Sexo E Vida Moral
O homem sente-se senhor e coroamento da criação. Seu
sentimento de superioridade baseia-se em certas qualidades em que supera a
mulher. Em primeiro lugar a força física e espiritual, a independência e
liberdade social. Porque não serve à vida de modo tão direto como a mulher,
traz em si traço inconfundível de amor-próprio que, degenerando, pode
transformar-se em egoísmo brutal.
Na vida instintiva, o instinto sexual ocupa lugar preeminente.
O impulso afetivo, mais desenvolvido na mulher, é mais fraco no homem; ao
contrário, o instinto físico, normalmente mais desenvolvido, pretende
impetuosamente a satisfação. Por isso a continência pré-matrimonial exige, sem
comparação, maior abnegação no homem do que na mulher, pois reclama, além do
sacrifício sentimental, também o físico. Esse fato explica, além disso, que o
homem é em geral mais responsável pelo abuso matrimonial do que a mulher e, por
outro lado, a santificação do matrimônio e a fidelidade matrimonial exigem dele
sacrifícios muito maiores. Da tarefa fisiológica, da força e da vitalidade do
instinto físico masculino, resulta que o homem não pode cumprir o ato sexual
sem satisfação física. A mulher, porém, é capaz de cumprir o “debitam
coniugale” sem “delectatio venerea”. Naturalmente, nesse caso, trata-se de
forma não natural da relação conjugal que, com ou sem culpa do marido, pode
levar mais cedo ou mais tarde a perturbações físicas e até psíquicas graves na
mulher. A força maior de paixão do instinto sexual masculino tem como
conseqüência que o homem comete pecados contra a castidade com mais facilidade.
Por outro lado, apesar disso ou justamente por isso, o homem é capaz de
libertar-se e corrigir-se com mais facilidade de quedas sexuais, do que a
mulher que, uma vez perdidos os obstáculos morais, precipita-se mais baixo que
o homem e torna-se quase incorrigível.
O sentimento de justiça encontra origem na forma mentis
objetiva e positiva do homem. Ele não se deixa dominar com tanta facilidade
pelos sentimentos, por humores e preconceitos e, portanto, com maior
dificuldade que a mulher, torna-se vítima de simpatias e antipatias. Consegue
prescindir melhor da pessoa, e por isso é menos parcial nos julgamentos.
O homem como protetor e defensor da família, deve ser
intrépido e corajoso. Como a mulher sente necessidade da proteção masculina, um
homem a atrai tanto mais quanto mais possuir essas qualidades.
Na qualidade de chefe de família, cabe ao homem a
responsabilidade principal de todos os interesses da comunidade familiar. A
mulher deve tomar parte, sobretudo como conselheira. É atitude estranha da
mulher, observada comumente, não querer tomar decisão sozinha, mas realizar,
encarregando o homem do que havia deliberado e sugerido antes. Assim acontece
quando se aconselha com o homem sobre aquilo que já decidiu. Com esse
comportamento a mulher procura atingir um fim duplo: de uma parte realizar a
própria vontade, e de outra aparentar obediência ao homem, atirando às costas
dele a responsabilidade.
Ao sentimento de grandeza, vastidão e sublimidade no homem,
corresponde a generosidade e aversão à estreiteza de vistas. (O pedantismo do
homem esconde com facilidade um traço feminino de seu caráter). O reverso dessa
qualidade, elogiável em si, é a desordem, a imprecisão, na qual o homem cai
muito mais comumente que a mulher.
Como o homem destina-se ao rendimento máximo, cansa-se muito
mais depressa do que a mulher, sendo também menos tenaz. Daí, provavelmente,
também a tendência à impaciência e muitas vezes a perseverança deficiente e a
inclinação à comodidade.
Da sua coragem, intrepidez, amor ao positivo, provém a
veracidade. O homem sincero odeia a mentira, o fingimento e todas as
aparências. Verdade e justiça provêm da mesma fonte. O homem, mais que a mulher
s e encontra, em meio à vida pública, que o aprecia e estima tanto mais, quanto
mais pode contar com a lealdade profissional e o sentimento de dever dele. Por
isso estas qualidades, juntamente com a observância e o respeito às leis
justas, fazem parte do quadro característico da masculinidade verdadeira e
autêntica. Devemos acrescentar ainda a seriedade da vida, conseqüência lógica
da luta pela existênci a e da preocupação pelo pão cotidiano. Lançando um olhar
de conjunto sobre as considerações precedentes, vemos que o homem, embora não
estando livre de aspectos fracos e de tendências perigosas, apresenta, todavia,
nas suas disposições naturais tantos valores positivos que deixa perceber no
espírito, mesmo no estado de natureza decaída, os vestígios de sua semelhança
originária com Deus, e de ter recebido dele na criação as bases naturais de seu
destino como filho de Deus, concedidas com a graça santificadora.
Consideremos agora as qualidades características da mulher
na vida moral. Conforme o destino de companheira do homem, a natureza e a
atividade levam-na à ajuda, ao complemento, à guarda e à assistência. Daí o
sentimento inato de amor para com o próximo, cuidado, compaixão e sacrifício.
Uma mulher sem altruísmo, sem sentimento materno - casada ou não - é criatura
desnaturada. Como o cavalheirismo representa o ornamento mais belo do homem,
assim o sentimento materno é o aspecto mais formoso da figura da mulher. Toda
mulher que segue o impulso do coração deseja ser mãe dos próprios filhos ou de
outros, grandes ou pequenos. Até em relação ao homem a mulher procura desdobrar
o sentimento materno. Não apenas por causa dos filhos, mas também pela
manifestação do próprio reconhecimento pelos seus cuidados delicados, o homem
chama muitas vezes a mulher: “Mamãe. Muitos homens, embora procurando
escondê-lo, porque acreditam devê-lo à masculinidade, sentem saudade no fundo
do coração da bondade feminina, de seus cuidados e auxílio, do sentimento
materno.
Para o exercício da profissão de mãe, a mulher foi dotada
pelo Criador de grandeprontidão para o sacrifício, de capacidade de dedicação,
de força de abnegação, de paciência e perseverança. O homem, menos rico em
sentimentos, é também menos capaz de proporcionar conforto. Possui alma
sensível à miséria, necessidade alheia, tato mais delicado para poupar aos
outros humilhação e vergonha, Como companheira de vida do homem, que na luta
dura pela existência se torna facilmente duro e rígido, ela possui qualidades
particulares para difundir amor, calor e alegria. Como educadora dos filhos,
tem o dom de adaptar-se à vida psíquica das crianças. Em certo sentido a mulher
continua sempre infantil, conserva a prontidão, vivacidade e naturalidade de
criança. Grande conhecedor do gênero humano diz: “As mulheres são crianças
adultas”.
Quanto ao instinto sexual, na vida psíquica da mulher, os
componentes físicos e psíquicos encontram-se em relação inversa aos do homem.
Neste prevalece a esfera sensual, nela a sentimental. Ela, acima de tudo, quer
amar e ser amada. A vida ao lado de um homem que não ama é para ela cheia de
perigos não só para a saúde psíquica, mas também para a saúde física, o que
mostra como são irresponsáveis os pais que obrigam a filha a casar com um homem
que não ama. Fator essencial do instinto sexual da mulher é o desejo natural e
intenso de tornar-se mãe. Por isso a mulher sofre mais que o homem a falta de
filhos. Embora a tarefa da procriação exija maior sacrifício da mulher que do
homem, a falta de filhos ou seu número reduzido é mais freqüentemente culpa do
home m que da mulher. No que depende de causas físicas, a falta de filhos
deriva em geral da mulher. A mulher acha a continência sexual menos difícil,
pois o instinto sexual físico é menos intenso e mais passivo. Por isso as
mulheres estão menos sujeitas ao onanismo e ao adultério. Vice-versa, a maior
emotividade torna-as mais apaixonadas no amor. Tem amor mais profundo, mais
sentimental. Por isso suportam também mais dificilmente as desilusões nesse
campo. As vítimas do suicídio por desilusões amorosas são na maioria mulheres.
O amor sexual da mulher exige o direito à exclusividade. Quer ser o único
objeto do amor pessoal do homem amado. Daí a defesa instintiva e a recusa a
qualquer participação desse amor: o ciúme. Esse sentimento é inato na mulher,
pelo menos como disposição. Por isso existem na alma de qualquer mulher movimentos
de ciúme. Como o amor é para elas mais apaixonado que no homem, pelo que
entende com o aspecto sentimental, pode também se inverter com maior facilidade
e aspereza no contrário. Daí a tendência feminina ao ódio e vingança, a
inclinação à hostilidade e implacabilidade. A intensidade do ódio feminino é,
por sua natureza, impossível no homem; como também a perseverança e a
insistência em aniquilar o adversário odiado. O exemplo de Herodíades é típico
para a sede de vingança e profundidade do ódio de que é capaz a mulher.
Conseqüência de todas essas qualidades da alma feminina é
serem muito poucas as mulheres capazes de amizade profunda com uma
representante do próprio sexo. Enquanto viver numa mulher o desejo
característico de aparecer e fazer-se notar, ela só pode saciar a sede de
verdadeira amizade em relação ao homem. As amizades entre meninas, que nascem
muita vez na época da puberdade, são semente efeito de instinto psíquico
despertado, ou necessidade de dedicar-se a alguém com veneração exaltada, mas
duram geralmente pouco e muito raramente merecem o nome de amizade. Grandes
amizades entre mulheres na vida política ou na do espírito, são quase ignoradas
pela história, e o instinto dos povos só dá lugar, nas fábulas e mitos, à
amizade entre homens. Quanto mais forte é a responsabilidade da mulher tanto
menos se abre à amizade com outra do mesmo nível. Com a amizade, assim também a
inimizade feminina é de espécie particular. Dificilmente encontraremos um
exemplo de dois ex-amigos que se odeiem. Poderão guardar rancor, no máximo se
desprezarão ou se combaterão em campo aberto. Mas duas mulheres inimigas são
capazes de odiar-se, de fingir e dissimular, de atormentar-se com o ciúme e
tratar-se com crueldade , esquecendo completamente qualquer lembrança dos
tempos passados em amizade (Goidschmidt).
A idoneidade física da mulher para a resistência explica-lhe
a perseverança, diligência, laboriosidade e paciência. O sentimento do concreto
dá origem ao do belo, à veia estética e bom gosto. Esta qualidade, naturalmente,
pode também degenerar, como vemos com freqüência no campo da moda. Mas é sempre
índice de decadência e da negação da natureza feminina. O sentimento estético
explica também a tendência inata para a ordem e a limpeza.
Já aludimos à consciência que a mulher tem da lei como
obstáculo e limite à atuação concreta. Perdendo este sentimento, ela não presta
atenção nem mesmo ao contraste com a lei; assim se explica que na mulher podem
coexistir condutas opostas do ponto de vista moral, sem preocupações de
consciência. Assim se compreende também como a alma da mulher, ao lado da
consciência mais delicada, da fidelidade ao dever e da pontualidade, pode dar
lugar a ofensas inconsideradas de normas morais importantes.
À mutabilidade do sentimento e adesão ao concreto e ao
pessoal, liga-se a conhecida inclinação ao capricho feminino. Além disso, a
vida sentimental da mulher depende notavelmente do fator físico. Médicos
experientes declaram que são poucas as mulheres que não sentem psiquicamente a
influência dos processos físicos do período de menstruação. A maioria fica
deprimida mais ou menos intensamente nesses dias, ou antes, ou depois. Conforme
as peculiaridades pessoais manifestam irritabilidade, tristeza ou angústia. A
medicina legal demonstra que a maioria dos delitos cometidos por mulheres,
coincide com esses dias. É nos dias intermediários entre um período mensal e
outro que a vida psíquica da mulher se encontra no ápice de harmonia,
equilíbrio e bem-estar subjetivo.
A timidez da mulher baseia-se na força física menor e em
representar ela o objeto da concupiscência masculina. Quando há o paroxismo do
instinto masculino, com a falta simultânea de impedimentos morais e o emprego
notável de força física, pode dar-se a violação da mulher. É claro que para toda
mulher, mas particularmente para uma virgem, a violação significa grave
perturbação psíquica. É tão intensa e duradoura, quanto mais jovem e
inexperiente for a pessoa em questão. Especialmente as meninas inocentes,
depois dessa terrível experiência, correm o perigo de não poder mais
persuadir-se que o ato sexual no matrimônio representa a vontade de Deus,
santificada, despertada pelo mais profundo amor conduzindo à felicidade. Nesse
caso é preciso inteligência por parte do confessor para atenuar um pouco o dano
psíquico, se ainda for possível. Quanto à vida da graça dessas infelizes,
naturalmente não sofre dano algum.
A tendência ao concreto no espírito feminino é fonte também
da curiosidade, tão característica na mulher. Encontra prazer nas novidades,
nas mudanças, na “moda”. Daí a avidez de sensações, até a voluptuosidade na
dor, a mania de exagerar. Neste último campo chega também à ilusão, de modo que
a mulher muita vez acredita no que sugere a si mesma e aos outros, mesmo que
não corresponda à realidade. É fenômeno muito parecido com as mentiras
fantásticas das crianças. Há algumas mulheres doentes que pela avidez de
sensações são capazes de esquecer repentinamente as dores, quando alguém lhes
conta novidade excitante.
A mulher não pode escolher por iniciativa própria o
companheiro de vida. Deve esperar a chegada do homem, a quem as qualidades dela
pareceram tão atraentes que a deseja por esposa. Assim se explica a vaidade,
sedução e astúcia da mulher. Também a mania mórbida das pessoas histéricas de
aparecer a todo o custo tem essa origem.
A inclinação da mulher para olhar mais a pessoa que a
realidade, pode levá-la à parcialidade e com isso à injustiça. O sentimento
para tudo o que é íntimo, vizinho, recolhido, abre caminho à mesquinhez e ao
pedantismo. Considerando, além disso, a maior suscetibilidade sentimental e a
tendência a imiscuir-se nos negócios alheios, que deriva da ambição de domínio
muita vez inconsciente, é possível explicar o fenômeno tão freqüente da
incompatibilidade entre mulheres.
“Em linhas gerais, quanto à posição da mulher no campo
moral, podemos afirmar: a intensidade da vida psíquica da mulher é maior que a
do homem. É capaz de superar de longe o homem, tanto no bem como no mal. É
verdade que o homem raramente cai tão baixo como a mulher, mas não atinge
também a altura dela, salvo casos excepcionais”.
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