ECLESIOLOGIA - OS OFICIAIS DA IGREJA
OS
OFICIAIS DA IGREJA
Para
os propósitos deste capítulo, usaremos a seguinte definição: um oficial da
igreja é alguém publicamente reconhecido como detentor do direito e da
responsabilidade de desempenhar certas funções para o benefício de toda a
igreja.
Segundo
essa definição, presbíteros e diáconos seriam considerados oficiais na igreja,
bem como o pastor (se esse for um ofício distinto). O tesoureiro e o moderador
também seriam oficiais (esses títulos podem variar de igreja para igreja).
Todas essas pessoas tiveram reconhecimento público, geralmente em um culto no
qual foram "empossados" ou "ordenados" em um ofício.
1.
Apóstolos.
Os
apóstolos do Novo Testamento tinham um tipo singular de autoridade na igreja
primitiva : A autoridade para falar e escrever palavras que eram "palavras
de Deus" em sentido absoluto. Não acreditar neles ou desobedecer a eles
era o mesmo que não crer em Deus e desobedecer a Deus.
a. As
qualificações de um apóstolo.
As
duas qualificações de um apóstolo eram:
(1)
ter visto Jesus Cristo após a ressurreição (ser testemunha ocular da
ressurreição) e
(2)
ter sido especificamente comissionado por Cristo como seu apóstolo.
O
fato de que um apóstolo tinha de ter visto o Senhor ressurreto é indicado em
At 1.22, onde Pedro diz que o substituto de Judas deve "se tornar
testemunha conosco de sua ressurreição". Além disso foi "aos
apóstolos que escolhera" que "depois de ter padecido se apresentou
vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta
dias" (At 1.2-3; cf. 4.33).
b. Quem
eram os apóstolos?
O
grupo inicial contava com doze; os onze discípulos originais que continuaram
após a morte de Judas, e Matias, que o substituiu: "E os lançaram em
sortes, vindo a sorte a recair sobre Matias, sendo-lhe então votado lugar com
os onze apóstolos" (At 1.26). Tão importante era esse grupo original de
doze apóstolos, os membros fundadores do ofício apostólico, que lemos que seus
nomes estão escritos nos fundamentos da cidade celestial, a nova Jerusalém:
"A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze
nomes dos doze apóstolos do Cordeiro" (Ap 21.14).
c. Resumo.
A
palavra apóstolo pode ser usada em um sentido amplo ou restrito. Em sentido
amplo ela significa "mensageiro" ou "missionário pioneiro".
Mas em sentido restrito, que é o mais comum no Novo Testamento, refere-se a um
ofício específico, "apóstolo de Jesus Cristo". Esses apóstolos tinham
autoridade única para fundar e liderar a igreja primitiva e podiam falar e
escrever a palavra de Deus. Muitas de suas palavras escritas tornaram-se as
Escrituras do Novo Testamento.
2. Presbíteros
(pastores / bispos)
a. Pluralidade
de presbíteros, padrão em todas as igrejas do Novo Testamento.
O
próximo ofício a ser considerado é o de "presbítero". Embora se
argumente que havia diferentes formas de governo eclesiástico no Novo
Testamento, um panorama dos textos pertinentes mostra que o oposto é
verdadeiro: há um padrão bastante coerente de vários presbíteros como o
principal grupo de liderança das igrejas neotestamentárias. Por exemplo, em
At 14.23 lemos: "E promovendo-lhes em cada igreja a eleição de
presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem
haviam crido". Isso aconteceu na primeira viagem missionária de Paulo,
quando retornava pelas cidades de Listra, Icônio e Antioquia, e indica que o
procedimento normal de Paulo desde sua primeira viagem missionária era
estabelecer um grupo de presbíteros em cada igreja que fundava. Sabemos que
Paulo também estabeleceu presbíteros na igreja de Éfeso, porque lemos :
"De Mileto mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja" (At
20.17).
b. Outros títulos dos
presbíteros : pastores ou bispos.
Presbíteros
também são chamados "pastores" ou "bispos" no Novo
Testamento. A palavra menos usada (pelo menos na forma substantiva) é pastor
(gr. poimÂn). Pode surpreender-nos descobrir que essa palavra, que se tornou
tão comum, só ocorra, referindo-se a um oficial da igreja, uma vez no Novo
Testamento. Em Ef 4.11, Paulo escreve: "E ele mesmo concedeu uns
para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, outros para
pastores e mestres". O versículo provavelmente seria mais bem traduzido
por "pastores-mestres" (um grupo) e não "pastores e
mestres" (sugerindo dois grupos) por causa da construção grega (embora nem
todo estudioso da área de Novo Testamento concorde com a tradução). A
associação com o ensino sugere que esses pastores eram alguns presbíteros (ou
talvez todos) que se encarregavam do ensino, porque um dos requisitos do
presbítero era ser "apto para ensinar" (1 Tm 3.12).
c. As
funções dos presbíteros.
Uma
das principais funções dos presbíteros é dirigir as igrejas do Novo Testamento.
Em 1 Tm 5.17 lemos: "Devem ser considerados merecedores de dobrados
honorários os presbíteros que presidem bem". Antes, na mesma epístola,
Paulo diz que o bispo (ou presbítero) "deve governar bem a sua própria
casa [...] pois, como cuidará da igreja de Deus?" (1 Tm 3.4-5).
d. Qualificações
dos presbíteros.
Quando
Paulo alista as qualificações dos presbíteros, é importante o fato de ele
juntar requisitos concernentes a traços do caráter e atitudes íntimas com
requisitos que não podem ser preenchidos em curto espaço de tempo, senão em um
período de muitos anos de vida cristã fiel :
"É
necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher,
temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao
vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que
governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o
respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da
igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e
incorra na condenação do diabo" (1 Tm 3.2-7).
f. A
ordenação pública de presbíteros.
Em
relação com a discussão acerca dos presbíteros, Paulo diz : A ninguém imponhas
precipitadamente as mãos" (1 Tm 5.22). Embora o contexto não especifique
um processo de seleção de presbíteros, todo o contexto imediatamente anterior
(1 Tm 5.17-21) trata de presbíteros; e a imposição de mãos seria uma cerimônia
para separar alguém para o ofício de presbítero (observe a imposição de mãos
para ordenar ou estabelecer pessoas em certos ofícios e tarefas em At 6.6;
13.3; 1 Tm 4.14). Portanto, a consagração de presbítero parece a possibilidade
mais provável para a ação que Paulo tem em mente. Nesse caso ele estaria
dizendo : "A ninguém consagre precipitadamente como presbítero". Isso
seria coerente com um processo por onde os diáconos devem ser
"primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam
o diaconato" (1 Tm 3.10).
3. Diáconos.
A
palavra diácono é tradução da palavra grega diakonos, que é o termo comum que
se traduz por "servo", quando usado em contextos não eclesiásticos.
Os
diáconos são claramente mencionados em Filipenses 1.1: "... a todos os
santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos".
Mas não há especificação de sua função, só a indicação de que são diferentes
dos bispos (presbíteros). Os diáconos também são mencionados em 1 Tm 3.8-13 em uma passagem mais extensa :
"Semelhantemente,
quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não
inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o
mistério da fé com a consciência limpa. Também sejam estes primeiramente
experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato. Da
mesma sorte, quanto a mulheres [ou "esposas"; a palavra grega pode ter
um desses significado], é necessário que sejam elas respeitáveis, não
maldizentes, temperantes e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só
mulher, e governe bem seus filhos e a própria casa. Pois os que desempenharem
bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez
na fé em Cristo Jesus" (1 Tm 3.8-13).
4. Outros
cargos?
Em
algumas igrejas hoje, há outros cargos, tais como tesoureiro, moderador (alguém
com responsabilidade de presidir as reuniões administrativas da igreja), ou
curador (em algumas formas de governo da igreja, alguém legalmente responsável
pelas propriedades da igreja). Além disso, igrejas com uma equipe de direção
com mais de um membro assalariado podem ter nessa equipe membros (tais como
ministro de música, diretor de educação, conselheiro de jovens, etc.)
"publicamente reconhecidos como detentores do direito e da
responsabilidade de desempenhar certas funções na igreja" e que assim se
encaixam em nossa definição de oficial da igreja, podendo até serem pagos para
desempenhar tais funções em tempo integral, mas que podem não ser presbíteros
nem diáconos na igreja.
B. COMO
DEVEM SER ESCOLHIDOS OS OFICIAIS DA IGREJA?
Existem duas práticas principais no processo de seleção dos oficiais da igreja : a escolha feita por uma autoridade superior e a que se faz pela congregação local. A Igreja Católica Romana tem seus oficiais indicados por uma autoridade superior: o papa indica cardeais e bispos, e os bispos indicam sacerdotes para as paróquias locais. Essa é uma "hierarquia", ou sistema de governo por sacerdócio, distinto dos leigos na igreja. Esse sistema indica uma linha ininterrupta de descendência que começa com Cristo e os apóstolos e alega que o sacerdócio atual é o representante de Cristo na igreja. Embora a Igreja Anglicana (Igreja Episcopal, nos Estados Unidos) não se submeta ao domínio de um papa nem tenha cardeais, ela possui algumas semelhanças com o sistema hierárquico da Igreja Católica Romana, já que é dirigida por bispos e arcebispos, e os membros de seu clero são considerados sacerdotes. Ela também alega estar na linha de sucessão direta a partir dos apóstolos, e os sacerdotes e bispos.
ECLESIOLOGIA
III - A LIDERANÇA DA IGREJA
A Liderança da Igreja
Independente
do tipo de governo que as igrejas tenham, é inegável a necessidade de líderes.
Sempre foi assim desde o início da igreja : O NT mostra que havia líderes na
Judeia (At 11.29,30), Paulo instituiu líderes na Galácia (At 14.23), os líderes
da igreja se reuniram em Jerusalém (At 15) e havia presbíteros e diáconos nas
igrejas (At 20.17; e Fp 1.1).
TIPOS
DE LÍDER
Apesar
de o NT mencionar presbíteros e diáconos na liderança das igrejas, nem todas as
denominações adotam essa divisão. Textos bíblicos que falam muito sobre o
assunto são Tito 1 e 1 Timóteo 3. Esses dois textos demonstram que as palavras
"presbítero" e "bispos" (supervisores) são termos
intercambiáveis e se referem à mesma pessoa. Outras evidências dessa realidade
são:
Paulo
usa os dois termos se referindo às mesmas pessoas no mesmo parágrafo (Tt
1.5-7);
Paulo
chama os presbíteros de Éfeso de "bispos" (At 20.17,28);
Em
1 Tm 3.1-13 e Fp 1.1, Paulo cita apenas bispos e diáconos, sem se referir a
presbíteros, embora 1 Tm 5.17 os identifique na igreja.
MINISTÉRIO
DOS PRESBÍTEROS
Os
deveres dos presbíteros são :
a) Governar
-
O
presbítero deve liderar (1 Tm 5.17; Hb 13.17), não como dominador, mas sem
perder a autoridade (1 Pe 5.3; Hb 13.7);
b) Guardar
a verdade -
Proclamar
e explicar as doutrinas reveladas nas Escrituras (Tt 1.9), buscando ser
capacitado para tanto (1 Tm 3.2);
c) Ter
um bom caráter -
As
qualificações necessárias ao caráter do presbítero, conforme 1 Tm 3.1-7 e Tt
1.5-9, são:
Irrepreensível; Marido
de uma esposa; Temperante; Sóbrio;
Modesto; Hospitaleiro; Apto
para ensinar; Não dado ao vinho; Não
violento; Amável; Inimigo de contendas; Não ganancioso; Não
irascível; Governar bem o lar; Não orgulhoso; Não
inexperiente; De bom testemunho.
Os
presbíteros eram escolhidos e investidos nessa função, nos dias do NT, quando
eram fundadas novas igrejas (At 14.23; Tt 1.5). Os apóstolos, os presbíteros e
a congregação participavam desse processo.
Exemplos
disso:
Paulo
e Barnabé tiveram a imposição de mãos da igreja e foram enviados (At 13.3);
Os
presbíteros impuseram as mãos sobre Timóteo (1 Tm 4.14);
Tito
nomeou presbíteros em Creta (Tt 1.5);
Paulo
alertou sobre a imposição precipitada de mãos (1 Tm 5.22).
MINISTÉRIO
DOS DIÁCONOS
A
palavra diácono quer dizer ministro ou servo. A diaconia (serviço) é um
ministério geral que pode ser oficial ou não. Entretanto, a Bíblia especifica
as qualificações de homens que assumiam um cargo oficial na igreja com o nome
de diácono (Fp 1.1). Tais qualificações são semelhantes e paralelas às do
presbítero (1 Tm 3.8-13).
A
imposição de mãos, nesse caso, tem o significado de reconhecimento, aprovação e
apoio ao ministério de quem é feito presbítero.
As
Ordenanças da Igreja
Ordenanças
são ordens dadas por Cristo à Igreja com a intenção de lembrar e simbolizar
verdades fundamentais. Diferente do conceito de "sacramento", as
ordenanças não têm a intenção de serem veículos de graça. Apesar das diferenças
entre diversas denominações no que tange à intenção e número das ordenanças,
cremos que são identificadas como ordenanças o batismo e a ceia.
O
BATISMO
A
palavra batismo vem do grego baptisma e baptizo, que significa imergir,
submergir. Assim, ele deve ser feito pela imersão total do crente na água (Mt
3.16; Jo 3.23; At 8.36-39). O batismo deve ser ministrado somente a adultos ou,
eventualmente, a crianças que já entenderam e aceitaram o evangelho. O batismo
por imersão atinge os quatro objetivos do batismo :
A
profissão pública de fé; objetivo principal (1 Pd 3.21);
A
identificação do batizando com os demais discípulos de Jesus (Mt 28.19);
A
representação da lavagem espiritual (At 22.16 cf. 1 Co 6.11);
A
representação da morte do crente para o mundo e de sua ressurreição para uma
nova vida (Rm 6.4; Cl 2.12).
O
batismo tem seu significado associado às ideias de :
Perdão
(At 2.38; 22.16);
União
com Cristo (Rm 6.1-10);
Fazer
discípulos (Mt 28.19);
Arrependimento
(At 2.38).
O
Novo Testamento apresenta o batismo rendendo-lhe uma posição importante que
pode ser notada nos seguintes textos :
O
batismo de Jesus (Mt 3.16);
A
orientação de Cristo para o batismo dos seus discípulos (Jo 4.1-3);
A
ordem de Cristo para que a igreja batizasse os futuros discípulos (Mt 28.19);
Lugar
de destaque na vida da igreja primitiva (At 2.38,41; 8.12,13,36; 9.18;
10.47,48; 16.15,33; 18.8; 19.5);
O
NT usa para retratar ou simbolizar verdades teológicas importantes (Rm 6.1-10;
Gl 3.27; 1 Pe 3.21).
2
- A CEIA DO SENHOR
A
Ceia do Senhor é uma ordenança dada pelo Senhor Jesus Cristo cuja validade dura
até seu retorno para os seus. Trata-se de um "memorial" em que, de
modo algum, o corpo e sangue de Cristo estão presentes nos elementos da ceia,
nem tampouco é esse um momento revestido de qualquer misticismo.
As
principais visões sobre a Ceia do Senhor são:
a)
Transubstanciação (católicos romanos)? Pão e vinho, literalmente,
transformam-se em corpo e sangue de Cristo. Os que os recebem participam de
Cristo, que é sacrificado para reconciliação de pecados;
b)
Consubstanciação (luteranos)? Pão e vinho contêm o corpo e o sangue de Cristo.
Não há uma transformação literal, mas a presença de Cristo se dá em sentido
real. Cristo está presente "em, com e sob" os elementos. Os
participantes recebem perdão de pecados e confirmação da sua fé por meio da
participação nos elementos. Mesmo os descrentes são beneficiados por ela;
c)
Presença espiritual (presbiterianos)? Cristo não está literalmente presente nos
elementos, mas há uma presença espiritual. Os participantes recebem graça pela
participação, porém, não pelos elementos e sim por meio da fé. Sem benefícios
para incrédulos;
d)
Memorial (batistas)? Os elementos são pão e vinho somente. Cristo não está
especialmente presente, nem física, nem espiritualmente. Sua presença é a mesma
experimentada costumeiramente pela sua igreja. É um memorial realizado pelos
participantes. Simboliza Cristo e sua morte, não seu corpo literal. Nenhuma
graça é transmitida.
Por
que cremos que a Ceia do Senhor é um "MEMORIAL"?
a)
Porque a expressão "isto é meu corpo" (Mt 26.26; 1 Co 11.24) é uma
figura de linguagem (metáfora) que na verdade quer dizer "isto simboliza
meu corpo". Esse é o mesmo modo de interpretar expressões como "eu
sou o pão da vida" ou "eu sou o pão vivo que desceu dos céus"
(Jo 6.48,51), "eu sou a luz do mundo" (Jo 8.12), "eu sou a porta
das ovelhas" (Jo 10.7,9) e "eu sou a videira verdadeira" (Jo
15.1).
Tomar
literalmente "isto é meu corpo" trará também grandes dificuldades
para interpretarmos frases como "porque nós, embora muitos, somos
unicamente um pão" (1 Co 10.17);
b)
Quando Jesus disse "isto é meu corpo", a Bíblia diz que ele
"tomou um pão" (Mt 26.26; Mc 14.22; Lc 22.19). Nessa ocasião, o corpo
real de Jesus segurava o pão em vez de integrá-lo;
c)
Porque, apesar da onipresença divina, o corpo de Cristo foi elevado aos céus
(At 1.9,11; 7.55,56) e haverá uma presença corporal de Jesus na Terra apenas
na sua segunda vinda (At 1.11; Lc 21.27; e 1 Ts 1.10) de modo que seu corpo não
está presente na terra no momento da ceia;
d)
O texto de 1 Co 10.16, usado para defender uma suposta presença especial de
Cristo na ceia, não tem por intenção tratar a forma da Ceia do Senhor (Paulo
trata disso no capítulo seguinte), mas pretende apresentar a participação da
ceia como integração no culto do Senhor, assim como os israelitas participaram
do culto de Baal-Peor pelo contato com as mulheres midianitas e como os crentes
de Corinto teriam parte em um culto idólatra se participassem de refeições em
templos pagãos (1 Co 10.1-22).
O
que é a Ceia do Senhor na "visão memorial"?
a)
É uma recordação da morte de Cristo (1 Co 11.24,25); O pão simboliza seu corpo
oferecido em sacrifício (1 Pe 2.24) e o cálice simboliza seu sangue derramado
para o perdão dos pecados (Ef 1.7) na cruz do Calvário;
b)
É uma proclamação da morte de Cristo enquanto se espera sua vinda (1 Co 11.26);
Volta os olhos dos participantes para o retorno futuro de Cristo (Mt 26.29);
c)
É uma comunhão entre os crentes (1 Co 10.17); É uma refeição que concentra a fé
comum dos participantes em Cristo.
MEIOS
DE GRAÇA NA IGREJA
Todas
as bênçãos que recebemos nesta vida são em última análise imerecidas; todas
elas nos vêm pela graça. De fato, para Pedro, toda a vida cristã se vive pela
graça (1 Pe 5.12).
Mas
será que Deus usa meios especiais para nos dispensar mais graça?
Especificamente na comunhão da igreja, será que há determinados meios, ou seja,
determinadas atividades, cerimônias ou funções que Deus usa para nos dispensar
mais graça? Outra maneira de formular essa pergunta é: será que o Espírito
Santo se utiliza de certos meios para distribuir as bênçãos aos salvos?
B.
ANÁLISE DOS MEIOS
1.
O ensino da Palavra.
Mesmo
antes de as pessoas se tornarem cristãs, o ensino e a pregação da Palavra lhes
dispensam a graça de Deus, pois esse é o instrumento que Deus usa para lhes
conceder a vida espiritual e levá-las à salvação. Diz Paulo que o evangelho é o
"poder de Deus para a salvação" (Rm 1.16) e que a pregação de Cristo
é "poder de Deus e sabedoria de Deus" (1 Co 1.24). Deus nos fez nascer
de novo ou "nos gerou pela palavra da verdade" (Tg 1.18), e Pedro diz: "Fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível,
mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente" (1 Pe 1.23). A
Palavra escrita de Deus, a Bíblia, pode "tornar-te sábio para a salvação
pela fé em Cristo Jesus" (2 Tm 3.15).
2.
A oração.
Que
tanto a oração coletiva na igreja reunida quanto a oração dos cristãos uns
pelos outros são meios poderosos que o Espírito Santo usa cotidianamente para
distribuir bênçãos aos salvos. Certamente devemos orar juntos e também
individualmente, seguindo o exemplo da igreja primitiva. Quando os primeiros
cristãos ouviram as ameaças dos líderes dos judeus, "unânimes, levantaram
a voz a Deus" em oração (At 4.24-30), e "tendo eles orado, tremeu o
lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com
intrepidez, anunciavam a palavra de Deus" (At 4.31; cf. 2.42). Quando
Pedro foi lançado na prisão, "havia oração incessante a Deus por parte da
igreja a favor dele" (At 12.5).
3.
A adoração.
A
adoração genuína é a adoração "em espírito" (Jo 4.23-24; Fp 3.3), que
provavelmente significa adoração que se dá na esfera espiritual (não meramente
o ato físico de participar do culto, ou de cantar hinos). Quando penetramos na
esfera espiritual e ministramos ao Senhor em oração, Deus também ministra a
nós. Assim, por exemplo, na igreja de Antioquia, enquanto estavam
"servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me,
agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2).
4.
A disciplina da igreja.
Como
a disciplina da igreja é um meio pelo qual se fomenta a pureza da igreja e se
estimula a santidade de vida, sem dúvida devemos contá-la também como
"meio de graça". Porém, a bênção não é concedida automaticamente :
quando a igreja disciplina, aquele que está em pecado não recebe nenhum bem
espiritual a menos que o Espírito Santo o convença do seu pecado e provoque uma
"tristeza segundo Deus" que "produz arrependimento para a salvação,
que a ninguém traz pesar" (2 Co 7.10); e a igreja também não recebe nenhum
bem espiritual a menos que o Espírito Santo esteja atuante nos outros membros
quando eles tomarem consciência desse processo. É por isso que a igreja deve
executar a disciplina sabendo que ela se faz na presença do Senhor (1 Co 5.4;
cf. 4.19-20) e com a certeza de que ela traz em si a sanção celeste (Mt 16.19;
18-18.20).
5.
A oferta.
As
ofertas são normalmente feitas por intermédio da igreja : ela as recebe e
distribui aos vários ministérios e necessidades que atende. Aqui, novamente,
não há dispensação automática ou mecânica de benefícios aos que contribuem.
Simão, o mágico, foi veementemente repreendido por pensar que podia
"adquirir, por meio dele [do dinheiro], o dom de Deus" (At 8.20). Mas
se a oferta é feita com fé, pela devoção a Cristo e por amor ao seu povo, então
certamente haverá grandes bênçãos nela. Deus mais se agrada quando as ofertas
em dinheiro vêm acompanhadas de uma intensificação da devoção do doador a Deus,
como foi o caso dos macedônios, que "deram-se a si mesmos primeiro ao
Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus" (2 Co 8.5), e mais tarde ainda
fizeram doações aos cristãos pobres de Jerusalém. Quando a contribuição se faz
com alegria, "não com tristeza ou por necessidade", vem com ela a
grande recompensa do favor de Deus, "porque Deus ama a quem dá com
alegria" (2 Co 9.7).
6.
Os dons espirituais.
Pedro
considera os dons espirituais veículos pelos quais a graça de Deus vem à
igreja. Diz ele: "Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que
recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Pe 4.10).
Quando os dons são usados em benefício uns dos outros na igreja, a graça de
Deus é assim dispensada àqueles a quem Deus pretende concedê-la. Excelentes bênçãos
virão à igreja com o uso correto dos dons espirituais, desde que a igreja siga
a exortação de Paulo de usar os dons para procurar "progredir, para a
edificação da igreja" (1 Co 14.12; cf. Ef 4.11-16).
7.
A comunhão.
Não
devemos menosprezar a comunhão cristã comum como valioso meio de graça na
igreja. Os membros da igreja primitiva "perseveravam na doutrina dos
apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At 2.42). E o
autor de Hebreus lembra aos cristãos: "Consideremo-nos também uns aos
outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de
congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto
mais quanto vedes que o Dia se aproxima" (Hb 10.24-25). Na comunhão dos
crentes, crescem a amizade e o afeto naturais uns pelos outros, e assim se
cumpre o mandamento de Jesus : "que vos ameis uns aos outros" (Jo
15.12). Além disso, quando os crentes se importam uns com os outros, seguem o
conselho de Paulo: "Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a
lei de Cristo" (Gl 6.2).
8.
A evangelização.
Em Atos, há um vínculo frequente entre proclamar o evangelho (mesmo enfrentando oposição) e estar cheio do Espírito Santo (ver At 2.4 com v. 14-36; 4.8, 31; 9.17 com v. 20; 13.9, 52). A evangelização é então um meio de graça não só porque ministra graça salvífica aos que não estão salvos, mas também porque quem evangeliza vivencia mais a presença e a bênção do Espírito Santo. Às vezes a evangelização é realizada individualmente, outras vezes é uma atividade coletiva da igreja (como nas campanhas de evangelização). E mesmo a evangelização individual muitas vezes envolve outros membros da igreja, que acolhem um visitante descrente e atendem as suas necessidades. Portanto a evangelização é com justiça considerada um meio de graça na igreja.
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