Da Antiguidade até o início do século XIX, predominou na
prática escolar uma aprendizagem de tipo passivo e receptivo. Aprender era
quase exclusivamente memorizar. Nesse tipo de aprendizagem, a compreensão
desempenhava um papel muito reduzido.
Esta forma de ensino baseava-se na concepção de que o ser
humano era semelhante a um pedaço de cera ou argila úmida que podia ser
modelado à vontade. Na antiga Grécia, Aristóteles já professava essa teoria,
que foi retomada freqüentemente ao longo dos séculos, reaparecendo sob novas
formas e imagens. A ideia difundida no século XVII, por exemplo, de que o
pensamento humano era como se fosse uma tábua lisa, um papel em branco se m
nada escrito, onde tudo podia ser impresso, é apenas uma variação da antiga teoria.
Ensinava-se a ler e a escrever da mesma forma que se
ensinava um ofício manual ou a tocar um instrumento musical. Por meio da
repetição de exercícios graduados, ou seja, cada vez mais difíceis, o discípulo
passava a executar certos atos complexos, que aos poucos iam se tornando
hábitos. O estudo dos textos literários, da gramática, da História, da
Geografia, dos teoremas e das ciências físicas e biológicas caracterizou-se,
durante séculos, pela recitação de cor.
Os conhecimentos a serem adquiridos eram, até certo ponto,
reduzidos. E para que os alunos pudessem repetí-los correta e adequadamente, o
professor utilizava o procedimento de perguntas e respostas, tanto em sua forma
oral como escrita. Este era o chamado método catequético, cuja origem remonta,
pelo menos na cultura ocidental, aos antigos gregos. A palavra catecismo provém
do termo grego katechein, que significa “fazer eco”. Este método era usado para
todas as disciplinas e consistia na apresentação, pelo professor, de perguntas
acompanhadas de suas respostas já prontas.
O importante nessa forma de aprendizagem era que o aluno
reproduzisse literalmente as palavras e frases decoradas. A compreensão do que
se falava ou se escrevia ficava relegada a um segundo plano. Em conseqüência, o
aluno repetia as respostas mecanicamente, e não de forma inteligente, pois ele
não participava de sua elaboração e, em geral, não refletia sobre o assunto
estudado.
Embora esse ensino de caráter verbal, baseado na repetição
de fórmulas já prontas, tenha predominado na prática escolar por muito tempo,
vários foram os filósofos e educadores que exortaram os mestres, ao longo dos
séculos, a dar mais ênfase à compreensão do que à memorização. Com isso
pretendiam tornar o ensino mais estimulante e adaptado aos interesses dos
alunos e às suas reais condições de aprendizagem. Surgiram, assim, algumas
teorias que tentavam explicar como o ser humano é capaz de apreender e
assimilar o mundo que o circunda. Com base nessas teorias do conhecimento,
alguns princípios didáticos foram formulados.
Apresentamos a seguir alguns filósofos e educadores que
refletiram sobre o conhecimento e elaboraram teorias sobre o ato de conhecer,
que repercutiram no âmbito da Pedagogia
INTRODUÇÃO
A Didática é um dos principais ramos da Pedagogia. Ela
investiga os fundamentos e as condições para a realização do ensino que contém
a instrução. A Pedagogia codifica o conhecimento amplo sobre a educação e a
Didática o decodifica para a realização do ensino. Concluímos que o objeto da
Pedagogia é a Educação e a Didática, disciplina da própria Pedagogia, é a
teoria do ensino.
O vocábulo didática deriva da expressão grega techné
didaktiké, que se traduz por arte ou técnica de ensinar. Enquanto adjetivo
derivado de um verbo, o vocábulo referido origina-se do termo didásko cuja
formação linguística – note-se a presença do grupo sk dos verbos incoativos –
indica a característica de realização lenta através do tempo, própria do
processo de instruir.
Como o Mestre Jesus, observemos cuidadosamente uma criança
para aprender dela o que vem a ser a educação. Sim, porque a educação no seu
sentido mais largo abarca todos os passos e processos pelos quais o Infante
gradativamente é transformado num adulto inteligente e bem desenvolvido.
Consideremos a criança. Tem ela um corpo humano completo,
com olhos, mãos e pés – todos os órgãos do sentido, da ação e da locomoção – e,
não obstante, está ali inerme – sem meios de defesa – desajudada no seu berço.
Ri, chora, sente. Tem os atributos dum adulto, mas não os poderes dele.
Em que o bebê difere do adulto? Só no fato de ser um bebê.
Tem corpo e membros pequenos, frágeis e sem uso voluntário. Seus pés nã o podem
andar; as mãos, sem habilidade; seus lábios não falam. Seus olhos vêem, mas não
percebem; e seus ouvidos não entendem. O universo no qual acaba de e ntrar e
que o rodeia é para ele coisa misteriosa e desconhecida.
Maior consideração e estudo nos aclaram que a criança é
apenas um germe – não tendo ainda o crescimento que lhe é destinado – e é
Ignorante – sem idéias adquiridas.
Sobre esses dois fatos descansam os dois conceitos da
educação. Primeiro o desenvolvimento das capacidades; segundo, a aquisição da
experiência. Aquele é a maturação do corpo e da mente. E este, o processo de
fornecer à criança a herança da raça.
Cada um desses fatos – a imaturidade da criança e a sua
ignorância – devem servir de base à ciência da educação. O primeiro enfatizar á
as capacidades do ser humano, bem como a ordem em que se desenvolvem e as suas
leis de crescimento e ação. O segundo abarcará o estudo dos vários ramos do
conhecimento humano, e como são descobertos, desenvolvidos e aperfeiçoados.
Cada uma dessas ciências necessariamente inclui a outra, assim como o estudo
dos poderes inclui o conhecimento dos seus produtos, assim como o estudo dos
efeitos abarca uma revisão das causas.
Baseando-se nessas duas formas da ciência educacional
podemos ver que a arte da educação é dupla: a arte de exercitar e a arte de
ensinar.
Uma vez que a criança mostra-se imatura no uso de todas as
suas capacidades, vê-se que o primeiro passo na educação é exercitá-la no
sentido de desenvolver inteiramente essas capacidades. Tal preparo deve ser
físico, mental e moral.
Visto que a criança é ignorante, a educação deve
comunicar-lhe a experiência da raça. Esta é propriamente a obra ou a função do
ensino. Vista a esta luz, a escola é uma das agências de educação, uma vez que
continuam os por toda a vida a adquirir experiência. Então, o primeiro objetivo
do ensino é estimular ou criar no aluno o amor ou a vontade de aprender, e
formar nele hábitos e ideais de estudo independente.
Estas duas coisas juntas – o cultivo das capacidades e a
transmissão de experiência – é que constituem a obra do professor. Toda
organização e toda direção são subsidiárias a esse alvo duplo. O resultado que
se deve procurar é justamente este: uma personalidade bem desenvolvida física,
intelectual e moralmente, com recursos tais que lhe tornem a vida útil e feliz,
e habilite m o indivíduo a continuar aprendendo através de todas as atividades
da vida.
Estes dois grandes ramos da arte educacional – treinamento e
ensino – conquanto separados em nosso pensamento, não estão separados na
prática. Só podemos treinar ensinando, e ensinamos melhor quando melhor
treinamos ou praticamos. O próprio treinamento das capacidades intelectuais é
encontrado na aquisição, elaboração e aplicação do conhecimento e das artes que
representam a herança da raça.
Todavia, há uma vantagem prática em se ter sempre em mente
esses dois processos da educação. O mestre, tendo-os claramente diante de si,
mais facilmente observará, e estimulará mais inteligentemente o progresso real
dos alunos. Não se contentará com um seco exercício diário que conserve os
alunos em ação como se estivessem num moinho, e nem se contentará também com
encher e abarrotar a mente dos estudantes de fatos e nomes sem uso prático. Ele
anotará cuidadosamente os dois lados da educação de seus alunos, e norteará
seus trabalhos e adaptará suas lições sábia e escrupulosamente para conseguir
as duas finalidades que tem em vista.
Portanto, o objetivo deste conteúdo é apresentar, de modo
sistemático, os princípios da arte de ensinar. Tratar das capacidades mentais
somente no que urge serem consideradas numa discussão clara sobre o esforço de
se adquirir experiência no processo da educação. Conquanto, não se pretende ex
por toda a ciência da educação, e nem também toda a arte de ensinar. Mas,
agrupar ao redor os fatores que estão presentes em cada atividade do verdadeiro
ensino, os capitais princípios e regras da arte de ensinar, de modo que sejam
vistos em sua ordem e relações naturais e possam ser metodicamente aprendidos e
usados.
Sócrates (Século V A.C.)
Para Sócrates o saber não é algo que alguém (o mestre)
transmite à pessoa que aprende (discípulo). O saber, o conhecimento, é uma
descoberta que a própria pessoa realiza. Conhecer é um ato que se dá no
interior do indivíduo. A função do mestre, segundo Sócrates, é apenas ajudar o
discípulo a descobrir, por si mesmo, a verdade.
O método socrático foi denominado de ironia, e em dois
momentos: a refutação e a maiêutica.
Na refutação, Sócrates levantava objeções às opiniões que o
discípulo tinha sobre algum assunto e que julgava ser a verdade. De objeção em
objeção, o aluno ia tentando responder às dúvidas levantadas por Sócrates até
que, se contradizendo cada vez mais, admitia sua ignorância e se dizia in capaz
de definir o que até há pouco julgava conhecer tão bem. Essa etapa do método tinha
como objetivo libertar o espírito das opiniões, pois segundo Sócrates a
consciência da própria ignorância é o primeiro passo para se encaminhar na
busca da verdade.
Tendo o discípulo tomado consciência de que nada sabia,
Sócrates passa então para a segunda parte de seu método, que ele mesmo
denominou maiêutica.
Partindo do conhecido para o desconhecido, do fácil para o
difícil, Sócrates vai fazendo a seu discípulo uma série de perguntas que o leva
a refletir, a descobrir e a formular as próprias respostas.
Sócrates comparava esse trabalho ao de sua mãe que era
parteira, pois, da mesma forma que ela ajudava as mulheres a dar à luz seus
filhos, ele ajudava seus discípulos a dar à luz as idéias. Daí o nome que
atribui a seu método, pois, em grego, a palavra maiêutica designa o trabalho da
parteira.
Um exemplo clássico da maiêutica socrática aparece no
diálogo Menon, escrito por Platão, que foi discípulo de Sócrates. Nesta obra,
Platão nos mostra um diálogo de seu mestre com um jovem escravo, no qual ele
ajuda o escravo a descobrir, por si mesmo, algumas noções de geometria.
Sócrates afirmava que os mestres devem ter paciência com os
erros e as dúvidas de seus alunos, pois, é a consciência do erro que os leva a
progredir na aprendizagem.
João Amos Comenius (1592-1670)
Segundo Comenius, dentre as obras criadas por Deus, o ser
humano é a mais perfeita. Dada sua formação cristã, Comenius acreditava que o
fim último do homem é a felicidade eterna. Assim, o objetivo da educação é
ajudar o homem a atingir essa finalidade transcendente e cósmica, desenvolvendo
o domínio de si mesmo através do conhecimento de si próprio e de todas as
coisas.
Portanto, Comenius concordava com os educadores medievais na
concepção dos fins da educação, mas diferenciou-se deles na concepção dos meios
através dos quais a educação se processaria. Para ele, os jovens deviam ser
educados em comum e por isso eram necessárias as escolas. Os jovens de ambos os
sexos deveriam ter acesso à educação escolar.
Comenius valorizava o processo indutivo como sendo a melhor
forma de se chegar ao conhecimento generalizado, e aplicou-o na sua prática
instrucional. Ele afirmava que o método indutivo estava mais “de acordo com a
natureza” e propunha a inclusão do estudo dos fenômenos físicos nos currículos
e nos livros escolares. Escreveu o primeiro livro didático ilustrado para
crianças, intitulado “O mundo das coisas sensíveis ilustrado”. Criou, também,
um método para o ensino de línguas de acordo com suas idéias educacionais,
considerado revolucionário para a época.
Devido a sua longa experiência como professor, Comenius não
foi apenas um teórico da educação. Ele teve também grande importância para a
prática da instrução escolar, contribuindo para a melhoria dos processos de
ensino. A seguir, apresentamos alguns princípios defendidos por Comenius na sua
obra Didática magna, publicada em 1632, e que teve influência direta s obre o
trabalho docente.
Ao Ensinar Um Assunto, O Professor Deve :
a) Apresentar o objeto ou ideia diretamente, fazendo
demonstração, pois o aluno aprende através dos sentidos, principalmente vendo e
tocando.
b) Mostrar a utilidade específica do conhecimento
transmitido e a sua aplicação na vida diária.
c) Fazer referência à natureza e origem dos fenômenos
estudados, isto é, às suas causas.
d) Explicar primeiramente os princípios gerais e só depois
os detalhes.
e) Passar para o assunto ou tópico seguinte do conteúdo
apenas quando o aluno tiver compreendido o anterior.
Como se pode ver, esses pressupostos da prática docente já
eram proclamados por Comenius em pleno século XVII.
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