quarta-feira, 8 de abril de 2020

BIBLIOLOGIA - A SOBRENATURALIDADE DA BÍBLIA / A AUTORIDADE DA BÍBLIA; DISPENSAÇÕES, ALIANÇAS E COMPOSIÇÃO

BIBLIOLOGIA - A SOBRENATURALIDADE DA BÍBLIA

A Sobrenaturalidade Da Bíblia

A Bíblia é um fenômeno que só é explicável de um modo: é a Palavra de Deus. Ela não é o tipo de livro que o homem escreveria se pudesse, ou que poderia escrever se quisesse. Outros sistemas religiosos também têm seus desvios excêntricos do curso comum do procedimento humano, desvios esses que não são muitos, e são de pequena importância; e estes, realmente, são de se esperar, considerando que o homem está sempre determinado a crer em um Deus, ou deuses, quer sua crença seja baseada em fatos ou não. O estudante da verdade sempre será convidado a reconhecer contra reivindicações extra-bíblicas e intrabíblicas. Aquilo que é extrabíblico encampa todo o campo das religiões humanamente arquitetadas e especulações filosóficas. O que é intrabíblico encampa todos os cultos e declarações parciais da verdade divina que, embora professem edificar seus sistemas sobre as Escrituras, fazem-no, entretanto, através de falsas ênfases ou negligência da verdade, provocando uma confusão de doutrina que é parente ou talvez até mais desencaminhadora do que o erro sem mistura. Embora não seja possível apresentar uma lista exaustiva, enumeramos aqui alguns dos muitos aspectos sobrenaturais da Bíblia:

O Livro De Deus

Com este título queremos chamar a atenção para a reivindicação que a Bíblia apresenta de que é a mensagem de Deus ao homem e não uma mensagem do homem aos outros homens, muito menos uma mensagem do homem a Deus. Neste Livro, Deus é apresentado como o Criador e Senhor de tudo. É a revelação dele próprio, o registro do que Ele tem feito e vai fazer, e, ao mesmo tempo, a revelação do fato de que cada coisa está sujeita a Ele e que só descobre suas vantagens mais elevadas e seu destino quando se conforma à Sua vontade. Cada palavra da Bíblia é o resultado de sublimes declarações como esta: "Não há Deus como tu, em cima nos céus nem em baixo da terra" (1 Rs 8.23), e, novamente : "Tua, Senhor, é a grandeza, o poder, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, Senhor, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos" (1 Cr 29.11). "Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade" (Êx 34.6). "As suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras" (SI 145.9). Quem, entre a humanidade cega, seria o escritor de ficção capaz de criar os conceitos de um Deus triúno de toda a eternidade que se encontra nas páginas das Escrituras? Quem, entre os homens, planejou o peculiar e perfeito equilíbrio das partes de cada Pessoa da Divindade na redenção, ou o caráter divino na sua consistente e inalterável exibição de santidade infinita e amor infinito: os juízos divinos, a avaliação divina de todas as coisas, inclusive das hostes angélicas e dos espíritos do mal? Quem, entre os homens, já foi capaz de conceber a criação de tais noções interdependentes, além de expressá-Ias perfeitamente numa história em andamento, a qual, sendo acidental, afinal não passa de imitação: uma imitação hipócrita e dissimulada da verdade? Que absurda é a presunção de que o homem sozinho poderia escrever a Bíblia, se assim o quisesse! Mas se o homem não deu origem a Bíblia, Deus o fez, e por causa disso sua autoridade tem de ser reconhecida.

A Bíblia E O Monoteísmo

O fato de que Deus é supremo implica em que não há nenhum outro que se lhe compare; mas quase universalmente a humanidade tem praticado, com uma insistência que está longe de ser acidental, as abominações da idolatria. O povo judeu, de quem, considerando o lado humano, vieram as Escrituras, não ficaram imunes a esta tendência. Desde os dias do bezerro de ouro, através dos séculos seguintes, os israelitas estiveram sempre revertendo à idolatria e isto apesar da abundância de revelação e castigo. A história da igreja está manchada pelo culto de imagens esculpidas assimiladas do paganismo. Com que insistência o Novo Testamento adverte os crentes a fugir da idolatria e da adoração dos anjos! À luz destes fatos, como poderíamos supor que os homens (até mesmo Israel) pudessem, à parte da direção divina, dar origem a um tratado que, com os olhos apenas na glória de Deus, estigmatiza a idolatria como um dos primeiros e mais ofensivos crimes e insultos contra Deus? A Bíblia não é o tipo de livro que o homem escreveria se pudesse.

A Doutrina Da Trindade

Embora defendendo o monoteísmo sem modificação, a Bíblia apresenta o fato de que Deus subsiste em três Pessoas ou modos de ser. A doutrina bíblica da Trindade consiste em que Deus é um em essência, mas três Pessoas em identificação. Sem dúvida, este é um dos grandes mistérios. A doutrina vai além do alcance da compreensão humana, embora seja fundamental na revelação divina. Quando consideradas separadamente, as Pessoas individuais da Divindade apresentam as mesmas evidências indiscutíveis quanto à origem sobrenatural da Bíblia.

Deus Pai.

Vasto realmente é o campo das Escrituras que apresenta as atividades e as responsabilidades distintivas que são características da Primeira Pessoa. Dizemos que Ele é o Pai de toda a criação, o Pai do Filho eterno (a Segunda Pessoa) e o Pai de todo aquele que crê para a salvação de sua alma. Esta revelação estende-se a todos os detalhes do relacionamento paternal e inclui a dádiva do Filho para que a graça de Deus pudesse ser revelada. Nenhuma mente humana poderia dar origem ao conceito de Deus Pai como Ele é revelado na Bíblia.

Deus Filho.

O registro referente à Segunda Pessoa, que, de acordo com a Palavra de Deus, é o Filho desde a eternidade, que sempre é a manifestação do Pai e que, embora esteja agora sujeito ao Pai, é o Criador das coisas materiais, o Redentor e Juiz final de toda a humanidade, oferece as evidências mais extensas e mais imensuráveis da origem divina das Escrituras. A Pessoa e a obra do Filho de Deus com Sua humilhação e glória é o tema dominante da Bíblia; mas o Filho, em troca, dedica-se à glória do Pai. As perfeições do Filho não podem nunca ser comparadas ao mais sábio dos homens, nem compreendidas por ele. Se, afinal, esta revelação ilimitada do Filho não passa de ficção, não seria um desafio razoável (mesmo para a mente não regenerada) que este suposto autor fosse descoberto e, com base no truísmo de que a coisa criada não pode ser maior do que o seu criador fosse adorado e reverenciado acima de tudo o que é chamado de Deus?

Deus Espírito.

O Espírito Santo que é apresentado na revelação como igual em cada particular ao Pai e ao Filho, é, não obstante e para a promoção dos atuais empreendimentos divinos, retratado como sujeito a ambos, o Pai e o Filho. Do mesmo modo, Seu serviço é considerado como complemento e administração da obra do Pai e o Filho.

Assim o Deus triúno revelou-se ao homem em termos que o homem, mesmo quando ajudado pelo Espírito, só pode compreender debilmente; e que inocente é a intimação de que estas revelações são o produto dos homens que sem exceção desde os dias de Adão são depravados, degenerados e incapazes de receber ou conhecer as coisas de Deus à parte da iluminação divina! Tal conceito propõe nada menos que a presunção de que o homem deu origem à idéia de Deus, e que o Criador é um produto da criatura.

A Continuidade Da Bíblia

A continuidade da mensagem da Bíblia é absoluta em sua inteireza. Ela se mantém coesa por sua seqüência histórica, tipos e antítipos, profecias e seu cumprimento e por antecipação, apresentação, realização e exaltação da Pessoa mais perfeita que jamais andou sobre a terra e cujas glórias são o resplendor do céu. Mas a perfeição desta continuidade se mantém contra o que para o homem seriam impedimentos insuperáveis; pois a Bíblia é uma coleção de sessenta e seis livros que foram escritos por mais de quarenta diferentes autores: reis, camponeses, filósofos, pescadores, médicos, políticos, mestres, poetas e lavradores, que viveram suas vidas em diversos países e não experimentaram nenhum contato ou concordância entre si, e durante um período de não menos que mil e seiscentos anos de história humana. Por causa destes obstáculos de continuidade, a Bíblia seria naturalmente a coleção mais heterogênea, mais desigual, mais desarmônico e contraditória de opiniões humanas que o mundo já viu; mas, pelo contrário, ela é exatamente o que pretende ser, isto é, uma narrativa homogênea, ininterrupta, harmoniosa e ordeira de toda a história do relacionamento de Deus com o homem.

Este livro contendo muitos livros não recebeu a impressão pessoal de muitas mentes. Sua harmonia não é a de trombetas tocadas em uníssono, mas, antes, uma orquestração em que, embora absolutamente afinada distingue-se perfeitamente os instrumentos. Em que base esta continuidade plenária poderia ser explicada se afirmássemos que a Bíblia não é a Palavra de Deus?

Profecia E Seu Cumprimento

Um grandíssimo número de profecias foram feitas pelos escritores do Antigo Testamento relativamente à vinda do Messias e foram centenas, algumas vezes milhares de anos antes da vinda de Cristo. Essas predições que no propósito divino deveriam se cumprir no primeiro advento de Cristo cumpriram-se literalmente nessa ocasião. Muitas mais permanecem sem cumprimento até que Ele volte e, temos motivos para crer, elas se cumprirão com a mesma precisão. Bastariam duas previsões feitas e cumpridas, como as do nascimento virginal de Cristo que aconteceu em Belém de Judá, e o caráter sobrenatural das Escrituras estaria comprovado pela história que registra sua realização; mas quando estas predições chegam a milhares relativamente às Pessoas da Divindade, aos anjos, às nações, às famílias, aos indivíduos e aos destinos, sendo cada uma delas executada exatamente no tempo e lugar prescritos, a evidência é incontestável quanto ao caráter divino das Escrituras.

Tipos Com Seus Antítipos

Um tipo é um esboço divino que descreve um antítipo. E a ilustração de uma verdade divina feita pela própria mão de Deus. O tipo e o antítipo estão relacionados entre si pelo fato de que a verdade ou o princípio conectivo encontra-se incorporado em cada um deles. Não é prerrogativa do tipo estabelecer a verdade de uma doutrina; antes, ele realça a força da verdade apresentada no antítipo. Por outro lado, o antítipo serve para destacar o tipo no seu lugar comum, colocando-o naquilo que é transcendental, investindo-o com as riquezas e os tesouros até então não revelados. O tipo do Cordeiro Pascal transborda da graça redentora de Cristo com riqueza de significado, enquanto a própria redenção investe o tipo do Cordeiro Pascal de todo o seu maravilhoso significado. A continuidade das Escrituras, a profecia e o seu cumprimento, e os tipos com os seus antítipos, são os três fatores principais que não só servem para apresentar a unidade dos dois Testamentos, como fios entretecidos que passam de um Testamento para outro, ligando-os em um único material, mas também servem para traçar o desenho que pelo seu maravilhoso caráter glorifica o Desenhista. Assim, a tipologia conforme se encontra na Bíblia demonstra que a Bíblia é um livro que o homem não poderia escrever se quisesse. É divina em sua origem como é sobrenatural em seu caráter.

Revelação E Razão

A Teologia Sistemática extrai o seu material tanto da revelação quanto da razão, embora a porção fornecida pela razão seja incerta quanto à autoridade e, quando muito, restrita a um ponto insignificante. A razão, como aqui está sendo considerada, indica as faculdades intelectuais e morais do homem exercitadas na busca da verdade e à parte de ajuda sobrenatural. Desde que Adão andou e falou com Deus (revelação essa que ele sem dúvida comunicou à sua posteridade), nenhum homem na Terra poderia ficar totalmente alheio à revelação divina. Dentro dos limites circunscritos daquilo que é humano, a razão é predominante; mas, quando comparada com a revelação divina, ela é falível e limitada.

Revelação

Entendemos que revelação é a manifestação que Deus faz de Si mesmo e a compreensão, parcial embora, da mesma manifestação por parte dos homens. Este modo de definir a revelação acentua que o que se revela é o próprio Deus, e não apenas alguma coisa a respeito de Deus. Na revelação, Deus faz-se conhecido dos homens na sua personalidade e nas suas relações. Revelar é informar, e isto é justamente o que Deus há feito. “Fez conhecidos os seus caminhos a Moisés, e os seus feitos aos filhos de Israel” (Salmos 103.7). Deus informou ao homem acerca de Sua Pessoa e das Suas relações com a criação. Não nos esqueçamos de que o centro de toda a revelação é a pessoa de Deus. Jesus frisou bem esta verdade quando disse que veio revelar o Pai: “Quem me vê a mim, vê o Pai”.

A revelação não tem por fim simplesmente informar o homem acerca de Deus, mas também descobrir Deus ao homem. Deus quer que o homem o conheça; daí a razão de ele se revelar. “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde se não ouçam as suas vozes. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até o fim do mundo” (Sl 19.1-4).

Inspiração

Por inspiração entendemos a operação pela qual Deus garantiu o conteúdo da Bíblia como autêntica expressão de sua revelação. Agora perguntamos: Que referência encontramos na própria Bíblia a essa inspiração divina? O texto mais explícito é aquele que se encontra em 2 Tm 3.16: "Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”. O termo grego usado no original é theopneostos, composto de duas palavras gregas: theós. "Deus", e pnéo, "soprar", "respirar".

Este termo grego é que foi traduzido por inspirado por Deus. A Escritura inspirada por Deus é a que Timóteo havia aprendido desde a sua meninice e que no versículo anterior se menciona como "Sagradas Escrituras”. Este termo grego não se usa em outra parte do Novo Testamento, mas uma idéia similar encontra-se em 2 Pe 1.21: "Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo". No versículo anterior, fala-se de Deus como o sujeito da inspiração; no segundo, em 2 Pe, fala-se mais especificamente do Espírito Santo nessa mesma função. E, embora aqui o termo grego seja o particípio pheromenos, de um verbo que, entre outros significados, tem o de "ocasionar", "causar", "trabalhar", os dois versículos têm o mesmo sentido. Vale a pena mencionar o comentário que se encontra na obra de Bonnet e Schroeder sobre 2 Tm 3.16.

O apóstolo Paulo se contenta em expressar claramente este grande fato que é a base e a garantia de todas as revelações divinas. Mas não expõe nem justifica nenhum sistema humano sobre o modo, a natureza, a extensão da inspiração, tampouco sobre a parte de Deus e do homem na composição das Escrituras. A exegese não pode ir mais longe; tudo mais pertence à dogmática (BONNET, 1968, p. 707).

Assim é, mas, por amor à verdade, devemos dizer que para o apóstolo Paulo seu Antigo Testamento era a Palavra de Deus, sem nenhuma outra consideração, e deve-se ter isto em mente quando se quer refletir sentenciosamente sobre a natureza, extensão ou modo da inspiração.

Teoria Evangélica Da Inspiração

Com este título queremos dizer que nos ocuparemos do conceito de revelação tal como este é em geral entendido nos meios evangélicos, sem que isto signifique, entretanto, um acordo total na terminologia e na exposição do assunto. Lacy, por exemplo, afirma "que a inspiração como Escrituras foi sobrenatural, dinâmica e plena”. Grau, por sua vez, sustenta que positivamente a inspiração bíblica é orgânica, plena e verbal. Mas, apesar das diferenças, existe, de modo geral, acordo sobre este tema, como destacamos a seguir

O Espírito Santo trabalhou nos escritores de acordo com a sua maneira de ser, aproveitando a peculiaridade pessoal e cultural. Iluminou suas mentes, guiou sua memória e controlou a influência do pecado e do erro para que seu trabalho não falhasse. Não obstante, deixou-os expressar-se à sua maneira em tudo, segundo o seu estilo e vocabulário e de acordo com o seu tempo. Não se pode negar que haja, nos diferentes autores, diferenças de estilo e peculiaridades que os caracterizam. Não há erros nem defeitos, mas as características são percebidas na expressão de cada autor.

A personalidade do escritor não foi anulada. Muitos dos livros da Bíblia contêm passagens que revelam que a preparação prévia e as características pessoais do autor foram utilizadas pelo Espírito Santo. Não podemos discordar dessas afirmações, visto que há evidências nas Escrituras de que isto se deu desta forma. É claro, por exemplo, que o estilo literário de Isaías difere do de Amós; o estilo do Evangelho de Lucas difere do de Marcos; e a epístola de Tiago difere sob este aspecto da de João. Aliás, no mesmo autor, em circunstâncias diferentes, encontramos também estilos diferentes. Para verificar isto, basta comparar Romanos com Filipenses.

Essa combinação do divino com o humano não é algo que apareça apenas na composição das Escrituras, afirmam os teólogos; vemo-Ia, igualmente, na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo : verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Assim, as Escrituras são obra de Deus, sem deixar de mostrar, por ele mesmo, a particularidade do instrumento humano.

A posição adotada pelos teólogos protestantes mais antigos e importantes é que, seja qual for a definição que se dê à inspiração, todo o cânon atual, como o temos, participa dela. O sentido original grego da expressão "toda escritura", encontrada em 2 Tm 3.16, refere-se a cada um dos escritos sagrados. [...] E esta Sagrada Escritura, em cada uma de suas partes e livros, é inspirada. Essa inspiração para a totalidade do conteúdo da Bíblia é o que o autor denomina "inspiração plena". Este conceito de que a inspiração divina protege a totalidade dos livros bíblicos de erros não nos deve levar a pensar, disse Hammond, que não haja diferença alguma nos propósitos da inspiração. Trata-se, em verdade, de entender que, enquanto todas as Escrituras são plenamente autorizadas por Deus, diferem no tocante à aplicação e ao propósito para o qual foram inspiradas. Diferem sobretudo quanto à aplicação essencial, mais do que em relação ao grau da inspiração. O estudioso deve manter-se prevenido contra uma observação como esta: "O Evangelho de João é mais inspirado do que Eclesiastes".

A Iluminação

É aquela influência ou ministério do Espírito Santo que capacita todos os que estão num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras. Acerca de Cristo se escreveu que Ele "abriu" o entendimento deles em relação às Escrituras (Lc 24.32-45). O próprio Cristo prometeu que, quando o Espírito viesse, Ele "guiaria" em toda a verdade.

Finalmente, tanto a revelação como a inspiração pode ser diferenciada da iluminação em que a última é prometida a todos os crentes; que ela admite graus, uma vez que aumenta ou diminui; que não depende de escolha soberana, antes, de ajustamento pessoal ao Espírito de Deus; e sem ela ninguém nunca seria capaz de aceitar a salvação pessoal (1 Co 2.14), ou o conhecimento da verdade revelada de Deus.

A AUTORIDADE DA BÍBLIA; DISPENSAÇÕES, ALIANÇAS E COMPOSIÇÃO


A Autoridade Da Bíblia

Podemos dizer que no passado Deus se revelou aos homens; inspirou os homens para que tenhamos hoje um testemunho digno de fé de sua revelação. No passado, Deus dirigiu o processo pelo qual sua revelação chegou até nós sob a forma de uma bíblia. É evidente que de tudo isto surge claramente a autoridade da Bíblia como Palavra de Deus nos assuntos de fé e prática. Ou, como diz o pacto de Lausanne: "Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e a autoridade de ambos os Testamentos, o Antigo e o Novo, em sua integridade, como a única Palavra de Deus escrita, e a única e infalível regra de fé e prática".

A obra de Hammond trata este assunto recordando que há três fontes possíveis da autoridade em assuntos de religião: a razão, a igreja e a Bíblia. Estas três fontes têm de ser necessariamente incompatíveis, mas, como exceção, às vezes se combinam. Da razão, "em alguns casos a manipulação racionalista de certos aspectos da fé tem gravemente desviado os homens" (HAMMOND, 1978, p. 51) da igreja, afirma que "tem um lugar de autoridade, mas só em subordinação à Palavra de Deus" (HAMMOND, 1978, p. 52) da Bíblia, conclui que "não há palavras suficientes para destacar a importância de acatar, bem longe de toda dúvida, a autoridade insubstituível das Escrituras Sagradas em tudo o que se refere à religião, quer se trate da doutrina, quer da prática" (HAMMOND, 1978, p. 53). Nossa última palavra sobre este assunto é uma citação de Donald G. Bloesch. Esse autor afirmou que a Faculdade e Seminário Teológico Nacional Ensino à Distância autoridade final não é da Escritura em si, mas do Deus vivo que, por meio de Jesus Cristo, é quem nos fala; e afirma:

Devemos, sem dúvida, continuar dizendo que a autoridade absoluta de fé, o próprio Cristo vivo, identificou-se de tal maneira com o testemunho histórico concernente à sua auto-revelação, mais precisamente as Escrituras Sagradas, que estas participam, necessariamente, da autoridade de seu Senhor. A Bíblia deve ser distinguida de seu fundamento e de sua meta, mas não pode separar-se deles. E por isso que Forsyth afirmou: “A Bíblia não é meramente um registro da revelação; é parte da revelação. Não é uma pedreira de dados para o historiador; é uma fonte de vida para a alma”. (BLOESCH, 1978, p. 63).

A Interpretação Da Bíblia

Tem-se dito que a Bíblia necessita, pela dificuldade de entender o seu conteúdo, de uma interpretação infalível que evite que o estudioso não especializado incorra em erro em sua interpretação. A posição que, desde o tempo da Reforma, os evangélicos têm sustentado é a de que o cristão é um juiz idôneo para julgar o conteúdo da revelação bíblica. Disse Hammond: "Sustentamos que as Escrituras são capazes de oferecer seu significado correto em todas as idades e circunstâncias em que se encontre o homem, sempre que este esteja disposto a ser ensinado pelo Espírito Santo e a obedecer-Ihe" (BLOESCH, 1978, p. 46). Não podemos colocar uma instância superior à clara mensagem da Bíblia, seja esta um teólogo, uma igreja ou uma denominação. Isto não significa que não façamos uso de todas as informações possíveis à nossa disposição para não nos enganarmos ao interpretar a Palavra de Deus. Um princípio de saudável hermenêutica, sem entrar nas complicadas considerações que a teologia atual tem a respeito deste tema, é que um texto se esclarece por seu contexto, seja ele imediato ou mediato. E o contexto mediato, ou distante, de um texto, é, em última análise, a própria Bíblia, o conteúdo total da revelação. Em outras palavras, a Bíblia contém em si a informação necessária para interpretar de forma correta qualquer passagem que ofereça dificuldade. E conquanto usemos a ajuda humana para entender o conteúdo da Bíblia, não nos esqueçamos de que, em última instância, é a Bíblia que julga tal ajuda.

DISPENSAÇÕES, ALIANÇAS E COMPOSIÇÃO

Dispensações E Alianças

O que é uma Dispensação? Como medida de tempo, uma dispensação é um período que se identifica pelo seu relacionamento a algum propósito particular de Deus, um propósito a ser realizado dentro desse período. As primeiras dispensações, tão remotas do presente, não estão muito claramente definidas como as últimas dispensações. Por causa disto, os expositores da Bíblia nem sempre concordam quanto aos aspectos preciosos dos períodos mais remotos. Portanto, uma Dispensação é um período de tempo no qual o homem é testado na sua obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus. O propósito de cada dispensação, portanto, é colocar o homem sob uma específica regra de conduta, mas tal mordomia não é uma condição de salvação. Em cada uma das dispensações passadas, o homem não regenerado fracassou, e ele tem fracassado nesta presente dispensação e fracassará no futuro. Mas a salvação tem sido e continuará sendo dispensada pela graça de Deus mediante a fé. Algumas das divisões dispensacionais – sete - óbvias são as seguintes:

a) Inocência (Gn 1.28). b) Consciência ou Responsabilidade Moral (Gn 3.7).

c) Governo Humano (Gn 815). d) Promessa (Gn 12.1). e) Lei (Êx 19.1).

f) Igreja (At 2.1). g) Reino (Ap 20.4).

Uma aliança é um pronunciamento soberano de Deus através do qual Ele estabelece um relacionamento de responsabilidade:

a) Entre Ele mesmo e um indivíduo (por exemplo, com Adão na Aliança Edênica, Gn 2.16 e segs.).

b) Entre Ele mesmo e a humanidade em geral (por exemplo, na promessa da Aliança Noética de nunca mais destruir toda a carne com um dilúvio, Gn. 9.9 e segs.).

c) Entre Ele mesmo e uma nação (por exemplo, com Israel na Aliança Mosaica, Êx 19.3 e segs.).

d) Entre Ele mesmo e uma família humana específica (por exemplo, com a casa de Davi na promessa de uma linhagem real perpetuada na Aliança Davídica, 2 Sm 7.16 e segs.).

São oito as principais alianças de significado especial que explicam o resultado dos propósitos de Deus para com o homem. São:

a) Edênica (Gn 2.16).      b) Adâmica (Gn 3.15)     c) Noética (Gn 9.16)

d) Abraâmica (Gn 12.2)  e) Mosaica (Êx 19.5)       f) Palestiniana (Dt 30.3)

g) Davídica (2 Sm 7.16)   h) Nova Aliança (Hb 8.8)

A Primeira Dispensação: Inocência, Gn 1.28

O homem foi criado em inocência, colocado em um ambiente perfeito, sujeito a uma prova simples, e advertido das conseqüências da desobediência. Ele não foi compelido a pecar, mas, tentado por Satanás, preferiu desobedecer a Deus. A mulher foi enganada; o homem transgrediu deliberadamente (1 Tm 2.14). A mordomia da Inocência terminou na sentença da expulsão do Éden (Gn 3.24).

A Primeira Aliança: Edênica

Exigia as seguintes responsabilidades da parte de Adão :

a) Propagar a raça.

b) Sujeitar a terra ao homem.

c) Dominar a criação animal.

d) Cuidar do jardim e comer os seus frutos e ervas.

e) Abster-se de comer de um único fruto, da árvore do conhecimento do bem e do mal, com a penalidade da morte para a desobediência.

A Segunda Dispensação: Consciência (Responsabilidade Moral), Gn 3.7

O homem pecou (Gn 3.6-7), a primeira promessa de redenção estava para ser feita (Gn 3.15), e nossos primeiros pais seriam expulsos do Éden (Gn 3.22-24). O pecado do homem foi uma rebeldia contra uma ordem específica de Deus (Gn 2.16-17) e marcou uma transição do conhecimento teórico do bem e do mal para o conhecimento experimental (Gn 3.5-7,22). O homem pecou entrando no reino da experiência moral pela porta errada, quando poderia tê-lo feito fazendo o que era certo. Assim o homem tornou-se igual a Deus, através de uma experiência pessoal da diferença entre o bem e o mal, mas também diferente de Deus, passando por esta experiência, no escolher o mal e não o bem. Assim ele foi colocado por Deus sob a mordomia da responsabilidade moral, ficando responsável de praticar todo o bem conhecido, abster-se de todo o mal conhecido e aproximar-se de Deus por meio do sacrifício sangrento aqui instituído, em perspectiva à obra consumada de Cristo. O resultado é apresentado na Aliança Adâmica (Gn 3.14-21). O homem falhou no teste que lhe foi apresentado nesta dispensação (Gn 6.5), como nas outras. Embora, como teste específico, este período de tempo tenha terminado com o dilúvio, o homem continuou em sua responsabilidade moral conforme Deus acrescentou mais revelação referente a Si mesmo e à Sua vontade nos períodos subseqüentes.

Segunda Aliança: Adâmica, Gn 3.15

Condiciona a vida do homem caído - condiciona o que tem de permanecer até que, na dispensação do reino, "a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8.21). Os elementos da aliança são:

a) A serpente, instrumento de Satanás, é amaldiçoada (Gn 3.14; Rm 16.20; 2 Co 11.3,14; Ap 12.9) e transforma-se na advertência viva de Deus na natureza dos efeitos do pecado - da mais linda e mais sutil das criaturas, em um réptil repugnante.

b) A primeira promessa de um Redentor (v. 15). Aqui começa "o caminho da Semente": Abel, Sete, Noé (Gn 6.8-10), Sem (Gn 9.26-27), Abraão (Gn 12.1- 4), Isaque (Gn 17.19-21), Jacó (Gn 28.10-14), Judá (Gn 49.10), Davi (2Sm 7.5-17), Cristo - Emanuel (Is 7.10-14; Mt 1.1,20-23; Jo 12.31-33; 1 Jo 3.8).

c) A condição da mulher mudou (v. 16) em três aspectos: a) concepção multiplicada; b) sofrimento (dores) na maternidade; c) o senhorio do homem (Gn 1.26-27). A desordem do pecado faz necessário que haja um senhorio; ele é concedido ao homem (Ef 5.22-25; 1Co 11.7-9; 1Tm 2.11-14).

d) O trabalho leve do Éden (Gn 2.15) mudou para trabalho cansativo (3.18-19), por causa da maldição lançada sobre a terra (3.17).

e) O inevitável sofrimento da vida (v.17).

f) A brevidade da vida e a certeza trágica da morte física de Adão e de todos os seus descendentes (v. 19; Rm 5.12-21).

A Terceira Dispensação: Governo Humano, Gn 8.15

Esta dispensação começou quando Noé e sua família saíram da arca. Quando Noé entrou numa nova situação, Deus (na Aliança Noética) sujeitou a humanidade a um novo teste. Antes disso, nenhum homem tinha o direito de tirar a vida de outro homem (Gn 4.10-11,14-15,23-24). A mais alta função do governo é proteger a vida humana, da qual deriva a responsabilidade da pena capital. O homem não deve vingar o homicídio individualmente, mas, na qualidade de grupo corporativo, ele deve salvaguardar a santidade da vida humana como um dom de Deus, que não pode ser exterminado, exceto quando Deus o permite. "Os poderes constituídos foram ordenados por Deus", e resistir-lhes é resistir a Deus. Enquanto, na dispensação precedente, as restrições feitas ao homem eram internas (Gn 6.3), o Espírito de Deus operando através da responsabilidade moral, agora uma nova restrição externa foi acrescentada, isto é, o poder do governo civil.

O homem fracassou em governar com justiça. Este fracasso foi visto de um modo geral, na confusão de Babel (Gn 11.9). Como uma prova específica da obediência, a dispensação do Governo Humano foi seguida, pela da Promessa, quando Deus chamou Abrão como Seu instrumento de bênção para a humanidade. Contudo, a responsabilidade do homem pelo governo não acabou, mas continuará até que Cristo estabeleça o Seu reino.

A Terceira Aliança: Noética, Gn 9.16

Reafirma as condições de vida do homem caído conforme anunciadas pela Aliança Adâmica, e institui o princípio do governo humano para reprimir a expansão do pecado, uma vez que a ameaça do juízo divino na forma de outro dilúvio foi removida. Os elementos da aliança são:

a) O homem torna-se responsável pela proteção da santidade da vida humana, através de um governo ordeiro sobre o homem individual, até à pena capital (Gn 9.5-6; Rm 13.1-7).

b) Nenhuma maldição adicional é enunciada sobre a terra, nem o homem deve temer outro dilúvio universal (Gn 8.21; 9.11-16).

c) A ordem da natureza é confirmada (Gn 8.22; 9.2).

d) A carne dos animais é acrescentada à dieta do homem (Gn 9.3-4). Presumese que o homem fosse vegetariano antes do dilúvio.

e) Uma declaração profética é enunciada sobre os descendentes de Canaã, um dos filhos de Cão, de que seriam servos dos seus irmãos (Gn 9.25-26).

f) Faz-se uma declaração profética de que Sem terá um relacionamento peculiar com o SENHOR (Gn 9.26-27). Toda a revelação divina é através dos homens semitas, e Cristo, segundo a carne, descende de Sem.

g) Uma declaração profética é enunciada de que de Jafé virão os grandes povos (Gn. 9: 27).

A Quarta Dispensação: A Promessa, Gn 12.1

Esta dispensação estendeu-se da chamada de Abrão até a concessão da lei no Sinai (Êx 9.3ss) Sua mordomia baseava-se sobre a aliança de Deus com Abrão, citada pela primeira vez aqui, Gn 12.1-3, e confirmada e ampliada em Gn 13.14-17; 15.1-7; 17.1-8,15-19; 22.16-18; 26.2-5,24; 28.13-15; 31.13; 35.9-12.

A Quarta Aliança: Abraâmica, Gn 12.2

Conforme constituída (Gn 12.1-4) e confirmada (Gn 13.14-17; 15.1-7, 18-21; 17.1-8) têm três aspectos:

a) A promessa de uma grande nação: "De ti farei uma grande nação", Gn 12.2.

b) Várias promessas pessoais foram dadas a Abraão: Gn 17.16; 13.14-15,17; 15.8; 24.34-35; 15.6; Jo 8.56.

c) Promessas aos gentios, Gn 12.3.

A Aliança Abraâmica revela o propósito soberano de Deus em cumprir, através de Abraão, o Seu programa para Israel, providenciando em Cristo o Salvador para todos aqueles que crêem. O cumprimento final repousa sobre a promessa divina e o poder de Deus mais do que sobre a fidelidade humana.


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