sábado, 27 de junho de 2020

HISTÓRIA DA IGREJA II


Surgimento da designação “protestantes”.

Fernando, irmão do imperador Carlos V, decretou submissão de Lutero à Dieta de Worms, baixada pelo Papa Leão X. Diante da decisão do Conselho de Spires no sentido de que Lutero se submetesse à Dieta de Worms, ele e os nobres que o acompanhavam emitiram umprotesto. Isto se deu em 1529. Assim surgiu a alcunha de “protestantes” para os que divergiam da Igreja Romana.

Ulrico Zwínglio.

Na mesma época, Ulrico Zwínglio (1484-1531), clérigo e seguidor das ideias de Erasmo de Roterdã (1466-1536), foi o mais importante reformador na Suíça Alemã e um dos mais proeminentes dentre todos os reformadores protestantes, figurando ao lado de Lutero e Calvino. Converteu-se em 1519 ao ler escritos do reformador alemão.

Zwínglio contou com o apoio teológico de João Oecolampade (1482-1531).

Em 1529, no Colóquio de Marburgo, Zwínglio e Lutero concordaram em 14 temas, vindo a discordar veementemente quanto à presença física de Cristo na Ceia do SENHOR. Zwínglio refutou completamente a doutrina católica da transubstanciação, ao passo que Lutero a modificou e renomeou como “doutrina da consubstanciação”.

João Calvino.

João Calvino (1509-1564), reformador, jurista, filósofo e teólogo francês, autor de vasta obra, que inclui as Institutas da Religião Cristã (1536), influenciou diretamente a Reforma na França e na Suíça Francesa, e, já em meados do Séc. XVI, teve seguidores também nos Países Baixos e na Escócia. Sua contribuição verificou-se tanto em termos teológicos como políticos e sociais, tendo sido decisiva a sua liderança em Genebra.

A relevância de Calvino é tão grande que de seu trabalho se originaram doutrinas e igrejas “calvinistas”, por terem seu credo fundado na interpretação de Calvino sobre as Escrituras. Diferentemente de Lutero, Calvino, de inclinação profundamente intelectual, deixou uma influência mais acentuada no campo da teologia sistemática.

Mais tarde, nos Países Baixos, o teólogo holandês Jacó Armínio (1560-1609) levantou objeções às doutrinas calvinistas da graça irresistível e da perseverança dos santos, mas, no Sínodo de Dort (1618-1619), as ideias de Calvino prevaleceram. No Séc. XVIII, o pensamento de Armínio influenciou o movimento metodista.

Reforma Magisterial e Reforma Radical.

Neste passo, cabe distinguir Reforma Magisterial e Reforma Radical (Terceira Reforma).

Os reformadores magisteriais anuíam com a participação dos príncipes na expansão da Reforma (Lutero, Calvino e Zwínglio são os principais dessa categoria).

Os reformadores radicais, por sua vez, eram contrários a qualquer associação entre Igreja e Estado, e tinham uma postura subversiva. A maioria deles identificava-se com Zwínglio, embora com ressalvas.

Entre os reformadores radicais estavam os anabatistas, que eram pacifistas, não batizavam crianças e, mais tarde, passaram a batizar por imersão. Por suas ideias, foram duramente perseguidos e martirizados. Divergiram de Zwínglio quanto ao batismo infantil, pois este entendeu que, aceita a posição anabatista, muitos seriam alijados da fé reformada.

Os anabatistas foram expulsos de Zurique pelo conselho da cidade, pois eram contrários ao controle estatal das igrejas.

Em seguida vieram os anabatistas revolucionários (inspirados em Melchor Hoffman, João Matthys e João Leiden) e os menonitas, estes discípulos do holandês Menno Simons (1496-1561), que era pacifista, batizava por aspersão e praticava a lavagem de pés.

Muitos dos anabatistas foram para a América do Norte (os amish) e para os Países Baixos (os menonitas). Os anabatistas influenciaram os batistas, os quacres (quackers) e os puritanos separatistas, vindo estes a exercer importante influência nos Estados Unidos, que estavam em formação.

Os puritanos.

Na Inglaterra a Reforma recebeu forte influência política, porque o rei Henrique VIII não conseguiu autorização do papa quanto ao seu divórcio. Sua filha, Maria Tudor, católica fervorosa, perseguiu os protestantes, que receberam maior consideração de sua irmã e sucessora, Elisabete.

Em 1558, quando a Inglaterra derrotou a “Invencível Armada”, de Felipe II, da Espanha, o protestantismo se estabeleceu definitivamente como religião naquele país, de modo que a Igreja Anglicana se firmou como sucessora da Igreja Católica, sob a tutela real. Na Grã-Bretanha, somente a Irlanda permaneceu católica.

Apesar das injunções políticas, a Reforma inglesa contou com homens que se lhe dedicaram com sinceridade, dentre os quais vale mencionar William Tyndale (1495-1536), Miles Coverdale (1488-1568) e Hugo Latimer (c. 1485-1555).

Os puritanos surgiram na Inglaterra, no Séc. XVII (pós-Reforma), apregoando simplicidade nos cultos da Igreja Anglicana, modéstia nas vestes e no comportamento, prosseguimento dos ideias da Reforma, separação do domingo como dia dedicado ao SENHOR, convicção de pecado. Alguns deles queriam a separação entre Igreja e Estado.

No breve governo de Oliver Cromwell, os puritanos tiveram parte na administração da Inglaterra. Foram puritanos que, fixando-se na América do Norte, estabeleceram as comunidades de Plymouth e Boston, e deixaram marcas na Constituição dos Estados Unidos.

Os huguenotes.

Os protestantes franceses, chamados de “huguenotes”, orientavam-se pelas ideias de Lutero e Calvino.

A França, apesar do trabalho de Calvino, permaneceu resistente à Reforma, sendo travadas oito guerras entre católicos e protestantes até o ano de 1572.

Foi nesse contexto que, em 7 de março de 1557, aportou na Baía da Guanabara um grupo de huguenotes, os quais foram derrotados pelos portugueses em 1560. Para proteção do lugar, os portugueses fundaram a cidade do Rio de Janeiro.

Considerando a importância desse fato histórico, importa transcrever valioso artigo publicado na CPAD News para registro dos 460 anos do primeiro culto protestante em terras brasileiras. Confira-se :

“Neste 10 de março de 2017, completam-se 460 anos do primeiro culto protestante no Brasil, ocorrido na atual Ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro (RJ).

No século 16, o vice-almirante Nicolas Durand de Villegaignon ouvira falar das maravilhosas terras do Brasil, recém-descobertas. Ouvira também alusões à beleza dos trópicos, à fertilidade do solo e às riquezas naturais. Empolgado pelo que ouvira, e pela ambição de conquistar uma parte da nova e encantadora região meridional, Villegaignon conseguiu conquistar a amizade e o apoio do almirante Gaspar de Coligny, que era amigo de Henrique II, rei da França, com o qual conseguiu dois navios equipados com víveres e munidos de artilharia, e ainda dez mil francos.

Nessa expedição, Villegaignon não teve o cuidado de selecionar os homens que o acompanharam. Alguns meses após a chegada, alguns expedicionários conspiraram contra o vice-almirante, sendo por este presos e mortos 16 dos conspiradores. O almirante Coligny, conseguiu, então, arregimentar a segunda expedição de 300 homens e mais 3 navios. Entre os tripulantes dos três navios havia 14 huguenotes, protestantes franceses de renome, cujo chefe era Felipe de Corguilarai. Havia também dois pastores cujos nomes são Pierre Richier e Guilhaume Chartier. Outros nomes que integravam essa comitiva são Pierre Bourdon, Mathieu Verneuil, Jean du Bordel, André LaFon, Nicolas Denis, Jean de Gardien, Martin David, Nicolas Reviquet, Nicolas Carmau, Jacques Roseau e Jean de Lari, sendo que este último era o historiador da expedição.

A expedição da qual faziam parte os huguenotes chegou ao porto da Guanabara no dia 7 de março de 1557, após quatro meses de viagem da França ao Brasil.Villegaignon recebeu festivamente os huguenotes, pois estes mereciam sua confiança e neles estava a esperança de êxito na conquista desta parte da América.

O desembarque dos huguenotes foi realizado no dia 10 de março de 1557, uma quarta-feira, e no mesmo dia realizou-se o primeiro culto protestante nas Américas, em um falão rústico existente na ilha. Dirigiu o culto o pastor Pierre Richier, o qual pregou com base em Sl 27.4: ‘Uma coisa pedi ao Senhor, e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor, e aprender no seu templo’. Cantaram na ocasião o Sl 5.

No dia 21 de março de 1557, um domingo, eles organizariam a primeira Igreja Evangélica das Américas, ocasião em que seria também celebrada pela primeira vez a Ceia do Senhor. O vice-almirante Villegaignon foi o primeiro a participar da Ceia do Senhor. Entretanto, mais tarde, traiu e perseguiu os huguenotes, passando a ser considerado pelos historiadores, por esse ato de traição, como o ‘'Caim das Américas’.

Três dos 14 nomes mencionados foram os três primeiros mártires da fé evangélica no Novo Mundo: Jean de Bourdel, MathieuVerneuil e Pierre Bourdon, executados em 9 de fevereiro de 1558, uma sexta-feira, por ordem de Nicolas Durand de Villegaignon, na Ilha que tem o nome do ‘Caim das Américas’. O nome primitivo da atual Ilha de Villegaignon era Serigi ou Serigipe. A muralha do lado norte, de onde foram jogados ao mar os três franceses, é a única que resta das obras primitivas na ilha. O atual forte da Ilha foi construído sobre as bases do forte primitivo.

Dez anos após a realização do primeiro culto na Guanabara, outro huguenote também pagou com a vida, pelo ‘crime’ de pregar o Evangelho. No dia 20 de janeiro de 1567, quando se lançavam os fundamentos da cidade do Rio de Janeiro, Jacques le Balleur foi enforcado, por ordem de Mem de Sá, e com a assistência do padre José de Anchieta. Jacques le Balleur chegou à Guanabara na primeira expedição dos franceses.

Em 1967, por ocasião da Conferência Mundial Pentecostal realizada no Brasil, foi promovido pelas Assembleias de Deus brasileiras um culto especial na Ilha de Villegaignon rememorando o primeiro culto protestante no país. Quem quiser saber detalhes sobre os primeiros protestantes no Brasil e seu martírio, é só adquirir a obra ‘A Tragédia da Guanabara – A História dos Primeiros Mártires do Cristianismo no Brasil’”.

Em 24 de agosto de 1572, em Paris, um terrível ardil engendrado por Catarina de Médici massacrou milhares de huguenotes na Noite de S. Bartolomeu (pelo menos 3 mil na capital e 8 mil nas províncias, mas o número de vítimas pode ter sido muito superior).

Em 1598, por meio do Edito de Nantes, o rei Luís XIV decretou a tolerância religiosa, mas o Edito foi revogado em 1685, e os huguenotes foram expulsos.

PÓS-REFORMA.

A Contra-Reforma.

A Contra-Reforma”, como o nome sugere, consistiu na reação da Igreja Católica à Reforma Protestante, por meio do Concílio de Trento (1545-1563), instituindo o seguinte: novas ordens monásticas, como a dos Jesuítas; expansão missionária às Américas e ao Extremo Oriente; comissões de moralidade, para apuração de condutas de clérigos; a construção de igrejas barrocas de beleza exuberante; o desenvolvimento de novas formas musicais, como a polifonia; a Inquisição.

Configuração da Europa.

A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) definiu os contornos religiosos e territoriais na Europa Ocidental.

A Rússia tornou-se o centro da Igreja Ortodoxa Oriental.

Novas igrejas surgiriam mais tarde, em outras nações, a partir do trabalho missionário.

Efeitos de natureza diversa.

A Reforma deixou sementes que frutificaram na alfabetização e educação do povo, no capitalismo, na democracia política, na oratória pública, na divulgação de opiniões por meio de panfletos, enfim, no desenvolvimento político, social, econômico, tecnológico e cultural de diversas nações.

Desenvolvimento da Fé Reformada.

A fé reformada é o conjunto formado por pelo menos uma das Confissões derivadas da Reforma, os Cinco Solas e os Cinco Pontos do Calvinismo (Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível ou Chamamento Eficaz e Perseverança dos Santos – “TULIP”, na sigla em inglês).

Os “símbolos de fé” são divididos em credos, confissões, catecismos e cânones.

Há o Credo Apostólico, o Credo Niceno e o Credo de Atanásio (todos estes provenientes da Era Patrística, comentada linhas acima).

Dentre as Confissões e Catecismos se podem citar a Confissão de Augsburgo e o Catecismo de Lutero (da Igreja Luterana); a Confissão de Fé de Westminster e os Catecismos de Westminster, Maior e Breve (dos calvinistas, como presbiterianos e puritanos); a Segunda Confissão de Fé Helvética (dos calvinistas suíços); o Catecismo de Heidelberg (com aspectos luteranos e reformados); a Antiga Confissão de Fé Escocesa.

Entre os cânones, há os Cânones de Dort.

Pietismo.

O pietismo foi um movimento cristão que surgiu na Alemanha, dentro da Igreja Luterana, com o objetivo de combater o que considerava “ortodoxia morta”, ou seja, a mera aceitação das doutrinas cristãs, desprovida de fé individual e santidade no estilo de vida. Felipe Jacob Spener (1635-1705) é considerado o pai desse movimento. Uma iniciativa sua foram os collegia pietatis, pequenos grupos que se reuniam para edificação mútua.

Como dito alhures, o Conde Zinzendorf acolheu e apoiou os morávios, estabelecendo a comunidade de Bethlehem na Pensilvânia (América do Norte). Esse grupo é contado entre os pietistas.

Metodismo.

O Metodismo foi um movimento evangelístico e avivalista iniciado no Séc. XVIII pelos irmãos João (1703-1791) e Carlos Wesley (1707-1788), espalhando-se pela Inglaterra, Estados Unidos e outras partes do mundo. Está relacionado ao Primeiro Grande Avivamento, ocorrido na América. Outros nomes são George Whitefield (1714-1770) e Francis Asbury (1745-1816).

Os metodistas reuniam-se em grupos ou sociedades baseados na disciplina, em torno das práticas da oração, confissão coletiva, santidade e serviço.

Segundo GREZ et al13, o Wesleyanismo, por sua vez, é conjunto de grupos ou igrejas que se identificam com o metodismo, incluido as igrejas metodistas, o Movimento Holiness e o Pentecostalismo, este em razão dos temas da “segunda bênção” e da santificação. Os wesleyanos geralmente são arminianos, divergindo, pois, dos calvinistas quanto à Doutrina da Salvação (Soteriologia).

HISTÓRIA DA IGREJA V

Avivamentos.

Depois da Reforma Protestante, que pode ser considerada um verdadeiro avivamento espiritual, houve, na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, importantes avivamentos, também conhecidos como “despertamentos”.

Assim, pois, o Movimento Pentecostal, que será visto adiante, não inaugurou a era moderna dos avivamentos espirituais, como erroneamente se pode imaginar. Ele foi (e é) um importante movimento de renovação espiritual, santificação, evangelização e missões, mas não o único que tenha destacado o valor do avivamento espiritual.

Citemos dois despertamentos de elevada importância histórica :

O Primeiro Grande Avivamento (1725-1775) espalhou-se pelas colônias americanas e teve Jônatas Edwards como seu principal personagem.

O Segundo Grande Avivamento (1800-1861) contou com pregações avivalistas, acampamentos de igrejas, ênfase na piedade pessoal, milhares de conversões. Carlos Finney foi um importante evangelista da época, e Dwight L. Moody, que empregou as técnicas evangelísticas de Finney, inaugurou o método da colportagem (distribuição de literatura de porta em porta). O avanço missionário está ligado a esse despertamento. Guilherme Carey (1761-1834), personagem daquele contexto, é considerado o “pai das missões modernas".

AMÉRICA E BRASIL.

Estados Unidos.

A origem dos Estados Unidos está profundamente ligada aos desdobramentos da Reforma, o que influenciou sua constituição política, econômica e social.

Já por volta de 1605 chegavam protestantes ingleses em Jamestown e Massachusetts.

Vários grupos reformados dirigiram-se ao nordeste americano. Anglicanos fixaram-se na Virgínia; puritanos congregacionais, na Nova Inglaterra; reformados holandeses, em Nova York; luteranos foram para Delaware; quacres e outros grupos foram para a Pensilvânia – o nome desse Estado americano deriva do reformador Guilherme Penn (1644-1718), que fundou a cidade de Filadélfia, sua capital.

Nos Estados do Sul, estabeleceram-se batistas e presbiterianos.

A Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia (1776), primeira declaração moderna de direitos humanos, foi promulgada pelos descendentes dos puritanos ingleses fixados na Nova Inglaterra em 1620, e, bem por isso, veio a ser influenciada pela tríade bíblica formada pelas noções de criação, aliança e lei, como ensinam ROCELLA e SCARAFFIA14. Assim também, a Declaração de Independência dos Estados Unidos (1781) tem a marca do protestantismo.

Todos os presidentes americanos até hoje foram protestantes, à exceção de John Fitzgerald Kennedy (1961-1963), descendente de irlandeses católicos.

As igrejas americanas podem ser classificadas sumariamente em tradicionais; pentecostais (Igreja de Deus em Cristo, Assembleia de Deus, Igreja Pentecostal Unida15); carismáticas (igrejas tradicionais renovadas) e da Terceira Onda (Comunidade Cristã Vineyard).

Movimento Holiness.

Como referido acima, o Movimento Holiness foi uma tendência carismática de matiz wesleyana, surgida no Séc. XIX entre igrejas protestantes. A palavra holiness, do inglês, significa “santidade”. Sua ênfase era a “santificação completa”, uma “segunda bênção” verificada depois da santificação inicial ou conversão.

No Brasil, a Igreja Holiness, dedicada principalmente à comunidade japonesa - mas não só! - é fruto desse movimento.

Movimento Pentecostal.

O Movimento Pentecostal tem seu marco histórico em 1906, quando, no prédio nº 312 da Rua Azusa, o Espírito Santo foi derramado, com a evidência do falar em línguas (glossolalia). William J. Seymour (1870-1922), um pastor negro e pobre, é considerado o fundador desse movimento.

Nascia ali o Pentecostalismo Clássico ou Histórico, mas antes daquele dia Charles Fox Parham (1873-1929) já pregava que o batismo com o Espírito Santo era evidenciado por línguas.

É importante observar que um elemento distintivo do Movimento Pentecostal é a glossolália como sinal distintivo do revestimento de poder.

O Pentecostalismo nasceu com uma ênfase evangelística e missionária, além da pregação de santidade e esperança na volta iminente de Cristo. Em matéria de Soteriologia, os pentecostais são geralmente arminianos, e, em sede de Escatologia, tendem a ser pré-milenistas dispensacionalistas.

Conceito de “evangélico”.

Antes de tratarmos da classificação das igrejas evangélicas brasileiras, vamos pensar um pouco sobre o conceito de “evangélico”.

De modo geral, diz-se que são evangélicos, no Brasil, todos os cristãos não católicos, sem distinção, o que inclui uma quantidade enorme e diversificada de tendências protestantes. Esse é o sentido popular do termo.

A designação de “evangélico” (do inglês evangelical) pode se referir também ao Evangelicalismo, movimento antigo, internacional e não denominacional baseado nos elementos essenciais da Fé Cristã, destacando a necessidade de salvação pela graça mediante a fé em Jesus Cristo, a infalibilidade das Escrituras e uma atitude mais proativa do cristão.

De acordo com DAVID BEBBINGTON16, os quatro pilares do Evangelicalismo são conversionismo, biblicismo, crucicentrismo e ativismo (no bom sentido).

Surgiram alas evangélicas em igrejas protestantes, como a Anglicana e a Luterana.

O evangelicalismo britânico, de que David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) veio a ser um dos principais representantes no Séc. XX, foi uma tendência contestatora do formalismo da Igreja Anglicana. Por causa disso, houve uma controvérsia, em 1966, entre dois gigantes da teologia do Séc. XX, ninguém menos que Lloyd-Jones e John R. W. Stott (1921-2011), porque este, embora da ala evangélica da Igreja Anglicana, discordava da proposta daquele no sentido de que os líderes evangélicos deixassem suas denominações para se reunirem conforme sua fé.

O evangelicalismo americano (neo-evangelicalismo), surgido em meados dos anos 1940, é uma tentativa de interagir com acadêmicos e com a sociedade em geral de modo persuasivo e racional, sem os extremismos fundamentalistas, sendo que o fundamentalismo nascera (por volta de 1915) com o objetivo nobre de se opor ao racionalismo do Liberalismo Teológico, mas, nessa tarefa, tendeu ao isolamento. Um expoente do neo-evangelicalismo foi Francis Schaeffer (1912-1984).

No Brasil o termo “evangelical” restringe-se às alas mais evangélicas de Igrejas protestantes, como a Luterana. O que se popularizou mesmo foi o emprego do termo “evangélico”.

Como ensina AUGUSTUS NICODEMUS LOPES, há muita confusão quanto ao termo “evangélico” hoje no Brasil, e por causa disso um evangélico, ao se identificar como tal, precisa explicar que tipo de evangélico ele é. O teólogo presbiteriano ensina que o termo “protestantes” é o preferido dos liberais, ao passo que o termo “reformados” passou a designar especialmente os calvinistas, embora luteranos, episcopais e anglicanos também sejam reformados. Mas “evangélicos” abrange, popularmente, luteranos, episcopais, anglicanos, batistas, presbiterianos, metodistas, congregacionais, pentecostais e neopentecostais.

Apesar da limitação do uso do termo “evangélico” nesse contexto, tem-se por uso consagrado para distinguir a parcela cristã não católica da população.

Classificação das igrejas evangélicas brasileiras.

Um das formas de classificar as igrejas evangélicas brasileiras é dividi-las em históricas, pentecostais históricas e neopentecostais. Diante das mudanças na conformação da Igreja brasileira, da diversidade do neopentecostalismo, bem como da distância cada vez maior entre Neopentecostalismo e Pentecostalismo Histórico, tal classificação parece desatualizada, mas é a que mencionaremos, seja porque muito difundida, seja porque servirá como ponto de partida.

Igrejas históricas são as denominações plantadas no Brasil por missionários estrangeiros e vinculadas a uma herança multissecular. São elas: Luterana, Episcopal, Anglicana, Presbiteriana, Batista, Congregacional, Metodista. Tais igrejas são as que os assembleianos comumente chamam de “tradicionais”.

Igrejas pentecostais históricas são principalmente a Congregação Cristã no Brasil (1910) e a Assembleia de Deus (1911), oriundas do Movimento Pentecostal (1906). São as igrejas da “Primeira Onda do Pentecostalismo”.

A partir de 1950, surgem as Igrejas da “Segunda Onda do Pentecostalismo”: O Brasil para Cristo, Quadrangular, Cristo Vive, Casa da Bênção, Nova Vida, entre outras.

As igrejas neopentecostais ou da “Terceira Onda” são igrejas criadas no Brasil ou nele estabelecidas a partir de meados da década de 1970 (Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Mundial do Poder de Deus, Apostólica Renascer em Cristo, Sara Nossa Terra, Ministério Internacional da Restauração, Nacional do Senhor Jesus Cristo, Plenitude do Trono de Deus, entre outras).

Ao lado das pentecostais e neopentecostais, há, ainda, as igrejas renovadas, como a Batista Nacional e a Presbiteriana Renovada.

Neopentecostalismo.

O termo “neopentecostalismo”, bastante difundido, designa um contingente muito diverso de igrejas evangélicas brasileiras, e por isso tal designação é certamente imprópria. Demais disto, o prefixo “neo” indica renovação, mas as igrejas neopentecostais não são exatamente uma renovação do Pentecostalismo Histórico. Todavia, por se tratar de uma expressão corrente, será adotada aqui.

De maneira bem ampla, podem-se anotar os seguintes aspectos ou doutrinas em igrejas neopentecostais: Teologia da Prosperidade ou Confissão Positiva; maldição hereditária; igreja em células (G12 ou M12); Movimento Judaizante; regressão espiritual; (suposta) restauração do ministério apostólico; cobertura espiritual; autoajuda; Igreja Emergente; Adoração Extravagante; ênfase em curas e milagres; personalismo; constantes inovações; marketing agressivo; busca de poder financeiro, político, midiático e social; interpretação livre das Escrituras; utilitarismo e pragmatismo; pregação alegórica, emocional, subjetivista e antropocêntrica.

Infelizmente, os pentecostais, que muitas vezes se assombram com a possibilidade de aprender com as igrejas históricas, têm se inclinado frequentemente à nefasta influência neopentecostal.

CONCLUSÃO.

À guisa de conclusão, pode-se afirmar que não conhecer a História é abrir espaço para cometer erros do passado.

Lembremos que, depois de um período de convivência harmoniosa entre hebreus e egípcios, surgiu um Faraó “que não conhecera a José”, ou seja, que não tivera contato com a história daquele patriarca, e o resultado foi a escravização do povo, o que durou mais de 400 anos.

O apóstolo Paulo, referindo-se às injúrias sofridas por Cristo, disse que “tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4). E, em alusão explícita a castigos decorrentes dos pecados de Israel, Paulo escreveu: “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (I Co 10.11).

A Bíblia é o Livro da História da Salvação, e nele há diversos Livros Históricos. Se Deus entendeu que Sua Revelação deveria ser exposta, não apenas na forma de doutrinas, mas também por meio de histórias, isto deve nos dizer alguma coisa.

A História da Igreja, iniciada em Atos dos Apóstolos, está sendo escrita neste momento. Que registros cada um de nós tem deixado?

A ORIGEM DA IGREJA BATISTA

As Igrejas Batistas são diversas denominações cristãs, com forma de governo congregacional, cuja doutrina básica se dá na salvação mediante a fé somente, tendo como regra de fé e prática a Bíblia Sagrada, e por princípio a separação entre Igreja e Estado. Está distribuída em todo o mundo, e não possui hierarquia, tampouco governo único, visto que é princípio da maior parte das Igrejas Batistas o governo local da Igreja. Os batistas entendem haver duas ordenanças de Jesus Cristo: a Ceia do Senhor e o Batismo, sendo que este último só é realizado mediante a imersão do indivíduo na água, já em idade suficiente para ter consciência do ato e desejá-lo por iniciativa própria.

A Igreja Batista é uma denominação histórica, cujas origens remontam à Inglaterra no início do século XVII. Tornou-se, com o tempo, uma das mais importantes denominações protestantes, com muitas igrejas na própria Inglaterra e também nos Estados Unidos, de onde missionários foram enviados a todas as partes do planeta. No Brasil, os primeiros missionários chegaram cerca de 150 anos atrás, tendo fundado, desde então, igrejas de Norte a Sul no país.

Há vários exemplos de batistas notáveis ao longo da História, dentre os quais: o ativista de direitos humanos Martin Luther King, os missionários e tradutores bíblicos Adoniram Judson e William Carey (considerado o "Pai das Missões Modernas"), os presidentes norte-americanos Abraham Lincoln, Harry Trumam e Bill Clinton, os pregadores Billy Graham, John Piper, Paul Washer e Charles Spurgeon (considerado o "Príncipe dos Pregadores"), os teólogos John Gill, Walter Rauschenbusch, Russell Shedd, John Macthur e Luiz Sayão, os escritores John Bunyan (autor de O Peregrino), Oswald Chambers e Israel Belo de Azevedo, e os atores Cruck Norris e Eddie Murphy.

A maioria das igrejas batistas escolhem associar-se em grupos de apoio mútuo e cooperação, denominados associações ou convenções, mantendo, porém, a autonomia de cada igreja local. Ou seja, não há hierarquia ou subordinação entre pastores de uma igreja e outra. Tais grupos podem ter abrangência local, regional ou até nacional. No Brasil, as principais convenções são a Convenção batista Brasileira, Convenção Batista Nacional (de orientação Carismática) e a Convenção das Igrejas Batistas Independentes (de origem histórica diferente). Todas fazem parte da Aliança Batista Mundial, organização que reúne, livremente, centenas de convenções e associações que conservam os princípios Batistas.

No que concerne à organização interna de cada igreja local, esta é também bastante democrática. Todas as decisões importantes precisam ser aprovadas, em votação, pelos membros da igreja; assim, a assembléia dos membros tem autoridade para tratar de questões surgidas no seu dia a dia e para tomar decisões relacionadas ao desenvolvimento de seus trabalhos, inclusive para escolher um novo pastor ou eleger os diáconos.

O termo "batista" vem da palavra grega baptistés, ("batista", a mesma que descrevia João, o batista), estando relacionada ao verbo baptízo, ("batizar, lavar, imergir, mergulhar algo"), e à palavra latina baptista, que significa também "o batizador", como em "João, o batista". Como prenome, é usado na Europa nas variantes Baptiste, Jan-Baptiste, Jean-Baptiste, John Baptist e Johannes Baptiste. Também é usado como um sobrenome, cujas variações geralmente usadas são Baptiste, Baptista, Battiste e Battista. Há registros de que os anabaptistas na Inglaterra foram chamados batistas já em 1569.

Tanto os católicos romanos quanto os católicos ortodoxos, há muitos séculos, realizam via de regra o batismo infantil (pedobatismo) por aspersão ou efusão; ou seja, os adeptos dessas igrejas costumam ser batizados quando ainda são bebês, derramando-se ou borrifando-se sobre eles um pouco de água. Naturalmente, tal prática continuou a ser realizada em todas as igrejas que se tornaram protestantes durante a Reforma. Os batistas são assim chamados porque foram a primeira denominação protestante significativa a adotar, como regra, o batismo adulto (credobatismo) por imersão.

Em outras palavras, entre os batistas, só se batizam aqueles que já chegaram à idade da razão, sendo necessário crer no Evangelho e decidir, por conta própria, receber o batismo, após compreender o que este ato significa. Crianças e adolescentes, portanto, também podem ser batizados; mas bebês, não (embora o batismo seja visto como um ato cerimonial, e não como condição para salvação.)

Por causa dessa compreensão da necessidade de fé pessoal para o batismo, e em conformidade com os exemplos bíblicos, o indivíduo é literalmente mergulhado na água, como era o costume na Igreja Primitiva, daí se chamar batismo por imersão. Dessa forma, pretende-se simbolizar, com o mergulho, a morte do velho homem carnal e pecador, e o surgimento do novo homem, já com uma nova natureza, espiritual, semelhante a Cristo.

A denominação historicamente é ligada aos dissidentes ingleses ou movimentos de anticonformismo do século XVI. Um importante movimento batista surgiu em uma colônia inglesa na Holanda, num tempo de reforma religiosa intensa.

John Smyth discordava da política e de alguns pontos da doutrina da Igreja Anglicana da qual ele era pastor; após uma aproximação com os menonitas, e examinando a Bíblia, creu na necessidade de batizar-se com consciência, e em seguida batizou os demais fundadores da igreja, constituindo-se assim uma igreja batista organizada. Até então, o batismo não era por imersão, só por volta de 1642 que os batistas particulares adotariam oficialmente essa prática, tornando-se comum depois a todos os batistas. A primeira confissão dos particulares, a Confissão de Londres de 1644, também foi a primeira a defender o imersionismo no batismo.

Depois da morte de John Smyth e da decisão de Thomas Helwys e seus seguidores de regressarem para a Inglaterra, a igreja organizada na Holanda se desfez, e parte de seus membros uniram-se aos menonitas. Thomas Helwys organizou a Igreja Batista em Spitalfields, nos arredores de Londres, em 1612

Naqueles tempos, havia perseguição aos batistas e a outros dissidentes ingleses, por não concordarem com certas práticas e doutrinas da igreja oficial, a anglicana. Vale notar que dentre esses "dissidentes" destaca-se John Bunyan, um batista, que escreveu sua obra-prima O Peregrino enquanto estava preso injustamente. Devido a essa perseguição, muitas pessoas emigraram para a América, especificamente para as colônias da Nova Inglaterra (que viriam a formar os Estados Unidos).

Em solo americano, a primeira igreja batista nasceu através de Roger Williams, que organizou a Primeira Igreja Batista de Providence em 1639, na colônia que ele fundou com o nome de Rhode Island, e John Clark, que organizou a Igreja Batista de Newport, também em Rhode Island, em 1648. Os Batistas se espalharam pelas diversas colônias da América do Norte e foram influentes na formação da Constituição Americana, de 1788. Atualmente, a Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos conta com quase 16 milhões de membros, sendo a maior comunidade evangélica daquele país e a maior convenção batista do mundo.

Expansão mundial

Em 1791, um jovem pastor inglês chamado William Carey criou a Sociedade de Missões no Estrangeiro, para dar suporte no envio de missionários, sendo a Índia o primeiro campo missionário.

As Igrejas Congregacionais americanas enviaram Adoniram e Ana Judson em 1812, para evangelizar a Índia, com destino a Calcutá. O casal encontrou-se com o missionário batista William Carey e seu grupo de pastores, e aceitou a doutrina de imersão dos batistas e foram batizados pelo Pastor William Ward. Outro missionário congregacional também enviado à Índia, Luther Rice, tornou-se batista. Os Judsons permaneceram na Birmânia, atual Myanmar, e Luther Rice voltou aos Estados Unidos para mobilizar os batistas para a obra missionária.

Consequentemente, em maio de 1814, foi fundada uma Convenção em Filadélfia com o nome de "Convenção Geral da Denominação Batista nos Estados Unidos para Missões no Estrangeiro". Desde então missionários batistas foram enviados à América Latina, África, Ásia e Europa.

Igrejas Batistas no Brasil

Acredita-se que o primeiro missionário batista no Brasil tenha sido Thomas Jefferson Bowen. Ele era missionário americano na Nigéria, África, trabalhando entre os nativos da tribo iorubá. Depois de algum tempo na África, retornou aos EUA, e foi enviado, em 1860, para o Brasil, uma vez que muitos escravos que falavam o dialeto iorubá (língua corrente entre os negros traficados) e podiam ser alcançados, isto é, aderirem ao Evangelho.

Oito meses depois, devido a problemas de saúde e porque as autoridades o impediram de pregar o evangelho, visto que sua mensagem se distanciava dos ensinos católicos (até então a religião oficial do país), Bowen precisou retornar ao seu país, desta vez em definitivo.

Posteriormente, por força da Guerra Civil Americana de 1865, confederados do Sul dos Estados Unidos começam a buscar outras terras de potencial agrícola.

O Brasil foi um dos países escolhidos. Logo, em 1867, grupos de estadunidenses que somaram mais de 50.000 pessoas desembarcam nos portos brasileiros em busca de refúgio e terra fértil, vasta e barata. Avançando para o continente, escolhem a cidade de Santa Bárbara do Oeste para adquirirem terras e fixarem residência. Entre os emigrados, a maioria professava o protestantismo, muitos eram batistas.

Já em 1870, fizeram publicar um "Manifesto para Evangelização do Brasil." Tal manifesto, assim que publicado contou com assinaturas de Presbiterianos, Metodistas, Congregacionais e, por um batista, o jovem Pastor Richard Ratcliff, um dos emigrados, cuja família havia convertido através de Thomas Jefferson Bowen nos Estados Unidos.

Em 1871, Batistas emigrados dos Estados Unidos organizam a Primeira Igreja Batista no Brasil Para Estrangeiros em Santa Bárbara do Oeste.

Anos mais tarde, em 1879, outro grupo de emigrados faz surgir a segunda Igreja Batista em solo brasileiro, em Santa Bárbara d'Oeste, no bairro da Estação, onde, atualmente, se localiza a cidade de Americana.

Os Batistas de então, em Santa Bárbara do Oeste, se unem para solicitar, à Junta de Richmond, dos Estados Unidos, o envio de missionários ao Brasil. O trabalho de evangelização foi intenso e os brasileiros tornaram-se menos preconceituosos quanto à nova doutrina. Em 1881, chegam William Buck Bagby e Ana Luther Bagby; Zacarias Taylor e Katarin Taylor.

Os primeiros missionários são recebidos em Santa Bárbara do Oeste e logo filiam-se à Igreja Batista existente e começam a estudar a língua portuguesa, tendo Antonio Teixeira de Albuquerque como professor.

Pouco tardou para que os dois casais de missionários, unindo-se a Antonio Teixeira de Albuquerque rumassem para o Estado da Bahia, onde em 15 de outubro de 1882, organizaram a primeira congregação formada por brasileiros e a chamou de Primeira Igreja Batista do Brasil Para Brasileiros em Salvador (seria, oficialmente, a primeira igreja Batista do Brasil, embora já houvesse duas outras Igrejas Batistas, organizadas por imigrantes norte-americanos, residentes na região de Santa Bárbara do D'Oeste e Americana, em São Paulo.). Em um ano, aquela igreja já contava setenta membros. Salvador também possuía uma comunidade de estadunidenses que fugiram da Guerra de Secessão.

Enquanto isto, no Recife, o missionário batista William Buck Bagby participa da conversão do sacerdote católico Antônio Teixeira de Albuquerque. Por causa de perseguição, Teixeira de Albuquerque tentou refugiar-se em Maceió, sua terra natal, mas acabou mais tarde escolhendo Capivari, no Estado de São Paulo. Vindo a conhecer os batistas em Santa Bárbara do Oeste, batiza-se, é ordenado pastor e ajuda a comandar a evangelização que se iniciava entre brasileiros, franceses, ingleses e estadunidenses.

O Pastor Antonio Teixeira de Albuquerque, casado, rumou a Maceió, onde organiza a Primeira Igreja Batista e prega para seus pais. A vida de Teixeira de Albuquerque foi curta, vindo a falecer aos 46 anos de idade. De Salvador, os missionários seguiram para outras capitais, plantando igrejas. De volta a São Paulo, com outros missionários recém-chegados foram organizando outras novas igrejas a partir de 1899 em São Paulo, Jundiaí, Jacareí, Campinas, São José dos Campos, entre outras cidades.

Já em 1904, eram sete Igrejas Batistas no Estado de São Paulo. Essas, reunindo-se em Jundiaí, organizaram, em 1904, a Convenção Batista do Estado de São Paulo, então chamada de União Baptista Paulistana. Entretanto, vale destacar que o missionário Salomão Luiz Ginsburg havia sido o primeiro a sugerir, ainda em 1894, a organização de uma convenção de âmbito nacional dos batistas brasileiros, ideal este que viria a se concretizar em 1907.

Antes da Proclamação da República em 1889, a religião oficial do Brasil era a Católica Romana, conforme estabelecido na Constituição Imperial de 1824, e havia limitações à liberdade de culto, embora o culto em si e a divulgação (pregação) fossem permitidos. Cumpre destacar, nesse contexto, que o imperador D. Pedro II tinha o casal missionário Kalley em alta estima, e nunca se opôs ao surgimento do protestantismo no país; muito pelo contrário, era um leitor ávido da Bíblia Sagrada, e até mesmo ouvia os missionários pessoalmente, tendo-se encantado pelas Sagradas Escrituras. Há registros, inclusive, de que quando um colportor (vendedor de Bíblias) protestante foi preso, em razão da atividade que exercia, por um delegado no Sergipe, o imperador prontamente mandou soltá-lo, apontando que não havia justificativa nenhuma para a prisão, visto que as leis do Império não proibiam aquela atividade.

Não obstante, havia entre a população forte intolerância contra os protestantes; o missionário batista Salomão Luiz Ginsburg, por exemplo, chegou a correr perigo de morte, por causa de uma multidão que veio com enxadas e paus na direção dele, acreditando que ele era um dos anticristos dos últimos dias, conforme o padre local havia dito. Todavia, em 1891 a liberdade religiosa estaria consagrada na nova Constituição (ainda que, por ora, apenas no papel), porém ainda passariam muitas décadas até que os batistas e outros grupos evangélicos fossem mais bem aceitos pela sociedade.

Nos primeiros vinte e cinco anos de trabalho (desde 1882), Bagby e Taylor, auxiliados por outros missionários, e por um número crescente de brasileiros, evangelistas e pastores, já tinham organizado 83 Igrejas, com aproximadamente 4.200 membros.

A. B. Deter, Zacarias Taylor e Salomão Ginsburg concordaram, então, em dar prosseguimento ao plano de criar uma convenção de âmbito nacional. Em seguida, eles conseguiram a adesão de outros missionários e de líderes brasileiros, inclusive Francisco Fulgêncio Soren. Em 1907, em Salvador, com a presença e apoio de 43 delegados, mensageiros e representantes de 39 igrejas e organizações, é realizada, em sessão solene, a primeira Assembleia da Convenção Batista Brasileira.

A motivação básica da criação da Convenção foram missões, e falava-se então na evangelização de Portugal, Chile e África. Foram criadas duas Juntas Missionárias: a de Missões Nacionais e a de Missões Estrangeiras (hoje Missões Mundiais). Além dessas, foram criadas várias outras Juntas; ao todo, sete. As áreas de Missões, Educação Religiosa e Publicações, Educação Teológica e Educação (em geral), foram as que receberam maior atenção dos convencionais.

Com o passar das décadas, as igrejas cresceram e se multiplicaram, sendo que o evangelismo era realizado ativamente pelos membros das igrejas e pelos pastores e missionários, tanto brasileiros quanto estrangeiros. Centenas de missionários foram enviados por igrejas e juntas norte-americanas até as regiões mais remotas do Brasil, e posteriormente vieram vários professores e educadores para aprofundar e consolidar o ensino teológico nos seminários, muitos dos quais foram construídos graças à contribuição e financiamento dos crentes americanos.

Convenção Batista Nacional

Convenção Batista Nacional é um denominação cristã de igrejas batistas no Brasil. Também é responsável pela organização de vários seminários teológicos, de adoração e de interceção espiritual.

Convenção Batista Nacional formou-se a partir de um grupo de 52 Igrejas Batistas no Brasil, principalmente de Minas Gerais, congregadas em janeiro de 1965, que aceitaram a doutrina do movimento Carismático sobre dons do Espírito Santo em suas crenças.

O surgimento do grupo que daria origem à Convenção Batista Nacional deu-se oficialmente, em janeiro de 1965, na cidade de Niterói. A Convenção Batista Brasileira excluíra cerca de 32 igrejas de sua filiação, em 1966 o número de igrejas desligadas chegou a 52.

Inicialmente criou-se a Ação Missionária Evangélica (AME), somente em 16 de setembro de 1967 a AME passou a se chamar Convenção Batista Nacional, por ocasião da primeira Assembléia Geral, realizada na Igreja Batista da Lagoinha.

A obra de Renovação Espiritual

No início do século XX chegou ao Brasil o movimento pentecostal através de campanhas realizadas por missionários vindos do exterior. O missionário italiano Luis Francescon chegou ao nosso país em 1908 ou 1910. Presbiteriano, veio ao Brasil com um grupo de imigrantes italianos vindos de Chicago, Estados Unidos. Ele fundou a primeira igreja penstecostal no Brasil, a Congregação Cristã do Brasil. Não demorou muito para surgirem outras igrejas pentecostais, tais como a Assémbéia de Deus, O Brasil para Cristo, Deus é Amor, Casa da Bênção, Maranata, Cruzada Brasileira de Evangelização.

O movimento pentecostal caracteriza-se pela crença no batismo do Espírito Santo como uma segunda bênção, posteior à conversão, que capacita o homem à obediência. Prega a conteporaneidade dos dons espirituais, sobretudo o dom de curas e batismo do Espírito Santo, que evidencia-se pelo dom de falar em “línguas estranhas”.

No meio batista, como conseqüência natural do movimento pentecostal, houve o que ficou conhecido como movimento de “Renovação Espiritual”. Este movimento teve como proponentes iniciais a Sra. Rosalee Mills Appleby, o Pr. José Rego do Nascimento e o Pr. Enéas Tognini.

No âmbito batista não eram apenas as igrejas a serem influenciadas pela doutrina e prática pentecostais, até mesmo o Seminário do Sul, no Rio de Janeiro foi impactado pelo carimatismo de Renovação Espiritual. Em uma carta dirigida ao Pr. Enéas Tognini,* o Pr. José do Rego Nascimento faz relatório de reuniões realizadas naquele seminário com o corpo discente do mesmo e o Pr. Rego Nascimento e outros. Nestas reuniões os seminaristas foram norteados por experiências pentecostais. É digno de nota que essas reuniões realizaram-se sem o conhecimento e aprovação do então Reitor da instituição, Pr. A. Bem Oliver. A posterior reprovação do seminário a essas reuniões e ao pentecostalismo seria apenas o início do que estava prestes a acontecer na denominação.

A HISTÓRIA DOS BATISTAS NACIONAIS

Convenção Batista Nacional

Expulsas da Convenção Batista Brasileira, as igrejas a princípio relutaram em reunir-se em convenção. Os dois principais líderes de Renovação Espiritual; Enéas Tognini e José Rego do Nascimento não se mobilizaram para reunir as igrejas excluídas em uma convenção. É quando surge então a figura do pastor Ilton Quadros Cordeiro, pastor da Igreja Batista do Barreiro, em Belo Horizonte.

Em 1966, o pastor Ilton Quadros Cordeiro demonstrou preocupação com o destino das igrejas excluídas. Primeiramente entrou em contato com o pastor Arthur Freire, que lhe aconselhou que seria mais conveniente ao invés de uma convenção, reunir as igrejas em uma Ação Missionária.

Dessa forma foi criada a AME: Ação Missionária Evangélica, tendo o jovem pastor Wilson Régis à frente. Essa aliança na verdade não teve um governo de natureza democrático, o pastor Régis acumulou os cargos de Superintendente Geral, Tesoureiro e depois diretor do seminário STEB, Seminário Teológico Evangélico do Brasil. A AME não continha apenas igrejas batistas, havia também metodistas e presbiterianas que também haviam aderido ao movimento de renovação espiritual.

No ano de 1967 extingue-se a AME dando lugar à Convenção Batista Nacional. Em sua primeira seção da assembléia inaugural, realizada às 14 horas do dia 16 de setembro de 1967, no templo da Igreja Batista da Lagoinha, é eleita a diretoria da Convenção Batista Nacional. Foi eleito presidente o Pr. Elias Brito Sobrinho; 1º vice-presidente, Pr. Joel Ferreira; 2º vice-presidente, Pr. Rosivaldo de Araújo; 1º secretário, Pr. Nivaldo Ferreira da Silva; 2º secretario, Pr. Dalson Pinto Teixeira. É também adotada na assembléia a Confissão de Fé, a mesma adotada pela Convenção Batista Brasileira, com o acréscimo do Artigo III da Convenção de Kansas City – Deus o Espírito Santo.

Educação Geral e Religiosa Batista no Brasil

A educação pode ser considerada uma marca visível do povo batista. Sua paixão pelo estudo da Bíblia desenvolveu o interesse pela educação religiosa, cultivada nas Igrejas através das organizações de treinamento e da Escola Bíblica Dominical. Em razão disso, os templos batistas foram se tornando verdadeiros complexos educacionais, contando inclusive com o estabelecimento de bibliotecas.

Junto com a Educação Religiosa veio a Educação Teológica. Inicialmente através de aulas dadas pelos missionários em suas casas, depois surgiram os Seminários : Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, organizado em Recife-PE, por salomão Ginsburg, em 1º de abril de 1902, e o Seminário Teológico Batista do Sul, fundado pelo missionário John Watson Shepard, na cidade do Rio de Janeiro em 1908. A estes dois Seminários, foram agregados dezenas de outros espalhados por todo o país, com milhares de alunos.

A Educação chamada de Geral ou Secular teve a mesma origem : o desejo de abrir oportunidades para o estudo da juventude e de criar escolas com capacidade para exercer influência sobre a sociedade brasileira. O Colégio Taylor Egídio, fundado em Salvador pela senhora Laura Taylor e pelo Capitão Egídio Pereira de Almeida, foi o primeiro a vingar. Em 1922 ele foi transferido para a cidade de Jaguarquara, onde existe até hoje.

Depois dele, e por causa dele, vieram o Colégio Batista Brasileiro de São Paulo; Colégio Americano Batista do Recife; Instituto Batista Industrial em Corrente (PI); Colégio Americano, em Vitória; Colégio Batista Shepard no Rio de Janeiro; Colégio Batista Alagoano em Alagoas; Colégio Batista Fluminense em Campos dos Goytacazes (RJ); Colégio Batista Mineiro, em Belo Horizonte. Além destes colégios, dezenas de outros foram organizados com a ajuda dos missionários ou por iniciativa de igrejas, convenções estaduais e de particulares batistas. A contribuição dos batistas na área educacional é realmente notável, considerando tanto a qualidade quanto a quantidade. Hoje, cerca de dois milhões de brasileiros já passaram pelas escolas batistas.

HISTÓRIA DA IGREJA I

OBJETO DE ESTUDO.

Nesse mister, forneceremos a divisão da História Geral, relacionando-a com a História Bíblica e Eclesiástica, para depois esboçarmos a História da Igreja, com alguns dados acerca da Igreja evangélica brasileira

Empregamos como fontes principais desta apostila os livros: Manual Bíblico de Halley e História do Cristianismo - Dos apóstolos do Senhor Jesus ao século XX, de A. KNIGHT e W. ANGLIN, com recurso também a outras fontes, todas devidamente citadas no espaço próprio.

Há uma preciosa coleção, com dez volumes, de JUSTO L. GONZÁLEZ, que tem por título E Até os Confins da Terra -  Uma História Ilustrada do Cristianismo. A coleção é rica em detalhes históricos e ilustrações. Extraímos algumas informações dessa coleção.

II ESBOÇO DA HISTÓRIA GERAL

Segue a divisão clássica da História Geral, tal como estudada na escola:

PRÉ-HISTÓRIA - até a invenção da escrita (c. 4.000 a.C.).

IDADE ANTIGA - de 4.000 a.C. a 476 d.C. (Queda de Roma).

IDADE MÉDIA - de 476 a 1453 d.C. (Queda de Constantinopla).

IDADE MODERNA - de 1453 a 1789 d.C. (Revolução Francesa).

IDADE CONTEMPORÂNEA - aos nossos dias.

Algumas observações.

Os primeiros 11 capítulos do Gênesis desenvolvem-se na Pré-História.

Toda a História Bíblica desenrolou-se na Idade Antiga (Antiguidade).

O papado surgiu entre a Idade Antiga e a Idade Média, e o poderio da Igreja Católica cresceu exponencialmente na Idade Média.

O Islamismo surgiu na Idade Média (610 d.C.).

A Reforma Protestante (1517) ocorreu na Idade Moderna, mesmo período do Renascimento, do Iluminismo, da Invenção da Imprensa, das Missões Modernas e da Descoberta do Brasil (esta no contexto das Grandes Navegações).

A Idade Média foi chamada de “Idade das Trevas” pelo humanista italiano Francisco Petrarca (1304-1374).

III - ESBOÇO DA HISTÓRIA DA IGREJA

Qualquer divisão, classificação ou organização depende dos critérios adotados, e por isso pode haver algumas variações a depender do material consultado.

A seguir, tem-se um esboço que considero pertinente e útil para se ter uma visão panorâmica da História Eclesiástica:

Era Apostólica (33-100 d.C.).

Era Patrística (100-750).

1. Pais Apostólicos (100-150).

2. Apologistas e Polemistas (Sécs. II e III).

3. Pais Capadócios (Séc. IV).

4. Pais Pós-Nicenos (depois de 325).

Perseguições, controvérsias e heresias (250-313 d.C.).

Do Edito de Milão aos Carolíngios (313-800 d.C.).

Constantino. Concílios. Degeneração da Igreja Católica. Paganização. Papado. Monasticismo.

Carolíngios, Cisma, Cruzadas e Escolasticismo (800-1291).

Pré-Reformadores (principalmente dos Sécs. XII ao XV).

Reforma Protestante (1517-1648).

Marco histórico. Antecedentes históricos. Martinho Lutero. Surgimento da designação “protestantes”. Zwínglio. Calvino. Reforma “Magisterial” e Reforma Radical. A Reforma na Inglaterra (Os puritanos). A Reforma na França (Os huguenotes).

Pós-reforma.

A Contra-Reforma. Configuração da Europa. Efeitos de natureza diversa. Desenvolvimento da Fé Reformada. Pietismo. Metodismo. Avivamentos.

América e Brasil.

Estados Unidos. Movimento Holiness. Movimento Pentecostal. Conceito de “evangélico”. Classificação das igrejas evangélicas brasileiras. Neopentecostalismo.

Era Apostólica (33-100 d.C.).

A Era Apostólica encontra-se referida no Livro de Atos dos Apóstolos, único livro histórico do Novo Testamento, mas há informações nos demais Livros neotestamentários que lançam luz sobre esse período.

O Livro de Atos é o desenvolvimento da ordem de Jesus em At 1.8, no sentido de que a Igreja começasse em Jerusalém e se espalhasse primeiro pela Judeia, depois por Samaria e até aos confins da Terra. Note a ênfase no crescimento e desenvolvimento da Igreja em 2.41-47, 4.32-34, 9.31.

Pode ser que Paulo perseguisse em seu ministério o objetivo de alcançar os confins da Terra, entendendo tratar-se de uma cidade da Espanha  (cf. Rm 15.24) conhecida por Tartessos, possivelmente a Társis para a qual Jonas quisera fugir da presença de Deus, imaginando que, assim, faria coisa melhor do que pregar aos terríveis ninivitas (cf. Sl 22.27; 67; Is 23.1-18).

Lembremos que Atos se encerra aparentemente sem conclusão. Com efeito, Atos dos Apóstolos termina com a simples afirmação de que Paulo, em prisão domiciliar, pregava “sem impedimento algum” (At 28.31). Isso parece indicar que a História da Igreja não terminou, e é verdade. Estamos escrevendo a História da Igreja!

A chamada “Igreja Primitiva” conheceu o derramamento do Espírito, rápida expansão numérica, plantação de igrejas, viagens missionárias, formação dos primeiros líderes não apostólicos (presbíteros, diáconos, evangelistas, missionários).

O modelo básico da igreja eram as sinagogas, locais de reunião pública que os judeus criaram durante o Exílio Babilônico, e que perduraram depois do retorno a Judá.

Havia inicialmente uma comunidade de bens entre os irmãos (At 4.32), mas logo houve a necessidade de instituir-se o diaconato para cuidar da distribuição equânime dos donativos, porque surgiram conflitos, na Igreja em Jerusalém, entre os judeus nativos (“hebreus”) e os judeus de fala grega (At 6.3).

Reuniam-se os crentes nas casas, nas sinagogas ou em edifícios públicos. As reuniões davam-se no primeiro dia da semana, provavelmente em dois cultos. Os primeiros crentes cantavam hinos, faziam orações, liam as Escrituras, eram ensinados pelos presbíteros, celebravam a Ceia aos domingos.

Os cristãos do Primeiro Século possuíam declarações sucintas da Fé Cristã, semelhantes ao que se encontra em Rm 10.9,10, I Co 15.4 e I Tm 3.16. Um outro texto que resume um repertório da Fé Cristã é o de At 4.24-30. Depois apareceram os credos. O credo mais antigo é o Credo dos Apóstolos, surgido em Roma por volta de 340 d.C.

Foi na Era Apostólica que se realizou o Concílio de Jerusalém (49), com a presença de Paulo, Pedro, Tiago (irmão do SENHOR), Barnabé, entre outros, incluindo presbíteros (At 15).

Havia muitos aspectos positivos, mas também se deram alguns problemas, tais como episódios de imoralidade sexual, facções e disputas intestinas, falsos apóstolos, uso indevido dos dons espirituais, influência da cultura pagã (Corinto); movimento judaizante (Jerusalém, Galácia); gnosticismo embrionário (Ásia Menor); nicolaísmo (Pérgamo e Éfeso, na Ásia Menor).

Os líderes principais eram os apóstolos (At 2.42), mas havia presbíteros e diáconos nas igrejas.

Havia condições favoráveis à expansão missionária (tolerância religiosa por parte do Estado; dois idiomas internacionais, o grego e o latim; estabilidade política; suficiência de alimentos e abrigos para todos; estradas pavimentadas; sistema bancário; câmbio de moedas estrangeiras). Era a chamada “plenitude do tempos” (Gl 4.4). A Igreja avançou para as cidades gregas na Ásia e na Europa, dentro do Império Romano. Paulo e sua equipe missionária foram decisivos na evangelização dos gentios. Pedro e outros buscaram evangelizar os cerca de 4 milhões de judeus que habitavam o Império.

Judeus habitantes das cidades evangelizadas perseguiam os cristãos.

As heresias da época ficaram a cargo dos ebionitas, gnósticos (ainda em sede embrionária) e nicolaítas.

Nesse período ocorreram eventos históricos importantes, como o Incêndio de Roma, causado por Nero (64 d.C.), que culpou os cristãos; a Destruição de Jerusalém (70 d.C.); e a elaboração e conclusão do Novo Testamento.

Era Patrística (100-750).

Apesar de voltarmos, mais tarde, a períodos insertos na mesma Era Patrística, é de bom alvitre distinguir nominalmente essa fase, quando atuaram os chamados Pais da Igreja, porque é relevante, na teologia e na História da Igreja, a expressão “Era Patrística” ou “Era dos Pais da Igreja”.

(1) Pais Apostólicos (100-150).

Os chamados “Pais Apostólicos” foram discípulos diretos ou indiretos dos apóstolos e escreveram obras teológicas importantes.

Destacaram-se Clemente de Roma (30-100), Inácio de Antioquia (30-117), Papias (70-155) e Policarpo (69-159).

Merecem citação as seguintes obras literárias da época :

- Epístola aos Coríntios escrita por Clemente de Roma (bispo de Roma entre 91 e 100 d.C.);

- Sete Epístolas de Inácio de Antioquia, discípulo de João (c. 110 d.C.);

- Epístola de Barnabé (entre 90 e 120 d.C);

- Didaquê - Ensino dos Doze Apóstolos (c. 100 d.C.), que continha instruções práticas, como a forma de lidar com pregadores itinerantes;

- Pastor de Hermas (c. 150 d.C.), uma alegoria rica em simbolismo e visões, seguindo o modelo do Apocalipse. Segundo HALLEY, esse livro pode ser chamado de “O Peregrino da igreja primitiva”, em alusão ao célebre livro de John Bunyan.

Essas obras diferem radicalmente dos escritos apócrifos (ocultos, secretos) e pseudepígrafos, que começaram a surgir no Séc. II d.C. (Evangelho de Nicodemos, Evangelho de Pedro, Atos de João, Atos de André, Carta de Paulo a Sêneca, Carta de Pedro a Tiago etc.).

(2) Apologistas e Polemistas (Sécs. II e III).

Os Apologistas defendiam intelectualmente o Cristianismo (apologia é defesa). Surgiram principalmente no Séc. II.

Foram Apologistas os seguintes Pais da Igreja: Justino, o Mártir (100-170), Tertuliano de Cartago (150-230), Teófilo (181) e Aristides (início do Séc. II).

Os Polemistas combateram heresias. Surgiram principalmente no Séc. III.

Foram Polemistas os que seguem : Ireneu de Lyon (130-200), que combateu o gnosticismo, Cipriano (200-258), Tertuliano de Cartago (150-230) e Orígenes (185-254).

Houve perseguição infligida por Domiciano por causa do não pagamento de impostos pelos judeus (95 d.C.) - como os cristãos eram confundidos com os judeus, também foram perseguidos.

Nessa época João foi preso na ilha de Patmos.

Por meio de uma carta, o governador Plínio perguntou ao imperador Trajano sobre o procedimento correto a ser adotado quanto a cristãos delatados por sua fé (112 d.C.).

(3) Pais Capadócios (Séc. IV).

Os Pais Capadócios foram teólogos compreendidos entre os Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381). Foram eles Basílio de Cesareia (330-379), Gregório de Nissa (330-395) e Gregório de Nazianzo (330-389).

(4) Pais Pós-Nicenos.

No Ocidente, os Pais Pós-Nicenos foram João Crisóstomo de Antioquia (347-407) - ensinou que a Cruz e a ética são inseparáveis; Teodoro, bispo de Mopsuéstia (350-428) - valorizou o contexto histórico-gramatical do texto; e Eusébio (265-339) - escreveu a história eclesiástica a pedido de Constantino.

No Oriente, os Pais Pós-Nicenos foram Jerônimo de Veneza (347-420), que se estabeleceu em Belém para estudar e traduziu a Bíblia para o latim (a Vulgata); Ambrósio (340-397), administrador e pregador que confrontou a intromissão do Imperador na Igreja; e Agostinho de Hipona (354-430).

Agostinho é considerado o mais importante dentre todos os da Era Patrística. Filho de Mônica, uma crente piedosa, vivia ele uma vida de pecado, até que um dia, tendo ouvido uma voz para ler a Bíblia, deparou com o texto de Rm 13.13,14 e se converteu a Cristo. Sua obra reúne mais de 100 livros, 200 cartas, 500 sermões. Para os católicos são importantes sua doutrina do Purgatório, sua ênfase na Igreja como instituição visível e o destaque aos sacramentos do batismo e da comunhão. Para os protestantes é valiosa sua defesa da doutrina da salvação pela graça, por Cristo Jesus. A autobiografia Confissões é um importante livro de Agostinho.

HISTÓRIA DA IGREJA II

PERSEGUIÇÕES, CONTROVÉRSIAS E HERESIAS (250-313 d.C.):

A perseguição estatal sistemática e ostensiva contra os cristãos começou em 250, e por razões políticas, religiosas, econômicas, sociais e religiosas. Os cristãos eram tidos por desleais ao Imperador, por não lhe prestarem culto. Também não tomavam parte nos cultos e sacrifícios pagãos e vieram a ser considerados ateus por não cultivarem uma religiosidade carregada de aparatos externos. Além disso, foram antipatizados por seu entendimento de que todos os homens são iguais, sem distinção entre livres e servos, por exemplo.

O marco dessa perseguição foi o edito do imperador Décio (250), que tornou ilegal a religião cristã.

Edito do imperador Diocleciano (303) incrementou a perseguição, determinando a prisão dos crentes, que já somavam 15% da população do Império Romano (de 50 a 75 milhões de pessoas). Como os cárceres ficaram superlotados, sem espaço para os verdadeiros malfeitores, a prisão foi substituída pelas penas de exílio, perda de bens, execução (à espada ou por animais selvagens), trabalhos forçados, prisão (os cárceres ficaram superlotados, e por isso os cristãos passaram a  receber as outras penas mencionadas).

Naquele período fortaleceu-se a heresia do Gnosticismo (ascético ou licencioso).

Houve concílios eclesiásticos para dirimir dúvidas e revolver problemas.

Surgiram controvérsias teológicas (livre-arbítrio ou não? O homem nasce em pecado ou se torna pecador? Como somos salvos?) e disciplinares (o que fazer com os cristãos que, sob pressão, ofereceram sacrifícios ou queimaram as Escrituras?).

A queima das Escrituras levou à necessidade de identificação dos Livros Canônicos.

É interessante que a atuação de hereges contribuiu, curiosamente, para a sedimentação da doutrina cristã, dado o esforço dos Pais da Igreja em rebater as impropriedades ensinadas e escritas por aqueles homens.

DO EDITO DE MILÃO AOS CAROLÍNGIOS (313-800 d.C.).

Constantino.

O imperador Constantino (274-327) estava numa batalha quando avistou no céu a frase “Com este sinal vencerás” (in hoc signus vinces, em latim). O sinal era a Cruz. Ele entendeu que deveria se aliar ao Cristianismo, religião já bastante numerosa. Não afirmarei que Constantino se converteu. Ele continuou como sumo-sacerdote da religião estatal e foi batizado pouco antes de morrer. Mas não se pode negar a influência dele na História da Igreja, em termos positivos e negativos.

Por meio do Edito de Milão (313), Constantino decretou a tolerância para com os cristãos, ensejando liberdade de culto; isenção dos clérigos quanto ao serviço público; subsídio estatal às igrejas; devolução dos bens confiscados; domingo como dia de descanso e de culto.

Já o imperador Teodósio I foi quem tornou o Cristianismo a religião oficial do Império Romano (380).

Concílios.

Nesse período a Igreja cedeu a muitas heresias pagãs, porém combateu outras, tais como o arianismo, o apolinarismo e o nestorianismo. As grandes questões teológicas eram discutidas nos Concílios Eclesiásticos ou Ecumênicos. Entre 325 a 787 houve Sete Concílios.

As doutrinas dos quatro primeiros Concílios são seguidas até hoje. São eles, com um resumo de suas declarações:

Concílio de Niceia I (325): Jesus é Deus.

Concílio de Constantinopla (381): o Espírito Santo é Deus.

Concílio de Éfeso (431): depois do debate entre Agostinho e Pelágio (teólogo britânico - c. 354-415), se entendeu que a salvação se dá pela graça, pois o homem nasce contaminado pelo pecado de Adão e não pode escolher livremente entre o bem e o mal.

Concílio de Calcedônia (451): Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

Degeneração da Igreja Católica.

A degeneração da Igreja Católica deu-se de modo lento, progressivo e motivado por fatores diversos.

Paganização.

O lado mais ocidental do Império Romano vinha sofrendo as invasões de tribos bárbaras desde o fim do Séc. I até a desintegração do Império em 476 d.C., data da transição da Idade Antiga para a Era Medieval.

Por influência desses povos, a Comemoração do Natal de Jesus passou a ser realizada na época da festa do solstício do inverno. Essa transição ocorreu em 350.

O paganismo veio trazendo uma influência insistente e duradoura. Passou a haver forte distinção entre clero e laicato, veneração de santos por meio de relíquias, quadros e estátuas.

Além de batismo e Ceia, acrescentaram-se como sacramentos o casamento, a penitência, a ordenação, a confirmação e a unção dos enfermos.

Papado.

Nos Séculos V a VIII, de acordo com o historiador JUSTO L. GONZÁLEZ, as duas forças mais destacadas do Cristianismo Ocidental foram o papado e o monasticismo, que contribuíram para a conversão dos bárbaros e a preservação da cultura antiga.

Vejamos como teve início o papado.

Em 313 o bispo de Roma considerou-se Primus inter pares (“o primeiro entre iguais”).

Quando da invasão e saque de Roma pelos visigodos (410), a reação decisiva do bispo de Roma evidenciou seu poder.

Leão I, bispo de Roma, considerou-se superior aos demais bispos (440).

Gregório I (Magno) declarou que Leão fora o primeiro papa (590). Gregório I era escritor, pregador, teólogo e músico. Desenvolveu o “canto gregoriano”. Disputou com o bispo (patriarca) de Constantinopla, porque este se pretendia “bispo universal”. Não aceitou o título de “papa”, mas agiu como tal. Estendeu o domínio católico a igrejas da Inglaterra e Espanha.

Vale observar que, segundo alguns estudiosos, Diótrefes, citado em III Jo, é tido como “o primeiro bispo monárquico”, por ter pretendido “exercer a primazia” entre os irmãos, sendo possivelmente ele um bispo (presbítero). Ele pode ter sido, desse modo, um precursor do papado.

Monasticismo.

Como resposta à degradação espiritual e moral da Igreja Católica, surgiu no Séc. IV o Monasticismo, pautando-se pelos ideais da contemplação e do ascetismo. Esse movimento cresceu muito no Séc. VI, popularizou-se nos Sécs. X e XI e depois no Séc. XVI. Ainda hoje se pratica, mas em menor escala.

Tornou-se famosa, antes do ano 800, a Regra de São Bento (ou São Benedito): um conjunto de regras alimentares, votos de castidade, pobreza e obediência, divisões do dia para leitura, adoração e trabalho.

Houve importante obra intelectual, missionária, cultural e social nos mosteiros (500 a 1000), mas a vida ascética limitava seu alcance.

CAROLÍNGIOS, CISMA, CRUZADAS E ESCOLASTICISMO (800-1291):

Carolíngios.

A família dos Carolíngios governou boa parte da França e dos Países Baixos, além de países onde hoje se fala alemão e, ainda, a Itália.

Um carolíngio foi Carlos Martel (ou Carlos Martelo), que impediu o avanço dos muçulmanos na Europa (em Tours). Pepino foi outro carolíngio.

Carlos Magno, filho de Pepino, veio a ser coroado em 800, e pediu para receber a coroa das mãos do papa. Ali nascia o Sacro Império Romano, pela harmonização entre os interesses temporais e católicos.

Cisma.

As Igrejas do Ocidente e do Oriente já viviam como entidades separadas, mas em 1054 houve o Cisma, e por uma questão doutrinária muito simples, a saber: se o pão da Ceia devia ser levedado ou não. A Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental afastaram-se definitivamente, com a excomunhão recíproca dos seus líderes principais (o papa e o patriarca). Hoje as principais Igrejas da corrente oriental são a Igreja Ortodoxa Grega e a Igreja Ortodoxa Russa.

Cruzadas.

As Cruzadas (1095-1291) foram operações militares solicitadas pela Igreja Oriental, promovidas pelos papas (da Igreja Ocidental, portanto) e comandadas pelos nobres contra a tomada da Terra Santa por muçulmanos. Estavam envolvidos interesses políticos e econômicos, não apenas religiosos.

Um dos frutos das Cruzadas foi o efêmero Reino de Jerusalém (1100-1187).

A Cruzada das Crianças (1212) contou em suas hostes com meninos de 12 anos de idade.

A expulsão dos cruzados pelos muçulmanos, da cidade de Acre, na Terra Santa, marcou o fim das Cruzadas (1291).

Deu-se o fortalecimento do papado durante as guerras, mas enfraquecimento paulatino em razão do nacionalismo dos cruzados. As cidades foram fortalecidas à medida que os nobres vendiam suas propriedades aos cidadãos, para financiar as batalhas, ou não retornavam do Oriente.

Foi nessa época que surgiram as catedrais góticas. Também apareceram novas ordens monásticas.

Escolasticismo.

O Escolasticismo foi um movimento intelectual de conciliação entre a ciência e literatura gregas e a teologia cristã, uma aproximação entre razão e fé.

Destacaram-se no período Anselmo de Cantuária (c. 1033-1109) e Tomás de Aquino (1225-1274).

HISTÓRIA DA IGREJA III

OS PRÉ-REFORMADORES (PRINCIPALMENTE DOS SÉCS. XII AO XV).

Os chamados “pré-reformadores” ou “precursores da Reforma” levantaram-se contra atitudes erradas da Igreja Romana.

Citemos alguns deles:

Cláudio (?-839­), bispo da cidade de Turim, mais tarde seria considerado “o protestante do século IX” porque reprovou a adoração a imagens e relíquias, as orações aos santos, as peregrinações a Roma e a designação do papa como “senhor apostólico”. Seus seguidores foram expulsos para as montanhas (Piemonte). Note que ele atuou bem antes do período da Pré-Reforma propriamente dita.

Pedro de Bruys (?-c. 1130), presbítero no Sul da França, pregou contra práticas e vícios de Roma (construção de igrejas ricas, crucifixos, doutrina da transubstanciação, celebração da missa, eficácia das esmolas e orações pelos mortos). Por isso, foi perseguido e queimado vivo.

O monge Henrique de Lausanne ou Henrique de Cluny (?-1147) pregou em favor da simplicidade e viveu de maneira humilde. Morreu na prisão em Toulouse. Era um seguidor da doutrina de Pedro de Bruys.

Vários cristãos tidos por “hereges”, provavelmente discípulos de Bruys e Henrique  - por isso, chamados de “petrobrussianos” e “henricianos” - vieram a ser martirizados na cidade de Colônia.

Pedro Valdo (? – 1179), um comerciante de Lyon, distribuiu seus bens aos pobres, financiou suas próprias viagens para pregar o Evangelho na língua do povo e contribuiu para a tradução e distribuição da Bíblia. Seus seguidores foram chamados de “valdenses” e “Homens pobres de Lyon”. Esse movimento estabeleceu-se, nos Alpes, entre os vales dos Vaudois, com outros cristãos. No Séc. XVI, os valdenses incorporaram-se à Reforma Protestante.

Pedro Abelardo (1079-1142), bretão, foi um pregador leigo muito popular e inteligente.

O monge Arnaldo de Brescia (1090-1155), discípulo do pregador Pedro Abelardo, criticou a opulência do clero romano. Por causa disso foi exilado e enforcado. Seu corpo foi queimado, sendo as cinzas lançadas no rio Tibre.

Francisco de Assis (1182-1226), certamente mais conhecido que todos os acima citados, fundou a  ordem religiosa dos “Irmãos Menores”, pautada pela simplicidade. Ele tinha uma concepção de salvação individual e coordenou a construção de igrejas amplas e modestas, dando espaço ao povo. Inspirou-se em Pedro de Bruys, o comerciante que se tornou eremita, como visto acima.

O monge dominicado Jerônimo Savonarola (1452-1498) defendeu a simplicidade da vida monástica e foi um grande pregador. Foi martirizado pelo fogo.

Um dos principais precursores da Reforma foi João Wycliff  (c. 1324-1384), professor da Universidade de Oxford. Ele traduziu a Bíblia para o inglês. Inspirado em Robert Grostete (1168-1253), entendeu que o papa era o Anticristo.

Os lollardos foram um movimento religioso que se identificou muito com o ensino de Wycliff, conquanto já existisse antes dele. Houve entre eles vários mártires, a exemplo de Guilherme de Sawtrey (?-1401) e João Badby (?-1410), que foram queimados vivos.

João Huss (1369-1415), que era da Boêmia (parte da atual República Checa), foi pregador da capela de Belém e deão da faculdade de filosofia. Ele era admirador da doutrina de Wycliff, e, assim como ele, se tornou um dos principais precursores da Reforma. Foi queimado vivo.

Um amigo de Huss, Jerônimo de Praga (1379-1416), também foi queimado vivo.

Houve algumas guerras que envolveram os hussitas (seguidores de Huss), por causa de sua fé.

Na Morávia, também parte da atual República Checa, teve origem o movimento dos Irmãos Reunidos (Unitas Fratrum) ou Irmãos Morávios. Esses cristãos foram fixados compulsoriamente nos territórios da Morávia e da Silésia, e, embora duramente perseguidos, mantiveram sua fé, refugiando-se em cavernas e bosques. Concluíram a tradução da Bíblia para a língua boêmia, imprimindo várias cópias. Mais tarde, no Séc. XVIII, foram acolhidos e financiados pelo piedoso Conde Zinzendorf (1700-1760), da Alemanha, o que ensejou o nascimento de um relevante trabalho missionário.

João de Wessalia (?-1479), doutor em teologia em Erfurt,  pregou a mensagem de salvação sem as obras. Por isso foi preso e torturado, vindo a morrer na prisão.

O holandês João Wesselus (c. 1419-1489), amigo de João de Wessália, foi um teólogo cujas ideais viriam a ser mais tarde defendidas por Lutero, que reconheceu esse fato.

Em resumo, na Pré-Reforma houve pregações contra as seguintes doutrinas e práticas da Igreja Romana:

- Autoridade espiritual e poder temporal do papa;

- Venda de indulgências;

- Corrupção clerical;

- Penitências;

- Confissões;

- Missa;

- Transubstanciação;

- Extrema-unção.

Ademais, a Pré-Reforma foi caracterizada por :

- Proclamação da mensagem de salvação pela graça de Cristo, e não pelas obras;

- Valorização da pregação no idioma do povo;

- Tradução e distribuição da Bíblia;

- Perseguição por parte de Roma e martírio de muitos irmãos.

A era dos pré-reformadores também conheceu aspectos negativos (intrigas, erros na interpretação da Bíblia), o que é próprio do Ser Humano. No entanto, ali estava a ação divina preparando  o terreno para a Reforma Protestante, em séculos de dominação católica.

REFORMA PROTESTANTE (1517-1648).

Marco histórico.

O marco histórico da Reforma Protestante é o dia 31 de outubro de 1517, quando o monge alemão Martinho Lutero afixou suas 95 Teses na porta da capela da Universidade de Wittemberg, apontando erros da Igreja Católica, entre as quais a venda de indulgências.

Antecedentes históricos.

Um antecedente histórico muito importante para a Reforma foi a Renascença ou Renascimento, movimento intelectual, cultural, ideológico e artístico caracterizado por individualismo, humanismo, questionamento da autoridade da Igreja, florescimento literário e intelectual, bem como restauração das artes e da filosofia da Antiguidade Clássica.

Outros antecedentes foram os protestos de trabalhadores depois da Peste Negra (advinda em 1347); o Cisma da Igreja Ocidental, que chegou a ter dois papas a partir de 1378 – um em Roma e outro em Avignon, na França – contando com três papas por breve período no século seguinte; a invenção da imprensa, em 1439, por João Gutemberg (1398-1468); a existência de dificuldades políticas entre o poder papal e os Estados nacionais que se formavam, gerando conflitos em torno de questões como a imensa propriedade de terras sobre as quais a Igreja não pagava impostos; as divergências entre a Igreja e os comerciantes, que não concordavam com os regulamentos das guildas (espécie de sindicatos de comerciantes) nem com a proibição da “usura” (empréstimo a juros).

Cremos que Deus tem total controle sobre a História. De um modo misterioso para nós, acontecimentos históricos foram manejados por Deus para a Sua própria glória e consecução de Seus desígnios.

Martinho Lutero.

Martinho Lutero (1483-1546) foi o personagem usado por Deus para romper institucionalmente com a Igreja Romana, e sua atuação teve início depois de deparar com a opulência e corrupção do clero em Roma. Foi auxiliado teologicamente por Filipe Melanchthon (1497-1560), responsável pela elaboração da Confissão de Augsburgo.

Trabalhando como professor de teologia na Universidade de Wittemberg, onde obteve o título de doutor, Lutero estudou a Bíblia nas línguas originais, e concluiu que a verdade só pode ser achada na Palavra de Deus, além de que o homem somente pode ser justificado pela fé em Cristo, de acordo com a passagem encontrada em Rm 1.17 (isto se deu em 1516).

O Papa Leão X construía a Basílica de São Pedro, e, para isso, precisava de recursos. Na Alemanha, o arcebispo Alberto, que já dirigia irregularmente duas províncias eclesiásticas, intentava dominar uma terceira, e prometeu entregar ao papa uma quantia expressiva, que desejava extrair por meio da venda de indulgências.

As famosas indulgências eram formalizadas em documentos entregues a quem fizesse orações, penitências, peregrinações, boas ações e, principalmente, pagamentos à Igreja.

A fim de alcançar seu objetivo, o arcebispo Alberto solicitou o apoio do monge João Tetzel, mas Lutero opôs resistência à propaganda por ele realizada.

Indignado com a pregação de indulgências por parte de João Tetzel, a pedido de Alberto, o reformador alemão afixou as célebres 95 Teses, no dia 31 de dezembro de 1517, na porta da capela da Universidade de Wittemberg.

Em 1518, por ocasião da Dieta (assembleia deliberativa) de Augsburgo, Lutero e outros irmãos firmaram o entendimento de que a autoridade pertence à Bíblia, e não ao papa.

Em 1520 Lutero publicou panfletos defendendo as teses de que os príncipes (governantes) devem reformar a Igreja quando necessário, e de que os sacerdotes não devem ministrar os sacramentos, pois todos os crentes são sacerdotes (sacerdócio universal).

Em razão disso, Lutero foi excomungado, por meio da bula Exsurge Domine, e seus livros vieram a ser queimados na cidade de Colônia. Em resposta, o reformador queimou a bula papal.

Em 1521, Martinho Lutero foi convocado para se explicar à Dieta de Worms, mas recebeu proteção dos príncipes alemães e não se retratou. A fim de escapar à perseguição, foi raptado e escondido por seus amigos no castelo de Wartburg, onde estudou, escreveu, atuou para erguer o sistema escolar na Alemanha e traduziu a Bíblia para o alemão. Casou-se, em 1525, com Catarina von Bora.



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