O Temperamento Colérico
O colérico tem a característica da forte sensibilidade
receptiva e reação forte. É o tipo da personalidade marcante, do homem vigoroso,
conhecedor do mundo, da índole enérgica do líder e do combatente.
Reconhece-se a disposição do temperamento colérico muitas
vezes até pelo aspecto exterior. O colérico tem físico vigoroso, maciço, de
ombros largos, músculos fortes e nervos duros. A expressão do rosto é séria, o
olhar cortante e penetrante, às vezes apaixonado. A boca de lábios finos fica
rigorosamente cerrada. O passo é firme e seguro, a voz forte e harmoniosa.
O colérico, se de talento superior à média, possui intelecto
claro. Capta logo a essência de um fato. Não fica na superfície, mas atira-se
com ardor para o fundo. Isso não o impede de passar por cima do secundário, não
ligar para os sentimentos pessoais alheios e não demonstrar a mínima
compreensão pelos estados de ânimo e sentimentos deles; é por isso que se torna
com facilidade bruto e ofensivo. A vontade é forte e resoluta. Procura colocar
em prática o que se propõe e atingi-lo a todo o custo. Na atuação de um ideal
escolhido, custa a satisfazer-se até com o máximo. É capaz de entusiasmar-se
ardentemente por tudo o que é belo e sublime. O grande e o heroico o incitam.
Está pronto a empenhar-se com esforço heroico e combatividade por uma causa
elevada e ideal. Sua virtude eminente é a magnanimidade. A natureza o leva à
luta. A ação e o sucesso são a sua meta. Além disso, está cheio de acentuada
ambição, que o leva com facilidade a arrivismo sem medidas. A força cresce com
a grandeza da tarefa. Não conhece complexos de inferioridade.
É otimista impertérrito, mesmo quando a reflexão e a calma
deveriam convencê-lo que, em determinado caso, a meta escolhida é inatingível.
Confia sempre e em toda a parte na força e na capacidade do eu. Tem por lema:
ou dobrar ou quebrar. Por ter muito sucesso, reforçam-se ainda mais as
aspirações, e por isso aventura-se também ao que é impossível. Odeia a
mediocridade, o meio-termo. Tudo o que faz, faz completamente. Move-se entre os
extremos e quer ou tudo ou nada. Traz em si o germe do santo ou do delinquente.
Para atingir o seu escopo serve-se de todos os meios. Pode ser duro e
insensível, cruel e brutal. Pode mentir e fingir, adular e tiranizar. Para o
alto é capaz de reverências, para o baixo é capaz de pisar. Tudo existe para o
seu bem-amado eu. Custa-lhe reconhecer as obras e os sucessos dos outros, que
olha com inveja, como atos que prejudicam a própria capacidade, dignidade e
proeminência. Ai de quem se lhe opõe! É ele que deve dominar, comandar,
organizar, pois só ele possui a habilidade necessária. Sempre tem razão, mesmo
quando no íntimo, já há muito tempo, reconheceu ter disparado com audácia
imprudente contra o objetivo. Não reconhece que a razão possa encontrar-se,
pelo menos uma vez, também do lado do adversário. Impedem-no o orgulho, a
ambição e presumida infalibilidade.
Esse orgulho indomável é o maior obstáculo à sua
santificação. Gera nele confiança exagerada em si mesmo e obstinação infantil
pluriforme, que raramente respeita a opinião dos outros; antes, fala mesmo com
desprezo, do juízo e dos pareceres alheios e ofende muita vez os adversários
com o sarcasmo e a zombaria. A soberba lhe impede amor para com Deus, o
próximo, e toda a criação. Tem em si a fonte da própria hipersensibilidade,
prepotência, do espírito de contradição, dureza, incompatibilidade de caráter e
cólera, às vezes tão forte, que lhe faz perder completamente o domínio de si,
levando-o a erros gravíssimos com um sorriso frio nos lábios, a desprezar sem
consideração os laços de velhas amizades e arriscar, com leviandade, a saúde e
a vida. O orgulho lhe tira a faculdade de inclinar-se, de adaptar-se e
submeter-se, obedecer, estender a mão ao adversário em sinal de reconciliação.
A vaidade egoísta torna-o inapto para a compreensão cordial e para comungar com
o estado de ânimo de outro ser humano, a compaixão amorosa diante da dor alheia
e a bondade de coração no contato com os pobres e necessitados. Quantas vezes
por dia pecam contra a caridade com o pensamento e com as obras, sem nem sequer
percebê-lo! Quando, po rém, com o auxílio da graça divina, o colérico resolve corrigir-se,
aperfeiçoar-se, santificar-se, quando aprende a conhecer e reconhecer os
próprios limites e a própria dependência, a inclinar-se humildemente diante de
Deus; quando chega ao ponto de se alegrar logo que Deus o subjuga e aniquila
nele todo o egocentrismo, então o temperamento torna-se ponto de apoio na
subida para a santidade; então a ambição e anseio de sobressair empenham-se por
tornarem-se agradáveis aos olhos de Deus, em produzir algo imponente para o
reino de Jesus Cristo. O colérico zeloso, que se autocastiga e autodisciplina,
é líder nato. Empenha-se por um ideal com calor e força de persuasão. É herói
por nascimento. É homem do dever, que não concede escapatórias a si mesmo, que
não se deixa desviar das decisões tomadas, que não descansa antes de atingir o
alvo predeterminado. Assim, este temperamento oferece muitas vantagens e
auxílios ao homem lutador, que se dirige para o alto ao atingir a própria
santidade, como também, por outro lado, se erra a estrada, pode torná-lo
propugnador fanático do mal, sujeito a vaidade satânica, ódio indomável e fúria
bestial. A vida de oração do colérico não apresenta dificuldades especiais. As
forças espirituais tornam-no apto ao recolhimento e à concentração interior. O
desejo constante de expansão ilimitada é satisfeito pelo empenho ininterrupto e
total por Deus e por sua causa. O colérico que tem em vista a perfeição fica
agradecido quando lhe apontam os defeitos. Procura emendar-se. Nas relações com
o próximo luta para fundir a veracidade com a delicadeza. Coloca toda a honra
na conduta de vida ilibada. O colérico engenhoso tem atuação notável no
trabalho profissional. A disposição natural incita-o à atividade incessante.
Não pode viver no ócio. Deve trabalhar sempre e ocupar-se sempre. Não é capaz
de deixar um trabalho pela metade. Deve terminá-lo completamente. Não suporta a
desordem. Gosta da limpeza, da consciência escrupulosa, da pontualidade. Tem
sempre o que fazer. Nunca tem tempo para o inútil, mas sempre o tem par a o
necessário. Descobre trabalho onde outros não o vêem. Não pode descansar ,
enquanto há trabalho por fazer. Olha sempre para a frente, reflete, calcula.
Por isso consegue sempre acrescentar às tarefas, já numerosas, novo trabalho,
graças à capacidade organizadora, à rapidez da ação, à circunspeção e
habilidade. É claro, breve e decidido no falar. O que diz deve estar
simplesmente certo (mesmo que não o esteja). Na conduta e no modo de proceder é
independente, ousado, sem sombra de temor. Tem a faculdade de persuadir os
outros, de convencer, de influenciar e de guiar, de tornar-se sustentáculo e
apoio, de deixar a própria marca no ambiente inteiro. Além disso, parece tão
certo e inequivocável que ninguém pode resistir-lhe, salvo o que for da sua
mesma têmpera. É o tipo do chefe, do educador, da pessoa de autoridade.
O importante é que o colérico procure desenvolver seus lados
bons e atenuar os piores. Precisa de um ideal claro: serviço de Deus por amor a
Deus, amor ao próximo por amor a Deus. É preciso apresentar-lhe de ais altos
para poder empenhar as próprias forças. Deve aprender a mendigar com humildade
o auxílio de Deus e lutar com toda a energia contra a cólera, o orgulho e
outras expressões do temperamento. Deve educar-se espontaneamente ao serviço do
próximo. Se for capaz, será também capaz de executar grandes obras para o,
reino de Deus. Será o apóstolo nascido para o reino de Cristo. Se o colérico
educa a si mesmo sob a influência de personalidade forte que consegue o
reconhecimento e a estima dele, ajudado pela graça divina, implorada com a
oração humilde, pode chegar a idealismo nobre que lhe dá impulso a tender
sempre mais para o alto, otimismo invencível que não o deixa desesperar nunca,
mas sempre esperar, radicalismo inflexível que o leva a gastar todas as
energias a fim de atingir o alvo predeterminado.
O obreiro do Senhor de temperamento colérico obterá com
facilidade a estima dos fiéis, com mais dificuldade o amor. Suas ações terão
sucesso. Todavia deverá absterse de disciplina rígida para não ser arrasta do
pela dureza inata de trato. Deve vigiar a si mesmo e tender com o máximo
empenho ao amor verdadeiro, pois, de outra forma, será levado pelo temperamento
a cometer atos de dureza. Muitos desses atos nem sequer perceberá, por causa
falta inata de ternura e delicadeza. Deve também tender incessantemente à
verdadeira humildade de coração e reconhecer que também é servo inútil diante
de Deus, apesar do engenho e dos dotes. Malgrado todo o esforço, o obreiro do
Senhor colérico será mais estimado que amado pelos fiéis. Serve-lhe de
admoestação permanente para tender ao amor, e também de contínua escola de
humildade.
O Temperamento Sanguíneo
As características do temperamento sanguíneo são a
vivacidade e a volubilidade. Explica-se com a forte sensibilidade receptiva,
ligada a reação fraca.
O aspecto trai logo o sanguíneo. Em geral é esbelto,
agradável e de físico elegante. Possuí sistema nervoso vivaz, facilmente
excitável.
Os olhos são vivos e móveis, o passo veloz, mas um tanto
incerto. Falta-lhe o comportamento enérgico. A atitude exprime grande agilidade
e vivacidade, às vezes exuberância sentimental.
O sanguíneo possui o sentimento acentuado para a
exterioridade, isto é, para tudo o que pode perceber por meio dos sentidos.
Embora também tenha espírito ativo e ardente, é-lhe difícil concentrar a mente
sobre objeto preciso, dirigir a vontade com perseverança para alvo fixo. É
esteta por nascimento, deleitando-se com as formas belas e agradáveis à vista.
A seus olhos, que nunca estão parados, dificilmente escapa menor detalhe. Vê
todos os movimentos, mesmo os que não devem. Escuta qualquer observação, mesmo
se não se lhe destina ao ouvido, toma parte em todas as conversas e sempre quer
intervir mesmo se não entende nada do tema. Na sua leviandade ousa atirar-se a
qualquer empresa, antes mesmo de tê-la avaliado suficientemente. Vice-versa,
falta-lhe a faculdade de terminar o empreendimento começado, também porque não
dispõe de resistência tenaz e de perseverança. Tem sentimentos ternos e
ardentes. Com facilidade deixa-se dominar pela disposição de ânimo. Tende à
exaltação e exagero. Nem o elogio nem a desaprovação que formula devem tomar-se
muito a sério. Acha tudo divino, magnífico, maravilhoso. Entusiasma-se com
facilidade. Mas, com mais facilidade ainda deixa-se induzir a jogar fora as
armas por qualquer pequeno insucesso ou crítica severa. À sua natureza
corresponde concepção alegre de vida, superficial, muitas vezes até leviana.
Nada considera pelo lado trágico. O riso e o pranto alternam-se com facilidade.
Está sempre em contato com o próximo. É o homem de sociedade por excelência,
que não encontra dificuldade em frequentar os homens, sendo por isso bem-visto
e amado.
O sanguíneo encontra no caminho para a santidade, devido ao
temperamento, não poucos empecilhos. A índole inconstante, um pouco inclinada à
leviandade, causa-lhe dificuldades no progresso espiritual. Passa depressa
sobre o que é profundo. Considera aborrecido tudo quanto exige fadiga,
sacrifício, renúncia, mortificação.
Pensa antes de tudo em ocupar-se com os sentidos e
satisfazê-los. No trabalho procura a variedade, gosta de companhia e
divertimento. Contenta-se com meiasmedidas e superficialidade. Muito cheio de
si, é suscetível ao louvor, até à adulação, mas sente-se desmoralizado pela
censura e repreensão. Vaidoso e ávido de prazeres, gosta muito de comer e beber
bem, preocupa-se muito com o modo de trajar, com o lugar onde mora e todos os
outros gozos da vida. Deixa-se fascinar com facilidade pelo que é vistoso, é
presa fácil dos próprios humores e sentimentos, caprichos e inclinações. Por
sua natureza é vaidoso e volúvel, esquece-se de boa vontade qualquer
preocupação e corre o perigo de entregar-se aos prazeres vulgares. Quer
participar de tudo, estar presente em toda parte. Sendo de índole curiosa e
loquaz, para não dizer linguareiro, confia em todo o mundo; com dificuldade
guarda os próprios segredos. Revela tendência acentuada para a exaltação e os
prazeres eróticos. Brinca levianamente com os pecados mais graves, é muito
fácil fazê-lo mudar de rumo e corrompê-lo. É-lhe difícil o recolhimento, a
solidão no silêncio, na oração e mortificação. Tende mais para o ciúme, para a
ostentação vazia. Na loquacidade não dá muito valor à verdade. Também a
vanglória e a vileza podem induzi-lo à mentira. Exagera muita vez e de boa
vontade. Quando faz qualquer narração, tudo exagera. Tem opinião excelente de
si próprio. julga-se seriamente o mais inocente do mundo. A luta principal
deveria ser contra a paixão sensual. Tomando a sério essa luta e a estrada da
perfeição, encontrarão no próprio temperamento muita matéria para o domínio de
si mesmos, para a renúncia, sacrifício e combate incessante contra o próprio
eu.
O temperamento sanguíneo apresenta, apesar disso, também
vantagens do ponto de vista moral e religioso. Até a volubilidade do sanguíneo
pode tornar-se bênção, se for da mesma forma inconstante no pecado. Sua cólera
dura pouco, não conserva rancor; e o mesmo se aplica às relações com Deus. Uma
vez de acordo com Deus não ficará nunca muito tempo separado dele. Seu
sentimento conduz à reparação. Muitas vezes, naturalmente, também não passa de
fogo de palha. O arrependimento não é bastante profundo, às vezes permanece
somente na superfície. No entanto, é suscetível de correção e aceita com
facilidade as observações como, de sua parte, possui grande capacidade para
corrigir os outros sem que fiquem ressentidos. A cólera é superada com a mesma
rapidez com que se apodera dele. No trato com os homens mostra-se serviçal,
condescendente, gentil. É capaz de comover-se e adaptar-se. Compartilha das
dores e alegrias alheias. Sabe brincar e rir, consolar e animar. Além disso, é
franco e cândido, e por isso ninguém fica zangado com Ele. Se conseguir vencer
a antipatia e simpatia às vezes muito pronunciadas, que lhe dominam as relações
com o próximo, esforçando-se para elevar-se a amor purificado, espiritualizado,
sobrenatural, as relações com os homens tornar-se-ão fáceis e encontrará o modo
de tornar-se tudo para todos, em amor sereno e desinteressado.
Para a auto-educação deve criar princípios claros e
segui-los. Deve adquirir profundeza maior, pesquisar tudo inteiramente, aspirar
à verdadeira virtude e severidade da vida. Deve considerar-se feliz se
encontrar um amigo verdadeiro que lhe fique ao lado, que o livre de
precipitações inconsideradas e de todas as irreflexões. Deve trabalhar
constantemente para a consolidação do caráter. Deve temperar a vontade e
obrigar o intelecto a ocupar-se do que é sério. Desse modo conseguirá avançar
na perfeição; tornar-se-á bom, gentil, sempre amigo, trazendo para os outros
apenas alegrias.
O obreiro de temperamento sanguíneo com facilidade
tornar-se-á prático e conseguirá sucesso especialmente na direção espiritual da
juventude. O temperamento dos meninos e de muitos jovens, como sabemos, é
acentuadamente sanguíneo, justamente pela personalidade amável, radiante e
serena conquistará depressa o amor em seu ambiente, reanimará e alegrará não poucas
almas sofredoras e árduas. Deve evitar, porém, que a alegria se torne exagerada
e seja causa de desilusões para os que procuram nele profundeza espiritual,
pois de outra forma não o tomarão mais a sério, nem o considerarão como pessoa
digna de confiança. Deve aprender a sentir a vida espiritual alheia e não medir
todos os outros com a unidade da própria volubilidade, justamente o obreiro
sanguíneo deve submeter-se a autodisciplina severa, se não quiser perder a mais
delicada das atividades sacerdotais, a capacidade de dirigir almas.
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