ECLESIOLOGIA - A NATUREZA DA IGREJA
I. A NATUREZA DA IGREJA
Que
é a igreja?
A
questão pode ser solucionada considerando:
1)
As palavras que descrevem essa instituição
2)
As palavras que descrevem os cristãos
3)
As ilustrações que descrevem a igreja.
1. Palavras que descrevem a igreja
A
palavra grega no Novo Testamento para igreja é "ekklesia", que
significa "uma assembléia de chamados para fora". O termo aplica-se a
:
1)
Todo o corpo de cristãos em uma cidade (At 11:22; 13:1)
2)
Uma congregação, (1 Co 14:19,35; Rm 16:5.)
3)
Todo o corpo de crentes na terra. (Ef 5:32.)
2.
Palavras que descrevem os cristãos.
(a) Irmãos
-
A igreja é uma fraternidade ou comunhão espiritual, no qual foram abolidas
todas as divisões que separam a humanidade. - "não há grego nem
judeu": a mais profunda de todas as divisões baseadas na história
religiosa é vencida; - "não há grego nem bárbaro". a mais profunda de
todas as divisões culturais é vencida; - "não há servo ou livre". a
mais profunda de todas as divisões sociais e econômicas é vencida; - "não
há macho nem fêmea". a mais profunda de todas as divisões humanas é
vencida. (Vide Cl 3:11; Gl 3:28.)
(b) Crentes
-
Os cristãos são chamados "crentes" porque sua doutrina característica
é a fé no Senhor Jesus.
(c) Santos
-
São chamados "santos" (literalmente "consagrados ou
piedosos") porque estão separados do mundo e dedicados a Deus.
(d) Os
eleitos
-
Refere-se a eles como "eleitos", ou os "escolhidos", porque
Deus os escolheu para um ministério importante e um destino glorioso.
(e) Discípulos
-
São "discípulos" (literalmente "aprendizes"), porque estão
sob preparação espiritual com instrutores inspirados por Cristo.
(f) Cristãos
-
São "cristãos" porque sua religião gira em tomo da Pessoa de Cristo.
(g) Os
do Caminho.
Nos
dias primitivos muitas vezes eram conhecidos como "os do Caminho"
(Versão Brasileira) (At 9:2) porque viviam de acordo com uma maneira especial
de viver.
3.
Ilustrações da igreja.
(a) O
corpo de Cristo.
O
Senhor Jesus Cristo deixou este mundo há mais de dezenove séculos; entretanto,
ele ainda está no mundo. Com isso queremos dizer que sua presença se faz sentir
por meio da igreja, a qual é seu corpo. Assim como ele viveu sua vida natural
na terra, em um corpo humano individual, assim também ele vive sua vida mística
em um corpo tomado da raça humana em geral. Na conclusão dos Evangelhos não
escrevemos: "Fim", mas, "Continua", porque a vida de Cristo
continua a ter expressão por meio dos seus discípulos como se evidencia no
livro de Atos dos Apóstolos e pela subseqüente história da igreja.
"Assim
como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós" (Jo 20:21).
"Quem
vos recebe, a mim me recebe" (Mt 10:40).
Antes
de partir da terra, Cristo prometeu assumir esse novo corpo. Entretanto, usou
outra ilustração:
"Eu
sou a videira, vós as varas" (Jo 15:5).
A
videira está incompleta sem as varas e as varas nada são à parte da vida que
flui da videira.
Se
Cristo há de ser conhecido pelo mundo, terá que ser mediante aqueles que tomam
o seu nome e participam de sua vida.
Na
medida em que a igreja se tem mantido em contato com Cristo, sua Cabeça, assim
tem participado de sua vida e experiências.
Assim
como Cristo foi ungido no Jordão, assim também a igreja foi ungida no
Pentecoste.
Jesus
andou pregando o Evangelho aos pobres, curando os quebrantados de coração, e
pregando libertação aos cativos; e a verdadeira Igreja sempre tem seguido em
suas pisadas.
"Qual
ele é, somos nós também neste mundo" (1 Jo 4:17).
Assim
como Cristo foi denunciado como uma ameaça política e, finalmente, crucificado,
assim também sua igreja, em muitos casos, tem sido crucificada (figurativamente
falando) por governantes perseguidores. Mas tal qual o seu Senhor, ela
ressuscitou ! A vida de Cristo dentro dela a torna indestrutível.
Este
pensamento da identificação da igreja com Cristo certamente estava na mente de
Paulo quando falou:
"na
minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo corpo, que é a
igreja" (Cl 1:24).
O
uso dessa ilustração faz lembrar que a igreja é um organismo e não meramente
uma organização.
Uma
organização é um grupo de indivíduos voluntariamente associados com um
propósito especial, tal como uma organização fraternal ou um sindicato.
Um
organismo é qualquer coisa viva, que se desenvolve pela vida inerente. Usado
figuradamente, significa a soma total das partes entrelaçadas, na qual a
relação mútua entre elas implica uma relação do conjunto. Desse modo, um
automóvel poderia ser considerado uma "organização" de certas peças
mecânicas; o corpo humano é um organismo porque é composto de muitos membros e
órgãos animados por uma vida comum.
O
corpo humano é um, embora seja composto de milhões de células vivas. Da mesma
maneira o corpo de Cristo é um, embora composto de almas nascidas de novo.
Assim
como o corpo humano é vivificado pela alma, da mesma maneira o corpo de Cristo
é vivificado pelo Espírito Santo.
"Pois
todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo" (1 Co 12:13).
Os
fatos supra citados indicam uma característica única da religião de Cristo.
Assim
escreve W. H. Dunphy: Ele — e unicamente ele — dos fundadores de religião,
produziu um organismo permanente, uma união permanente de mentes e almas,
concentradas em torno de sua Pessoa.
Os
cristãos não são meramente seguidores de Cristo, senão membros de Cristo e
membros uns dos outros.
Buda
reuniu sua sociedade de "esclarecidos", mas a relação entre eles não
passa de relação externa, de mestre para com o aluno. O que os une é sua
doutrina, e não a sua vida. O mesmo pode dizer-se de Zoroastro, de Sócrates, de
Maomé, e dos outros gênios religiosos da raça. Mas Cristo não somente é Mestre,
ele é a vida dos cristãos. O que ele fundou não foi uma sociedade que estudasse
e propagasse suas idéias, mas um organismo que vive por sua vida, um corpo
habitado e guiado por seu Espírito.
(b) O
templo de Deus. (1 Pe 2:5,6)
Um
templo é um lugar em que Deus, que habita em toda parte, se localiza a si mesmo
em determinado lugar, onde seu povo o possa achar "em casa". (1 Rs
8:27.)
Assim
como Deus morou no Tabernáculo e no templo, assim também vive, por seu
Espírito, na igreja. (Ef 2:21,22; 1 Co 3:16,17)
Neste
templo espiritual os cristãos, como sacerdotes, oferecem sacrifícios
espirituais, sacrifícios de oração, louvor e boas obras.
(c) A
noiva de Cristo.
Essa
é uma ilustração usada tanto no Antigo como no Novo Testamento para descrever a
união e comunhão de Deus com seu povo. (2 Co 11:2; Ef 5:25-27; Ap 19:7;
21:2; 22:17) Mas devemos lembrar que é somente uma ilustração, e não se deve
forçar sua interpretação. O propósito dum símbolo é apenas iluminar um
determinado lado da verdade e não o de prover o fundamento para uma doutrina.
II.
A FUNDAÇÃO DA IGREJA
1. Considerada
profeticamente.
Israel
é descrito como uma igreja no sentido de ser uma nação chamada dentre as outras
nações a ser um povo de servos de Deus. (At 7:38.)
Quando
o Antigo Testamento foi traduzido para o grego, a palavra
"congregação" (de Israel) foi traduzida "ekklesia" ou
"igreja".
Israel,
pois, era a congregação ou a igreja de Jeová.
Depois
de a igreja judaica o ter rejeitado, Cristo predisse a fundação duma nova
congregação ou igreja, uma instituição divina que continuaria sua obra no terra
(Mt 16:18). Essa é a igreja de Cristo, que veio a ter existência no dia de
Pentecoste.
2.
Considerada Historicamente.
A
igreja de Cristo veio a existir, como igreja, no dia de Pentecoste, quando foi
consagrada pela unção do Espírito.
Assim
como o Tabernáculo foi construído e depois consagrado pela descida da glória
divina (Êx 40:34), assim os primeiros membros da igreja foram congregados no
cenáculo e consagrados como igreja pela descida do Espírito Santo.
É
muito provável que os cristãos primitivos vissem nesse evento o retorno da
"Shekinah" (a glória manifesta no Tabernáculo e no templo) que, havia
muito, partira do templo, e cuja ausência era lamentada por alguns dos rabinos.
Davi
juntou os materiais para a construção do templo, mas a construção foi feita por
seu sucessor, Salomão. Da mesma maneira, Jesus, durante seu ministério terreno,
havia juntado os materiais da sua igreja, por assim dizer, mas o edifício foi
erigido por seu sucessor, o Espírito Santo.
Realmente,
essa obra foi feita pelo Espírito, operando mediante os apóstolos que lançaram
os fundamentos e edificaram a igreja por sua pregação, ensino e organização.
Portanto,
a igreja é descrita como sendo "edificados sobre o fundamento dos
apóstolos..." (Ef 2:20).
III.
OS MEMBROS DA IGREJA
O
Novo Testamento estabelece as seguintes condições para os membros da igreja :
-
Fé implícita no Evangelho e confiança sincera e de coração em Cristo como o
único e divino Salvador (At 16:31)
-
Submeter-se ao batismo nas águas como testemunho simbólico da fé em Cristo
-
Confessar verbalmente essa fé. (Rm 10:9,10.)
No
princípio, praticamente todos os membros da igreja eram verdadeiramente
regenerados.
"E
todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de
salvar" (At 2:47).
Entrar
na igreja não era uma questão de unir-se a uma organização, mas de tornar-se
membro de Cristo, assim como o ramo é enxertado na árvore. No transcurso do
tempo, entretanto, conforme a igreja aumentou em número e em popularidade, o
batismo nas águas e a catequese tomaram o lugar da conversão. O resultado foi
um influxo na igreja de grande número de pessoas que não eram cristãs de
coração. E desde então, essa tem sido mais ou menos a condição da cristandade.
Assim
como nos tempos do Antigo Testamento havia um Israel dentro dum Israel,
israelitas de verdade, bem como israelitas nominais, assim também no transcurso
da história da igreja vemos uma igreja, dentro da igreja, cristãos verdadeiros
no meio de cristãos apenas de nome.
Portanto,
devemos distinguir entre a igreja invisível, composta dos verdadeiros cristãos
de todas as denominações, e a igreja visível, constituída de todos os que
professam ser cristãos
—
A primeira, composta daqueles cujos nomes estão escritos no céu; a segunda,
compreendendo aqueles cujos nomes estão registrados no rol de membros das igrejas.
Nota-se
a distinção em Mt 13, onde o Senhor fala dos "mistérios do reino dos
céus" — expressão essa que corresponde à designação geral
"cristandade". As parábolas nesse capítulo esboçam a história
espiritual da cristandade entre o primeiro e o segundo advento de Cristo, e
nelas aprendemos que haverá uma mistura de bons e maus na igreja, até a vinda
do Senhor, quando a igreja será purificada e se fará separação entre o genuíno
e o falso. (Mt 13:36-43, 47-49.)
O
apóstolo Paulo expressa a mesma verdade quando compara a igreja a uma casa na
qual há muitos vasos, uns para honra e outros para desonra. (2 Tm. 2:19-21).
É
a igreja sinônimo do reino de Deus?
Que
a igreja seja uma fase do reino entende-se pelo ensino de Mt 16:18,19,
pelas parábolas em Mt 13, e pela descrição de Paulo da obra cristã como sendo
parte do reino de Deus (Cl 4:11). Sendo "o reino dos céus" uma
expressão extensa, podemos descrever a igreja como uma parte do reino.
William
Evans assim escreveu:
"A
igreja pode ser considerada como uma parte do reino de Deus, assim como o
Estado de Illinois é parte dos Estados Unidos."
A
igreja prega a mensagem que trata do novo nascimento do homem, pelo qual se
obtém entrada no reino de Deus (Jo 3:3-5; 1 Pe 1:23.)
ECLESIOLOGIA - A OBRA DA IGREJA
A OBRA DA IGREJA.
1.
Pregar a salvação.
A
obra da igreja é pregar o Evangelho a toda a criatura (Mt 28:19,20), e
explanar o plano da salvação tal qual é ensinado nas Escrituras. Cristo
tornou acessível a salvação por provê-la; a igreja deve torná-la real por
proclamá-la.
2.
Prover meios de adoração.
Israel
possuía um sistema de adoração divinamente estabelecido, pelo qual se chegava a
Deus em todas as necessidades e crises da vida. Assim também a igreja deve ser
uma casa de oração para todos os povos, onde Deus é cultuado em adoração,
oração e testemunho.
3.
Prover comunhão religiosa.
O
homem é um ser social; ele anela comunhão e intercâmbio de amizade. é natural
que ele se congregue com aqueles que participam dos mesmos interesses. A igreja
provê uma comunhão baseada na Paternidade de Deus e no fato de ser Jesus o
Senhor de todos. É uma fraternidade daqueles que participam duma experiência
espiritual comum. O calor dessa comunhão era uma das características notáveis da
igreja primitiva. Num mundo governado pela máquina política do Império Romano,
em que o indivíduo era praticamente ignorado, os homens anelavam uma comunhão
onde pudessem livrar-se do sentimento de solidão e desamparo. Em tal mundo, uma
das características mais atraentes da igreja era o calor e a solidariedade da
comunhão — comunhão em que todas as distinções terrenas eram eliminadas e os
homens e mulheres tomavam-se irmãos e irmãs em Cristo
4.
Sustentar uma norma de conduta moral.
A
igreja é "a luz do mundo", que afasta a ignorância moral; é o
"sal da terra", que a preserva da corrupção moral. A igreja deve
ensinar aos homens como viver bem, e a maneira de se preparar para a morte.
Deve proclamar o plano de Deus para regulamentar todas as esferas da vida e sua
atividade. Contra as tendências para a corrupção da sociedade, deve ela
levantar a sua voz de admoestação.
Em
todos os pontos de perigo deve colocar uma luz como sinal de perigo.
AS
ORDENANÇAS DA IGREJA
O
Cristianismo no Novo Testamento não é uma religião ritualista; a essência do
Cristianismo é o contato direto do homem com Deus por meio do Espírito.
Portanto, não há uma ordem de adoração dogmática e inflexível, antes permitindo
à igreja, em todos os tempos e países, a liberdade de adotar o método que lhe
seja mais adequado, para a expressão de sua vida. Não obstante, há duas
cerimônias que são essenciais, por serem divinamente ordenadas, a saber, o
batismo nas águas e a Ceia do Senhor. Em razão de seu caráter sagrado, elas, às
vezes, são descritas como sacramentos, literalmente, "coisas
sagradas", ou "juramentos consagrados por um rito sagrado".
Também são elas mencionadas como ordenanças porque são "ordenadas"
pelo próprio Senhor.
O
batismo nas águas é o rito do ingresso na igreja cristã, e simboliza o começo
da vida espiritual. A Ceia do Senhor é o rito de comunhão e significa a
continuação da vida espiritual. O primeiro sugere a fé em Cristo; o segundo
sugere a comunhão com Cristo. O primeiro é administrado somente uma vez, porque
pode haver apenas um começo da vida espiritual; o segundo é administrado
freqüentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser alimentada.
1.
O batismo.
(a) O
modo.
A
palavra "batizar", usada na fórmula de Mt 28:19.20. significa
literalmente mergulhar ou imergir. Essa interpretação é confirmada por eruditos
da língua grega e pelos historiadores da igreja.
Mesmo
eruditos pertencentes a igrejas que batizam por aspersão admitem que a imersão
era o modo primitivo de batizar. Além disso, há razões para crer que para os
judeus dos tempos apostólicos, o mandamento de ser "batizado"
sugeriria "batismo de prosélito", que significava a conversão dum
pagão ao Judaísmo. O convertido estava de pé na água, até ao pescoço, enquanto
era lida a lei, depois do que ele mesmo se submergia na água, como sinal de que
fora purificado das contaminações do paganismo e que começara uma nova vida
como membro do povo da aliança.
De
onde veio, então, a prática da aspersão e de derramar a água?
Quando
a igreja abandonou a simplicidade do Novo Testamento, e foi influenciada pelas
idéias pagãs, atribuiu importância anti-bíblica ao batismo nas águas, o qual
veio a ser considerado inteiramente essencial para se alcançar a regeneração.
Era, portanto, administrado aos enfermos e moribundos. Posto que a imersão não
era possível em tais casos, o batismo era administrado por aspersão. Mais
tarde, por causa da conveniência do método, este generalizou-se. Também, por
causa da importância da ordenança, era permitido derramar a água quando não
havia suficiente para praticar a imersão.
Notem
a seguinte citação dum antigo escritor do segundo século, agora concernente ao
batismo, batiza assim : Havendo ensinado todas essas coisas, batiza em nome do
Pai, do Filho, e do Espírito Santo, em água viva (corrente). E se não tiveres
água viva, batiza em outra água; e se não podes em água fria, então em água
morna. Mas se não tiveres nem uma nem outra, derrama água três vezes sobre a
cabeça, em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Não
obstante, o modo bíblico e original é imersão, o qual corresponde ao
significado simbólico do batismo, a saber, morte, sepultura e ressurreição.
(Rm 6:1-4.)
(b) A
fórmula.
"Batizando-os
em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28:19).
Como
vamos reconciliar isso com o mandamento de Pedro: "...cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo" ? (At 2:38).
Estas
últimas palavras não representam uma fórmula batismal, porém uma simples
declaração afirmando que recebiam batismo as pessoas que reconheciam Jesus como
Senhor e Cristo. Por exemplo, o "Didaquê", um documento cristão
escrito cerca do ano 100 A.D., fala do batismo cristão celebrado em nome do
Senhor Jesus, mas o mesmo documento, quando descreve o rito detalhadamente, usa
a fórmula trinitária.
Quando
Paulo fala que Israel foi batizado no Mar Vermelho "em Moisés", ele
não se refere a uma fórmula que se pronunciasse na ocasião; ele simplesmente
quer dizer que, por causa da passagem milagrosa através do Mar Vermelho, os
israelitas aceitaram Moisés como seu guia e mestre como enviado do céu. Da
mesma maneira, ser batizado em nome de Jesus significa encomendar-se inteira e
eternamente a ele como Salvador enviado do céu, e a aceitação de sua direção
impõe a aceitação da fórmula dada por Jesus no capítulo 28 de Mateus.
A
tradução literal de At 2:38 é: "seja batizado sobre o nome de Jesus
Cristo". Isso significa, segundo o dicionário de Thayer, que os judeus
haviam de "repousar sua esperança e confiança em sua autoridade
messiânica". Note-se que fórmula trinitária é descrita duma experiência.
Aqueles que são batizados em nome do tri-uno Deus, por esse meio estão
testificando que foram submergidos em comunhão espiritual com a Trindade. Desse
modo pode-se dizer acerca deles : "A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor
de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos" (2 Co 13:13).
(c) O
recipiente.
Todos
os que sinceramente se arrependem de seu pecado, professam a fé no Senhor
Jesus, são elegíveis para o batismo.
Na
igreja apostólica o rito era acompanhado das seguintes expressões exteriores:
1) Profissão
de fé. (At 8:37.)
2) Oração.
(At 22:16.)
3) Voto
de consagração. (1 Pe 3:21.)
Visto
que os infantes não têm pecados de que se arrepender e não podem exercer a fé,
logicamente são excluídos do batismo nas águas. Com isso não os estamos
impedindo que venham a Cristo (Mt 19:13,14), pois eles podem ser consagrados
a Jesus em culto publico.
(d) A
eficácia.
O
batismo nas águas, em si não tem poder para salvar; as pessoas são batizadas,
não para serem salvas, mas porque já são salvas. Portanto, não podemos dizer
que o rito seja absolutamente essencial para a salvação. Mas podemos insistir
em que seja essencial para a integral obediência a Cristo.
Como
a eleição do presidente da nação se completa pela sua posse do governo, assim a
eleição do convertido pela graça e pela glória de Deus se completa por sua pública
admissão como membro da igreja de Cristo.
(e) O
significado.
O
batismo sugere as seguintes idéias:
1) Salvação
-
O batismo nas águas é um drama sacro (se nos permitem falar assim),
representando os fundamentos do Evangelho. A descida do convertido às águas
retrata a morte de Cristo efetuada; a submersão do convertido fala da morte
ratificada, ou seja, o seu sepultamento; o levantamento do converso significa a
conquista sobre a morte, isto é a ressurreição de Cristo.
2) Experiência
-
O fato de que esses atos são efetuados com o próprio convertido demonstra que
ele se identificou espiritualmente com Cristo.
A
imersão proclama a seguinte mensagem: "Cristo morreu pelo pecado para que
este homem morresse para o pecado."
O
levantamento do convertido expressa a seguinte mensagem: "Cristo
ressuscitou dentre os mortos a fim de que este homem pudesse viver uma nova
vida de justiça."
3) Regeneração
-
A experiência do novo nascimento tem sido descrita como uma,
"lavagem" (literalmente "banho", Tt 3:5), porque por meio
dela, os pecados e as contaminações da vida de outrora foram lavados. Assim
como o lavar com água limpa o corpo, assim também Deus, em união com a morte de
Cristo e pelo Espírito Santo, purifica a alma. O batismo nas águas simboliza
essa purificação. "Levanta-te, e lava os teus pecados (isto é, como sinal
do que já se efetuou)" (At 22:16).
4) Testemunho
-
"Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de
Cristo" (Gl 3:27).
O
batismo nas águas significa que o convertido, pela fé, "vestiu-se" do
caráter de Cristo de modo que os homens podem ver a Cristo nele, como se vê o
uniforme no soldado. Pelo rito de batismo, o convertido, figurativamente
falando, publicamente veste o uniforme do reino de Cristo.
2.
A ceia de Senhor. Pontos principais.
Define-se
a Ceia do Senhor ou Comunhão como o rito distintivo da adoração cristã,
instituído pelo Senhor Jesus na véspera de sua morte expiatória. Consiste na
participação solene do pão e vinho, os quais, sendo apresentados ao Pai em
memória do sacrifício inexaurível de Cristo, tornam-se um meio de graça pelo
qual somos incentivados a uma fé mais viva e fidelidade maior a ele.
Os
seguintes são os pontos-chave dessa ordenança:
(a) Comemoração.
"Fazei
isto em memória de mim." Cada ano, no dia 4 de julho, o povo
norte-americano recorda de maneira especial o evento que o fez um povo livre.
(*) Cada vez que um grupo de cristãos se congrega para celebrar a Ceia do
Senhor, estão comemorando, dum modo especial, a morte expiatória de Cristo que
os libertou dos pecados.
Por
que recordar a sua morte mais do que qualquer outro evento de sua vida?
Porque
a sua morte foi o evento culminante de seu ministério e porque somos salvos,
não meramente por sua vida e seus ensinos, embora sejam divinos, mas por seu
sacrifício expiatório.
(b) Instrução.
A
Ceia do Senhor é uma lição objetiva que expõe os dois fundamentos do Evangelho:
1) A
encarnação.
Ao
participar do pão, ouvimos o apóstolo João dizer: "E o Verbo se fez carne
e habitou entre nos" (Jo 1:14); ouvimos o próprio Senhor declarar:
"Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo"
(Jo 6:33).
2) A
expiação.
Mas
as bênçãos incluídas na encarnação nos são concedidas mediante a morte de
Cristo.
O
pão e o vinho simbolizam dois resultados da morte:
A
separação do corpo e da vida, e a separação da carne e do sangue.
O
simbolismo do pão partido é que o Pão deve ser quebrantado na morte (Calvário)
a fim de ser distribuído entre os espiritualmente famintos; o vinho derramado
nos diz que o sangue de Cristo, o qual é sua vida, deve ser derramado na morte
a fim de que seu poder purificador e vivificante possa ser outorgado às almas
necessitadas.
(c) Inspiração.
Os
elementos, especialmente o vinho, nos lembram que pela fé podemos ser
participantes da natureza de Cristo, isto é, ter "comunhão com ele".
Ao participar do pão e do vinho da Ceia, o ato nos recorda e nos assegura que,
pela fé, podemos verdadeiramente receber o Espírito de Cristo e ser o reflexo
do seu caráter.
(d) Segurança.
Este
cálice é o Novo Testamento no meu sangue"! (1 Co 11:25).
Nos
tempos antigos a forma mais solene de aliança era o pacto de sangue, que era
selado ou firmado com sangue sacrificial.
A
aliança feita com Israel no Monto Sinai foi um pacto de sangue. Depois que Deus
expôs as suas condições e o povo as aceitou, Moisés tomou uma bacia cheia de
sangue sacrificial e aspergiu a metade sobre o altar do sacrifício, significando
esse ato que Deus se havia comprometido a cumprir a sua parte do convênio; em
seguida, ele aspergiu o resto do sangue sobre o povo, comprometendo-o, desse
modo, a guardar também a sua parte do contrato (Êx 24:3-8).
A
nova aliança firmada por Jesus é um pacto de sangue. Deus aceitou o sangue de
Cristo (Heb. ?); portanto, comprometeu-se, por causa de Cristo, a perdoar e
salvar a todos os que vierem a ele.
O
sangue de Cristo é a divina garantia de que ele ser benévolo e misericordioso
para aquele que se arrepende.
A
nossa parte nesse contrato é crer na morte expiatória de Cristo. (Rm 3:25,26) Depois, então poderemos testificar que foram aspergidos com o sangue
da nova aliança. (1 Pe 1:2)
(e) Responsabilidade.
Quem
deve ser admitido ou excluído da Mesa do Senhor? Paulo trata da questão dos que
são dignos do sacramento em 1 Co 11:20-34.
“Portanto,
qualquer que comer este pão, ou beber este cálice do Senhor indignamente, será
culpado (uma ofensa ou pecado contra) do corpo e do sangue do Senhor."
Quer
isso dizer que somente aqueles que são dignos podem chegar-se à Mesa do Senhor?
Então, todos nós estamos excluídos! Pois quem dentre os filhos dos homens é digno
da mínima das misericórdias de Deus?
Não,
o apóstolo não está falando acerca da indignidade das pessoas, mas da
indignidade das ações. Sendo assim, por estranho que pareça, é possível a uma
pessoa indigna participar dignamente. E em certo sentido, somente aqueles que
sinceramente sentem a sua indignidade estão aptos para se aproximar da Mesa; os
que se justificam a si mesmos nunca serão dignos. Outrossim, nota-se que as
pessoas mais profundamente espirituais são as que mais sentem a sua
indignidade. Paulo descreve-se a si mesmo como o "principal dos
pecadores" (1 Tm 1:15).
O
apóstolo nos avisa contra os atos indignos e a atitude indigna ao participar
desse sacramento. Como pode alguém participar indignamente? Praticando alguma
coisa que nos impeça de claramente apreciar o significado dos elementos, e de
nos aproximarmos em atitude solene, meditativa e reverente. No caso dos
coríntios o impedimento era sério, a saber, a embriaguez.
A
ADORAÇÃO DA IGREJA.
Das
epístolas de Paulo inferimos que havia duas classes de reuniões para adoração:
uma consistia em oração, louvor, e pregação; a outra era um culto de adoração,
conhecido como a "Festa de Amor" ("ágape", em língua
grega). O primeiro era culto público; o segundo era um culto particular ao qual
eram admitidos somente os cristãos.
1. O
culto público.
O
culto público, segundo o historiador Robert Hastings Nichols, era
"realizado pelo povo conforme o Espírito movesse as pessoas". Citamos
um trecho dos escritos desse historiador :
Oravam
a Deus e davam testemunhos e instruções espirituais. Cantavam os Salmos e
também os hinos cristãos, os quais começaram a ser escritos no primeiro século.
Eram lidas e explicadas as Escrituras do Antigo Testamento, e havia leitura ou
recitação decorada dos relatos das palavras e dos atos de Jesus. Quando os
apóstolos enviavam cartas às igrejas, a exemplo das Epístolas do Novo
Testamento, essas também eram lidas. Esse singelo culto podia ser interrompido
a qualquer momento pela manifestação do Espírito na forma de profecia, línguas
e interpretações, ou por alguma iluminação inspirada sobre as Escrituras.
Essa
característica da adoração primitiva é reconhecida por todos os estudantes
sérios da história da igreja, não importando sua filiação denominacional ou
escola de pensamento. Pela leitura de 1 Co 14:24,25 sabemos que essa
adoração inspirada pelo Espírito era um meio poderoso de atrair e evangelizar
os não-convertidos.
2. O
culto particular.
Lemos
que os primeiros cristãos perseveraram no "partir do pão" (At 2:42). Descrevem essas palavras uma refeição comum ou a celebração da Ceia do
Senhor? Talvez ambas. É possível que houvesse acontecido o seguinte:
No
princípio a comunhão dos discípulos entre si era tão unida e vital que tomavam
suas refeições em comum. Ao sentarem-se à mesa para pedir a bênção de Deus
sobre o alimento, vinha-lhes à lembrança a última Páscoa de Cristo, e assim
essa bênção sobre o alimento espontaneamente se estendia em culto de adoração.
Dessa forma, em muitos casos, é difícil dizer se os discípulos faziam uma
refeição comum ou participavam da Comunhão. A vida e a adoração a Deus estavam
intimamente relacionadas naqueles dias! Porém muito cedo os dois atos, o
partir do pão e a Ceia do Senhor, foram distinguidos, de forma que o segundo se
tomou a ordem do culto:
Em
determinado dia os cristãos reuniam-se para comer uma refeição sagrada de
comunhão, conhecida como a Festa de Amor, a qual era uma refeição alegre e
sagrada, simbolizando o amor fraternal. Todos traziam provisões e delas
participavam todos em comum. Em 1 Co 11:21,22 Paulo censura o egoísmo
daqueles que comiam seus alimentos sem distribuí-los entre os pobres. Ao
terminar a Festa de Amor, celebrava-se a Ceia do Senhor. Na igreja de Corinto
alguns se embriagavam durante o "ágape" e participavam do sacramento
nessa condição indigna. Mais tarde, no primeiro século, a Ceia do Senhor foi
separada do "ágape" e celebrada na manhã do Dia do Senhor.
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