PNEUMATOLOGIA I

PNEUMATOLOGIA - A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO

O ESPÍRITO SANTO

A doutrina do Espírito Santo, a julgar pelo lugar que ocupa nas Escrituras, está em primeiro lugar entre as verdades redentoras.

Com exceção das Epístolas 2 e 3 de João, todos os livros do Novo Testamento contêm referências à obra do Espírito; todos os Evangelhos começam com uma promessa do derramamento do Espírito Santo.

No entanto, é reconhecida como a doutrina mais negligenciada. O formalismo e um medo indevido do fanatismo têm produzido uma reação contra a ênfase na obra do Espírito na experiência pessoal.

Naturalmente, este fato resultou em decadência espiritual, pois não pode haver um Cristianismo vivo sem o Espírito. Somente ele pode fazer real o que a obra de Cristo possibilitou. Inácio, grande pastor da igreja primitiva, disse: A graça do Espírito põe a maquinaria da redenção em conexão vital com a alma. Parte do Espírito, a cruz permanece inerte, uma imensa máquina parada, e em volta dela permanecem imóveis as pedras do edifício. Somente quando se colocar a "corda" é que se poderá proceder à obra de elevar a vida do indivíduo, pela fé, e pelo amor, para alcançar o lugar preparado para ela na igreja de Deus.

I. A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO.

Quem é o Espírito Santo?

A resposta a esta pergunta encontrar-se-á no estudo dos nomes que lhe foram dados, os símbolos que ilustram suas obras.

1. Os nomes do Espírito Santo.

(a) Espírito de Deus.

O Espírito é o executivo da Divindade, operando tanto na esfera física como na moral. Por intermédio do Espírito, Deus criou e preserva o universo. Por meio do Espírito — "o dedo de Deus" (Lc 11:20) — Deus opera na esfera espiritual, convertendo os pecadores, santificando e sustentando os crentes.

1) É o Espírito Santo divino no sentido absoluto?

Sim. Prova-se sua divindade pelos seguintes fatos:

Atributos divinos lhe são aplicados; Ele é eterno, onipresente, onipotente, e onisciente (Hb 9:14; Sl 139:7-10; Lc 1:35; 1 Co 2:10,11).

Obras divinas lhe são atribuídas, como sejam: Criação, regeneração e ressurreição (Gn 1:2; Jo 33:4; Jo 3:5-8; Rm 8:11).

- É classificado junto com o Pai e o Filho (1 Co 12:4-6; 2 Co 13:13; Mt 28:19; Ap 1:4).

2) O Espírito Santo é uma pessoa ou é apenas uma influência?

Muitas vezes descreve-se o Espírito duma maneira impessoal — como o Sopro que preenche, a Unção que unge, e o Fogo que ilumina e aquece, a Água que é derramada e o Dom do qual todos participam. Contudo, esses nomes são meramente descrições das suas operações. Descreve-se o Espírito duma maneira que não deixa dúvida quanto à sua personalidade. Ele exerce os atributos de personalidade:

Mente (Rm 8:27); Vontade (1 Co 12:11); Sentimento (Ef 4:30).

Atividades pessoais lhe são atribuídas:

- Ele revela (2 Pe 1:21); Ensina (Jo 14:26); Clama (Gl 4:6; Intercede (Rm 8:26); Fala (Ap 2:7); Ordena (At 16:6,7); Testifica (Jo 15:26).

- Ele pode ser entristecido (Ef 4:30); Contra ele se pode mentir (At 5:3), e blasfemar (Mt 12:31,32). Sua personalidade é indicada pelo fato de que se manifestou em forma visível de pomba (Mt 3:16) e pelo fato de que ele se distingue dos seus dons (1 Co 12:11).

Alguns talvez tenham negado a personalidade do Espírito porque ele é descrito como tendo corpo ou forma. Mas é preciso distinguir a personalidade e a forma corpórea (possuir corpo). A personalidade é aquilo que possui inteligência, sentimento e vontade; ela não requer necessariamente um corpo. Além disso, a falta duma forma definida não é argumento contra a realidade. O vento é real apesar de não possuir forma. (Jo 3:8.) Não é difícil formar um conceito de Deus Pai ou do Senhor Jesus Cristo, mas alguns têm confessado certa dificuldade em formar um conceito claro do Espírito Santo. A razão é dupla:

Primeiro, nas Escrituras as operações do Espírito são invisíveis, secretas, e internas

Segundo, o Espírito Santo nunca fala de si mesmo nem apresenta a si mesmo. Ele sempre vem em nome de outro. Ele se oculta atrás do Senhor Jesus Cristo e nas profundezas do nosso homem interior. Ele nunca chama a atenção para si próprio, mas sempre para a vontade de Deus e para a obra salvadora de Cristo. "não falar de si mesmo" (Jo 16:13).

3) É o Espírito Santo uma personalidade distinta e separada de Deus?

Sim; o Espírito procede de Deus, é enviado de Deus, é dom de Deus aos homens. No entanto, o Espírito não é independente de Deus. Ele sempre representa o único Deus operando nas esferas do pensamento, da vontade, da atividade. O fato de o Espírito poder ser um com Deus e ao mesmo tempo ser distinto de Deus é parte do grande mistério da Trindade.

(b) Espírito de Cristo.

(Rm 8:9) não há nenhuma distinção especial entre as expressões Espírito de Deus, Espírito de Cristo, e Espírito Santo. Há somente um Espírito Santo, da mesma maneira como há somente um Deus e um Filho. Mas o Espírito Santo tem muitos nomes que descrevem seus diversos ministérios.

Por que o Espírito é chamado o Espírito de Cristo?

1) Porque ele é enviado em nome de Cristo (Jo 14:26).

2) Porque ele é o Espírito enviado por Cristo. O Espírito é o princípio da vida espiritual pelo qual os homens são nascidos no reino de Deus. Essa nova vida é comunicada e mantida por Cristo (Jo 1:12,13; 4:10; 7:38), que também batiza com o Espírito Santo (Mt 3:11).

3) O Espírito Santo é chamado Espírito de Cristo porque sua missão especial nesta época é a de glorificar a Cristo (Jo 16:14). Sua obra especial acha-se em conexão com aquele que viveu, morreu, ressuscitou e ascendeu ao céu. Ele torna real nos crentes o que Cristo fez por eles.

4) O Cristo glorificado está presente na igreja e nos crentes pelo Espírito Santo. Ouve-se sempre que o Espírito veio tomar o lugar de Cristo, mas é mais correto dizer que ele veio tornar real a Cristo. O Espírito Santo torna possível e real a onipresença de Cristo no mundo (Mt 18:20) e sua habitação nos crentes. A conexão entre Cristo e o Espírito é tão íntima, que se diz que tanto Cristo como também o Espírito habitam no crente (Gl 2:20; Rm 8:9,10); e o crente está tanto "em Cristo" como "no Espírito". Graças ao Espírito Santo, a vida de Cristo torna-se a nossa vida em Cristo.

(c) O Consolador.

Esse é o título dado ao Espírito no Evangelho de João, capítulos 14 a 17.

Um estudo de fundo histórico destes capítulos revelará o significado do dom. Os discípulos haviam tomado sua última ceia com o Mestre. Os seus corações estavam tristes pensando na sua partida, e estavam oprimidos pelo sentimento de fraqueza e debilidade.

Quem nos ajudará quando ele partir?

Quem nos ensinará e nos guiará?

Quem estará conosco quando pregarmos e ensinarmos?

Como poderemos enfrentar um mundo hostil?

Cristo aquietou esses temores infundados com esta promessa:

"Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre" (Jo 14:16).

A palavra "Consolador" ("parácleto", no grego) significa alguém chamado para ficar ao lado de outrem, com o propósito de ajudá-lo em qualquer eventualidade, especialmente em processos legais e criminais.

Era costume nos tribunais antigos, as partes aparecerem no tribunal assistidas por um ou mais dos seus amigos mais prestigiosos, que no grego chamavam, "parácleto", e em latim, "advocatus". Estes assistiam seus amigos, não pela recompensa ou remuneração, mas por amor e consideração; a vantagem da sua presença pessoal era a ajuda dos seus sábios conselhos. Eles orientavam seus amigos quanto ao que deviam dizer e fazer; falavam por eles; representavam-nos, faziam da causa de seus amigos sua própria causa; amparavam-nos nas provas, dificuldades, e perigos da situação.

Foi essa também a relação do Senhor Jesus com seus discípulos durante seu ministério na terra, e naturalmente eles sentiam tristeza ao pensarem na sua partida. Mas ele os consolou com a promessa de outro Consolador que seria seu defensor, seu ajudador e instrutor durante a sua ausência.

O Espírito Santo é chamado "outro" Consolador porque seria ele, em forma invisível aos discípulos, justamente o que Jesus lhes havia sido em forma visível.

A palavra "outro" faz distinção entre o Espírito Santo e Jesus; no entanto, coloca-os no mesmo nível.

Jesus enviou o Espírito; mas, Jesus vem espiritualmente a seus discípulos pelo Espírito.

O Espírito Santo é o sucessor de Cristo como também a sua Presença.

O Espírito Santo torna possível e real a presença continua de Cristo na igreja.

É ele quem faz com que a pessoa de Cristo habite nos crentes de maneira que possam dizer como Paulo:

"Cristo vive em mim." Por conseguinte, é a vida de Cristo, sua natureza, seus sentimentos e suas virtudes que o Espírito comunica aos crentes.

É segundo a semelhança de Cristo que ele os transforma, segundo o modelo que Cristo nos deixara.

Sem Cristo o Espírito não tem nada a produzir no coração do crente. Se eliminasse a Cristo e sua Palavra, seria como remover do estúdio do fotógrafo a pessoa a ser fotografada, cujas feições a luz não fixaria na chapa, por estar a pessoa ausente.

A vinda do Consolador não significa que Cristo cessasse de ser Ajudador e Advogado do seu povo. João nos informa que ele ainda desempenha esse oficio (1 Jo 2:1).

Cristo, cuja esfera de ação é no céu, defende os discípulos contra as acusações do "acusador dos irmãos". Ao mesmo tempo o Espírito, cuja esfera de ação é na terra, faz calar os adversários da igreja pela vitória da fé que vence o mundo.

Assim como Cristo é Parácleto no céu, assim o Espírito é Parácleto na terra.

O Cristo glorificado não somente envia o Espírito mas também se manifesta por meio do Espírito.

Na carne ele podia estar somente em um lugar de cada vez; na sua vida glorificada ele é onipresente pelo Espírito.

Durante sua vida terrestre, não habitava no interior dos homens; pelo Espírito ele pode habitar na profundidade de suas almas.

Certo escritor esclareceu essa verdade da seguinte maneira:

Se ele tivesse permanecido na terra em sua vida física, ele teria sido somente um exemplo a ser copiado; mas, desde que subiu a seu Pai e enviou o seu Espírito, então ele representa uma vida a ser vivida. Se tivesse permanecido visível e tangível conosco, sua relação para conosco seria meramente como o modelo é para o artista que esculpe o mármore, mas não seria como a ideia e a inspiração que produzem a verdadeira obra de arte. Se tivesse permanecido na terra, ele teria sido o objeto de prolongada observação de estudo cientifico, e sempre teria estado fora de nós, externo para nós: uma voz externa, uma vida externa, um exemplo externo... mas graças a seu Espírito, agora ele pode viver em nós como a verdadeira Alma da nossa alma, o verdadeiro Espírito do nosso espírito, a Verdade da nossa mente, o Amor do nosso coração, e o Desejo da nossa Vontade.

Se a atuação do Espírito é comunicar a obra do Filho, que vantagem haveria na partida de um a fim de fazer possível a vinda do outro?

Resposta: Não é o Cristo terreno que o Espírito comunica, mas o Cristo celestial — o Cristo reinvestido de seu poder eterno, revestido de gloria celestial.

O Dr. A. J. Gordon empregou a seguinte ilustração:

É como se um pai, cujo parente tivesse falecido, dissesse a seus filhos: "Somos pobres, mas tornei-me herdeiro de um parente rico. Se vocês estão dispostos a me deixarem ausentar de casa a fim de ir além-mar para receber a herança, enviarei a vocês mil vezes mais do que poderia dar se permanecesse com vocês.

A vida de Cristo na terra representa os dias de sua pobreza (2 Co 8:9) e humilhação; na cruz ele ganhou as riquezas de sua graça (Ef 1:7); no trono assegurou as riquezas da sua gloria. (Ef 3:16).

Depois da sua ascensão ao Pai, ele enviou o Espírito para comunicar as riquezas da sua herança.

Pela sua ascensão, Cristo teria mais para oferecer, e a igreja teria mais para receber. (Jo 16:12; 14:12)

"O rio da vida disporá de mais força em razão da fonte mais elevada da qual procede."

O consolador ensina somente as coisas de Cristo, no entanto, ensina mais do que Cristo ensinou.

Até a Crucificação, a Ressurreição e a Ascensão, o conjunto da doutrina cristã ainda estava incompleto e, portanto, não poderia ser plenamente comunicado aos discípulos de Cristo.

Em Jo 16:12,13, é como se Jesus dissesse:

"Tenho-vos encaminhado um pouco no conhecimento da minha doutrina; ele vos conduzirá até ao fim do caminho."

A ascensão teve por finalidade trazer maior comunicação da verdade como também maior comunicação de poder.

(d) Espírito Santo.

Ele é chamado santo, porque é o Espírito do Santo, e porque sua obra principal é a santificação. Necessitamos dum Salvador por duas razões: para fazer alguma coisa por nós, e alguma coisa em nós. Jesus fez o primeiro ao morrer por nós; e pelo Espírito Santo ele habita em nós, transmitindo às nossas almas a sua vida divina. O Espírito Santo veio para reorganizar a natureza do homem e para opor-se a todas as suas tendências más.

(e) Espírito da promessa.

O Espírito Santo é chamado assim porque sua graça e seu poder são umas das bênçãos principais prometidas no Antigo Testamento. (Ez 36:7; Jl 2:28) A prerrogativa mais elevada de Cristo, ou o Messias, era a de conceder o Espírito, e esta prerrogativa Jesus a reivindicou quando disse: "Eis que sobre vos envio a promessa de meu Pai" (Lc 24:49; Gl 3:14).

(f) Espírito da verdade.

O propósito da Encarnação foi revelar o Pai; a missão do Consolador é revelar o Filho. Ao contemplar-se um quadro a óleo, qualquer pessoa notará muita beleza de cor e forma; mas para compreender o significado intrínseco do quadro e apreciar o seu verdadeiro propósito precisará de um intérprete experiente. O Espírito Santo é o Intérprete de Jesus Cristo. Ele não oferece uma nova e diferente revelação, mas abre as mentes dos homens para verem o mais profundo significado da vida e das palavras de Cristo. Como o Filho não falou de si mesmo, mas falou o que recebeu do Pai, assim o Espírito não fala de si mesmo, como se fosse fonte independente de conhecimento, mas declara o que ouviu daquela vida íntima da Divindade.

(g) Espírito da graça.

(Hb 10:29; Zc 12:10) O Espírito Santo dá graça ao homem para que se arrependa, quando peleja com ele; concede o poder para santificação, perseverança e serviço. Aquele que trata com desdém ao Espírito da graça, afasta o único que pode tocar ou comover o coração, e assim se separa a si mesmo da misericórdia de Deus.

(h) Espírito da vida.

(Rm 8:2; Apo 11:11) Um credo antigo dizia: "creio no Espírito Santo, o Senhor, e Doador da vida." O Espírito é aquela Pessoa da Divindade cujo oficio especial é a criação e a preservação da vida natural e espiritual.

(i) Espírito de adoção

(Rm 8:15) Quando a pessoa é salva, não somente lhe é dado o nome de filho de Deus, e adotada na família divina, mas também recebe "dentro de sua alma o conhecimento de que participa da natureza divina. Assim escreve o bispo Andrews: "Como Cristo é nossa testemunha no céu, assim aqui na terra o Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus"

2. Símbolos do Espírito.

Alguém disse: "as palavras são veículos inadequados para transmitir a verdade. Quando muito, apenas revelam a metade das profundidades do pensamento". Deus achou por bem ilustrar com símbolos o que de outra maneira, devido à pobreza de linguagem humana, nunca poderíamos saber. Os seguintes símbolos são empregados para descrever as operações do Espírito Santo:

(a) Fogo.

(Is 4:4; Mt 3:11; Lc 3:16) O fogo ilustra a limpeza, a purificação, a intrepidez ardente, e o zelo produzido pela unção do Espírito. O Espírito é comparado ao fogo porque o fogo aquece, ilumina, espalha-se e purifica. (Vide Jr. 20:9)

(b) Vento.

(Ez 37:7-10: Jo 3:8; At 2:2) O vento simboliza a obra regeneradora do Espírito e é indicativo da sua misteriosa operação independente, penetrante, vivificante e purificante.

(c) água.

(Êx 17:6; Ez 36:25-27; 47:1; Jo 3:5; 4:14; 7:38, 39.) O Espírito é a fonte da água viva, a mais pura, e a melhor, porque ele é um verdadeiro rio de vida — inundando as nossas almas, e limpando a poeira do pecado. O poder do Espírito opera no reino espiritual o que a água faz na ordem material. A água purifica, refresca, sacia a sede, e torna frutífero o estéril. Ela purifica o que está sujo e restaura a limpeza. É um símbolo adequado da graça divina que não somente purifica a alma mas também lhe acrescenta a beleza divina. A água é um elemento indispensável na vida física; o Espírito Santo é um elemento indispensável na vida espiritual. Qual é o significado da expressão "água viva"? é viva em contraste com as águas fétidas de cisternas e brejos: é água que salta, correndo sempre da sua fonte, sempre evidenciando vida. Se essa água for detida num reservatório, interrompida sua corrente, separada da sua fonte, já não se pode dizer que é água viva. Os cristãos têm a "água viva" na proporção em que estiverem em contato com a fonte divina em Cristo.

(d) Selo.

(Ef 1:13; 2 Tm 2:19) Essa ilustração exprime os seguintes pensamentos :

1) Possessão.

A impressão dum selo dá a entender uma relação com o dono do selo, e é um sinal seguro de algo que lhe pertence. Os crentes são propriedade de Deus, e sabe-se que o são pelo Espírito que neles habita. O seguinte costume era comum em Éfeso no tempo de Paulo. Um negociante ia ao porto selecionar certa madeira e então a marcava com seu selo — um sinal de reconhecimento da possessão. Mais tarde mandava seu servo com o selo, e ele trazia a madeira que tivesse a marca correspondente. (Vide 2 Tm 2: 19)

2) A ideia de segurança também está incluída.

(Ef 1:13. Vide Ap 7:3.) O Espírito inspira um sentimento de segurança e certeza no coração do crente. (Rm 8:16). Ele é o penhor ou as primícias da nossa herança celestial, uma garantia da glória vindoura. Os crentes têm sido selados, mas devem ter cuidado que ao façam alguma coisa que destrua a impressão do selo. (Ef 4:30.)

(e) Azeite.

O azeite é, talvez, o mais comum e mais conhecido símbolo do Espírito. Quando se usava o azeite no ritual do Antigo Testamento, falava-se de utilidade, frutificação, beleza, vida e transformação. Geralmente era usado como alimento, para iluminação, lubrificação, cura, e alivio da pele. Da mesma maneira, na ordem espiritual, o Espírito fortalece, ilumina, liberta, cura e alivia a alma.

(f) Pomba.

A pomba, como símbolo, significa brandura, doçura, amabilidade, inocência, suavidade, paz, pureza e paciência. Entre os sírios é emblema dos poderes vivificantes da natureza. Uma tradição judaica traduz Gn. 1:2 da seguinte maneira. "O Espírito de Deus como pomba pousava sobre as águas." Cristo falou da pomba como a encarnação da simplicidade, uma das belas características dos seus discípulos.

O ESPÍRITO NO ANTIGO TESTAMENTO

O Espírito Santo é revelado no Antigo Testamento de três maneiras :

Primeira, como Espírito criador ou cósmico, por cujo poder o universo e todos os seres foram criados

Segunda, como o Espírito dinâmico ou doador de poder

Terceira, como Espírito regenerador, pelo qual a natureza humana é transformada.

1. Espírito criador.

O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade por cujo poder o universo foi criado.

Ele pairava por sobre a face das águas e participou da glória da criação. (Gn 1:2; Jo 26:13; Sl 33:6; 104:30)

O Dr. Denio escreve: O Espírito Santo, como Divindade inseparável em toda a criação, manifesta sua presença pelo que chamamos as leis da natureza. Ele é o princípio da ordem e da vida, o poder organizador da natureza criada. Todas as forças da natureza são apenas evidências da presença e operação do Espírito de Deus. As forças mecânicas, a ação química, a vida orgânica nas plantas e nos animais, a energia relativa à ação nervosa a inteligência e a conduta moral são apenas evidências da imanência de Deus, da qual o Espírito Santo é o agente. O Espírito Santo criou e sustenta o homem. (Gn 2:7; Jo 33:4)

Toda pessoa, seja ou não servo de Deus, é sustentada pelo poder criador do Espírito de Deus. (Dn 5:23; At 17:28) A existência do homem é como o som da tecla do harmônio que dura tão-somente enquanto o dedo do artista a comprime. O homem deve a sua existência e a continuação desta às "duas mãos de Deus", isto é, o Verbo (Jo 1:1-3), e o Espírito. Foi a esses que Deus se dirigiu dizendo: "Façamos o homem."

2. Espírito dinâmico que produz.

O Espírito Criador criou o homem a fim de formar uma sociedade governada por Deus; em outras palavras, o reino de Deus. Depois que entrou o pecado e a sociedade humana foi organizada à parte de Deus e em oposição à sua pessoa, Deus começou de novo ao chamar o povo de Israel, organizando-o sob suas leis, e assim constituindo-o como reino de Jeová . (2 Cr 13:8) Ao estudar a história de Israel lemos que o Espírito Santo inspirou certos homens para governar e guiar os membros desse reino e para dirigir seu progresso na vida de consagração. A operação dinâmica do Espírito criou duas classes de ministros:

Primeira, obreiros para Deus — homens de ação, organizadores, executivos

Segunda, locutores para Deus — profetas e mestres.

(a) Obreiros para Deus.

Como exemplos de obreiros inspirados pelo Espírito, mencionamos Josué (Nm 27:8-21); Otoniel (Jz 3:9-10; José (Gn 41:38-40); Bezaleel (Êx 35:30- 31); Moisés (Nm 11:16,17); Gideão (Jz 6:34), Jefté (Jz 11:29); Sansão (Jz 13:24,25); Saul (1 Sm 10:6). É muito provável que, à luz desses exemplos, os dirigentes da igreja primitiva insistissem em que aqueles que serviam às mesas deviam ser cheios do Espírito Santo (At 6:3).

(b) Locutores de Deus.

O profeta de Israel, podemos dizer, era um locutor de Deus — um que recebia mensagens de Deus e as entregava ao povo. Ele estava cônscio do poder celestial que descia sobre ele de tempos em tempos capacitando-o para pronunciar mensagens não concebidas por sua própria mente, característica que o distinguia dos falsos profetas. (Ez 13:2) A palavra "profeta" indica inspiração, originada duma palavra que significa "borbulhar" — um testemunho à eloquência torrencial que muitas vezes manava dos lábios dos profetas. (Vide João 7:38)

1) As expressões empregadas para descrever a maneira como lhes chegava a inspiração mostram que essa inspiração era repentina e de modo sobrenatural. Ao referirem-se à origem de seu poder, os profetas diziam que Deus "derramou" seu Espírito, "pôs seu Espírito sobre eles", "deu" seu Espírito, "encheu-os do seu Espírito", e "pôs seu Espírito" dentro deles. Descreveram a variedade de influência, declaram que o Espírito "estava sobre eles", "descansava sobre eles", e os "tomava". Para indicar a influência exercida sobre eles, diziam que estavam "cheios do Espírito", "movidos" pelo Espírito, "tomados" pelo Espírito, e que o Espírito falava por meio deles.

2) Quando um profeta profetizava, às vezes estava em estado conhecido como "êxtase" — estado pelo qual a pessoa fica elevada acima da percepção comum e introduzida num domínio espiritual, no domínio profético. Ezequiel disse: "A mão do Senhor (o poder do Senhor Deus) caiu sobre mim ... e o Espírito me levantou entre a terra e o céu, e me trouxe a Jerusalém em visões de Deus" (Ez 8:1-3). É muito provável que Isaías estivesse nessa condição quando viu a glória de Jeová (Is 6). João o apóstolo declara que foi "arrebatado em espírito no dia do Senhor" (Ap.?. Vide At 22:17) As expressões usadas para descrever a inspiração e o êxtase dos profetas são semelhantes àquelas que descrevem a experiência do Novo Testamento de "ser cheio" ou "batizado" com o Espírito. (Vide o livro de Atos.) Parece que nessa experiência o Espírito tem um impacto tão direto sobre o espírito humano, que a pessoa fica como que arrebatada a uma experiência na qual pronuncia uma linguagem extática.

3) Os profetas nem sempre profetizavam em estado extático; a expressão "veio a Palavra do Senhor" dá a entender que a revelação veio por uma iluminação sobrenatural da mente. A mensagem divina pode ser recebida e entregue em qualquer das duas maneiras.

4) O profeta não exercia o dom à sua discrição; a profecia não foi produzida "por vontade de homem" (2 Pe 1:21). Jeremias disse que não sabia que o povo estava maquinando contra ele (Jr 11:19). Os profetas nunca supuseram, nem tampouco os israelitas jamais creram, que o poder profético fosse privilégio de algum homem como dom permanente e sem interrupção para ser usado à sua própria vontade. Entenderam que o Espírito era um agente pessoal e, portanto, a inspiração era proveniente da soberana vontade de Deus. Os profetas podiam, porém, pôr-se numa condição de receptividade ao Espírito (2 Rs 3:15), e em tempos de crise podiam pedir direção a Deus.

3. Espírito regenerador.

Consideraremos as seguintes verdades relativas ao Espírito regenerador. Sua presença é registrada no Antigo Testamento, porém não é acentuada; seu derramamento é descrito, principalmente como uma bênção futura, em conexão com a vinda do Messias; e mostra características distintas.

(a) Operativo mas não acentuado.

O Espírito Santo no Antigo Testamento é descrito como associado à transformação da natureza humana. Em Isa. 63:10,11 faz-se referência ao êxodo e à vida no deserto. Quando o profeta diz que Israel contristou o seu santo Espírito, ou quando se diz que deu seu "bom Espírito" para os instruir (Ne 9:20), refere-se ao Espírito como quem inspira a bondade. (Vide Sl. 143:10) Davi reconhecia o Espírito como presente em toda a parte, aquele que esquadrinha os caminhos dos homens, e revela, à luz de Deus, os esconderijos mais escuros de suas vidas. Depois de cometer seu grande pecado, Davi orou para que o Espírito Santo de Deus, a Presença santificadora de Deus, aquele Espírito que influencia o caráter, não lhe fosse tirado (Sl 51:11). Esse aspecto, porém, da obra do Espírito não é acentuado no Antigo Testamento.

O nome Espírito Santo ocorre somente três vezes no Antigo Testamento, mas oitenta e seis no Novo, sugerindo que no Antigo Testamento a ênfase está sobre operações dinâmicas do Espírito, enquanto no Novo Testamento a ênfase está sobre o seu poder santificador.

(b) Sua concessão representa uma bênção futura.

O derramamento geral do Espírito como fonte de santidade é mencionado como acontecimento do futuro, uma das bênçãos do prometido reino de Deus.

Em Israel o Espírito de Deus era dado a certos lideres escolhidos, e indubitavelmente quando havia verdadeira piedade, tal se devia à obra do seu Espírito. Mas em geral, a massa do povo inclinava-se para o paganismo e para a iniquidade. Embora de tempos em tempos fossem reavivados pelo ministério de profetas e reis piedosos, era evidente que a nação era má de coração e que era necessário um derramamento geral do Espírito para que voltassem a Deus. Tal derramamento foi predito pelos profetas, que falaram que o Espírito Santo seria derramado sobre o povo numa medida sem precedentes. Jeová purificaria os corações do povo, poria seu Espírito dentro deles, e escreveria a sua lei em seu interior. (Ez 36:25-29; Jr 31:34.) Nesses dias o Espírito seria derramado com poder sobre toda a carne (Jl 2:28), isto é, sobre toda a classe e condição de homens, sem distinção de idade, sexo e posição. A oração de Moisés de que "todo o povo do Senhor fosse profeta" seria então cumprida (Nm 11:29). Como resultado, muitos seriam convertidos, porque "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (Jl 2:32).

A característica que distinguia o povo de Deus sob a velha dispensação era a possessão e revelação da lei de Deus; a característica que distingue seu povo sob a nova dispensação é a escrita da lei e a morada do Espírito em seus corações.

(c) Em conexão com a vinda do Messias

O grande derramamento do Espírito Santo teria por ponto culminante a Pessoa do Messias-Rei, sobre o qual o Espírito de Jeová repousaria permanentemente na qualidade de Espírito de sabedoria e entendimento, de conhecimento e temor santo, conselho e poder. Ele seria o Profeta perfeito que proclamaria as Boas-Novas de libertação, de cura divina, de consolo e de gozo.

Qual é a conexão entre esses dois grandes eventos proféticos?

Será a vinda do Ungido e a efusão universal do Espírito Santo?

João Batista respondeu quando interrogado:

"Eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem apos mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo."

Em outras palavras, o Messias é o Doador do Espírito Santo. Foi isso que o assinalou como o Messias ou o Fundador do Reino de Deus. A grande bênção da nova época seria o derramamento do Espírito e foi o mais elevado privilégio do Messias, o de conceder o Espírito.

Durante seu ministério terrestre Cristo falou do Espírito como o melhor dom do Pai (Lc 11:13); ele convidou os sedentos espiritualmente a virem beber, oferecendo-lhes abundante abastecimento da água da vida; em seus discursos de despedida prometeu enviar o Consolador a seus discípulos.

Notem especialmente a conexão do dom com a obra redentora de Cristo. A concessão do Espírito está associada com a partida de Cristo (Jo 16:7) e sua glorificação (Jo 7:39), o que implica sua morte (Jo 12: 23, 24; 13:31, 33; Lc 24:49). Paulo claramente declara essa conexão em Gl 3:13,14; 4:4-6 e Ef 1:3, 7:13, 14.

(d) Exibindo características especiais.

Talvez este seja o lugar de inquirir acerca do significado da declaração : "porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado". João certamente não queria dizer que nos tempos do Antigo Testamento ninguém haja experimentado manifestações do Espírito; todo judeu sabia que as poderosas obras dos dirigentes de Israel e as mensagens dos profetas eram provenientes das operações do Espírito de Deus. Evidentemente ele se refere a certos aspectos da obra do Espírito que não eram conhecidos nas dispensações anteriores.

Quais são, então, as características distintas da obra do Espírito na presente dispensação?

1) O Espírito ainda não havia sido dado como o Espírito do Cristo crucificado e glorificado. Essa missão do Espírito não podia iniciar-se enquanto a missão do Filho não terminasse; Jesus não podia manifestar-se no Espírito enquanto estivesse em carne. O dom do Espírito não podia ser reivindicado por ele a favor dos homens enquanto ele não assumisse sua posição de Advogado dos homens na presença de Deus. Quando Jesus falou, ainda não havia no mundo uma força espiritual como a que foi inaugurada no dia de Pentecoste e que posteriormente cobriu toda a terra como uma grande enchente. Porque Jesus ainda não havia subido aonde estivera antes da encarnação (Jo 6:62), e ainda não estivera com o Pai (Jo 16:7; 20:17), não podia haver uma presença espiritual universal antes que fosse retirada a presença na carne, e o Filho do homem fosse coroado na sua exaltação à destra de Deus. O Espírito foi guardado nas mãos de Deus aguardando esse derramamento geral, até que o Cristo vitorioso o reivindicasse a favor da humanidade.

2) Nos tempos do Antigo Testamento o Espírito não era dado universalmente, mas, de modo geral limitado a Israel, e concedido segundo a soberana vontade de Deus a certos indivíduos, como sejam : profetas, sacerdotes, reis e outros obreiros em seu reino. Mas na presente época ou dispensação o Espírito está ao dispor de todos, sem distinção de idade, sexo ou raça. Nesta relação nota-se que o Antigo Testamento raramente se refere ao Espírito de Deus pela breve designação "o Espírito". Lemos acerca do "Espírito de Jeová " ou "Espírito de Deus". Mas no Novo Testamento o título breve o "Espírito" ocorre com muita freqüência, sugerindo que suas operações já não são manifestações isoladas, mas acontecimentos comuns.

3) Alguns eruditos creem que a concessão do Espírito nos tempos do Antigo Testamento não envolve a morada ou permanência do Espírito, que é característica do dom nos tempos do Novo Testamento. Eles explicam que a palavra "dom", implica possessão e permanência, e que nesse sentido não havia Dom do Espírito no Antigo Testamento. É certo que João Batista foi cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe e isso implica uma unção permanente. Talvez esse e outros casos semelhantes poderiam ser considerados como exceções à regra geral. Por exemplo, quando Enoque e Elias foram transladados, foram exceções à regra geral do Antigo Testamento, isto é, a entrada na presença de Deus era por meio do túmulo e do Seol (o reino dos espíritos desencarnados).

O ESPÍRITO EM CRISTO.

O Novo Testamento introduz a Dispensação do Espírito, cumprindo-se a promessa de que Deus derramaria do seu Espírito sobre toda a carne, que poria seu Espírito no coração de seu povo, e assim escrevendo suas leis em seu interior. Isso seria feito nos dias do Messias, o qual seria ungido com o Espírito Santo. Por conseguinte, verificamos no Novo Testamento que o Espírito Santo é descrito como: Operando sobre, dentro, e por meio de Jesus Cristo.

Os títulos, "Espírito de Cristo" e "Espírito de Jesus Cristo", indicam uma relação entre Cristo e o Espírito Santo na qual não participaram os seus discípulos. Por exemplo, não nos atreveríamos a falar do "Espírito de Paulo". Desde o princípio até ao fim de sua vida terrena, o Senhor Jesus esteve intimamente ligado ao Espírito Santo. Tão íntima foi esta relação que Paulo descreve a Cristo como "um Espírito vivificante". O significado não é que Jesus é o Espírito, e, sim, que ele dá o Espírito, e através do mesmo Espírito exerce onipresença. O Espírito é mencionado em conexão com as seguintes crises e aspectos do ministério de Cristo:

1. Nascimento.

O Espírito Santo é descrito como o agente na milagrosa concepção de Jesus (Mt 1.20; Lc 1:35). Jesus esteve relacionado com o Espírito de Deus desde o primeiro momento da sua existência humana. O Espírito Santo desceu sobre Maria, o Poder do Altíssimo cobriu-a com sua sombra, e àquele que dela nasceu foi dado o direito de ser chamado santo, Filho de Deus. Para João, o precursor, foi suficiente que fosse cheio do Espírito desde o ventre de sua mãe, ao passo que Jesus foi concebido pelo poder do Espírito no ventre, e por essa razão levou tais nomes e títulos que não podiam ser conferidos a João.

Deus, operando pelo Espírito, é o Pai da natureza humana de Jesus, no sentido de que sua origem proveniente da substância da Virgem mãe foi um ato divino. O efeito dessa intervenção divina revela-se no estado imaculado de Cristo, sua perfeita consagração, e seu senso permanente da Paternidade de Deus. Enfim, o poder do pecado foi destruído, e Um nascido de mulher, ao mesmo tempo que era homem e santo, era também o Filho de Deus. O segundo Homem é do céu (1 Co 15:47). Sua vida era de cima (Jo 8:23); sua passagem pelo mundo representa a vitória sobre o pecado, e os resultados de sua vida foram a vivificação da raça (1 Co 15:45).

Aquele que nenhum pecado cometera e que salva o seu povo dos seus pecados, necessariamente teria que ser gerado pelo Espírito Santo.

2. Batismo.

Com o passar dos anos, começou uma nova relação com o Espírito. Aquele que havia sido concebido pelo Espírito e que era cônscio da morada do Espírito divino em sua pessoa, foi ungido com o Espírito. Assim como o Espírito desceu sobre Maria na concepção, assim também no batismo o Espírito desceu sobre o Filho, ungindo-o como Profeta, Sacerdote e Rei.

A primeira operação santificou sua humanidade; a segunda consagrou sua vida oficial. Assim como sua concepção foi o princípio da sua existência humana, assim também seu batismo foi o princípio de seu ministério ativo.

3. Ministério.

Logo foi levado pelo Espírito ao deserto (Mc 1:12) para ser tentado por Satanás. Ali ele venceu as sugestões do príncipe deste mundo, as quais o teriam tentado a fazer sua obra duma maneira egoísta, vangloriosa e num espírito mundano, e a usar seu poder conforme o curso de ação da ordem natural.

Ele exerceu seu ministério com o conhecimento íntimo de que o poder divino habitava nele. Sabia que o Espírito do Senhor Deus estava sobre ele para cumprir o ministério predito acerca do Messias (Lc 4:18); e pelo dedo de Deus expulsou demônios. (Lc 11:20; vide At 10:38) Ele testificou do fato que o Pai, que estava nele, era quem operava as obras milagrosas.

4. Crucificação.

O mesmo Espírito que o conduziu ao deserto e o sustentou ali, também lhe deu força para consumar seu ministério sobre a cruz, onde, "pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus" (Hb 9:14). Ele foi à cruz com a unção ainda sobre ele. O Espírito manteve diante dele as exigências inflexíveis de Deus e o inflamou de amor para com o homem e zelo para com Deus, para prosseguir, apesar dos impedimentos, da dor e das dificuldades, para efetuar a redenção do mundo. O Espírito Santo encheu-lhe a mente de ardor, zelo e amor persistentes, os quais o conduziram a completar seu sacrifício. Seu espírito humano estava de tal modo saturado e elevado pelo Espírito de Deus que vivia no eterno e invisível, e pôde "suportar a cruz, desprezando a afronta" (Hb 12:2).

5. Ressurreição.

O Espírito Santo foi o agente vivificante na ressurreição de Cristo. (Rm 1:4; 8:11) Alguns dias depois desse evento, Cristo apareceu a seus discípulos, soprou sobre eles, e disse : "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20:22; vide At 1:2). Essas palavras não podem significar o revestimento de poder pelo qual o Senhor, antes de sua ascensão, lhes havia mandado que esperassem. Alguns eruditos creem que esse sopro foi meramente um símbolo daquilo que havia de ocorrer cinqüenta dias depois, isto é, um lembrete do Pentecoste vindouro. Outros creem que algo de positivo foi concedido aos discípulos, nesse ato. Uma comparação com Gn 2:7 indica que o sopro divino simboliza um ato criador. Mais tarde Cristo é descrito como um espírito vivificante, ou o que dá vida. (1 Co 15:45.) é de supor que nessa ocasião o Senhor da vida fizesse conhecer a seus discípulos, por experiência, "o poder de sua ressurreição"? Os onze discípulos seriam enviados ao mundo para cumprirem uma nova missão; continuariam a obra de Cristo. Em si mesmos eram incapazes para tal missão, assim como um corpo inanimado é incapaz de efetuar as funções dum homem vivo. Dai inferimos a necessidade do ato simbólico de dar a vida. Assim como a humanidade antiga recebeu o sopro do Senhor Deus, assim também a nova humanidade recebeu o sopro do Senhor Jesus. Se concedermos que nessa ocasião houve uma verdadeira concessão do Espírito, devemos lembrar, porém, que não foi a Pessoa do Espírito Santo que foi comunicada, mas a inspiração de sua Vida.

O Dr. Westcott assim frisa a distinção entre o Dom da Páscoa e o "Dom do Pentecoste": "O primeiro corresponde ao poder da Ressurreição, e o outro ao poder da Ascensão." Isto é, o primeiro é a graça vivificante; o outro é a graça de dotação.

6. Ascensão.

Notem os seguintes três graus na concessão do Espírito a Cristo:

1) Na sua concepção, o Espírito de Deus foi, desde esse momento, o Espírito de Jesus, o poder vivificante e santificador, pelo qual ingressou na sua carreira de Filho do homem e pelo qual viveu até o fim.

2) Com o passar dos anos começou uma nova relação com o Espírito. O Espírito de Deus veio a ser o Espírito de Cristo no sentido de que descansava sobre ele para exercer seu ministério messiânico.

3) Depois da ascensão, o Espírito veio a ser o Espírito de Cristo no sentido de ser concedido a outros. O Espírito veio para habitar em Cristo, não somente para suas próprias necessidades, mas também para que ele o derramasse sobre todos os crentes. (Vide Jo 1:33 e note-se especialmente a palavra "repousar") Depois da ascensão o Senhor Jesus exerceu a grande prerrogativa messiânica que lhe foi concedida — enviar o Espírito sobre outros. (At 2:33; vide Ap 5:6.)

Portanto, ele concede a bênção que ele mesmo recebeu e desfruta, e nos faz co-participantes com ele mesmo. Assim é que não somente lemos acerca do dom, mas também da "comunhão" do Espírito Santo, isto é, participando em comum do privilégio e da bênção de ser o Espírito de Deus concedido a nós, não somente comunhão dos crentes uns com os outros mas também com Cristo; eles recebem a mesma unção que ele recebeu; é como a unção preciosa sobre a cabeça de Arão, que desceu sobre a barba e até à orla de seus vestidos. Todos os membros do corpo de Cristo, como reino de sacerdotes, participam da unção do Espírito que mana da sua cabeça, nosso grande Sumo Sacerdote que subiu aos céus.

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