CRISTOLOGIA - A NATUREZA DE CRISTO
A DOUTRINA DE CRISTO
DEFINIÇÃO
Cristologia
é o estudo da Doutrina de Cristo segundo as Escrituras.
"Jesus"
quer dizer "Javé é Salvador"; é a forma grega de "Josué"
(Mateus 1.21).
"Cristo"
quer dizer "Ungido"; é o mesmo que o termo hebraico MESSIAS.
"O
dia do nascimento de Jesus é celebrado em todo o mundo. O aniversário de
sua morte levanta a silhueta de uma cruz no horizonte. Quem é ele?" Com
essas palavras um preeminente pregador fez uma pergunta de suprema importância
e de interesse permanente.
A
pergunta foi feita pelo próprio Mestre quando, em uma crise no seu ministério,
perguntou: "Quem dizem os homens ser o Filho do homem?" Ele ouviu a
declaração da opinião do povo sem comentar, mas a sua bênção foi pronunciada
sobre a resposta que Pedro havia aprendido de Deus: "Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo."
A
pergunta ainda permanece e os homens até agora tentam responder. Mas a
verdadeira resposta deve vir do Novo Testamento, escrito por homens que
intimamente conheceram Jesus, por cujo conhecimento tinham por perda todas as
coisas.
QUEM
É JESUS CRISTO?
Jesus
Cristo é a segunda pessoa da Trindade. Através dele o universo foi criado e é
mantido em existência (João 1.3; Colossenses 1.16- 17). Ele é o ANJO do Senhor
que aparece (Gênesis 18). Esvaziou-se da sua glória e se humilhou, tomando a
forma de ser humano (Filipenses 2.6-11). O seu ministério terreno durou mais ou
menos 3 anos e meio. Jesus ensinou a verdade de Deus por preceitos e por
parábolas.
Ele
fez milagres, curando enfermos e endemoninhados, fazendo sempre o bem. Foi
rejeitado pela maioria do povo e pelas autoridades, sendo submetido à morte de
cruz. Foi sepultado, mas ressuscitou ao terceiro dia.
Depois
subiu ao céu, onde está para interceder pelos seus (Hebreus 7.25). E o salvo
está unido com Cristo, que vive nele pelo seu Espírito. (Romanos 8.9-11;
Gálatas 2.20; 4.6; Filipenses 1.19). Na sua segunda vinda Jesus Cristo julgará
os vivos e os mortos (II Timóteo 4.1).
VERSÍCULO - “No princípio, era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e
de verdade.” (João 1:1 e 14)
SIGNIFICADO:
NO PRINCÍPIO - Refere-se sem dúvida a Gênesis
1:1. Fala da pré-existência de Jesus. Quando da criação, o Logos (Cristo) já
existia. O Logos é eterno e a fonte (origem) de toda a criação
...
ERA O VERBO, ... - O termo “Verbo”, do grego
(logos), significa “Palavra”. Ao chamar Jesus de a “Palavra”, João o considera
a encarnação de toda revelação divina nas Escrituras, e assim declara que
apenas os que aceitam Jesus honram plenamente a lei. Como os judeus
consideravam a Palavra divina, distinta de Deus Pai, esse foi o termo mais
acessível que João encontrou para descrever Jesus.
...
E O VERBO ESTAVA COM DEUS, ... - O Logos e
Deus não são a mesma pessoa. A expressão diferencia os dois. A Palavra (Logos)
e Deus não são idênticos.
...
E O VERBO ERA DEUS. - O Logos é Deus, não meramente um
ser “divino”, é o próprio Deus. Apesar de não ser a mesma pessoa, eles são um.
O apóstolo João está refutando a ideia de que a Palavra (Logos) é uma emanação
de Deus, distinta da Divindade. O Logos é a perfeita expressão de Deus, tudo o
que Deus é, fica expresso no Logo. Jesus Cristo é o agente da criação.
Por
isso é que criação e salvação estão estreitamente ligados no Novo Testamento.
Ambas têm a ver com a auto comunicação de Deus. O Logos é, também, o
sustentador da existência das coisas criadas; nada está fora da Sua atividade
criativa e sustentadora.
A
pergunta "Quem é Cristo?" tem sua melhor resposta na declaração e
explicação dos "nomes", títulos pelos quais ele é conhecido.
1.
Filho de Deus (Deidade).
Da
mesma forma como "filho do homem" significa um nascido do homem,
assim também Filho de Deus significa um nascido de Deus. Por isso dizemos que
esse título proclama a Deidade de Cristo. Jesus nunca é chamado um Filho de
Deus, como os homens santos são chamados filhos de Deus (Jo 2:1). Ele é o Filho
de Deus no sentido único. Jesus é descrito mantendo uma relação para com Deus
não participada por nenhuma outra pessoa no universo. Para explicar e confirmar
essa verdade consideremos o seguinte:
(a) Consciência de si mesmo.
Qual
era o conteúdo do conhecimento de Jesus acerca de si mesmo; isto é, que sabia
Jesus de si mesmo?
(
LUCAS 2:42-52 ) Lucas, o único escritor que relata um incidente da infância de
Jesus, diz-nos que com a idade de doze anos (pelo menos) Jesus estava cônscio
de duas coisas:
Primeira,
uma revelação especial para com Deus a quem ele descreve como seu Pai
Segunda,
uma missão especial na terra — "nos negócios de meu Pai"
Exatamente
como e quando este conhecimento de si mesmo veio a ele, deve permanecer um
mistério para nós. Quando pensamos em Deus vindo a nós em forma humana devemos
reverentemente exclamar: "Grande é o mistério da piedade!" Não
obstante tratar-se de mistério, a seguinte ilustração pode ser proveitosa:
Ponde
uma criancinha diante de um espelho; ela se verá, porém, sem se reconhecer. Mas
virá o tempo quando ela há de saber que a imagem refletida representa sua
própria pessoa. Em outras palavras, a criança adquiriu a consciência de sua
identidade. Não poderia ter sido assim com o Senhor Jesus? Ele sempre foi o
Filho de Deus, porém chegou o tempo quando, depois de estudar as Escrituras
relacionadas com o Messias de Deus, raiou em sua mente o conhecimento íntimo,
de que ele, o Filho de Maria, não era outro senão o Cristo de Deus. Em vista de
o Eterno Filho de Deus ter vivido uma vida perfeitamente natural e humana, é
razoável pensar que o autoconhecimento de sua Deidade houvesse surgido dessa
maneira.
No
rio Jordão, Jesus ouviu a voz do Pai corroborando e confirmando o seu
conhecimento intimo (Mat. 3:17), e no deserto resistiu com êxito à tentativa de
Satanás de fazê-lo duvidar de sua filiação ("Se tu és o Filho de
Deus..." Mat. 4:3). Mais tarde em seu ministério louvou a Pedro pelo
testemunho divinamente inspirado concernente à sua Deidade e ao seu caráter
messiânico. (Mat. 16:15-17) Quando diante do concilio judaico, Jesus poderia
ter escapado à morte, negando sua filiação ímpar e simplesmente afirmando que
ele era um dos filhos de Deus no mesmo sentido em que o são todos os homens;
porém, sendo-lhe exigido juramento pelo sumo sacerdote, ele declarou sua
consciência de Divindade, apesar de saber que isso significaria a sentença de
morte. (Mat. 26:63-65)
(b)
As reivindicações de Jesus.
Ele
se colocou lado a lado com a atividade divina. "Meu Pai trabalha até
agora, e eu trabalho também." "Saí do Pai" (João 16:28). "O
Pai me enviou" (João 20:21).
Ele
reivindicava uma comunhão e um conhecimento divinos. (Mat. 11:27; João 17:25)
Alegava
revelar a essência do Pai em si mesmo. (João 14:9-11)
Ele
assumiu prerrogativas divinas : Onipresença (Mat. 18:20); poder de perdoar
pecados (Mat. 2:5-10); poder de ressuscitar os mortos. (João 6:39, 40, 54;
11:25; 10:17, 18) Proclamou-se Juiz e árbitro do destino do homem. (João 5:22;
Mat. 25:31-46)
Ele
exigia uma rendição e uma lealdade que somente Deus por direito podia
reivindicar; insistia em uma absoluta rendição da parte dos seus seguidores.
Eles deviam estar prontos a cortar os laços mais íntimos e mais queridos,
porque qualquer que amasse mais o pai ou a mãe do que a ele, não era digno
dele. (Mat. 10:37; Luc. 14:25-33)
Essas
veementes reivindicações foram feitas por UM que viveu como o mais humilde dos
homens, e foram declaradas de modo simples e natural; por exemplo, Paulo com igual
simplicidade diria "Sou homem e judeu".
Para
chegar-se à conclusão de que Cristo era divino é necessário admitir somente
duas coisas: primeira, que Jesus não era um homem mau; segundo, que ele não era
demente. Se ele dissesse que era divino, sabendo que não o era, então não
poderia ser bom; se ele falsamente se imaginasse Deus, então não poderia ser
sábio. Porém nenhuma pessoa sensata sonharia em negar o caráter perfeito de
Jesus ou sua superior sabedoria. Em conseqüência, é inevitável concluir que ele
era o que ele próprio disse ser — o Filho de Deus, em sentido único.
(c)
A autoridade de Cristo.
Nos
ensinos de Cristo nota-se a completa ausência de expressões como estas: "é
minha opinião"; "pode ser"; "penso que..."; "bem
podemos supor", etc.
Um
erudito judeu racionalista admitiu que ele falava com a autoridade do Deus
Poderoso.
O
Dr. Henry Van Dyke assinala que no Sermão da Montanha, por exemplo, temos: a
preponderante visão de um hebreu crente colocando-se a si mesmo acima da
autoridade de sua própria fé; um humilde Mestre afirmando autoridade suprema
sobre toda a conduta humana; um Reformador moral pondo de lado todos os demais
fundamentos, dizendo:
"Todo
aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao
homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha... (Mat. 7:24)"
Quarenta
e nove vezes, nesse breve registro do discurso de Jesus, repete-se a solene
frase com a qual ele autentica a verdade: "Em verdade vos digo."
(d)
A impecabilidade de Cristo.
Nenhum
professor que chame os homens ao arrependimento pode evitar algumas referências
às suas próprias faltas ou imperfeições; em verdade, quanto mais santo ele é,
mais lamentará e reconhecerá suas próprias limitações. Porém, nas palavras e
nas obras de Jesus há uma ausência completa de conhecimento ou confissão de
pecado. Embora possuísse profundo conhecimento do mal e do pecado, em sua alma
não havia a mais leve sombra ou mácula de pecado. Ao contrário, ele, o mais
humilde dos homens, desafiou a todos: "Quem dentre vós me convence de
pecado?" (João 8:46).
(e)
O testemunho dos discípulos.
Jamais
algum judeu pensou que Moisés fosse divino; nem o seu discípulo mais entusiasta
nunca lhe teria atribuído uma declaração como esta: "Batizando-as em nome
do Pai, e de Moisés, e do Espírito Santo." (Vide Mat. 28:19) E a razão
disso é que Moisés nunca falou nem agiu como quem procedesse de Deus e fosse
participante de sua natureza. Por outro lado, o Novo Testamento expõe este
milagre: Aqui está um grupo de homens que andava com Jesus e que o viu em todos
os aspectos característicos de sua humanidade — que, no entanto, mais tarde o
adorou como divino, o proclamou como o poder para a salvação e invocou o seu
nome em oração.
João,
que se reclinava no peito de Jesus, não hesitou em dele falar como sendo Jesus
o eterno Filho de Deus, que criou o universo (João 1:1, 3), e relatou, sem
nenhuma hesitação ou desculpa, o ato da adoração de Tomé e a sua exclamação:
"Senhor meu, e Deus meu!" (João 20:28).
Pedro,
que tinha visto o seu Mestre comer, beber e dormir, que o havia visto chorar —
enfim, que tinha testemunhado todos os aspectos da sua humanidade, mais tarde
disse aos judeus que Jesus está à destra de Deus; que ele possui a prerrogativa
de conceder o Espírito Santo (Atos 2:33, 36); que ele é o único caminho da
salvação (Atos 4:12); quem perdoa os pecados (Atos 5:31); e é o Juiz dos
mortos. (Atos 10:42) Em sua segunda epístola 3:18) ele o adora, atribuindo-lhe
"glória assim agora como no dia da eternidade".
Nenhuma
prova existe de que Paulo o apóstolo tivesse visto Jesus em carne, apesar de
tê-lo visto em forma glorificada, mas esteve em contato direto com aqueles que
o tinham visto. E este Paulo, que jamais perdera essa reverência para com Deus,
reverência que desde a sua mocidade estava nele profundamente arraigada,
contudo, com perfeita serenidade descreve Jesus como "o Grande Deus e
nosso Salvador" (Tito 2:13); apresenta-o como encarnando a plenitude da
Divindade (Gál. 2:9), como sendo o Criador e Sustentador de todas s coisas.
(Gál. 1:17) Como tal, seu nome deve ser invocado em oração (1 Cor. 1:2; vide
Atos 7:59), e seu nome está associado com o do Pai e o do Espírito Santo à
bênção. (2 Cor. 13:14)
Desde
o princípio a igreja primitiva considerava e adorava a Cristo como divino. No
princípio do segundo século um oficial romano relatou que os cristãos
costumavam reunir-se de madrugada para "cantar um hino de adoração a
Cristo, como se fosse a Deus". Um autor pagão escreveu: "Os cristãos
ainda estão adorando aquele grande homem que foi crucificado na
Palestina." Até o escárnio dos pagãos é um testemunho da deidade de
Cristo.
Em
um antigo palácio romano foi encontrada uma inscrição (que data do terceiro
século) apresentando uma figura humana com cabeça de asno pendurado na cruz, enquanto
que um homem está de pé em atitude de adoração. Em baixo aparece a inscrição:
"Alexamenos adora a seu Deus."
O
Dr. Henry Van Dyke comenta: Assim os cânticos e orações dos crentes, as
acusações dos perseguidores, o escárnio dos céticos, e as pilhérias grosseiras
dos escarnecedores, tudo se une para provar, sem dúvida, que os primitivos
cristãos rendiam honra divina ao Senhor Jesus... não há razão para duvidar de
que os primitivos cristãos houvessem visto em Cristo uma revelação pessoal de
Deus, assim como não pode haver dúvida de que os amigos e seguidores de Abraão
Lincoln o tenham considerado um bom e leal cidadão americano. Entretanto, não
devemos inferir dai que a igreja primitiva não adorasse a Deus, o Pai, pois
sabemos que era costume geral orar ao Pai em nome de Jesus e dar-lhe graças
pelo dom do Filho. Mas, para eles era tão real a deidade de Cristo e a unidade
entre as duas Pessoas, que lhes era muito natural invocar o nome de Jesus.
Foi
a firme lealdade deles ao ensino do Antigo Testamento acerca da verdade de
Deus, combinada com a firme crença na deidade de Cristo, que os conduziu a
formular a doutrina da Trindade. Embora as seguintes palavras do credo de
Nicéia (século quarto) tenham sido, como ainda são, recitadas por muitos de uma
maneira formalista, não obstante, elas expressam fielmente sincera convicção da
igreja primitiva:
"Cremos
em um Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, o Unigênito do Pai, isto é, da
substância do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro
Deus, gerado, foi feito; sendo da mesma substância que o Pai; pelo qual foram
feitas todas as coisas que estão no céu e na terra, e o qual por nós os homens
e por nossa salvação desceu, encarnou e foi feito homem, sofreu, e ressuscitou
ao terceiro dia, e ascendeu ao céu, donde virá outra vez para julgar os vivos e
os mortos"
2. O Verbo (pré-existência e atividade
eternas).
A
palavra do homem é aquela por meio da qual ele se expressa e por meio da qual
ele se comunica com os seus semelhantes. Por sua palavra ele dá a conhecer seus
pensamentos e sentimentos, e por sua palavra ele manda e executa a sua vontade.
A palavra com que se expressa está impregnada de seu pensamento e de seu
caráter.
Pela
expressão verbal de um homem até um cego pode conhecê-lo perfeitamente. Embora
se veja uma pessoa e dela se tenha informações, não se conhecerá bastante
enquanto ela não falar. A palavra do homem é a expressão de seu caráter. Da
mesma maneira, a "Palavra de Deus" é o veiculo mediante o qual Deus
se comunica com outros seres, e é o meio pelo qual Deus expressa o seu poder, a
sua inteligência e a sua vontade.
Cristo
é a Palavra ou Verbo, porque por meio dele, Deus revelou sua atividade, sua
vontade e propósito, e por meio dele tem contato com o mundo. Nós nos
expressamos por meio de palavras; o eterno Deus se expressa a si mesmo por meio
do seu Filho, o qual "é a expressa imagem da sua pessoa" (Heb. 1:3).
Cristo
é a Palavra de Deus, demonstrando-o em pessoa. Ele não somente traz a mensagem
de Deus — ele é a mensagem de Deus. Considere-se a necessidade de tal
Revelador. Procure-se compreender a extensão do universo com seus imensuráveis
milhões de corpos celestes, cobrindo distâncias que deixam estupefata a mente;
imaginem-se as infinitas extensões do espaço além do universo material; a
seguir, procure-se compreender a grandeza daquele que é o Autor de tudo isso.
Considere-se por outro lado, a insignificância do homem. Tem-se calculado que
se todas as pessoas neste mundo medissem 1,80m de altura, 45cm de largura, e
30cm de espessura, os três bilhões da raça humana caberiam em uma caixa medindo
menos de um quilometro cúbico. Deus — quão poderoso e vasto! O homem — quão
infinitesimal!
Além
disso, esse Deus é Espírito, portanto, não pode ser compreendido pelo olho
material, nem pelos demais sentidos naturais. Surge a grande pergunta: Como
pode o homem ter comunhão com um Deus como esse? Como pode sequer ter a mínima
ideia da sua natureza e caráter?
É
certo que Deus se revelou pela palavra profética, por meio de sonhos e visões e
por meio de manifestações temporais. Porém, o homem anelava por uma resposta
mais clara à seguinte pergunta: Como é Deus?
Para
responder a esta pergunta, surgiu o evento mais significativo da história —
"E o Verbo se fez carne" (João 1:14). O Verbo eterno de Deus tomou
sobre si mesmo a natureza humana e se tornou homem, a fim de revelar o eterno
Deus por meio de uma personalidade humana.
"Havendo
Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas,
a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho" (Heb. 1:1, 2).
De
modo que à pergunta "como é Deus?", o cristão responde: Deus é como
Cristo, porque Cristo é o Verbo — a ideia que Deus tem de si mesmo. Isto é, ele
é "a expressa imagem da sua pessoa" (Heb. 1:3), "a imagem do
Deus invisível" (Col. 1:5).
3.
Senhor (deidade, exaltação e soberania).
Uma
ligeira consulta a uma concordância bíblica revelará o fato de que
"Senhor" é um dos títulos mais comuns dados a Jesus. Este título
indica a sua deidade, exaltação e soberania.
(a)
Deidade.
O
título "Senhor", ao ser usado como prefixo antes de um nome,
transmitia, tanto a judeus como a gentios, o pensamento de deidade.
A
palavra "Senhor" no grego ("Kurios") era equivalente a
"Jeová " na tradução grega do Antigo Testamento; portanto, para os
judeus "o Senhor Jesus" era claramente uma imputação de deidade.
Quando
o imperador dos romanos se referia a si mesmo como "Senhor César",
requerendo que seus súditos dissessem "César é Senhor", os gentios
entendiam que o imperador estava reivindicando divindade. Os cristãos entendiam
o termo da mesma maneira, e preferiam sofrer perseguição a atribuir a um homem
um título que somente pertencia a Um que é verdadeiramente divino. Somente
àquele a quem Deus exaltara eles renderiam adoração e lhe atribuiriam senhorio.
(b)
Exaltação.
Na
eternidade Cristo possui o título "Filho de Deus" em virtude da sua
relação com Deus. (Fil. 2:9); na história Ele ganhou o título
"Senhor", por haver morrido e ressuscitado para a salvação dos homens.
(Atos 2:36; 10:36; Rom. 14:9)
Ele
sempre foi divino por natureza; chegou a ser Senhor por merecimento.
Por
exemplo: Se um jovem nascido na família de um multimilionário não está contente
em herdar aquilo pelo qual outros tenham trabalhado, mas deseja possuir
unicamente o que ganhou por seus próprios esforços, ele então voluntariamente
renuncia a seus privilégios, toma o lugar de um trabalhador comum, e por meio
do seu labor conquista para si um lugar de honra e riqueza. Igualmente, o Filho
de Deus, apesar de ser por natureza igual a Deus, voluntariamente sujeitou-se a
si mesmo às limitações humanas, porém sem pecado, tomando sobre si a natureza
do homem, fez-se servo do homem, e finalmente morreu na cruz para redenção do
mesmo homem. Como recompensa, Cristo foi exaltado ao domínio sobre todas as
criaturas — uma recompensa apropriada, pois, que melhor credencial poderia
alguém ter para exercer senhorio sobre os homens, visto que os amara e se
entregara a si mesmo por eles? (Apoc. 1:5) Esse direito já foi reconhecido por
milhões e a cruz tomou-se um degrau pelo qual Jesus alcançou a soberania dos
corações dos homens.
(c)
Soberania.
No
Egito, Jeová se revelou a Israel como Redentor e Salvador; no Sinai, como
Senhor e Rei. As duas coisas se justapõem, porque ele, que se tomou Salvador
deles, tinha direito de ser o seu Soberano. É por isso que os Dez Mandamentos
iniciam com a declaração: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra
do Egito, da casa da servidão" (Êxo. 20:2). Em outras palavras, "Eu,
o Senhor, que vos redimi, tenho o direito de governar sobre vós." E assim
aconteceu com Cristo e seu povo.
Os
cristãos primitivos reconheceram instintivamente — como todos os verdadeiros
discípulos — que aquele que os redimiu do pecado e da destruição, tem o direito
de ser o Senhor de suas vidas. Comprados por bom preço, não pertencem a si
mesmos (1 Cor. 6:20), mas, sim, a quem morreu e ressuscitou por eles. (2 Cor.
5:15) Portanto, o título "Senhor", aplicado a Jesus pelos seus
seguidores, significa: "Aquele que por sua morte ganhou o lugar de
soberania no meu coração, e a quem me sinto constrangido a adorar e servir com
todas as minhas forças."
O
paralítico que foi curado, ao ser repreendido por levar sua cama no dia de
sábado, respondeu: "Aquele que me curou, ele próprio disse: Toma a tua
cama, e anda" (João 5:11). Ele soube, instintivamente, com a lógica do
coração, que Jesus que lhe tinha dado saúde, possuía o direito de dizer-lhe
como usar essa saúde. Se Jesus é o nosso Salvador, deve ser o nosso Senhor.
4.
Filho do homem (humanidade)
(a)
Quem?
De
acordo com o hebraico a expressão "filho de" denota relação e
participação.
Por
exemplo: "Os filhos do reino" (Mat. 8:12) são aqueles que hão de
participar de suas verdades e bênçãos. "Os filhos da ressurreição"
(Luc. 20:36) são aqueles que participam da vida ressuscitada. Um "filho de
paz" (Luc. 10:6) é um que possui caráter pacifico. Um "filho da
perdição" (João 17:12) é um destinado a sofrer a ruína e a condenação.
Portanto,
"filho do homem" significa, principalmente, um que participa da
natureza humana e das qualidades humanas. Dessa maneira, "filho do
homem" vem a ser uma designação enfática para o homem em seus atributos
característicos de debilidade e impotência. (Num. 23:19; Jo 16:21; 25:6) Neste
sentido o título é aplicado oitenta vezes a Ezequiel, como uma recordação de
sua debilidade e mortalidade, e como um incentivo à humanidade no cumprimento
da sua vocação profética.
Aplicado
a Cristo, "Filho do homem" designa-o como participante da natureza e
das qualidades humanas, e como sujeito às fraquezas humanas.
No
entanto, ao mesmo tempo, esse título implica sua deidade, porque, se uma pessoa
enfaticamente declarasse: "Sou filho de homem", a ele dir-se-ia:
"Todos sabem disso." Porém, a expressão nos lábios de Jesus significa
uma Pessoa celestial que se havia identificado definitivamente com a humanidade
como seu representante e Salvador.
Notemos
também que é: o — e não um — Filho do homem. O título está relacionado com a
sua vida terrena (Mar. 2:10; 2:28; Mat. 8:20; Luc. 19:10), com seus sofrimentos
a favor da humanidade (Mar. 8:31), e com sua exaltação e domínio sobre a
humanidade (Mat. 25:31; 26:24. Vide Dan. 7:14).
Ao
referir-se a si mesmo como "Filho do homem", Jesus desejava expressar
a seguinte mensagem: "Eu, o Filho de Deus, sou Homem, em debilidade, em
sofrimento, mesmo até à morte. Todavia, ainda estou em contato com o Céu de
onde vim, e mantenho uma relação com Deus que posso perdoar pecados (Mat. 9:6),
e sou superior aos regulamentos religiosos que somente tem significado temporal
e nacional. (Mat. 12:8) Esta natureza humana não cessará quando eu tiver
passado por estes últimos períodos de sofrimento e morte que devo suportar para
a salvação do homem e para consumar a minha obra. Porque subirei e a levarei
comigo ao céu, de onde voltarei para reinar sobre aqueles cuja natureza
"tornei sobre mim".
A
humanidade do Filho de Deus era real e não fictícia Ele nos é descrito como
realmente padecendo fome, sede, cansaço, dor, e como estando sujeito em geral
às debilidades da natureza, porém sem pecado.
(b)
Como?
Por
qual ato, ou meio, o Filho de Deus veio a ser Filho do homem? Que milagre pôde
trazer ao mundo "o segundo homem" que é o "Senhor do céu"?
(1 Cor. 15:47)
A
resposta é que o Filho de Deus veio ao mundo como Filho do homem sendo
concebido no ventre de Maria pelo Espírito Santo, e não por um pai humano. E a
qualidade da vida inteira de Jesus está em conformidade com a maneira do seu
nascimento. Ele que veio através de um nascimento virginal, viveu uma vida
virginal (inteiramente sem pecado) — sendo essa última característica um
milagre tão grande como o primeiro. Ele que nasceu milagrosamente, viveu
milagrosamente, ressuscitou dentre os mortos milagrosamente e deixou o mundo
milagrosamente.
Sobre
o ato do nascimento virginal está baseada a doutrina da encarnação. (João 1:14)
A seguinte declaração dessa doutrina é da pena do erudito Martin Scott :
Como
todos os cristãos sabem, a encarnação significa que Deus (isto é, o Filho de
Deus) se fez homem. Isso não quer dizer que Deus se tomou homem, nem que Deus
cessou de ser Deus e começou a ser homem; mas que, permanecendo como Deus, ele
assumiu ou tomou uma natureza nova, a saber, a humana, unindo esta à natureza
divina no ser ou na pessoa — Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Na
festa das bodas de Caná, a água tornou-se em vinho pela vontade de Jesus
Cristo, o Senhor da Criação (João 2:1-11). Não aconteceu assim quando Deus se
fez homem, pois em Caná a água deixou de ser água, quando se tornou em vinho,
mas Deus continuou sendo Deus, quando se fez homem.
Um
exemplo que nos poderá ajudar a compreender em que sentido Deus se fez homem,
mas ainda não ilustra de maneira perfeita a questão, é aquele de um rei que por
sua própria vontade se fizera mendigo. Se um rei poderoso deixasse seu trono e
o luxo da corte, e vestisse os trapos de um mendigo, vivesse com mendigos, compartilhasse
seus sofrimentos, etc., e isto, para poder melhorar-lhes as condições de vida,
diríamos que o rei se fez mendigo, porém ele continuaria se‹ido verdadeiramente
rei. Seria correto dizer que o que o mendigo sofreu era o sofrimento de um rei;
que, quando o mendigo expiava uma culpa, era o rei que expiava, etc.
Visto
que Jesus Cristo é Deus e homem, é evidente que Deus, de alguma maneira é homem
também. Agora, como é que Deus é homem?
Está
claro que ele nem sempre foi homem, porque o homem não é eterno, mas Deus o é.
Em um certo tempo definido, portanto, Deus se fez homem tomando a natureza
humana.
Que
queremos dizer com a expressão "tomar a natureza humana"? Queremos
dizer que o Filho de Deus, permanecendo Deus, tomou outra natureza, a saber, a
do homem, e a uniu de tal maneira com a sua, que constituiu uma Pessoa, Jesus
Cristo.
A
encarnação, portanto, significa que o Filho de Deus, verdadeiro Deus desde toda
a eternidade, no curso do tempo se fez verdadeiro homem também, em uma Pessoa,
Jesus Cristo, constituída de duas naturezas, a humana e a divina.
Isso,
naturalmente é um mistério. não podemos compreendê-lo, assim como tampouco
podemos conceber a própria Trindade. Há mistérios em toda parte. Não podemos
compreender como a erva e a água, que alimentam o gado, se transformam em carne
e sangue. Uma análise química do leite não demonstra conter ele nenhum
ingrediente de sangue, entretanto, o leite materno se torna em sangue e carne
da criança. Nem a própria mãe sabe como no seu corpo se produz o leite que dá a
seu filho. Nenhum dentre os sábios do mundo pode explicar a conexão existente
entre o pensamento e a expressão desse pensamento, ou seja, as palavras. Não
devemos, pois, estranhar se não podemos compreender a encarnação de Cristo.
Cremos nela porque aquele que a revelou, é o próprio Deus, que não pode enganar
nem ser enganado.
(c) Por que o Filho de Deus se fez
Filho do homem, ou quais foram os propósitos da encarnação?
1)
Como já observamos, o Filho de Deus veio ao mundo para ser o Revelador de Deus.
Ele afirmou que as suas obras e suas palavras eram guiadas por Deus (João 5:19,
20; 10:38); sua própria obra evangelizadora foi uma revelação do coração do Pai
celestial, e aqueles que criticaram sua obra entre os pecadores demonstraram
assim sua falta de harmonia com o espírito do céu. (Luc. 15:1-7)
2)
Ele tomou sobre si nossa natureza humana para glorificá-la e desta maneira
adaptá-la a um destino celestial. Por conseguinte, formou um modelo, por assim
dizer, pelo qual a natureza humana poderia ser feita à semelhança divina. Ele,
o Filho de Deus, se fez Filho do homem, para que os filhos dos homens pudessem
ser feitos filhos de Deus (João 1:2), e um dia serem semelhantes a ele (1 João
3:2); até os corpos dos homens serão "conforme o seu corpo glorioso"
(Fil. 3:21). "O primeiro homem (Adão), da terra, é terreno: o segundo
homem, o Senhor é do céu" (1 Cor. 15:47); e assim, "como trouxemos a
imagem do terreno (vide Gên. 5:3), assim traremos também a imagem do
celestial" (verso 49), porque "o último Adão foi feito em espírito
vivificante" (verso 45).
3) Porém, o obstáculo a impedir a perfeição da humanidade era o pecado — o qual, ao princípio, privou Adão da glória da justiça original. Para resgatar-nos da culpa do pecado e de seu poder, o Filho de Deus morreu como sacrifício expiatório.
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