quarta-feira, 22 de abril de 2020

TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO - A DOUTRINA DO HOMEM E DO PECADO / A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO


Têm surgido as mais variadas teorias acerca da origem do homem. De um modo geral, elas não conseguem anular a ligação do ser humano com a Terra. Entretanto, a única fonte realmente autorizada, acerca da origem da humanidade, é a Bíblia Sagrada. Os dois primeiros capítulos de Gênesis nos oferecem, de modo plausível e coerente, a verdadeira história das origens, inclusive a do homem.

A CRIAÇÃO DO HOMEM

Gn 1:26-27 A Bíblia nos informa sobre a criação do homem; uma forma simples que podemos perder a grandeza desse ato. Gn 2:7. A Bíblia detalha o que se passou em Gn l:26. A Bíblia utiliza muito essa forma acerca dos grandes acontecimentos, ou seja, informa primeiro de forma geral e depois descreve melhor, em mais detalhes, esse mesmo fato.

Espírito - Alma - Corpo

O homem é diferente e superior a todas as criaturas que Deus criou, Podemos afirmar isso, porque de nenhuma outra criatura a Bíblia informa que foi criada à imagem e semelhança de Deus. A Bíblia nos mostra que os anjos foram criados espíritos; foram feitos espíritos por criação, por composição. Deus fez os anjos espíritos. Hb 1: e 14; Sl 104:4

Corpo

"E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra": a que parte se refere? o corpo. Deus pegou do pó da terra e formou um corpo: mas esse corpo não era um homem, era um boneco de terra.

Espírito

Mas o versículo continua: "e soprou-lhe nas narinas o fôlego de vida". Se Deus não tivesse soprado, aquele boneco de terra estaria lá até hoje. Deus pegou aquele boneco e soprou algo de dentro Dele. Quando Deus soprou, aquele boneco recebeu vida, uma vida que saiu de dentro de Deus. A palavra fôlego no hebraico, é a mesma palavra usada para espírito

Alma

Vemos no final de Gn 2: 7; "e o homem se tomou alma vivente" Quando o Espírito de Deus tocou aquele boneco de terra, foi manifesta a vida no homem. O que manifesta a vida no homem, é a nossa alma, a nossa personalidade. Deus soprou nas narinas o Espírito que iria trazer vida na alma e no corpo. A vida no espírito vem direto de Deus Com o espírito conheço a Deus, com a minha alma conheço meu intelecto, as emoções, as vontades, e com o corpo conheço o mundo físico, material. Estudaremos em mais detalhes durante a matéria Teologia Sistemática do homem.

AS FACULDADES DISTINTAS DO HOMEM

As Faculdades do Corpo: São Cinco as faculdades, as quais se manifestam através do corpo: visão, audição, olfato, paladar e tato. Ainda que sejam distintas umas das outras, elas não atuam independentes do comando da alma. São denominadas de instintos naturais ou sentidos corporais, os quais recebem impressões do mundo exterior, transmitidas ao cérebro, através do sistema nervoso. E dai que partem as ordens para todas as partes do corpo. Os sentidos físicos obedecem às leis naturais que estão impressas no ser humano. São elas que regem as atividades do corpo.

As Faculdades da Alma: São três as faculdades principais ou qualidades da alma, pelas quais ela se manifesta: intelecto, sentimento e vontade.

O INTELECTO é a parte da alma que pensa, raciocina, decide, julga e conhece.

O SENTIMENTO faz o homem um ser emotivo. Ele não é uma máquina insensível, pois pode sentir todas as grandes emoções, como alegria, gozo, paz, prazer, tristeza, descontentamento, pesar e dor.

A VONTADE se expressa como resultante das influências do intelecto e dos sentimentos. Ela não age sozinha. Não há vontade livre ou independente. Ela obedece às forças emotivas e intelectuais da alma.

As Faculdades do Espírito Habitando no Homem: Duas faculdades principais se destacam com abrangência sobre outras qualidades importantes, as quais são : Fé e Consciência. Elas identificam o ser religioso do homem. Podemos chamar de natureza espiritual, da qual o ser humano é dotado especialmente para uma perfeita comunhão com Deus.

TENTAÇÃO E QUEDA DO HOMEM

A Terminologia Do Pecado

As palavras empregadas no V.T. para descreverem o pecado são tão notáveis como o registro de sua historia.

1. (Chata) Pecar, errar o alvo;

2. (Pasha) Transgredir. Significa primariamente ir além, rebelar-se, transgredir;

3. (Rasha) Ser ímpio basicamente significa ser solto ou mal ligado; ser ruidoso ou maldoso;

4. (Ra ‘a’) Ser mau. Com o significado de quebrar, danificar por ‘meios violentos, A palavra veio a significar aquilo que causa dano, dor ou tristeza e dai, o mal moral;

5. (Avah’) Ser perverso. O termo significa entortar ou torcer, daí perverter ou ser perverso. Perverter a lei de Deus ou andar pelo tortuoso em oposição ao, caminho reto de Deus, Gen.

Outros Termos

Ramah = Enganar; Ma´al = Transgredir; Pathah = Seduzir; Kasal e nabhel = Ser insensato; Tame ‘eba’ash = Ser impuro.

A PROPENSÃO PARA O PECADO

Propenso, mas não destinado. Como ser racional, o homem, em seu primeiro estado de inocência desconhecia o pecado. A possibilidade para o pecado surgiu com a tentação. De fato, ele não havia ainda desenvolvido o seu caráter moral. Esta propensão para a transgressão não significa que o homem, inevitavelmente, estivesse destinado a pecar. Esta tendência baseava-se unicamente em seu Livre-arbítrio. Ele poderia, conscientemente, manter-se fiel aos limites do conhecimento que o Criador lhe deu, ou, então, rebelar-se contra esta lei, e partir para o outro lado.

A QUEDA DO HOMEM, ATRAVÉS DO PECADO

A queda de Adão e Eva é apresentada, literalmente, na Bíblia, de modo explícito. Não foi um relato teórico ou figurativo, mas histórico. Por isso, entendemos que o pecado de nossos primeiros pais foi um ato involuntário de sua própria vontade e determinação. E claro que a tentação veio de fora, da parte de Satanás, que os instigou a desobedecer à ordem de Deus. Concluímos, pois, que a essência do primeiro pecado está na desobediência do homem à vontade divina e na realização de sua própria vontade. O seu pecado foi uma transgressão deliberada ao limite que Deus lhe havia colocado.

AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA

O Pecado afetou a vida física e psíquica do homem. Paulo escreveu aos Romanos: "Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte" (Rm 5.12). A morte física se tornou, então, a conseqüência natural da desobediência de Adão, e a espiritual se constituiu na eterna separação de Deus. O Criador foi enfático no Jardim: "Porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás"(Gn 2.17).

O pecado afetou a vida espiritual do homem. "O salário do pecado é a morte" (Rm 6.23). Adão não morreu no mesmo dia em que pecou, mas perdeu, a possibilidade de viver e também perdeu a imagem de Deus em sua vida. Isto implicou, no rompimento da comunhão com o Criador, e causou-lhe a "morte espiritual", no momento exato que pecou.

A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

A EXPIAÇÃO

"Sobre a vida que não vivi;

 Sobre a morte que não morri;

 Sobre a morte de outro, a vida de outro,

 Minha alma arrisco eternamente."

I. A EXPIAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

Por que gastar tempo e espaço para descrever os sacrifícios do Antigo Testamento?

Pela simples razão de que na palavra "sacrifício" temos a chave para o significado da morte de Cristo. Muitas teorias modernas têm surgido para explicar essa morte mas qualquer explicação que deixe de fora o elemento da expiação é antibíblica, porque nada é mais assinalado no Novo Testamento que o uso de termos sacrificais para expor a morte de Cristo.

Descrevê-lo como "o Cordeiro de Deus", dizer que o seu sangue limpa o pecado e compra a redenção, ensinar que ele morreu por nossos pecados — tudo isso é dizer que a morte de Jesus foi um verdadeiro sacrifício pelo pecado.

Visto que a morte de Jesus é descrita em linguagem que lembra os sacrifícios do Antigo Testamento, um conhecimento dos termos sacrificais ajuda grandemente na sua interpretação. Porque os sacrifícios (além de proverem um ritual de adoração para os israelitas) eram sinais ("tipos") proféticos que apontavam para o sacrifício perfeito; por conseguinte, um claro entendimento do sinal conduzirá a um melhor conhecimento daquele que foi sacrificado.

Esses sacrifícios não somente eram proféticos em relação a Cristo, mas também serviam para preparar o povo de Deus para a dispensação melhor que seria introduzida com a vinda de Cristo.

Quando os primeiros pregadores do Evangelho declararam que Jesus era o Cordeiro de Deus cujo sangue havia comprado a redenção dos pecados, eles não precisaram definir esses termos aos seus patrícios, porquanto estavam eles familiarizados com tais termos.

Nós, entretanto, que vivemos milhares de anos depois desses eventos, e que não fomos educados no ritual mosaico, necessitamos estudar a cartilha, por assim dizer, pela qual Israel aprendeu a soletrar a grande mensagem da redenção, mediante um sacrifício expiatório. Tal é a justificação para esta secção sobre a origem, história, natureza, e eficácia do sacrifício do Antigo Testamento.

1. A origem do sacrifício.

(a) Ordenado no céu.

A Expiação não foi um pensamento de última hora da parte de Deus. A queda do homem não o apanhou de surpresa, de modo a necessitar de rápidas providências para remediá-la.

Antes da criação do mundo, Deus, que conhece o fim desde o princípio, proveu um meio para a redenção do homem.

Como uma máquina é concebida na mente do inventor antes de ser construída, do mesmo modo a expiação estava na mente e no propósito de Deus, antes do seu cumprimento. Essa verdade é afirmada pelas Escrituras.

Jesus é descrito como o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. (Ap 13:8).

O Cordeiro Pascal era preordenado vários dias antes de ser sacrificado (Êx 12:3,6); assim também Cristo, o Cordeiro imaculado e incontaminado, foi "conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vos" (1 Pe 1:19,20).

Ele comprou para o homem a vida eterna, a qual Deus "prometeu antes dos tempos dos séculos" (Tt 1:2).

Que haveria um grupo de pessoas santificadas por esse sacrifício, foi decretado "antes da fundação do mundo" (Ef 1:4).

Pedro disse aos judeus que apesar de terem, na sua ignorância, crucificado a Cristo com mãos ímpias, sem dúvida haviam cumprido o plano eterno de Deus, pois Cristo foi "entregue pelo poder do conselho e presciência de Deus" (At 2:23).

É evidente, pois, que o Cristianismo não é uma religião nova que começou há mil e novecentos anos, mas, sim, a manifestação histórica de um propósito eterno.

(b) Instituído na terra.

Visto como centenas de anos haviam de passar antes da consumação do sacrifício, que deveria fazer o homem pecador?

Desde o princípio Deus ordenou uma instituição que prefigurasse o sacrifício e que fosse também um meio de graça para os arrependidos e crentes.

Referi-mo-nos ao sacrifício de animais, uma das mais antigas instituições humanas.

A primeira menção de um animal imolado ocorre no terceiro capítulo de Gênesis. Depois que pecaram, os nossos primeiros pais se tomaram conscientes da nudez física — o que era uma indicação exterior da nudez da consciência. Seus esforços em se cobrirem exteriormente com folhas e interiormente com desculpas, foram em vão. Lemos então que o Senhor Deus tomou peles de animais e os cobriu.

Apesar de o relato não declarar em palavras que tal providência fosse um sacrifício, sem dúvida, meditando no significado espiritual do ato , não se pode evitar a conclusão de que temos aqui uma revelação de Jeová , o Redentor, fazendo provisão para redimir o homem.

Vemos uma criatura inocente morrer para que o culpado seja coberto; esse é o propósito principal do sacrifício — uma cobertura divinamente provida para uma consciência culpada.

O primeiro livro da Bíblia descreve uma vitima inocente morrendo pelo culpado, e o último livro da Bíblia fala do Cordeiro sem mancha, imolado, para livrar os culpados de seus pecados (Ap 5:6-10).

2. A natureza do sacrifício.

Esta instituição original do sacrifício muito provavelmente explica por que a adoração expiatória tem sido praticada em todas as épocas e em todos os países.

Apesar de serem perversões do modelo original, os sacrifícios pagãos baseiam-se em duas idéias fundamentais: 

(coração e expiação) O homem reconhece que está debaixo do poder de uma deidade tendo certos direitos sobre ele. Como reconhecimento desses direitos, e como sinal de sua submissão, ele oferece uma dádiva ou um sacrifício. Freqüentemente, entretanto, tomando-se consciente de que o pecado perturba a relação, instintivamente ele reconhece que o mesmo Deus que o fez, tem o direito de destruí-lo, a não ser que algo seja feito para restaurar a relação interrompida.

Uma das crenças mais profundas e firmes da antiguidade era que a imolação de uma vitima e o derramamento de seu sangue afastariam a ira divina e assegurariam o favor de Deus. Mas como aprenderam isso?

Paulo nos diz que houve um tempo "quando conheciam a Deus" (Rm 1:21). Assim como o homem decaído leva as marcas da origem divina, também os sacrifícios pagãos levam algumas marcas de uma original revelação divina.

Depois da confusão de línguas (Gn 11:1-9) os descendentes de Noé espalharam-se por todas as partes, levando consigo o verdadeiro conhecimento de Deus, porquanto até então não havia registro de idolatria. O que ocorreu no transcurso do tempo é brevemente descrito em Rm 1:19-32.

As nações se afastaram da adoração pura de Deus e cedo perderam de vista sua gloriosa divindade. O resultado foi a cegueira espiritual. Em lugar de verem a Deus por meio dos corpos celestes, começaram a adorar esses corpos como deidades; em vez de verem o Criador por meio das árvores e dos animais, começaram a adorá-los como deuses; em vez de reconhecerem que o homem foi feito a imagem de Deus, começaram a fazer um deus da imagem do homem. Desse modo a cegueira espiritual conduziu à idolatria.

A idolatria não era meramente uma questão intelectual; a adoração da natureza, que é a base da maioria das religiões pagãs, conduziu o homem a deificar (fazer deuses de) suas próprias concupiscências, e o resultado foi a corrupção moral.

Todavia, apesar dessa perversão, a adoração do homem tinha leves indícios que indicavam ter havido um tempo quando ele entendia melhor as coisas.

[Através das idolatrias do Egito, Índia e China, descobre-se uma crença em um Deus verdadeiro, o Espírito eterno que fez todas as coisas.]

Quando a escuridão espiritual cobriu as nações, como a corrupção moral havia coberto o mundo antediluviano, Deus começou de novo com Abraão, assim como havia feito previamente com Noé.

O plano de Deus era fazer de Abraão o pai de uma nação que restauraria ao mundo a luz do conhecimento e a glória de Deus.

No Monte Sinai, Israel foi separado das nações, para ser uma nação santa. Para dirigi-los na vida de santidade, Deus lhes deu um código de leis que governaria sua vida moral, nacional e religiosa. Entre essas leis estavam a do sacrifício (Lv. cap. 1 a 7) as quais ensinavam à nação a maneira correta de aproximar-se de Deus e adorá-lo.

As nações tinham uma adoração pervertida; Deus restaurou em Israel a adoração pura. Os sacrifícios mosaicos eram meios pelos quais os israelitas rendiam ao seu Criador a primeira obrigação do homem, a saber, a adoração.

Tais sacrifícios eram oferecidos com o objetivo de alcançar comunhão com Deus e remover todos os obstáculos que impediam essa comunhão. Por exemplo, se o israelita pecasse e dessa maneira perturbasse a relação entre ele e Deus, traria uma oferta pelo pecado — o sacrifício de expiação. Ou, se tivesse ofendido ao seu próximo, traria uma oferenda pela culpa — o sacrifício de restituição. (Lv. 6:1-7.) Depois que, estava de bem com Deus e com os homens e desejava reconsagrar-se, oferecia uma oferta queimada (holocausto) — o sacrifício de adoração (Lv. cap. 1) Estava então pronto para desfrutar de uma feliz comunhão com Deus, que o havia perdoado e aceito; portanto, ele apresentava uma oferenda de adoração — sacrifício de comunhão. (Lv. cap. 3)

O propósito desses sacrifícios cruentos cumpre-se em Cristo, o sacrifício perfeito. Sua morte é descrita como morte pelo pecado, como ato de levar o pecado (2 Co 5:21)

Deus fez da alma de Cristo uma oferta pela culpa do pecado (tal é a tradução literal); ela pagou a dívida que não podíamos pagar, e apagou o passado que não podíamos desfazer.

Cristo é a nossa oferenda queimada (holocausto), porque sua morte é exposta como um ato de perfeito oferecimento próprio (Hb 5:15; Ef 5:). Ele é a nossa oferta de paz. porque ele mesmo descreveu sua morte como um meio para se participar (ter comunhão com) da vida divina. (vide Lv 7.15,20.)

3. A eficácia do sacrifício.

Até que ponto os sacrifícios do Antigo Testamento foram eficazes?

Asseguravam realmente perdão e pureza?

Que benefícios asseguravam para o ofertante?

Essas perguntas são de verdadeira importância, porque, comparando e contrastando os sacrifícios levíticos com o sacrifício de Cristo, poderemos compreender melhor a eficácia e finalidade do último. Este tema é tratado na carta aos Hebreus. O escritor dirige-se a um grupo de cristãos hebreus, os quais, desanimados pela perseguição, são tentados a voltar ao Judaísmo e aos sacrifícios do templo. As realidades nas quais eles criam são invisíveis, ao passo que o templo com seu ritual parece tangível e real. A fim de evitar que tomassem tal decisão, o escritor faz a comparação entre o Antigo e o Novo Concertos, sendo imperfeito e provisório o Antigo, mas perfeito e eterno o Novo. Voltar ao templo e ao seu sacerdócio e sacrifício seria desprezar a substância preferindo a sombra, o perfeito pela imperfeição. O argumento é o seguinte : o Antigo Concerto era bom, na medida de sua finalidade e para o seu determinado propósito ao qual foi constituído; mas o Novo Concerto é melhor.

(a) Os sacrifícios do Antigo Testamento eram bons.

Se não fossem, não teriam sido divinamente ordenados.

Eles eram bons no sentido de terem cumprido um determinado propósito incluído no plano divino, isto é, um meio de graça, para que aqueles do povo de Jeová que haviam pecado contra ele pudessem voltar ao estado de graça, serem reconciliados, e continuarem no gozo de comunhão com ele. Quando o israelita havia fielmente cumprido as condições, então podia descansar sobre a promessa;

"o sacerdote por ele fará expiação do seu pecado, e lhe ser perdoado" (Lv 4:26).

Quando um israelita esclarecido trazia oferta, estava ele cônscio de duas coisas :

Primeira, que o arrependimento em si não era o suficiente; era indispensável uma transação visível que indicasse o fato de ser removido o pecado. (Hb 9:22.)

Mas por outro lado, ele aprendia com os profetas que o ritual sem a correta disposição interna do coração também era mera formalidade sem valor.

O ato de sacrifício devia ser a expressão externa dos sacrifícios internos de louvor, oração, justiça e obediência — sacrifícios do coração quebrantado e contrito. (Vide Sl 26:6; 50:12-14; 4:5; 51:16; Pv 21:3; Am 5:21-24; Mq 6:6-8; Is 1:11-17)

"O sacrifício (oferta de sangue) dos ímpios é abominação ao Senhor", declarou Salomão (Pv 15:8).

Os escritores inspirados, em termos claros externaram o fato de que as "emoções ritualistas não acompanhadas de emoções de justiça eram devoções inaceitáveis".

[b) O sacrifício único do Novo Testamento é melhor.

Embora reconhecessem a divina ordenação de sacrifícios de animais, os israelitas esclarecidos certamente compreendiam que esses animais não podiam ser o meio perfeito de expiação.

1) Havia grande disparidade entre um animal irracional e irresponsável e o homem feito à imagem de Deus. Era evidente que o animal não constituía sacrifício inteligente e voluntário. Não havia nenhuma comunhão entre o ofertante e a vítima. Era evidente que o sacrifício do animal não podia comparar-se em valor à alma humana, nem tampouco exercer qualquer poder sobre o homem interior. 

Nada havia no sangue da criatura irracional que efetuasse a redenção espiritual da alma, a qual somente seria possível pela oferta duma vida humana perfeita.

O escritor inspirado externou o que certamente foi a conclusão à qual chegaram muitos crentes do Antigo Testamento, quando disse :

"Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados" (Hb 10:4).

Quando muito, os sacrifícios eram apenas meios temporários e imperfeitos de cobrir o pecado até que viesse uma redenção mais perfeita.

A lei levou o povo à convicção dos pecados (Rm 3:20), e os sacrifícios tornaram inoperantes esses pecados de forma que não podiam provocar a ira divina.

2) Os sacrifícios de animais são descritos como "ordenanças carnais", isto é, são ritos que removeram contaminações do corpo, e expiaram atos externos do pecado (Hb 9:10) mas em si mesmos nenhuma virtude espiritual possuíam

"... o sangue dos touros e bodes... santifica, quanto à purificação da carne" (Hb 9:13)

Isto é, fizeram expiação pelas contaminações que excluíam um israelita da comunhão na congregação de Israel. Por exemplo, se a pessoa se contaminasse fisicamente seria considerada imunda e cortada da congregação de Israel até que se purificasse e oferecesse sacrifício (Lv 5:1-6); ou se ofendesse materialmente seu próximo, estaria sob a condenação até que trouxesse uma oferta pelo pecado (Lv 6:1-7).

No primeiro caso o sacrifício purificava a contaminação carnal; no segundo, o sacrifício fazia expiação pelo ato externo mas não mudava o coração). O próprio Davi reconheceu que estava preso por uma depravação da qual os sacrifícios de animais não o podiam libertar (Sl 51:16; vide 1 Sm 3:14}; ele orou a Deus pedindo a renovação espiritual que sacrifícios não podiam proporcionar (Sl 51:6-10).

3) A repetição dos sacrifícios de animais denuncia a sua imperfeição; não podiam aperfeiçoar o adorador (Hb 10:1, 2), isto é, não podiam dar-lhe uma posição ou relação perfeita perante Deus, sobre a qual pudesse edificar a estrutura do seu caráter. Não podia experimentar de uma vez para sempre uma transformação espiritual que seria o inicio duma nova vida.

4) Os sacrifícios de animais eram oferecidos por sacerdotes imperfeitos; a imperfeição de seu ministério era indicada pelo fato de que não podiam entrar a qualquer hora no Santo dos Santos, e, portanto, não podiam conduzir o adorador diretamente à divina presença.

"Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto..." (Hb 9:8).

O sacerdote não dispunha de nenhum sacrifício pelo qual pudesse conduzir o povo a uma experiência espiritual com Deus, e dessa forma tomar o adorador perfeito "quanto à consciência" (Hb 9:9).

Ao ser interpelado o israelita espiritual com respeito às suas esperanças de redenção, ele diria, à luz do mesmo discernimento que o fez perceber a imperfeição dos sacrifícios de animais, que a solução definitiva era aguardada no futuro, e que a perfeita redenção estava em conexão, de alguma maneira, com a ordem perfeita que se inauguraria à vinda do Messias.

Em verdade, tal revelação foi concedida a Jeremias. Esse profeta havia desanimado de crer que o povo seria capaz de guardar a lei; seu pecado fora escrito com pena de ferro (Jr 17:1), seu coração era enganoso e mau em extremo (Jr 17:9). Não podiam mudar o coração como o etíope não podia mudar a cor de sua pele (Jr 19:23); tão calejados estavam e tão depravados eram, que os próprios sacrifícios não lhes podiam valer (Jr 6:20).

Na realidade, haviam-se esquecido do propósito primordial desses sacrifícios.

Do ponto de vista humano o povo não oferecia nenhuma esperança, mas Deus confortou a Jeremias com a promessa da vinda dum tempo quando, sob uma nova aliança, os corações do povo seriam transformados, quando haveria então uma perfeita remissão dos pecados (Jr 31:31-34).

"Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados."

Em Hb 10:17, 18 encontramos a inspirada interpretação dessas últimas palavras em que se concretizaria uma redenção perfeita mediante um sacrifício perfeito que dava a entender que os sacrifícios de animais haviam de desaparecer. (Vide Hb 10:6-10)

Por meio desse sacrifício o homem desfruta duma experiência "uma vez para sempre" que lhe dá uma aceitação perfeita perante Deus.

O que não se conseguiu pelos sacrifícios da lei obteve-se pelo perfeito sacrifício de Cristo.

"E assim o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus..." (Hb 10:11, 12).

5) Resta uma questão a ser considerada. É certo que havia pessoas verdadeiramente justificadas antes da obra expiatória de Cristo. Abraão foi justificado pela fé (Rm 4:23) e entrou no reino de Deus (Mt 8:11; Lc 16:22); Moisés foi glorificado (Lc 9:30, 31); e Enoque e Elias foram transladados. Sem dúvida houve muitas pessoas santas em Israel que alcançaram a estatura espiritual desses homens dignos. Sabendo que os sacrifícios de animais eram insuficientes, e que o único sacrifício perfeito era o de Cristo, em que base então foram salvos esses santos do Antigo Testamento?

Foram salvos por antecipação do futuro sacrifício realizado. A prova dessa verdade encontra-se em Hb 9:15 (vide também Rm 3:25), que ensina que a morte de Cristo era, em certo sentido, retroativa e retrospectiva; isto é, que tinha uma eficácia em relação ao passado.

Hb 9:15 sugere o seguinte pensamento:

A Antiga Aliança era impotente para prover uma redenção perfeita. Cristo completou essa aliança e inaugurou a Nova Aliança com a sua morte, a qual efetuou a "redenção das transgressões que estavam debaixo do primeiro testamento". Isso significa que Deus, ao justificar os crentes do Antigo Testamento, assim o fez em antecipação da obra de Cristo, "a crédito", por assim dizer; Cristo pagou o preço total na cruz e apagou a dívida. Deus deu aos santos do Antigo Testamento uma posição, a qual a Antiga Aliança não podia comprar, e assim o fez em vista duma aliança vindoura que podia efetuar.

Se perguntassem aos crentes do Antigo Testamento se durante a sua vida gozaram dos mesmos privilégios que aqueles que vivem sob o Novo Testamento, a resposta seria negativa. não havia nenhum dom permanente do Espírito Santo (Jo 7:39) que acompanhasse seu arrependimento e fé; não gozavam da plena verdade sobre a imortalidade revelada por Cristo

(2 Tm 1:10), e, de modo geral, eram limitados pelas imperfeições da dispensação na qual viviam. O melhor que se pode dizer é que apenas saborearam algo das boas coisas vindouras.

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