O CULTO REFORMADO I – ALGUNS
PRINCÍPIOS
A
preocupação dos Reformadores era de ter um “culto legítimo” — legítimo perante
Deus. Esta deve ser a nossa preocupação também. Podemos aprender muito com os
resultados dos trabalhos de homens como Lutero e Calvino. Dizendo isto, não
podemos esquecer que a história não é normativa. A Escritura é a única regra de
fé e de prática. Foi a Escritura que levou os Reformadores à reforma do culto.
“Por ventura a palavra de Deus se originou no meio de vós, ou veio ela
exclusivamente para vós outros?” (1 Co 14:36). Esta palavra apostólica
justifica um estudo do Culto Reformado c om atenção especial à história deste
culto.
O
título deste estudo fala de princípios do Culto Reformado, porque não existe
algo como “O culto reformado”. Não existe um só “culto reformado ”. No século
XVI havia uma grande variedade de modelos de culto nas Igrejas Reformadas na
Europa. O próprio Calvino fez vários modelos para as congregações que ele
serviu como pastor. Mas certamente podemos descobrir princípios comuns em todos
estes modelos.
CULTO LEGÍTIMO CONFORME AS ESCRITURAS
Parece
que o termo “culto legítimo” é de Calvino. Ele ensina no início da sua grande
obra, As Institutas, que há uma estreita ligação entre o conhecimento de Deus e
a adoração a Deus. O “culto legítimo” é apenas possível dentro dos moldes da
Revelação de Deus. Oculto a Deus é determinado, caracterizado e colorido pela
Revelação de Deus. Em outra parte das Institutas (IV.X.30), Calvino diz: “Eu
aprovo exclusivamente essas ordenanças humanas que sejam não somente fundadas
na autoridade de Deus, mas também tomadas da Escritura e, por isso,
inteiramente divinas”. Temos que adorar a Deus da maneira que Ele nos ordenou.
Este era um princípio imutável para Calvino. Ao mesmo tempo, este princípio
levou Calvino a dizer que preceitos para o culto e formas de expressão podem
ser variáveis quando não há ensino expresso sobre eles na Escritura. Resumindo,
o culto será legítimo se estiver em conformidade com as Escrituras. Este é o
primeiro grande princípio do Culto Reformado.
Isto
significou o rompimento com a liturgia romana. Os Reformadores chegaram à
conclusão de que esta liturgia contém elementos pagãos e judaicos. O uso de
imagens é um exemplo típico da necessidade do pagão de ter um deus visível que
ele pode manipular. Tal uso ofende a suprema majestade do Deus Vivo.
Calvino
sentenciou: A liturgia Romana imita o culto mosaico do Velho Testamento e nega
a vinda de Cristo, que é o fim das cerimônias judaicas (Cf. Rm 10:4).
Especialmente a Carta aos Hebreus mostra que o próprio Cristo reformou o culto,
através de seu ato salvífico. Calvino sempre defendeu a unidade essencial entre
a Antiga e a Nova Aliança. Mas ele sabia que com Cristo chegou a fase da Nova
Aliança, com seu novo modo de cultuar a Deus. Adoramos a Deus em espírito e em
verdade (Cf. Jo 4:23). O culto romano negava esta realidade. Por isso, o culto
tinha que ser reformado por nossos irmãos d o século XVI.
CULTO REFORMADO VOLTA AO CULTO ORIGINAL
O
Culto Reformado, rompendo com a antiga liturgia romana, era por isso mesmo uma
volta ao culto original da igreja dos apóstolos e dos chamados “Pais da Igreja”
(líderes destacados da Igreja Antiga dos séculos II a IV). Neste segundo
princípio do Culto Reformado descobrimos, por exemplo, no título que Calvino
deu à liturgia de Genebra de 1542: Forma de culto “conforme o costume da Igreja
Antiga”. Como era, para Calvino, o culto original da Igreja Apostólica ? Ele
estava consciente de que a Escritura não nos oferece um modelo detalhado para
nossos cultos dominicais. Mesmo assim, para Calvino, o Novo Testamento contém
alguns elementos básicos que nunca podem faltar nos cultos.
Reconhecemos
então em At 2:42, um verso que, para Calvino, era fundamental: “E
perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações”. Nas suas Institutas (IV.XVll.44), Calvino escreve, baseando-se neste
verso: “Assim, de modo geral, haver-se-ia de agir que nenhuma reunião da
igreja se fizesse, sem a Palavra, as orações, a participação da Ceia e as
esmolas”.
Como
foi que Calvino aplicou os elementos principais da Escritura em seu modelo para
um culto reformado? O primeiro modelo, que encontramos nos escritos de Calvino
está nas Institutas, já na primeira edição de 1536 (IV.XVII.43). Encontramos as
seguintes partes: orações públicas; o sermão; celebração da Santa Ceia;
exortação à fé sincera e à confissão dessa fé; ação de graças e louvores em
cânticos; despedida em paz. A celebração da Santa C eia inclui a leitura das
palavras da instituição, proclamação das promessas do Senhor nestas palavras,
vedação à comunhão daqueles que o Senhor barrou dela, oração, cantar salmos ou
leitura bíblica, e por final a própria comunhão. Calvino sempre permaneceu fiel
a este resumo de seu programa litúrgico que ele escreveu na idade de 26 anos.
Queremos
ainda perguntar por que Calvino tinha tanta atenção para a Igreja Antiga e aos
Pais da Igreja?
1.
Primeiro: porque ele queria cultuar a Deus na comunhão com todos os santos (Ef
3:18).
2.
Segundo: porque o testemunho dos Pais da Igreja não apoiava o culto romano,
como a Igreja Romana dizia.
3.
Terceiro: a razão mais importante do interesse p ara a Igreja Antiga era porque
ela preservou o culto bíblico.
Os
Pais da Igreja em si não eram importantes para Calvino, e, sim, a fidelidade
deles à doutrina do Evangelho, também na área da liturgia. Por isso, a reforma
do culto no século XVI significa a volta à origem mais antiga do culto, e não
um rompimento revolucionário com o passado. O Culto Reformado deu uma volta por
cima da “antiga” liturgia romana, de volta às fontes que eram os ensinos dos
apóstolos d e Cristo.
Como
a Igreja Antiga estava perto da era dos apóstolos, Calvino usou os testemunhos
dos Pais da Igreja na sua reforma do culto. Ele restaurou a Santa Ceia como ato
de comunhão entre Cristo e seus fiéis e como ação de graças. Contra a prática
de missas privadas, enfatizava Calvino que a Santa Ceia devia ser celebrada na
presença da congregação inteira, nos cultos dominicais, como na Igreja Antiga.
Calvino colocou no início do primeiro culto dominical a confissão dos pecados
seguida de palavras de absolvição, conforme a prática antiga. Outra prática da
Igreja Antiga que Calvino restaurou era a de recitar ou cantar o Credo
Apostólico no culto como renovação do juramento de fidelidade ao Deus Triúno.
LIBERDADE CRISTÃ NA LITURGIA REFORMADA
Parecem
dois princípios contraditórios: querer um culto somente baseado nas Escrituras
e permitir liberdade na liturgia. Mas não há nenhuma contradição, se entendemos
o que é liberdade cristã. Ela é a liberdade que Cristo nos dá em Sua Palavra.
Por isso, esta liberdade tem seus limites na própria Palavra de Cristo, o único
Legislador em questões litúrgicas. Liberdade cristã na liturgia não pode
significar desordem, arbitrariedade ou mania de sempre renovar o culto. Por
outro lado, Calvino não queria obrigar a consciência através de tradições
humanas como a Igreja Romana fazia. Nem queria legalismo na liturgia. O que
está escrito expressamente na Palavra nos obriga a observá-lo. Mas Calvino
reconhecia que nosso Mestre não quis prescrever minuciosamente o que devemos
seguir e que Ele não julgou “convir a todos os séculos uma forma única”
(Institutas IV.X.3O). O próprio Calvino serviu várias igrejas reformadas com
modelos de culto que eram diferentes em certos pontos.
O CULTO REFORMADO II – ALGUMAS
CARACTERÍSTICAS
Vamos
estudar algumas características do Culto Reformado. Certamente, o Culto
Reformado não é totalmente distinto de cultos em outras tradições protestantes.
Por exemplo, orar e cantar não são características só do Culto Reformado. Não
há culto, em igreja nenhuma, que não tenha orações e cânticos.
Mas,
sem dúvida, a estrutura de um encontro dentro da aliança, a centralidade da
pregação e o cantar salmos se constituem elementos distintos do culto
reformado.
Observação:
neste estudo trataremos apenas do culto público.
ENCONTRO DE DEUS COM O POVO DA SUA
ALIANÇA
Lemos
em Lv 23:3 esta palavra do Senhor: “Sei s dias trabalhareis, mas o sétimo
dia será o sábado do descanso solene, santa convocação;... é sábado do
Senhor...” Este verso nos ensina várias coisas sobre o culto:
—
O culto é caracterizado como santa convocação;
—
O culto é iniciativa do próprio Senhor;
—
O culto é realizado num dia especial, o Dia de descanso.
1.
Encontro Com Deus
Deus
quer se encontrar com seu povo. A palavra “convocação” tem a ver com reunião,
assembleia. Na linguagem evangélica de hoje temos como culto evangelístico,
culto de oração e culto de doutrina, mas o culto é antes de qualquer coisa o
encontro entre Deus e seu povo. É o único encontro que pode ser chamado de
“santa convocação”.
2.
Procedência Do Culto
A
palavra “convocação” também significa que Deus no s chama para o culto. O culto
vem de Deus! O culto não é nossa iniciativa. Deus é, como sempre, o primeiro. O
culto é encontro de Deus com seu povo e, por isso, nosso encontro com Ele.
3.
Objetivos Do Culto Reformado
O
culto como encontro entre Deus e seu povo faz parte da Aliança de Deus. Nesta
Aliança, Deus é o primeiro, visto que Ele estabeleceu sua aliança (pacto) com
Abraão, e não Abraão com Deus. Deus criou um dia especial para o encontro com
seu povo: o sábado, chamado em Êx 31:13-17 de um “sinal da Aliança”. E Deus
colocou o culto no centro deste dia especial.
Por
isso, o Culto Reformado tem a estrutura de um encontro em que os dois
“partidos” ou “participantes” da Aliança agem e falam. Não querem os falar do
culto como um diálogo, porque o diálogo supõe igualdade entre os participantes.
Na Aliança de Deus não há igualdade. Deus é o Soberano, e nós somos seus
súditos. Nós não somos “sócios” de Deus. Mas podemos dizer que o culto e a
“conversa” de Deu s com seu povo.
Isto
significa que Deus fala primeiro! Nisto, o Culto Reformado é diferente do culto
romano que coloca o homem no primeiro lugar, com sua ação na missa.
Especialmente Calvino sempre enfatizou que o culto é primeiramente uma ação de
Deus. E Ele que age e fala, garantindo, dando e efetuando sua salvação.
Mas
é claro que Deus espera uma resposta de seu povo: No culto, o povo de Deus
também age. Mas esta ação é sempre uma reação. A congregação reage à Palavra de
Deus, dando sua resposta de fé, cantando, confessando e orando, e, antes de
tudo, escutando, recebendo assim a salvação divina.
Tudo
isso constitui a primeira característica do Culto Reformado: é um encontro de
Deus com seu povo. É um encontro com dois grandes objetivos: o de Deus é salvar
seu povo, e o objetivo do povo de Deus é glorificar a seu Deus.
CENTRALIDADE
DA PREGAÇÃO
Se
Deus é o primeiro no culto, sua Palavra deve ter o lugar central dentro do
culto. Especialmente agora, na Nova Aliança, na qual não h á mais lugar para as
cerimônias do antigo culto de Israel. Deus usou aquelas cerimônia s como
figuras e sombras da realidade que é Cristo. Por isso a carta aos Hb 1:2
diz que “nos últimos dias Deus nos falou pelo Filho”. O Filho de Deus é chamado
de o Verbo, a Palavra, o Porta-voz do Pai.
Deus
se encontra com seu povo, no culto, principalmente através da sua Palavra. Os
Reformadores baniram as imagens porque Deus vem até seu povo na sua Palavra. Só
conhecemos Deus através da sua Palavra. Ele se revela a nós em sua Palavra. Rm
10:17 nos ensina que é somente a Palavra que opera nossa fé.
No
Culto Reformado, esta Palavra é lida e pregada. O próprio Deus nos deu a
leitura da Palavra dando-nos as Escrituras. Em várias partes da Bíblia
encontramos leituras da Palavra na reunião do povo de Deus. No culto da
Aliança, encontramos a cerimônia do derramamento do sangue da Aliança, mas
também a leitura do Livro da Aliança. O próprio Senhor Jesus fez a leitura
bíblica num culto, segundo Lc 4:17-20.
Mas
era a convicção de todos os Reformadores que as Escrituras foram dadas por
Deus, não somente para serem lidas no culto, mas também para serem pregadas e
explicadas. Para eles, a leitura e pregação da Palavra eram inseparáveis. Já os
profetas do Velho Testamento pregavam a Palavra. O próprio Cristo deu aos apóstolos
a tarefa de ensinar aos discípulos de todas as nações (Mt 28:20). Os apóstolos
falaram do ministério da Palavra (At 6:4). A Palavra deve ser distribuída ou
servida ao povo de Deus. A Primeira Igreja permanecia na doutrina dos apóstolos
(At 2:42). Esta doutrina era o ensino pela pregação da Palavra. “Prega a
Palavra”, Paulo diz para o jovem pastor Timóteo (2 Tm 4:2). Pode ser claro que
a própria Bíblia mostra que a leitura da Palavra exige a pregação dela.
No
encontro com Deus, Ele fala primeiro.
CANTAR
SALMOS
O
sacrifício da Nova Aliança é o louvor diz Hb 13:15. Este louvor “é o fruto de
lábios que confessam o seu nome”. É a Palavra que nos faz conhecer e confessar
o Nome de Deus. O assunto da centralidade da pregação nos leva naturalmente ao
louvor, que é fruto da Palavra pregada.
Como
deve ser este louvor? Respondendo a esta pergunta, encontramos uma
característica do Culto Reformado: cantar salmos. Especialmente o reformador
João Calvino é responsável por esta característica. Para ele, cantar salmos tem
prioridade. Mas ele não sabia que Ef 5:19 e Cl 3:16 falam de “salmos... hinos e
cânticos espirituais”? Claro que sabia. Por isso, Calvino não defendia o uso
exclusivo dos salmos nos cultos, como alguns calvinistas pensam. Em sua
primeira publicação litúrgica (1539), Calvino ofereceu ao povo de Deus não
somente alguns salmos rimados, mas também alguns cânticos, baseados em trechos
bíblicos. Na Igreja de Genebra se cantavam os Dez Mandamentos e o Credo
Apostólico!
Calvino
não era contra o uso de hinos, desde que fossem baseados em versos ou trechos
da Bíblia.
Mas os salmos tinham prioridade e Calvino fez questão de oferecer à Igreja todos os 150 salmos rimados. Ele concordava com uma palavra de Agostinho: “Ninguém pode cantar de modo digno perante Deus se não cantar aquilo que recebeu de Deus”. Por isso, Calvino concluiu que não há cânticos melhores do que os Salmos de Davi porque eles foram inspirados pelo Espírito Santo.
ECLESIOLOGIA
- A MÚSICA NA DISPENSAÇÃO DA LEI E DA GRAÇA
O trono de Deus é estabelecido em
louvores e por isso a música existe desde o princípio e permanecerá para sempre,
pois o nosso Deus será eternamente louvado (Jó 38:4-7 e SI 115:18). A música é
eterna.
A
música é um instrumento de louvor a Deus, um meio de expressão e acima de tudo
uma força dinamizadora de poder, energia e vitalidade, capaz de exercer grandes
influências não só nos seres humanos como também nos animais e nas plantas.
Schimichi Zuzuki, musicólogo contemporâneo japonês, ao escrever um método de
aprendizagem musical para crianças disse: “Meu propósito principal, não é o
ensino da música. O que aspiro é formar bons cidadãos. Se uma criança escuta
boa música, desde que nasce e aprende a executar um instrumento, adquirirá
sensibilidade, disciplina, retidão e nelas e formará um lindo coração”.
O
nosso propósito nesta lição é mostrar o que a Bíblia nos ensina sobre a música
e as suas funções na religião do povo de Deus.
O SIGNIFICADO DA MÚSICA PARA OS JUDEUS
A
Bíblia nos informa que a música sempre esteve presente na vida da nação
judaica, como seu melhor meio de expressão. Daí a razão dos maiores e ventos da
história de Israel acharem-se registrados em cânticos (p. ex. Êx 15:1-21 e SI
126 ). “A história dos Judeus contém inúmeros acontecimentos em que a música
desempenha relevante papel, desde as muralhas de Jericó que caíram ao toque das
trombetas, até o cuidado dispensando à música do grande templo de Jerusalém.
Esse povo, que mostrava inclinação para a escultura e pintura e a quem era
proibido representar a Deus por imagens, concentrou toda a sua força criadora
na poesia e na música que serviam por excelência à religião” (Kurt Pahlan).
Foi
no reinado de Davi que a música teve o seu maior desenvolvimento e, elevada ao
nível de ministério, tornou-se exclusiva da religião. Davi sendo rei, músico e
poeta, criou técnicas para fabricação de instrumentos, desenvolveu a arte do canto, com formas ainda usadas nas igrejas e instituições musicais em todo mundo
e estruturou o ministério da música a serviço da religião, até hoje não
superado.
COMO O MINISTÉRIO DA MÚSICA FOI
ESTRUTURADO NA DISPENSAÇÃO DA LEI
A
música foi instituída no culto por Deus, no reinado de Davi (2 Cr 29:25). Sendo
Davi músico e conhecedor do valor da música na vida de seu povo e da religião,
passou a desenvolvê-la em termos de ministério, através do desempenho de quatro
mil músicos com os seguintes critérios e funções:
1.
Critérios:
1.1. Escolha (1 Cr 16:4,5)
Os
quatros mil não foram alistados por vontade própria, mas por vontade de Deus.
1.2. Purificação
Escolhidos
da tribo de Levi, por exigência do próprio Deus, eram purificados para
exercerem as funções determinadas no seu ministério (Nm 8:6).
2.
Funções:
2.1.Louvar (2 Cr 8:14 e 1 Cr 16:4,5)
2.2.Profetizar (1 Cr 25:1-3)
2.3.Ensinar (1 Cr 15:22 e 25:5-7)
2.4.Santificar (2 Cr 29:5)
Queremos
destacar dentre as funções, o ensino da música e o desenvolvimento do canto.
Davi juntamente com Quenanias e mais duzentos e oitenta e oito mestres criaram
formas e desenvolveram técnicas de canto que até hoje são usadas em todo mundo.
Vejamos alguns exemplos:
-
Ne 12:8 – Regência de canto coletivo congregacional;
-
Ne 12:42 – Regência dos cantores ou coral;
-
1 Cr 15:21 – Uso de instrumentos adaptados ao acompanhamento do canto.
Pela
necessidade de tempo para a boa formação e bom desempenho do músico, o trabalho
era permanente e de dedicação exclusiva. Davi, sendo músico, foi sensível a
essa necessidade (1 Cr 9:33 e 6:31-32). A manutenção dos músicos era através
dos dízimos e ofertas, porque o ministério fazia parte do sacerdócio, sob a
responsabilidade do rei (Ne 12:46-47; 10:37,39; 13:10,12,14).
A
MÚSICA NA DISPENSAÇÃO DA GRAÇA
Depois
de um silêncio de quatrocentos anos entre os céus e a palestina, a música volta
a aparecer como serva fiel da religião, fazendo-se cumprir as palavras cantadas
pelo salmista: “E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus;
muitos verão isso e temerão e confiarão no Senhor” (SI 40:3). O novo cântico da
graça e do amor brotou nos corações dos escolhidos como prenunciadores das
novas de Salvação: “Magnificat” (Lc 1:46-55), “Benedictus” (Lc 1:68-79),
“Glória in ExceIsis Deo” (Lc 2:14) e “Nunc Dimitts” (Lc 2:29-33). E a partir de
então, os corações dos crentes romperam em cânticos, pela experiência da graça
de Cristo, como jamais cantaram e deixariam d e cantar. Conforme o testemunho
de Plínio (109 A.D.), o cristianismo passou a ser chamado “a religião do
canto”.
A ATITUDE DE CRISTO EM RELAÇÃO À MÚSICA
A
arte da música e do canto entre o povo de Israel, não se extinguiu com a
dispensação do Velho Testamento. E é evidente, que na época de Jesus, a música
continuava com as mesmas funções estabelecidas por Deus, a serviço da religião.
Por
muitas vezes, Jesus foi visto, participando dos cultos e das festas solenes no
templo, sem jamais, em qualquer ocasião proferir palavras de censura ou
reprovação aos cânticos entoados. Os discípulos e a multidão O aclamaram com
cânticos por ocasião da sua entrada triunfal em Jerusalém (Lc 19:37).
Possivelmente,
Jesus cantou muitas vezes em sua vida. No entanto, a Bíblia faz referência
especial à ocasião da Ceia, quando ele incluiu a música, consagrando-a a
serviço do culto cristão (Mt 26:30; Mc 14:26). A partir daquele momento, o
ministério da música, na nova dispensação, era estabelecido como meio de
expressão de fé e manifestação da graça divina através de Cristo.
COMO O MINISTÉRIO DA MÚSICA FOI
ESTRUTURADO NA DISPENSAÇÃO DA GRAÇA
Cremos
firmemente que o canto de glorificação a Deu s cantado por Jesus, na Ceia,
antes de ir para o Monte das Oliveiras, teve um sentido de resgate da música do
Judaísmo para o cristianismo (Mc 14:26). A música expressão de fé, dom da graça
divina e liberdade do evangelho, em Jesus, passa a pertencer ao “sacerdócio
real” (1 Pe 2:9) ou ao reino e sacerdotes de Deus (Ap 1:6). Portanto, no Novo
Testamento, a música se apresenta com uma estrutura nova e específica, mas como
um resultado ou aplicação do que ela foi no Velho Testamento.
O
apóstolo Paulo, por formação acadêmica, também sabia música e como doutor da
lei, era grande conhecedor do ministério criado por Davi. Portanto, com
conhecimento e sabedoria, orientou as igrejas com os mesmos princípios
estabelecidos no Velho Testamento.
1.
Em Relação Aos Critérios
Na
dispensação da lei a música era ministrada pelos levitas, cujos critérios eram:
escolhidos e purificados (1 Cr 16:4-5 e Nm 8:6).
Na
dispensação da graça é sacerdócio dos crentes, cujos critérios são: eleição e
santificação (Ef 1:4 e 1 Ts 4:7).
2.
Em Relação Às Funções
Na
dispensação da Lei as funções da música, exercidas pelos levitas, eram: louvar,
profetizar, ensinar e santificar.
Na
dispensação da graça as funções da música exerci das pelos crentes, são:
2.1.Louvar – “louvando com salmos, hinos e cântico s
espirituais” (Cl 3:16 e Ef 5:19).
2.2.Profetizar –
“Habite ricamente em vós a palavra de Cristo” (Cl 3:16). Os levitas músicos
transmitiam a palavra recebida de Deus (2 Cr 20:14). Os músicos crentes
transmitem a palavra revelada como regra de fé e prática da vida.
2.3.Ensinar – “...instruindo-vos uns aos outros com
salmos, hinos e cânticos espirituais” (CI 3:16).
O
preparo e a eficiência foram as grandes características do ministério da velha
dispensação. Nele havia mestres como Asafe, Jedutum e muitos outros que, além
de Davi, compuseram cânticos que não só edificaram o povo de Israel no passado,
mas que até hoje edificam o povo de Deus.
2.4. Santificar – “Edificando-vos com salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3:16). Na dispensação da lei, os músicos eram ordenados a se santificarem. Na dispensação da graça, os crentes são eleitos para receber a marca da santificação que se expressa pelo testemunho de vida e pelo louvor. Deve existir coerência entre oque se vive e se canta.
ECLESIOLOGIA
- A MÚSICA NOS NOSSOS DIAS
TEOLOGIA
E MÚSICA
Podemos
dizer que existe uma única música certa par aquele específico lugar no culto.
Não serve qualquer música em qualquer lugar. Tem que ser aquela. Pode ser até
uma única estrofe.
Naquele
lugar tem a finalidade única de reforçar o que foi dito, tornar claro, a
Palavra. Disse Lutero: “em nome da Teologia, concedo à música o lugar maior no
culto”. Ele não está dizendo que a música é mais importante que a Palavra, ou
que a Teologia. A música tem que ser subsídio para a Palavra; se não for, ela
estará fora do contexto. “Hoje o conjunto ‘Fulano de Tal’ vem aqui abrilhantar
o nosso culto”. Por que ? O culto não precisa ser abrilhantado. O culto não é
uma festinha de aniversário. É fácil de perceber nos nossos dias uma confusão
entre culto e festa. No Velho Testamento era mais fácil de se ver a distinção,
porque existiam festas litúrgicas e momentos de adoração e sacrifício. Eram
coisas diferentes. A festa era horizontal, era a hora de se alegrar no Senhor. Todo
mundo se alegrava. Esta era a hora dos instrumentos, das danças, dos cânticos.
Às vezes até no espaço do templo, inclusive, mas eram festas. Mas o culto
sacrificial, o sacrifício, nem alegre era. Hoje temos misturado as coisas:
Temos culto do pastor, culto do bebê, culto de formatura, culto das mães. Isso
nos parece, criar algumas dificuldades para nós mesmos estabelecermos os
limites. Até onde é “da mãe” e até onde “é de Deus”? Como vamos preparar o
programa do culto e o sermão?
OS
BABILÔNIOS DE HOJE
Ouvimos
muitas vezes pastores dizerem : “a gente precisa manter os jovens na igreja, os
cultos precisam ser atraentes. Eu odeio essa música, mas tenho que deixar...” e
quando cantam, muitos falam: “ainda bem que eles estão aqui, não estão no
mundo”. É porque eles “estão aqui” que precisam fazer melhor que lá fora. Já
houve uma época na nossa história reformada em que a música que acontecia nas
igrejas era a melhor que se produzia naquele lugar. No séc. XVII, no séc. XVIII
e no início do séc. XIX, se alguém visitasse uma cidade européia e quisesse ver
e ouvir o que de melhor aquela população produzia, iria para a igreja. Lá havia
a melhor música e a melhor arquitetura. Os músicos da corte do palácio iam lá
aprender com os músicos da igreja. Havia uma romaria enorme até a cidade de
Leipzig para aprender com Bach. Bach passou 45 anos de sua vida trabalhando
como músico de uma única igreja (a igreja de St. Thomaz, em Leipzig). Sua obra
inteira foi S. D. G. (Soli Deo Glori). Ele assinava assim. Essa era a sua finalidade;
por isso ele fazia o melhor que podia, exatamente porque era para a Glória de
Deus . O músico do palácio podia fazer de qualquer jeito porque fazia para
ganhar dinheiro, era só para honrar o rei. Mas na igreja era o melhor que se
podia produzir porque era para Deus. Percebe-se que mudamos radicalmente:
estávamos na dianteira absoluta, e hoje isto mudou muito. Hoje nós estamos
desesperadamente correndo atrás da música secular, para imitá-la, para ver se
conseguimos manter o jovem dentro da igreja. É por isso que o povo não se
importa mais com o nosso cântico de Sião. Os babilônios queriam ouvir o cântico
de Sião, eram tocados em outros instrumentos, eram outros cânticos que não era
o deles. Os babilônios (as pessoas fora da igreja) de hoje “não estão nem aí”
com a nossa música. Hoje há várias rádios “gospel” tocando música o dia inteiro
e não tem diferença nenhuma das outras (no sentido do estilo musical).
MÚSICAS
BOAS E RUINS
Mas
a música continua tendo dois papéis no culto. Ode impressão, de atmosfera, que
ela já faz só com o instrumental. Mas o seu papel central no culto é o de
expressão – é subsidiar o texto. E isso só acontece quando há um bom casamento
entre os dois. Cada elemento diferente da música mexe com uma parte diferente
do nosso organismo e isso faz com que sejamos integralmente atingidos, quer
queiramos quer não, quer estejamos ouvindo ou não, quer sejamos perfeitamente
hábeis, auditivamente, ou surdos completamente. A música consegue ser ouvida
epidermicamente. A música influencia pessoas completamente surdas e altera o
seu comportamento. Se delinear na mente de alguém a ideia de que estamos
defendendo a música do hinário em detrimento dos novos cânticos (corinhos), ou
defendendo coral em detrimento de conjunto, isso absolutamente não é verdade.
Entendemos que existem hoje, muitas músicas novas boas e muitas ruins. A maior
parte ruim por uma razão simples, porque elas ainda não foram filtradas pelo
tempo; o tempo é um ótimo filtro. No séc. XVII também foi produzida muita coisa
ruim, mas foi embora. Só ficaram as mel hores. Existem muitas músicas novas
boas sendo produzidas e, por outro lado, nos nossos hinários, existem muitas
músicas que não são tão boas assim. Não é pelo fato de estarem no hinário que
são boas. Como líderes, temos obrigação de analisar cuidadosamente os textos
das músicas que estão nos hinários, dos hinos que vão ser cantados. Estamos,
muitas vezes, cantando coisas impressas nos hinários em que nem sempre
acreditamos.
MÚSICA
CERTA NO LUGAR CERTO
A
nossa visão do que seja a música incorporada no momento de culto é que haja,
primeiro, um trabalho muito consciente do líder na escolha do que vai se
cantar; depois, aonde vai se cantar.
Gostaríamos
de esclarecer um ponto em que a gente faz certa confusão. Existem hinos que são
herança dos séculos XVII e XVIII, alguns são de estilo coral; alguns desses
corais eram compostos e tinham cerca de 42, 43 e até 50 estrofe. Essas estrofes
eram cantadas de acordo com o período por que se passava naquele momento. Por
exemplo, se era uma época de Natal, cantava-se o trecho do hino que falava
sobre o Natal. Muitas vezes, muitos desses hinos, são hinos que contam todo o
plano da salvação. Esses hinos não foram compostos para ser cantados inteiros.
Se você pegar o saltério de Genebra, por exemplo, que era o hinário de Calvino,
ou o cancioneiro de Witemberg, de Lutero, vai encontrar muitos desses hinos. No
saltério de Genebra vai encontrar o Salmo 119, inteirinho. Ninguém o cantava
inteiro, evidentemente.
Cantavam-se
trechos dos hinos, os trechos que tinham mais a ver com aquele momento de
culto. Perdemos um pouco disso a partir do momento em que se passou a ter uma
nova visão do hino: o hino apenas como subsídio musical do culto; canta-se o
hino sem se preocupar com a letra. Se o culto está muito longo e o hino tem
quatro estrofes e o coro, cantamos a primeira, a segunda e a última. Nunca a
terceira. Mas às vezes a última começa com um “então”.
“Então”,
por que ? Porque é a continuação da terceira. A nossa proposta é que cantemos
as estrofes que servirem para aquele momento de culto. Pode até ser somente a
terceira, se for a estrofe que sirva para aquele momento. Evidentemente, há
hinos que não têm como ser partidos. Eles têm começo, meio e fim. Mas há muitos
que são absolutamente compartimentados, eles foram pensados assim, para serem
usados compartimentados. Vocês devem estar percebendo que isso exige trabalho e
uma leitura cuidadosa.
PARÊNTESE
NO CULTO
Quando
começarmos a excluir isso, as coisas ganharão uma nova dimensão. Por exemplo,
quando o grupo de jovens deixarem de ser parênteses de culto. Por que é
parêntese? Começa o culto, faz-se a leitura, e então se passa ao momento de
louvor. Abre-se o parêntese: o grupo vai para frente, afina os instrumentos e
dirige o louvor. Canta-se uma vez uma música com todos, depois só as mulheres,
então só os homens, explica-se o que o Espírito Santo faz na vida do crente;
depois mais um cântico, mais um, outro mais.
Quarenta
minutos depois, todo mundo em pé, fecha-se o parêntese e o dirigente diz:
“agora vamos continuar o nosso culto...”. Esse é um grande erro, e é recente em
nossa história cúltica. Quando nós todos éramos crianças, não havia isso. Isso
começou a acontecer no final do séc. XIX, quando algumas denominações
enfatizara m tremendamente o acampamento de jovens. Nasceu daí uma música
especial para esses tipos de reuniões; chamados corinhos; mas a força maior
surgiu, na verdade, nos anos 80, quando os acampamentos reuniam uma quantia
muito grande de jovens e para esses acampamentos compunham-se e cantavam-se
determinado tipo de música que não tinha nada a ver com a música que se cantava
regularmente nas igrejas. Esses jovens passavam lá, um final de semana e quando
chegavam na igreja queriam, com a maior das boas intenções, trazer aquela
atmosfera, aquilo que sentiram lá no acampamento e a música que aprenderam e
cantaram lá. Nessa mesma época, as nossas igrejas não estavam aparelhadas para
oferecer um tipo de música alternativa de boa qualidade para os jovens.
MÚSICA
SACRA OU PROFANA?
A
geração dos anos 10 e 20, ou parte dela foram convertidas ainda pelos primeiros
missionários ou, quando não, pelos herdeiros dessa conversão. Essa geração, e a
geração que veio imediatamente depois foi uma geração conversionista, ou seja,
convertida, isto é, os nossos avós que frequentavam a igreja evangélica, já
tinham sido católicos antes de se converterem. Quando eles se converteram,
cantaram um tipo de canção completamente diferente de tudo que eles tinham
ouvido até então. Quando os nossos avós cantaram os hinos dos Salmos e Hinos (o
primeiro hinário traduzido integralmente), eles se consideravam cantando música
absolutamente sacra, porque aqueles sons nunca haviam sido ouvidos antes. Não
interessa se era, até mesmo, uma música de bar americano. Aqui é um terreno
complicado porque toca mesmo no que é música sacra e o que não é música sacra.
Modernamente, definimos música sacra para um grupo; é impossível definição de
música sacra genérica, por uma razão muito simples: o sacro, na verdade, aquilo
que é verdadeiramente aceito por Deus, não tem nada a ver com a qualidade dos
sons; tem a ver com o coração e lábios limpos, tem a ver com o cantante, e com
Deus.
O
estilo que está soando no espaço é mais ou menos convencional para um grupo de
pessoas, isto é, se é sacro ou não para aquelas pessoas que estão ali. Cuíca é
um instrumento sacro ou profano, na sua cabeça? Profano! Por que? Porque
associamos com o carnaval. Agora, leva essa cuíca para o Tibet, converta os
tibetanos e diz a eles que esse instrumento vai iniciar todos os Cultos ao
Senhor. “Esse som vai ser o introdutório do culto”. Pronto, a partir de então,
aquilo lá vai ser o som santo por excelência, sacro por excelência. A cuíca não
é menos santa do que o violino. O violino é feito de madeira, tripa e metal. A
cuíca é feita de madeira, pele e metal. “Igualzinho”. Materialmente, não há
diferença. Portanto, temos que pensar o que vale para as músicas. Temos ouvido
muito isto: algumas igrejas cantavam “passarinhos, belas flores”, (hoje já não
canta mais), isso era música de bar americano. Era mesmo, só que ninguém sabia
que era. Aquele som nunca havia sido ouvido aqui; aquele tipo de melodia foi
identificado pelos nossos avós, bisavós, como música sacra. Por que? Porque ela
era diferente da que eles cantavam nos bailinhos de final de semana, ou na
igreja católica que eles frequentavam. É exatamente isso que hoje é usado como
critério para definir, para um grupo sociocultural, o que é música sacra: é
diferente ad música que aquele grupo conhece, fora do templo.
Esta
é a primeira característica de música sacra, naquele momento histórico. A
segunda é que ela é, basicamente, acompanhamento para a Palavra. Quando eles
cantavam aquele tipo de música aquilo era, para eles, música sacra. Pode ser
que para os nossos dias não seja mais. Quando o coro ou a congregação canta um
hino, muito s se sentem elevados com essa música sacra. Certa vez uma família
alemã que veio passar férias no Brasil e foi a uma igreja, e o coro levantou e
começou a cantar um hino, eles ficaram assombrados, porque esse era o hino
nacional alemão, que Hitler obrigava todo mundo a aprender. Mas isso não quer
dizer que a melodia que está lá é ruim. Era Haydn, uma maravilha. Mas quando
ficamos sabendo da sua raiz, então complica. Outro exemplo é o hino “Grande é
Jeová”. Quer música mais sacra que esta? Mas isso é Tannhäuser, uma ópera de
Wagner, e nessa ópera, o cavaleiro rapta a princesa da torre, com nem um pouco
de boas intenções, bota-a debaixo do braço e vai embora. O mesmo acontece com o
“Largo” de Handel que todo solista gosta de cantar. Quer coisa mais santa? Só
que aqui é o rei Xerxes, embaixo da macieira, olhando a pessoa que iria
conquistar e agradecendo a sombra da macieira.
Isto
não é sacro (estamos falando da melodia e não da letra da música). Percebe-se,
portanto, que essa é uma questão muito complicada e elas só são resolvidas
exatamente assim: música sacra é aquela, para aquele grupo sociocultural,
diferente da sua secular, ou seja, a música sacra é a diferente da que, naquele
momento, é secular.
MÚSICA
DE IMITAÇÃO
Será
que a nossa música tem que ser uma imitação da música secular? Não! Será que,
então, estamos defendendo aqui que devemos cantar somente os velhos hinos dos
hinários? Também não. Será que estamos dizendo que os jovens não têm
participação no culto? Também não. Gostaríamos muito de ver outra vez a música
da igreja liderando o movimento cultural, que ela fosse melhor e nitidamente
melhor.
Isso
não é impossível. Temos visto isso acontecer em outros lugares, não no Brasil.
Nós, infelizmente, no Brasil, tivemos uma censura, uma lacuna muito grande.
Quando os jovens procuravam por uma coisa nova não tinham isso sendo fornecido.
A geração dos anos 30 cantou os hinos do hinário sem problemas; a dos anos 40,
também, mas já cantou um ou outro corinho; a dos anos 50 cantou mais corinhos;
a dos anos 60, só cantava corinhos; a dos 70 não quer cantar nada que não sejam
as músicas novas. Por que? Porque quando a geração dos anos 50 e 60 procurou
alguma coisa, não encontrou; os músicos sacros; se haviam, estavam calados; não
havia ninguém compondo hinos, que pudesse ao lado do hinário, parecer como uma
alternativa boa. Porque é muito fácil a gente falar para o jovem: “isso é uma
droga”. Difícil é falar: “isso é melhor que isso” e fazê-lo sentir que é melhor
mesmo.
Temos
visto muito nas nossas igrejas pessoas falando assim: “O rock não pode”. “Por
que?” “Porque não”. “Mas por que não?”, “Porque é do diabo”. “Mas por que é do
diabo?” “Porque é”. Isso é resposta? “Esse tipo de música não pode por causa
disso, disso, e disso”; “porque tem uma outra muito melhor, ouça”. Onde está
essa parte? Não é só criticar: “esse conjunto de jovens é uma droga”. É mesmo,
muitas vezes, mas onde está um melhor? Falta mostrar como fazer melhor, como
fazer diferente. Pegar essa criatividade que está ai e multiplicar isso. Se for
verdade que nos últimos anos a produção de música nacional sacra não esteve
muito boa, para oferecer uma alternativa satisfatória, quem sabe os próximos
anos serão melhores. A geração passada quando quis cantar coisas novas não
encontrou nada. Ou cantava as coisas velhas ou importava. E importou, num
primeiro momento, dos Estados Unidos nem sempre as melhores coisas; num segundo
momento imitou aquela música. Nas primeiras gravações de grupos alternativos
jovens no Brasil, você tem música americana, autenticamente americana,
traduzida para o português. Música jovem americana. Num segundo momento, música
escrita no Brasil por eles mesmos, mas imitando o estilo que havia sido
importado. Num terceiro momento, nacionalismo exacerbado; que condena tudo o
que é importado e surgem os grupos superalternativos, proclamando que tudo que
vinha de fora, em princípio, não prestava; a gente tinha que fazer uma coisa
que fosse só nossa. É ai que se esbarrava num problema sério: de convencer o
pessoal do Sul a cantar baião; isto é uma loucura, porque aquilo não era deles
na verdade. Nós estamos tão fragmentados nessa questão cultural, que para o
pessoal do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, o coral alemão era muito mais
música deles do que baião.
BOA PERGUNTA: E AGORA, O QUE A GENTE
FAZ DOMINGO QUE VEM?
A
primeira coisa : já vai melhorar muito quando lermos os textos dos hinos (seja
dos hinários ou corinhos) cuidadosamente, e isso não é fácil de fazer: ler o
texto criticamente quer seja um dos novos ou do hinário. É muito difícil porque
: primeiro, quando lemos um hino impresso, lemos com respeito, pois
consideramos uma palavra “meio inspirada”; temos dificuldade em criticar, ainda
que esteja péssimo em linguagem e Teologia; a segunda dificuldade que temos em
relação aos hinos é que muitos deles nos acompanham há muito tempo, então,
estamos muito ligados emocionalmente a eles. Temos uma ligação emocional que
não nos permite ser racionais, muitas vezes, para fazer uma análise honesta
daquele texto. Se conseguirmos fazer isto seriamente, sempre, tanto com os hinos
do hinário como com os novos, num primeiro momento; e, num segundo momento,
feito esta seleção, encontrarmos o lugar “certo” deles acontecerem; e ao invés
de um pacote de 40 minutos de música, usaremos dentre aquelas 6, 7, ou 8
músicas selecionadas, aquela certa para o momento certo, então o nosso culto
passa a ter coerência e as pessoas começam a ter a sensação de começo, meio e
fim. E isso já melhora no domingo que vem!
E depois, entendemos que a função dos líderes nas igrejas tem que ser despertar nas pessoas vocacionadas para a música o senso de responsabilidade de que estão fazendo uma coisa muito séria. Descobrir essas pessoas e levá-las par frente. Para frente não quer dizer para frente da igreja, para tocar. Quer dizer : “levá-las a aprender”. Ninguém tem mais desculpas de que não tem onde aprender. Há cursos ótimos, professores ótimos, em muitos lugares. É preciso resgatar a importância de se aprender música, que se perdeu na nossa cultura
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