portador de uma palavra divina (“oráculo”), recebida por revelação. Nisso, o
profeta se distingue das outras formas de se obter respostas divinas para
questões humanas (adivinhação pela observação de astros, animais, por
interpretação de objetos, a necromancia, êxtases, dentre outras), pois sua
mensagem não deriva de técnicas para obter o conhecimento, mas unicamente da
comunicação de Deus.
A
Bíblia hebraica usou nomenclatura variada para se referir a figuras proféticas,
sendo mais comuns termos ligados às raízes Hzh (ter visões, receber uma
revelação) e r’h (ver, ter visões) bem como a expressão ’îš [hä]’élöhîmi
(“homem de Deus”). A terminologia mais utilizada é ligada à raiz nB´, da qual
provém o termo näbî´, traduzido na Setenta preferencialmente por prophétes.
Verdadeira
e falsa profecia
O
controle se a palavra que o profeta transmite provém realmente de Deus ou é
imaginação ou invenção sua não é uma questão de fácil solução. Como muitas
personagens bíblicas que aparecem como “profetas” reivindicam falar em nome do
Senhor, houve a necessidade de serem estabelecidos critérios para discernir as
características daqueles que realmente transmitem a mensagem divina:
Julgam
a realidade a partir da vontade divina (cf. Mq 2,11);são obedientes à palavra
recebida (cf. Jr 23,28-29; 28,1-17);não usam a profecia como meio de vida (cf.
Mq 3,5; Am 7,12-14);sua vida está de acordo com o que anunciam (cf. Jr 23,14;
Os 3,1-4);são enviados por Deus para esta missão, muitas vezes contra a sua
própria vontade (cf. Jr 1,4-10; 20,7-18).
O
profeta enviado por Deus, no AT, é, assim, seu porta-voz fiel. A palavra que
Deus lhe comunica o envolve pessoalmente. Não é somente uma informação que
recebe, mas toca sua própria vida; ele a assimila e se identifica com ela antes
de transmiti-la. Isso aparece em diversas narrativas simbólicas que ocorrem nos
livros proféticos. Ezequiel come o rolo da Palavra (Ez 3,1-4); Isaías tem seus
lábios purificados para poder anunciar (Is 6,6-7); Jeremias recebe em sua boca
a palavra de Deus (Jr 1,9-10); Oseias passa por uma experiência matrimonial
para expressar o amor do Senhor (Os 1,2; 3,1).
A
profecia escrita na Bíblia hebraica
Da
palavra oral à palavra escrita
O
profeta é sobretudo aquele que “fala”. Por isso, normalmente há uma diferença
temporal entre o profeta como personagem que anuncia a Palavra de Deus e o
escrito que leva o seu nome. Embora haja alguns testemunhos de palavras
escritas na época mesma do profeta (Jr 36; Is 8,16-17; 30,8), via de regra o
profeta não escreve sua mensagem. O texto do livro profético deixa perceber que
a colocação por escrito foi feita posteriormente, por aqueles que receberam
essa palavra como palavra de Deus e perceberam seu valor. Essas palavras
escritas são conservadas e transmitidas pelos cultores das tradições religiosas
israelitas. Ao serem percebidas como permanentemente válidas, são
reinterpretadas e aplicadas para outras épocas e situações, sofrendo
transformações e acréscimos. Neste processo de “releitura”, feito à luz das
tradições religiosas israelitas e guiado por Deus, não há um desvirtuamento da
palavra inicial, mas sim um desdobramento de suas possibilidades de
significado.
Desse
modo, o livro profético é formado pouco a pouco, a partir da seleção e
agrupamento de textos que passam por um processo de reelaboração e
reorganização, até chegar a uma forma considerada concluída. Assim sendo, os
profetas, enquanto personagens, estão ligados a um determinado período; o livro
a eles referido, porém, não provém necessariamente de sua época, pode ter sido
concluído num tempo muito posterior.
Os
livros proféticos
Na
Bíblia Hebraica, os profetas são a segunda parte da Escritura e compreendem:
Os
profetas anteriores: Josué, Juízes, Samuel e Reis;
Os
profetas posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e
Os
Doze Profetas (Oseias, Joel, Amós, Abdias,
Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias).
A
Bíblia Grega (Setenta) chama de livros proféticos somente os “profetas
posteriores” da Bíblia Hebraica e inclui ainda outros textos: o livro de Baruc,
o livro das Lamentações, a Carta de Jeremias, Daniel, com os trechos
deuterocanônicos (Dn 13–14; 3,24-90). No uso atual, em geral por “livro
profético” se entende o conjunto que compreende Isaías, Jeremias, Ezequiel e os
Doze profetas.
Os
profetas “maiores”
Três
livros proféticos são conhecidos como “maiores”, devido à sua dimensão: Isaías,
Jeremias e Ezequiel.
a. Isaías
O
livro de Isaías remonta ao profeta que, no século VIII aC, em Judá, exerceu seu
ministério. Recolhe oráculos e narrações que provêm desta época, além de outros
que, sob influência de seu ensinamento, foram redigidos séculos após. Desde o
final do século XIX dC é grandemente aceita a distinção do livro em três
partes: o Primeiro (Proto) Isaías (que compreende os capítulos 1 a 39); o
Segundo (Dêutero) Isaías (c. 40 a 55); e o Terceiro (Trito) Isaías (c. 56 a
66). A distinção é percebida por diferenças de época histórica e de cunho
literário e teológico. Embora haja muitas passagens acrescentadas em épocas
posteriores, no Primeiro Isaías boa parte dos textos provém do século VIII aC.
O Segundo Isaías é da época do exílio babilônico adiantado (por volta de 550
aC) e anuncia para um tempo próximo o fim do cativeiro. O Terceiro Isaías é, no
conjunto, situado no período pós-exílico, embora contenha textos que possam
provir de épocas anteriores. O Terceiro Isaías é responsável não só pela
terceira parte do escrito mas também pela forma final do livro como um todo e,
por esse seu trabalho, o livro, apesar das diferentes partes, apresenta
unidade.
b. Jeremias
O
livro de Jeremias recolhe oráculos e ações do profeta homônimo, que exerceu seu
ministério nas últimas décadas antes da queda de Jerusalém, até o início do
exílio babilônico (Jr 1,1-3). Anunciando numa das épocas mais conturbadas da
história de Israel, Jeremias entra em grave confronto com os reis e regentes.
Prega que os pecados de Judá levarão inevitavelmente à deportação e ao exílio
em Babilônia, a grande dominadora de então. Por esse motivo, muitas vezes é
exposto a graves sofrimentos. Do seu livro, com isso, pode-se depreender com
nitidez o que é o profeta segundo Deus e como ele experimenta em sua vida a
rejeição à palavra do Senhor.
Mesmo
se numerosos textos do livro podem provir da época do profeta, o escrito foi
retrabalhado em épocas posteriores e tem particular relação com a teologia
deuteronomista.
c. Ezequiel
O
profeta Ezequiel exerceu seu ministério em Babilônia, entre os anos 593 e 571
aC (Ez 1,1-3; 29,17). Sacerdote, foi levado para Babilônia na primeira
deportação (598) e anunciou para breve o fim do Reino de Judá. Após a queda de
Jerusalém nas mãos do exército babilônico (587/6), o profeta procura velar pela
vida religiosa do povo, a fim de que mantenha a fidelidade ao Senhor.
A
origem sacerdotal do profeta evidencia-se por sua preocupação com o templo e o
culto e com sua concepção de Deus particularmente sob a ideia da “glória” (Ez
1).
Embora
haja acréscimos aos textos do livro, atualmente aceita-se que ele, em seu
núcleo, pode ser referido ao Ezequiel dos séculos VII-VI, sem ser necessário
recorrer a uma ficção.
Os
profetas “menores”
São
assim denominados por serem de menor extensão, se comparados aos outros três
livros proféticos. Atualmente, discute-se se os profetas menores são
independentes ou estão unidos em um só livro, o “Livro dos Doze”. Se de um lado
há elementos que unem alguns desses escritos, há também características
próprias a cada um. Não é claro, portanto, se eles formam uma unidade e, caso
isso ocorra, em que sentido e em que medida estariam unidos.
a. Oseias
Oseias
é o único profeta dos Doze oriundo do Reino do Norte. Seu ministério é datado
de meados do século VIII até os últimos anos antes da queda de Samaria (por
volta de 722/721 aC). Com a imagem do matrimônio e dos filhos, Oseias aponta
para a grave infidelidade de Israel para com Deus. Através da punição, Deus purifica
seu povo e então lhe oferece a salvação (Os 2,16-25; 3,1-5; 14,2-9)
b. Joel
O
livro traz muitas referências a Jerusalém. Jerusalém possui muros (Jl 2,7-9) e
o culto parece estar organizado no Templo (Jl 2,12-17). A partir daí, supõe-se
que o livro tenha sido composto após Esdras e Neemias (entre os séculos V e IV
aC). Mas há muita controvérsia quanto à sua datação. Sua temática está centrada
na vinda do Dia do Senhor, que, no final do livro, se tornará juízo para os
pagãos e salvação para Judá (Jl 4,15-17.18-21).
c. Amós
Amós
é o mais antigo profeta que tem seus oráculos recolhidos num livro. Oriundo do
Reino de Judá (Am 7,10-17), anunciou a Palavra de Deus no Reino de Israel, no
século VIII aC, provavelmente pouco antes de 750 (Am 1,1). Ponto central de sua
mensagem é a forte crítica ao povo e a seus dirigentes, em virtude do desprezo
do direito e da justiça (Am 2,6; 6,1-7; 5,7-27; 8,4-8).
d. Abdias
O
profeta é desconhecido. O livro, de apenas um capítulo, apresenta poucos
indícios para uma datação exata. Como traz o julgamento contra Edom, parece
dever ser colocado após a queda de Jerusalém (587/6 aC). Edom aproveitou-se da
ruína de Judá para ocupar alguns territórios e saquear a região (Ab 10-14), o
que teria dado ensejo ao livro.
e. Jonas
O
livro de Jonas não é um livro profético. Foi acrescentado aos “pequenos
profetas” provavelmente para completar o número de doze, considerado perfeito.
É uma narração fictícia, de autor desconhecido, entre os séculos IV e III aC.
Seu tema central é a reflexão sobre o sentido do profetismo e o desígnio
salvífico de Deus, que ultrapassa as fronteiras de Israel. O profeta Jonas
referido em 2Rs 14,25 não é o mesmo Jonas do livro.
f. Miqueias
Miqueias
exerce seu ministério sob os reis Joatão (740-736 aC), Acaz (736-716 aC) e
Ezequias (716-686 aC) (Mq 1,1). Embora profetize em Judá, refere-se também ao
Reino do Norte (Mq 1,5-6). Condena fortemente os desmandos sociais e políticos
de sua época (Mq 1,2-16). Os pecados do povo acarretarão o juízo de Deus,
concretizado na invasão e no domínio assírio. Mas Deus prepara um futuro de
salvação (Mq 4,1–5,8; 7,8-20).
g. Naum
O
livro versa sobre a ruína de Nínive, capital da Assíria (Na 2,4–3,19). Deus é
justo e punirá os opressores (Na 1,11-13; 2,1). Com esse tema, o livro se situa
provavelmente entre a tomada de Tebas pelos assírios (entre 668 e 663 aC; a
cidade é citada em Na 3,8) e a queda de Nínive (612).
h. Habacuc
Como
Hab 1,5-11 fala da ameaça dos babilônios, a época de seu anúncio é
possivelmente anterior às deportações para a Babilônia (598/7 e 587/6 aC). O
problema central do livro é a questão do mal: por que Deus permite que um povo
estrangeiro, pecador, avance e ameace Judá? A resposta é que Deus governa a
história e, através do que ocorre, prepara a salvação final para o povo eleito.
Para isso é exigida a fidelidade a Deus (Hab 2,4).
i. Sofonias
Segundo
o título do livro (Sf 1,1), o profeta exerceu sua atividade no Reino do Sul,
nos dias de Josias (640-609 aC), no tempo dos assírios (Sf 2,13-15). Sofonias
aponta os desvios do povo: a injustiça e a idolatria (Sf 1,4-6.8-13; 3,1-8).
Mas acentua que no meio de Jerusalém/Judá está a presença de Deus (Sf 3,5),
que, em última instância, vencerá: Deus eliminará todo o pecado (Sf 3,14-18). O
profeta anuncia o Dia do Senhor, quando tanto Jerusalém como os pagãos serão
punidos (Sf 1,14-18).
j. Ageu
Profetizou
no pós-exílio imediato, na época de Dario I, por volta do ano 520 aC (Ag 1,1;
2,1.10.20). Incentiva o povo a reconstruir o templo. Dessa empresa derivará a
prosperidade no país (Ag 1,6-10) e a bênção (Ag 2,19). Ageu anuncia a esperança
de, na pessoa de Zorobabel, ser restaurada a dinastia davídica (Ag 2,23).
l. Zacarias
O
livro apresenta duas partes distintas. O Proto-Zacarias (c. 1 a 8) contém
visões e oráculos; o Dêutero-Zacarias (c. 9 a 14), oráculos escatológicos (ð
escatologia).
O
Proto-Zacarias remonta ao final do século VI, a partir de 520 aC (Zc 1,7),
embora algumas partes possam ser posteriores (Zc 3,1-10, entre outros). O
profeta anuncia a proximidade da era salvífica para Jerusalém
(Zc
1,14-17; 8,1-8).
O
Dêutero-Zacarias anuncia a realização da salvação, com a vinda de um rei
messiânico (Zc 9,1-17), e os grandes acontecimentos que então terão lugar (Zc
12,1-14). O povo será purificado da idolatria e dos profetas que anunciam
falsamente (Zc 13,1-6). A datação desta parte é muito discutida; pode ser do
final do século III aC.
m. Malaquias
A
época de anúncio é provavelmente posterior à dedicação do templo (515 aC),
antes da reforma de Esdras e Neemias: a metade do século V. Critica, sobretudo,
o culto e os sacerdotes, chamando a atenção para o louvor que se deve dar a
Deus (Ml 1,6-14) e a fiel observância das normas rituais (Ml 2,6; 3,9). Os
pecadores podem progredir na vida cotidiana, mas Deus fará justiça ao fiel (Ml
2,17; 3,14.18). Após a purificação, o povo será reunido e participará da
salvação (Ml 3,3-4.17.20). O profeta anuncia o Dia do Senhor, antes do qual
enviará seu mensageiro (Ml 3,1).
A
doutrina dos livros proféticos
Os
profetas desempenham uma função de grande importância na fé do AT. São
intérpretes da Torá, que confrontam com o agir de indivíduos e comunidades,
desfazendo falsas esperanças, apontando desvios, exortando a um comportamento
adequado às exigências divinas e anunciando o juízo devido ao fechamento do
povo às interpelações divinas. Parte essencial de sua mensagem, contudo, diz
respeito à expectativa por uma salvação futura, tematizada de diversas formas
conforme as épocas e as perspectivas de cada escrito. No centro da mensagem
profética está sempre a pessoa de Deus. A partir da imagem de Deus são
tematizados os outros pontos de seu anúncio.
a. Deus
Os
livros proféticos apresentam uma imagem viva de Deus. É o Deus santo (Is), que
demonstra sua glória (Ez), o Deus de amor e misericórdia (Os, Jr), pronto a
perdoar (Am, Jl). Mas também um Deus que exige fidelidade e que não aceita os
desmandos, seja do povo eleito seja dos outros povos (Na, Hab, os oráculos
contra as nações estrangeiras, em diversos livros), desmandos que são tanto a
infidelidade para com o próprio Deus (culto) como as transgressões na
convivência social.
Durante
o exílio babilônico, aprofundou-se a concepção de Deus como Criador de todas as
coisas, do que derivou o monoteísmo absoluto e a universalidade de salvação: se
Deus criou tudo, então só pode ser único e, assim, todos são chamados a
participar de sua salvação (Segundo e Terceiro Isaías).
b. O
pecado
Diante
deste Deus, que se demonstrou como Santo que acompanha, cheio de amor, a vida
de Israel, sobressai, por contraste, o pecado do povo. O pecado é tematizado de
diversas formas: é o contrário da santidade de Deus, é desobediência e falta de
fé (Is), traição do amor (Os), oposição ao Deus justo (Am); é abominação aos
olhos de Deus (Ez) e mentira (Jr). Israel é não só pecador, mas fechado à
conversão e é essa atitude que o expõe ao juízo de Deus. Na vida concreta, o
pecado se manifesta em três âmbitos: político, social e cultual.
c. A
política
Os
profetas falam contra a condução de uma política desvinculada da vontade de
Deus. São criticadas as classes dirigentes, que conduzem a nação sem respeitar
as exigências divinas ou que, ao procurar alianças estrangeiras, o fazem em
detrimento da confiança em Deus. No Reino do Norte, Oseias acusa a sucessão
monárquica através de intrigas e assassinatos. Em Judá, a questão diz respeito
sobretudo à confiança nos meios bélicos e em articulações políticas, sem a fé
em Deus, único que realmente pode salvar (Is).
d. Justiça
social
A
justiça nas relações sociais ocupa parte significativa da mensagem de numerosos
livros (Am, Is, Mq, Sf, dentre outros). À honra de Deus devem corresponder as
justas relações na comunidade. É apontada, sobretudo, a injustiça para com os
mais desprotegidos. Recrimina-se a riqueza que convive com a penúria dos mais
pobres, bem como a corrupção dos magistrados e governantes, a falta de
compaixão dos credores, as fraudes no comércio e o falso testemunho no
tribunal, tudo isso fruto da transgressão da Lei.
e. Crítica
ao culto
No
aspecto cultual, a mensagem profética segue duas grandes linhas:
(a)
a crítica à idolatria ou ao sincretismo;
(b)
a crítica ao culto israelita.
Nesta
última perspectiva, recrimina-se o culto ao Senhor realizado em proveito dos
próprios sacerdotes e das classes dirigentes em geral (Os) ou como meio para
“apaziguar” Deus em vez de se realizar uma real conversão (Os; Am). Critica-se
ainda, particularmente, a prática cultual desvinculada da observância dos
mandamentos, sobretudo em relação à justiça (Is; Am; Mq). Malaquias levanta-se
contra o desrespeito e a falta de temor de Deus, manifestada na apresentação de
animais defeituosos e ofertas ritualmente impuras (Ml 1).
f. Esperança
escatológica (ðescatologia)
Relevante
na mensagem profética é também a esperança de um futuro promissor. Essa se
baseia no fato que Deus domina a história e quer conduzi-la à sua plena
realização. Deus restaurará seu povo, fará com que habite em paz na sua terra
própria. Jerusalém será purificada (Is, Ez, Zc), novamente habitada por Deus e,
assim, se tornará o centro do mundo (Is 2; Mq 4). Os que dominaram o povo
eleito serão eliminados (Na, Hab, Ab, Jl) e com isso Israel viverá para sempre
em segurança, em completa felicidade (Sf, Mq).
g. O
rei ungido (Messias)
Sobre
a promessa feita a Davi de que sua dinastia permaneceria para sempre (2Sm 7),
desenvolveu-se, em alguns livros proféticos, a expectativa de um rei justo e
sábio, que inauguraria uma época de completo bem-estar para Israel (Is, Jr, Mq
5). Endereçada primeiramente a futuro iminente, esta expectativa será deslocada
sempre para um futuro mais distante (ð escatologia), preparando, dessa forma, a
vinda definitiva de um rei Messias da parte do Senhor.
Significado
dos livros proféticos
Os
profetas gozavam de grande prestígio nas sociedades antigas. Eram respeitados
e, quando ligados ao palácio, faziam parte das classes dirigentes, acompanhando
as decisões dos governantes pela consulta a Deus. A Palavra da qual o profeta é
portador julga o povo e as classes dominantes. Isto lhe confere grande autoridade:
é crítico da sociedade e do indivíduo.
Em
Israel, o profetismo teve particular importância. No contexto de todo o Antigo
Oriente Próximo, somente nesse povo foram conservados livros proféticos. Isto
significa que a palavra profética, embora proferida num determinado momento, em
vista de circunstâncias precisas, foi considerada válida também para outras
situações. A mensagem profética é perene, pois a Palavra do Deus de Israel não
volta atrás; tem valor permanente
(Is
40,8; 55,10-11).
Livros
associados à profecia
A
Septuaginta e as Bíblias cristãs associaram à profecia os livros de Daniel,
Lamentações e Baruc.
Daniel
Colocado
na Setenta e na Vulgata entre os livros proféticos, Daniel encontra-se, na
Bíblia Hebraica, entre os “escritos”. Por seu conteúdo, de fato, o livro não se
enquadra como profecia. Em sua primeira parte (c. 1–6), são narradas histórias
edificantes. A segunda parte (c. 7–12) é composta por visões apocalípticas (ð
apocalíptica). Da Setenta constam ainda dois capítulos que trazem narrações
didáticas (c. 13–14).
Daniel
aparece no livro como um personagem do tempo do exílio babilônico (século VI
aC). O conteúdo do livro, porém, indica que ele foi composto em época
helenista. A alusão à morte de Antíoco IV (175-164 aC), em 11,45, leva a
finalização do livro para os anos em torno de 164.
O
livro encontra-se redigido em três línguas: aramaico (2,4–7,28), hebraico
(1,1–2,3; 8,1–12,13) e grego (3,24-90; 13,1–14,42). Esta diversidade é de
difícil explicação. Supõe-se que foi composto, em parte, a partir de materiais
vindos por tradição.
A
finalidade do livro é sustentar a fé e a esperança diante de perseguições e
adversidades (2,36-45; 3,33; 4,31; 7,14). É possível ao judeu viver sua fé com
fidelidade. Deus intervém em favor dos justos e mesmo os estrangeiros
reconhecerão o Deus de Israel (c. 1–6). Deus é o senhor da história e conhece
seu sentido (2,28). Toda a história caminha para sua consumação, na qual os
reinos da terra darão lugar ao reino de Deus (2,18.19.37.44; 4,34; 5,23;
7,9-14). Os c. 7–12, seguindo a mentalidade apocalíptica, ensinam que o inimigo
será aniquilado no tempo do fim (8,17-19; 11,36-45). No reino de Deus, o poder
caberá ao “Filho do Homem” (7,13-14).
A
ressurreição dos mortos é testemunhada em 12,1-3.13. Trata-se da ressurreição
de justos e ímpios, com sortes diferentes.
Na
parte final do escrito, a história de Susana (c. 13) mostra que Deus julga e
faz justiça ao injustiçado; a narração de Bel e da serpente (c. 14) critica as
imagens idolátricas e defende o monoteísmo.
Lamentações
O
título hebraico (“Como…!”: 1,1) caracteriza um canto fúnebre. O Talmud dá ao
livro o título de “Lamentação”, assim como a Setenta e a Vulgata. O “como”
inicial resume o tom de todo o texto, o sentimento que perpassa toda a obra. O
livro compõe-se de cinco cantos sobre a queda de Jerusalém, cada um ocupando um
capítulo: os quatro primeiros são acrósticos; o quinto tem 22 versos (número de
letras do alfabeto hebraico). Apresentam a destruição da cidade, a situação de
seus habitantes e mostram a infidelidade do povo, especialmente de profetas e
sacerdotes, como a causa da catástrofe (1,8.14-15; 2,14; 3,42; 4,5.13; 5,7.16).
O Senhor é justo, mas a medida dos pecados transbordou e pôs em xeque a
proteção divina (1,18; 4,12). Há, porém, esperança, em virtude da misericórdia
de Deus. Importante é a fé e a conversão para que Deus intervenha e salve
(3,24-26.31-33.40-42; 5,19-22).
O
livro, obra compósita, pode datar da época do exílio ou pouco após. Embora
atribuída a Jeremias a partir da notícia de 2Cr 35,25, não remonta ao profeta.
Baruc
Consiste
numa coletânea de textos de natureza variada, sendo uma parte em prosa
(1,1–3,8) e outra em poesia (3,9–5,9). Na tradução da Setenta está colocado
entre Jeremias e Lamentações; na Vulgata, após Lamentações. Br 1,1-14 traz uma
introdução e situa o texto penitencial que vem a seguir. Nesse (1,15–3,8),
explica-se o exílio como resultado do pecado do povo (1,21-22; 3,5). O texto
que segue (3,9–4,4) é um hino de louvor à sabedoria. Finalmente, tem lugar uma
pregação profética (4,5–5,9) que retoma temas do Segundo Isaías e de Jeremias.
O
livro usa a pseudonímia de Baruc, secretário de Jeremias (cf. Jr 36,4). É
conhecido somente em grego, embora o original possa ter sido hebraico. Os
muitos contatos de 1,15–3,8 com Dn 9,4-19 e de 4,5–5,9 com os Salmos de Salomão
(apócrifo do século II aC) indicam para a redação final do livro o século II
aC. A situação histórica pressuposta é a da crise helenista que teve lugar
neste século.
O
livro ensina que o caminho para o povo superar as dificuldades é confessar a
culpa (1,15-20) e suplicar o perdão de Deus (2,11-18; 3,1-8). Br 3,9–4,4 trata
da excelência da sabedoria, que reside em Israel (3,22-28) e é identificada com
a revelação divina (3,37–4,1; cf. Sir 24,23). A última parte do escrito
(4,5–5,9) abre a perspectiva da futura restauração (4,30–5,9). Deus é fiel,
mesmo diante da infidelidade de Israel. Jerusalém terá de volta a alegria, a
paz, a glória (5,1-4).
A
Vulgata acrescentou ao livro um sexto capítulo, contendo a chamada “Carta de
Jeremias”, que na Setenta figura como um livro à parte. Baseia sua pseudonímia
provavelmente em Jr 29. É um tratado que condena a idolatria (6,3-5) e ironiza
os ídolos (6,7-14.15-72). Sua datação deve ser do tempo helenista (final do
século IV ou no século III a.C).
Maria
de Lourdes Corra Lima, PUC Rio
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