Para a compreensão da alma humana é de suma importância
saber que cada uma delas representa algo de particular, de único. Entre tantos
milhares de almas, saídas da mão criadora de Deus, não há duas sequer que sejam
completamente iguais. Todavia podemos classificar as, qualidades psíquicas
conforme sua natureza, desenvolvimento e o ambiente, em grupos que apresentam
uma série de formas típicas. Resulta claro, portanto, a importância do
conhecimento dos diversos tipos da psique no estudo da psicologia pastoral.
Diferenciação Segundo O Sexo
“Vós todos batizados em Cristo, estais revestidos de Cristo.
Não judeu, nem grego, nem servo, nem livre, não há homem nem mulher” (Gl
3.27-28). Com estas palavras o apóstolo Paulo afirma que na comunhão de vida
que une todos os membros do Corpo de Cristo, desaparecem as diferenças de
origem, de classe social e até as sexuais. Mas o apóstolo seria mal
interpretado, se acreditássemos que nega todas as diferenças naturais
existentes entre os homens. Justamente Paulo sublinha a diferença natural entre
homem e mulher, relacionando-a com a vontade expressa de Deus (1 Tm 2.12 etc.).
É necessário que o pastor de almas conheça as diferenças
psíquicas da sexualidade masculina e feminina. Não faltam hoje vozes segundo as
quais para o esfriamento religioso do mundo masculino contribuíram, entre
outros fatores, também os sacerdotes, pela compreensão deficiente das
particularidades masculinas; como as formas de devoção levam grandemente em
conta o sentimento feminino, o homem em vez de se sentir atraído, considera-as
desagradáveis. É certo que para a direção espiritual eficaz é preciso o
conhecimento profundo das peculiaridades e da diferenciação da vida psíquica
nos dois sexos; tanto mais nos dias de hoje, o cuidado pastoral leva mais em
consideração os dados da natureza. Deixando de lado esta questão, impõe-se o
conhecimento exato das diversidades psíquicas do homem e da mulher. Quanto mais
o homem e a mulher se sentirem compreendidos pelo confessor nas suas
peculiaridades psíquicas, com tanto maior boa vontade, e sem reserva alguma,
abrir-se-ão a ele e tanto mais frutuosa será sua influência na vida espiritual.
A atitude psíquica fundamental, o caráter e a mentalidade do homem são, sob
tantos aspectos, tão diferentes dos da mulher, que se chegaria a pensar que o
homem não deve ter a mesma alma que a mulher. Mas tal não é exato. Não há almas
masculinas e almas femininas, há apenas almas humanas. As capacidades e os
modos de reação da vida psíquica masculina e feminina derivam da diferença do
físico, de modo que a alma, criada diretamente por Deus e ligada ao germe
vital, sentirá de maneira masculina ou feminina, conforme o germe se
desenvolver para tornar-se masculino ou feminino. A biologia moderna demonstra
que os hormônios gerados nas glândulas vitais, e transportados ao sangue por
meio da secreção interna, determinam as disposições, capacidades, modos de
reação e várias necessidades dos sexos. Poder-se-ia usar a comparação de um
artista que maneja dois instrumentos diferentes. A impressão musical despertada
pela sua arte será completamente diversa, conforme tocar um ou outro
instrumento.
A distinção psíquica dos sexos é querida por Deus, portanto,
deve conservar-se e cuidar-se também na ordem sobrenatural. Segundo o
princípio: gratia supponit naturam, em vez suprimi-las nas suas peculiaridades,
essas disposições masculinas e femininas devem ser cultivadas e nobilitadas no
sentido cristão.
Ocupemo-nos primeiro da particularidade psíquica dos sexos.
Aparece já na história da criação que o homem tem o primado sobre a mulher. A
mulher foi destinada para companheira do homem representa o complemento dEle e
o seu aperfeiçoamento. Ele é o início, ela a continuação; ele o impulso, ela a executora;
ele cria a ideia, a ela realiza; ele adquire, ela conserva e guarda. Daí deriva
a diversidade de dotes entre o homem e a mulher. Vemos já no físico, pois o
homem tem dotes para o rendimento máximo, a mulher para a maior duração. Não
devemos esquecer que a sexualidade não é do ser, mas das atividades e dos
hábitos a ele submetidos. Por isso renegar o caráter sexual e tender à
assimilação das peculiaridades do outro sexo é artificial e, portanto, funesto,
porque debilita e perturba a polaridade e a tensão querida por Deus e, ao mesmo
tempo, também a atração recíproca dos dois sexos. Só um homem em plena posse
das peculiaridades e dos valores masculinos poderá conquistar e conservar
duradouramente a estima e o amor por parte da mulher, como também por outro
lado, só a mulher que conserva e cultiva as peculiaridades femininas terá
atrativos para o homem e poderá conservá-lo preso a si.
Passemos a ilustrar as características principais que
diferenciam a psique dos dois sexos. Primeiro dote do homem é o talento
criador. É exigido para a realização da ordem divina de sujeitar a terra e
dominá-la (Gn 1. 28). É por isso que quase todas as invenções e as descobertas
cabem ao homem, enquanto que a mulher nesse campo, não demonstra muito sucesso.
Diz-se o mesmo da arte. Também nesse campo as obras do homem ultrapassam de
longe as da mulher.
A ação supõe a ideia, isto é, ato de conhecimento
intelectivo. Por isso no homem prevalece a inteligência e a força lógica. O
homem pensa de modo claro, calmo, lógico, enquanto a mulher no seu conhecimento
fica com facilidade do sensível e o seu pensamento caracteriza-se muita vez por
uma falta surpreendente de lógica e por notáveis preconceitos.
Característica ulterior da mentalidade masculina é o
sentimento do objetivo, do positivo. Ao contrário, a alma da mulher orientasse
fortemente para o subjetivo, o pessoal. A inteligência do homem é propensa à
abstração, ao universal, ao típico, enquanto o pensamento da mulher dirige-se
acentuadamente para o concreto, o sensível. Correspondendo a essa distinção, a
fantasia dos dois sexos é diferente. O homem é mais capaz de dominar a fantasia
por meio da vontade, enquanto a própria fantasia, notavelmente mais viva e
colorida, domina a mulher com grande facilidade. O homem, superando o sensível,
volta-se para as idéias universais, para os conceitos. Daí o sentimento do
essencial, o desejo de saber, a compreensão das leis da ordem, o interesse pela
grandeza, vastidão e profundidade.
Ao contrário, o pensamento da mulher cinge-se ao particular,
aos fatos experimentados pessoalmente; tem o sentimento do especial, do
particular; o desejo de saber não se concentra na pesquisa do motivo e da
causa, mas na experiência do novo e se expressa na curiosidade e no prazer do
sensacional. A compreensão das leis da ordem e do universal é nela pequena.
Possui, porém muito maior capacidade de adaptação a situações especiais e com
preensão do que está próximo, é íntimo e mínimo.
Enquanto o homem, diante das idéias, muitas vezes se
descuida da realidade, a mulher possui grande sentimento prático da vida. O
homem aliança pela idéia, a mulher pela própria experiência. Ao homem agrada o
trabalho independente, a mulher produz mais cumprindo tarefas que outros lhe
impõem. O homem considera e examina a obra com reflexão objetiva e crítica,
enquanto a mulher se entrega a móveis inconscientes, subconscientes,
para-físicos. Este fato explica muita vez também seus enigmas e a
irresponsabilidade. O homem atinge o alvo com vontade e coerência metódica, a
mulher com a finura intuitiva do instinto, com o sentimento e tenacidade da
paixão. Servem-lhe otimamente a habilidade e a perspicácia. O homem
caracteriza-se pelo pensamento discursivo, enquanto a mulher capta a verdade
freqüentemente de modo intuitivo, espontâneo, quase instintivo. O processo
imaginativo é mais dominado, controlado, meditado no homem. Prova disso é a
loquacidade feminina. A linguagem da mulher é mais viva, mais impulsiva e às
vezes atropelada. O homem nos seus atos é ponderado, toma em consideração os obstáculos
que se lhe põem, enquanto a vontade da mulher é desenfreada, impulsiva, muitas
vezes imprudente e sustentada por otimismo longe da realidade. A vontade do
homem tem consciência de seus fins e vê as conseqüências; a da mulher, ao
contrário, é instável, caprichosa e inconsequente. O homem mantém os objetivos
a determinada distância, a mulher perde-se com facilidade nos mais próximos. O
homem tem o sentimento da verdade, a mulher o da bondade e da beleza. O homem
deixa-se convencer por motivos razoáveis, a mulher deixa-se persuadir e
influenciar por argumentos superficiais. O homem sacrifica-se por uma ideia, a
mulher por uma pessoa.
As peculiaridades psíquicas dos sexos exprimem-se também na
consciência moral. O homem reconhece no imperativo da consciência outros tantos
fins, vê nele princípios para a ação. Para a mulher, contudo, as normas da
consciência parecem mais obstáculos concretos às aspirações muita vez
inconscientes. O homem procura explicar a si mesmo a lei, a mulher procura
desculpar-se diante dela. O homem, apesar das faltas isoladas, permanece mais
facilmente fiel a um princípio ético, a mulher, depois de superados os obstáculos
iniciais, forma-se muitas vezes desenfreada. Com esse fenômeno concorda a
experiência, segundo a qual a mulher, se é má, é muito pior que o homem e
arrepende-se com muito mais dificuldade.
Agora procuraremos aplicar as considerações precedentes ao
reconhecimento das diferenças psíquicas do caráter, à vida religiosa e aos
efeitos que resultam na vida moral dos dois sexos
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